Uma carta aberta encabeçada pelo Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC) com mais de uma centena de signatários dignos de respeito e com passado relevante em defesa da liberdade de informação e da democracia é um dos documentos desse tipo mais equivocados que eu já li. Divulgada no final de setembro passado (9/25), a carta, que pode ser lida na íntegra na página do Fórum, clicando aqui, faz afirmações corretas e considerações pertinentes antes de assumir uma posição descaradamente antidemocrática e atacar um dos podcasts mais interessantes dos últimos tempos, o Três Irmãos. Pelo espaço que o ataque ocupa na carta, parece que a intenção era mesmo essa. Em resumo, o texto afirma que o podcast faz muito sucesso e é de extrema direita, que pessoas progressistas e de esquerda não devem participar dele, só devem participar dos veículos de comunicação progressistas. Discordo radicalmente dessa ideia. Em primeiro lugar, não considero que o podcast é de extrema direita. Seus apresentadores expressam nítidas divergências entre si e, mesmo que um deles demonstre simpatias com ideias de direita e até, talvez, de extrema direita, ambos são respeitosos com as opiniões alheias. Esse respeito não é de extrema direita. Correntes stalinistas da esquerda sempre tiveram dificuldade de aceitar a liberdade de expressão dos que discordam delas. Discordo muitas vezes do que os dois apresentadores dizem, mas discordo também do que dizem muitas vezes os entrevistados e debatedores. Desse e de outros podcasts. Aliás, no Três Irmãos, entrevistados e debatedores são muito mais importantes e têm muito mais tempo para falar do que os apresentadores. O podcast tem promovido debates e entrevistas esclarecedores com presenças dos intelectuais mais lúcidos na atual conjuntura, entre eles Vladimir Safatle, Breno Altman, Jones Manoel, Elias Jabbour, José Kobori, Frederico Keper e outros. A propósito, Altman, Manoel e Jabbour manifestam explícita admiração por Stalin e Jabbour é um entusiasmado defensor da China dita comunista, Kobori também. Os debates do Altman com um deputado, este sim, de extrema direita e com um rabino podem ser considerados históricos e prestaram excelentes serviços à informação e às bandeiras da esquerda. O podcast deveria servir de modelo para programas insossos ditos de esquerda e progressistas, mas frequentemente chapas-brancas, e por isso pouco interessantes. Fico imaginando se os inúmeros signatários da carta a leram, compreenderam e concordam de fato com seu conteúdo. Se a resposta é sim, sugiro que a releiam, repensem e divulguem uma nova carta à altura desses tempos que exigem muito mais da esquerda do que a repetição de chavões. Um tema relevante para discussão é por que os que lutam pela democratização da comunicação pouco avançaram nas duas últimas décadas, a despeito dos governos pretensamente de esquerda e progressistas.
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