quarta-feira, 3 de setembro de 2025

Lula, uma apologia

Morais faz questão de dizer – e é mesmo imprescindível esclarecer isso – que Lula não leu o livro antes de ser impresso. Não se trata de uma biografia encomendada. Todavia, é livro escrito por um amigo, um admirador, um companheiro, condição que fica evidente o tempo todo. Certamente Morais escreveu coisas que Lula preferiria não ver publicadas, mas não escreveu nada que comprometesse o ex-presidente. Ao contrário, escreveu um libelo em defesa da inocência e da honradez do ex-presidente, contra o ex-juiz Moro e os procuradores da chamada “operação lava jato”.

Me parece que o livro foi escrito para recuperar a imagem do Lula, mas isso era totalmente desnecessário. Talvez não seja um defeito de origem, já que a ideia inicial do livro era outra, que não vingou, como esclarece o autor. Até a ideia que vingou era diferente, pois, enquanto Morais entrevistava e acompanhava Lula para executar seu projeto literário, o juiz e os procuradores de Curitiba deram a partida no que seria o golpe de 2016, atingindo frontalmente o biografado, o que parece ter sido sempre objetivo da pseudo-operação anticorrupção.

Lula não precisa que sua imagem seja recuperada e não sei se o livro terá papel relevante nisso. A importância histórica de Lula ficará estabelecida com o passar do tempo. Já hoje, e antes da perseguição que sofreu, não pode haver dúvida do tamanho do primeiro brasileiro vindo do povo, um trabalhador, um dirigente sindical, um retirante nordestino que se tornou presidente da República, eleito e reeleito, eleitor duas vezes da sua sucessora – tirada do poder por um golpe – e que só não foi eleito para um novo mandato porque o ex-juiz e seus procuradores forjaram processos contra ele, o condenaram e o prenderam.

A figura histórica do Lula já estava estabelecida ao final do seu segundo mandato. O que veio depois – larva jato, golpe, prisão, impedimento político, soltura, anulação dos processos, recuperação dos direitos políticos – e o que ainda virá – prováveis candidatura e eleição mais vez, este ano – são adendos a uma trajetória que já fazia parte da história. Adendos merecedores de outra história, outro livro talvez.

Morais até faz isso, de certa forma, ao transformar o que seria um volume em dois. No entanto, minha humilde opinião é que ele não compreendeu bem a tarefa que tinha nas mãos, como biógrafo de uma personagem cuja trajetória ainda estava e está em curso. Sem querer ser pretensioso, afirmo que o autor de Chatô, o rei do Brasil não deu conta da empreitada, talvez por não ter distanciamento suficiente para compreender sua missão.

Associar as duas prisões de Lula, a do sindicalista, pela ditadura, em 1980, e a do dirigente político, pelo golpe da larva jato, em 2018, é o que de melhor o livro nos dá. Ele nos mostra a dimensão do homem que estava sendo preso pela segunda vez. Graças à proximidade entre autor e biografado, Morais reconstitui com detalhes a segunda prisão de Lula e alinhava os fatos dos últimos quatro anos, fatos que já conhecíamos da leitura dos jornais e revistas.

Morais gasta páginas e mais páginas para contextualizar o período em que seu biografado vive, narrando fatos que conhecemos e desnecessários à narrativa, uma vez que Lula não participa diretamente deles. Em vez da história de Lula, nos conta a história do Brasil. Ao mesmo tempo, nos nega detalhes da própria atuação do líder sindical e político.

O maior mérito do livro está em nos mostrar o que Lula foi um dia, antes de começar sua carreira política, e que o torna tão especial: um brasileiro como milhões de outros, um trabalhador de vida sofrida, repleta de adversidades e sonhos singelos tão difíceis de alcançar, porém nesse Brasil tão injusto, tão desigual e tão antidemocrático.

O que interessa nessa figura tão exponencial, porém, é entender como acontece a passagem do brasileiro comum para um brasileiro excepcional, o maior de todos na nossa época, um dos maiores do mundo, “o cara”. Nisso o livro falha e decepciona. Por que Lula conquista o Brasil e o mundo?

Pode ser que o segundo volume – que tratará, segundo o autor, da caminhada do líder petista rumo à presidência e dos seus governos – nos revele, afinal, quem é Lula e por que se tornou o que se tornou. No entanto o salto entre o brasileiro comum e o líder de massas, construtor de um partido de trabalhadores, já era extraordinário. Nele – ou seja, no período reservado ao primeiro tomo – Lula já tinha feito maravilhas. E isso não foi contado.

Ao fim da leitura de “Lula Biografia Volume 1”, eu continuo com as mesmas dúvidas que sempre tive: por que entre tantos “novos sindicalistas” dos anos 70 e 80 e tantos construtores do PT só um se tornou Lula? Por que e como Lula submeteu todos os outros líderes e trabalhadores daquele período sindical e social vigoroso, a ponto de o Partido dos Trabalhadores se transformar aos poucos no “partido do Lula”?

terça-feira, 2 de setembro de 2025

Música do dia: Bahia com h. João Gilberto, Caetano Veloso e Gilberto Gil

Me incomoda vídeos no YT não incluírem crédito das músicas. Bahhia com h é uma canção exaltação de Denis Brean, pseudônimo do paulista Augusto Duarte Ribeiro (1917/1969), segundo a Wikipédia.

Nildo Ouriques analisa a política brasileira

Não o conhecia. Boa análise, com visão histórica ampla. Me fez pensar no óbvio: que todas as nações que se desenvolveram começaram com uma revolução. O Brasil ainda não fez a sua. Quer dizer, fez, em 1930, mas o povo não assumiu o controle e frações da burguesia terceirizaram o poder para os militares durante 21 anos e depois para a "esquerda" , que capitulou diante do neoliberalismo. O Brasil não tem mais um projeto nacional.

segunda-feira, 1 de setembro de 2025