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sexta-feira, 12 de setembro de 2025

Um julgamento político

Todos são. Desde o de Sócrates, há 2.300 anos, e o de Jesus Cristo, há 2.000. O impeachment da Dilma foi. O mensalão foi. O impeachment do Collor também foi. O Brasil agora também tem o seu 11 de Setembro, a exemplo do Chile e dos EUA, mas o nosso é edificante para a democracia. Suscita várias reflexões e a primeira é sobre continuidade da própria democracia, que deu sua segunda demonstração de vigor, ao condenar à prisão militares golpistas pela primeira vez; a primeira demonstração de vigor foi o próprio desfecho da tentativa de golpe em 8 de janeiro de 2023. As análises agora vão focar nas repercussões do julgamento sobre a candidatura da extrema direita na eleição presidencial do ano que vem. Eu sou pessimista. Penso que, a despeito dos fatos, há um movimento social profundo que encaminha as massas populares para a direita e esse movimento deve favorecer o candidato da oposição da extrema direita, seja ele qual for. Lula será o candidato do sistema mais uma vez. Não há, por enquanto, candidato de oposição da esquerda. A tragédia brasileira do século XXI é que a esquerda não tem um projeto hegemônico. Os projetos de esquerda, dos quais o do Ciro Gomes, é o mais visível, assim como no passado foi o do Brizola, não conseguiram se impor ao que se tornou o projeto hegemônico da nossa época, que foi o neoliberalismo, e que se personificou na liderança política do Lula. Sem um projeto de esquerda vigoroso, as insatisfações populares são despejadas na esperança com candidatos de direita, como aconteceu na inimaginável eleição de 2018. A esquerda brasileira, depois do vigoroso movimento de massas iniciado nos anos 1970 e que levou ao fim de 21 anos de ditadura militar, optou por concentrar toda sua força na eleição do Lula, mas Lula e o PT caminharam cada vez mais para o centro, adotaram o projeto neoliberal e se converteram no próprio partido da ordem burguesa, ao mesmo tempo em que se afastaram das massas populares, cada vez mais conquistadas pelo movimento evangélico de extrema direita. Seja como for, a Era Lula está prestes a terminar. O presidente completa 80 anos no mês que vem e, dependendo do que virá, pode vencer a eleição de 2026 e começar um novo mandato, quem sabe encerrá-lo na glória, como aconteceu em 2010, quem saber encerrar sua carreira política com uma derrota. O julgamento do ex-presidente ex-capitão coloca o ministro Alexandre de Moraes na posição de herdeiro do Lula como líder do, digamos, centro democrático. Essa é a ideologia prevalecente no Brasil hoje, à qual adere pela primeira na história a imprensa empresarial, depois da traumática experiência no governo do bozo. A prisão do seu expoente máximo é um golpe duro para a extrema direita e projeta o Brasil mundialmente como nação democrática, o que não é pouca coisa na atual conjuntura e uma novidade na nossa história. Oxalá todas as frustrações das últimas décadas tenham essa compensação: uma democracia estável, capaz de resistir não só às turbulências de um governo de extrema direita e novas investidas militares, mas também a um posterior renascimento da esquerda. O fato que não se pode negar é que, graças ao STF, em especial ao ministro Moraes, mas também aos votos firmes da ministra Cármen Lúcia e dos ministros Dino e Zanin e às manifestações do presidente Barroso e do ministro Mendes, o nosso 11 de Setembro será uma data a ser celebradas pela democracia, ou melhor, pelo que hoje chamamos de democracia. Democracia que tem muito a avançar para que possa ser realmente chamada assim, mas isso cabe ao povo fazer. Antes, porém ele precisa ser reconquistado pela esquerda. Faltou falar da figura lamentável do julgamento, o ministro fux. Acovardou-se diante das ameaças da extrema direita local e ianque, apostou na continuidade das coações do governo norte-americano e na vitória da extrema direita em 2026. Cometeu um crime mortal: traiu o espírito de corpo, os seus pares no STF. 

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