Os europeus chegaram neste continente, trouxeram com eles os primórdios do capitalismo, começaram a destruir a Natureza e dizimar os indígenas, cujos sobreviventes fugiram para a Amazônia, os descendentes dos europeus foram atrás, destruindo tudo que encontraram pelo caminho, para produzir minério, madeira, criar gado, plantar cana-de-açúcar, café e soja para exportação, o que chamam de agronegócio, que é um negócio criminoso financiado com dinheiro público e apoiado pelas polícias e justiça, que ganha ou toma à força as terras dos seus habitantes originais e terras públicas, derruba a vegetação, contamina e seca os rios, envenena a terra e as plantações, massacra populações, escraviza trabalhadores e ganha bilhões, se apropria junto com os banqueiros de toda a riqueza produzida no país pelo trabalho dos brasileiros que vivem na miséria e destrói a biodiversidade extraordinária destas terras.
Como isso foi e é possível?
Primeiro, a partir de 1500, pela força das armas, da tecnologia e da religião cujos missionários acompanharam a ocupação portuguesa; lá pelas tantas, em 1808, o rei português colonizador e sua corte vieram para o Brasil, fugindo da invasão da sua nação por Napoleão, ficaram treze anos e quando voltaram deixaram aqui o herdeiro do trono, Pedro, que se tornou imperador do Brasil, sucedido depois por seu filho Pedro II; lá pelas tantas também, em 1889, quando o Império aboliu a escravidão dos africanos e seus descendentes, os militares do Exército recém-criado para lutar contra o Paraguai (uma guerra cruel e a mais longa do continente, mais longa que a Guerra de Secessão americana, e que fez 400 mil mortos, 70% deles paraguaios, toda a população masculina adulta e juvenil), em associação com os fazendeiros, dos quais os atuais agrotoxiconegociantes são descendentes, derrubaram e exilaram o imperador, sua família e seu séquito e começaram a República; lá pelas tantas, em 1930, quando o capitalismo mundial entrou na sua maior crise, em meio a revoluções socialistas e fascistas, e as exportações brasileiras entraram em colapso, setores dos fazendeiros e do Exército derrubaram o governo republicano, implantaram uma ditadura e começaram a construção do “Estado Novo”, baseado no nacionalismo, na modernização, na industrialização, na urbanização; lá pelas tantas, quando a II Guerra Mundial acabou com a derrota da Alemanha, da Itália e do Japão e a divisão do mundo em dois blocos de influência, um capitalista, liderado pelos EUA, e outro socialista, liderado pela URSS, um novo golpe derrubou a ditadura que tinha durado 15 anos e começou a “república populista”, com eleições diretas do presidente, governadores, prefeitos, senadores, deputados federais e estaduais e vereadores, organização de novos partidos e organizações de trabalhadores, além da disputa da continuação do projeto nacionalista entre o modelo original e um modelo sob influência dos EUA; lá pelas tantas, os militares do projeto sob influência dos EUA, que perdia todas as eleições presidenciais para o projeto nacionalista, deram um novo golpe e implantaram uma ditadura que durou 21 anos; lá pelas tantas, desgastados por crises econômicas, impopulares e perdendo apoio dos ricos, setores militares resolveram devolver o poder para os civis, foram diminuindo a ditadura aos poucos e finalmente, em 1985, perderam a eleição no colégio eleitoral que referendava os presidentes militares (foram cinco, além de uma junta militar provisória) e um presidente civil foi eleito, mas morreu antes de tomar posse, de forma que assumiu o seu vice, que tinha sido um civil colaborador da ditadura, o qual governou durante cinco anos e depois aconteceu a primeira eleição direta para presidente desde o golpe militar de 1964, inaugurando uma nova Constituição cheia de direitos e liberdades que representavam os anseios do movimento de redemocratização que ajudou a derrubar a ditadura e promoveu as maiores manifestações populares da história do Brasil, na chamada campanha da Diretas já!; começa então, em 1989, uma nova fase política que já dura 35 anos, caracterizada pela vigência da nova Constituição, da eleição direta do presidente, primeiro com mandato de cinco anos, depois com mandato de quatro anos com reeleição, copiando o modelo americano, e adoção da cartilha do capitalismo neoliberal na qual o Brasil abandona o nacionalismo e a industrialização e se torna exportador de minérios, carnes, soja, café e outros produtos agrícolas, comandado por banqueiros e latifundiários associados ao capital internacional, ao qual se submetem os partidos e líderes políticos emergentes após a ditadura, a saber: PRN, PSDB, PT, PL, Collor, FHC, Lula, Dilma, Bolsonaro, período no qual não faltam golpes, agora dados pelo Congresso e legitimados pelo STF, com maior ou menor participação dos militares e aos quais aderem os principais partidos e políticos no momento que lhes convém, nas formas de impeachment, processos judiciais, prisões, mudança no mandato presidencial, em 1992, 1997, 2016, 2018, 2025; a fase atual do Brasil é de deterioração política, econômica, ambiental, social e institucional, que caracteriza o fim do modelo citado acima, no qual políticos corruptos e corrompidos pelo sistema ajustam permanentemente as leis e as instituições para permanecerem no poder e servirem ao capital hegemônico, isto é, banqueiros e agrotoxiconegociantes, equilibrando-se entre os poderes do capital (“mercado”, “bolsas”, “investidores” etc.), do Congresso, da justiça, especialmente do STF, pesquisas de opinião, redes sociais, veículos de comunicação, interesses das suas bases eleitores, além dos seus interesses particulares, do interesse nacional e do voto popular expresso de quatro em quatro anos, sendo que dois últimos, os mais importantes, são os menos considerados, na verdade são incômodos que, se fosse possível, eles aboliriam e sempre que podem abandonam – o interesse nacional submetendo-o aos interesses dos lobbies e o voto popular logo depois da eleição (agora mesmo o Congresso está em vias de aprovar uma nova mudança nas regras eleitorais que aumenta os mandatos para cinco anos, proíbe a reeleição nos cargos do Executivo e faz coincidir as eleições, ou seja, o incômodo da manifestação popular só acontecerá de cinco em cinco anos; os deputados, senadores e vereadores continuarão com o direito à reeleição eterna. É curioso observar que, quando o interesse da reeleição era manter FHC no cargo, a mudança valeu para o presidente em exercício, mas agora o fim da reeleição não vai valer para os atuais prefeitos, governadores e presidente; além disso, os mandatos dos futuros prefeitos serão aumentados para seis anos, para possibilitar a coincidência das eleições, ou seja, teremos prefeitos com mandatos de dez anos! – os políticos só legislam em causa própria, o que é uma característica do corporativismo dominante no país, que longe de ser uma nação é formado por castas, que nunca pensam no interesse nacional ou do povo).