terça-feira, 17 de junho de 2025

História do Brasil de 1500 a 2025, resumida

Os europeus chegaram neste continente, trouxeram com eles os primórdios do capitalismo, começaram a destruir a Natureza e dizimar os indígenas, cujos sobreviventes fugiram para a Amazônia, os descendentes dos europeus foram atrás, destruindo tudo que encontraram pelo caminho, para produzir minério, madeira, criar gado, plantar cana-de-açúcar, café e soja para exportação, o que chamam de agronegócio, que é um negócio criminoso financiado com dinheiro público e apoiado pelas polícias e justiça, que ganha ou toma à força as terras dos seus habitantes originais e terras públicas, derruba a vegetação, contamina e seca os rios, envenena a terra e as plantações, massacra populações, escraviza trabalhadores e ganha bilhões, se apropria junto com os banqueiros de toda a riqueza produzida no país pelo trabalho dos brasileiros que vivem na miséria e destrói a biodiversidade extraordinária destas terras. 

Como isso foi e é possível? 

Primeiro, a partir de 1500, pela força das armas, da tecnologia e da religião cujos missionários acompanharam a ocupação portuguesa; lá pelas tantas, em 1808, o rei português colonizador e sua corte vieram para o Brasil, fugindo da invasão da sua nação por Napoleão, ficaram treze anos e quando voltaram deixaram aqui o herdeiro do trono, Pedro, que se tornou imperador do Brasil, sucedido depois por seu filho Pedro II; lá pelas tantas também, em 1889, quando o Império aboliu a escravidão dos africanos e seus descendentes, os militares do Exército recém-criado para lutar contra o Paraguai (uma guerra cruel e a mais longa do continente, mais longa que a Guerra de Secessão americana, e que fez 400 mil mortos, 70% deles paraguaios, toda a população masculina adulta e juvenil), em associação com os fazendeiros, dos quais os atuais agrotoxiconegociantes são descendentes, derrubaram e exilaram o imperador, sua família e seu séquito e começaram a República; lá pelas tantas, em 1930, quando o capitalismo mundial entrou na sua maior crise, em meio a revoluções socialistas e fascistas, e as exportações brasileiras entraram em colapso, setores dos fazendeiros e do Exército derrubaram o governo republicano, implantaram uma ditadura e começaram a construção do “Estado Novo”, baseado no nacionalismo, na modernização, na industrialização, na urbanização; lá pelas tantas, quando a II Guerra Mundial acabou com a derrota da Alemanha, da Itália e do Japão e a divisão do mundo em dois blocos de influência, um capitalista, liderado pelos EUA, e outro socialista, liderado pela URSS, um novo golpe derrubou a ditadura que tinha durado 15 anos e começou a “república populista”, com eleições diretas do presidente, governadores, prefeitos, senadores, deputados federais e estaduais e vereadores, organização de novos partidos e organizações de trabalhadores, além da disputa da continuação do projeto nacionalista entre o modelo original e um modelo sob influência dos EUA; lá pelas tantas, os militares do projeto sob influência dos EUA, que perdia todas as eleições presidenciais para o projeto nacionalista, deram um novo golpe e implantaram uma ditadura que durou 21 anos; lá pelas tantas, desgastados por crises econômicas, impopulares e perdendo apoio dos ricos, setores militares resolveram devolver o poder para os civis, foram diminuindo a ditadura aos poucos e finalmente, em 1985, perderam a eleição no colégio eleitoral que referendava os presidentes militares (foram cinco, além de uma junta militar provisória) e um presidente civil foi eleito, mas morreu antes de tomar posse, de forma que assumiu o seu vice, que tinha sido um civil colaborador da ditadura, o qual governou durante cinco anos e depois aconteceu a primeira eleição direta para presidente desde o golpe militar de 1964, inaugurando uma nova Constituição cheia de direitos e liberdades que representavam os anseios do movimento de redemocratização que ajudou a derrubar a ditadura e promoveu as maiores manifestações populares da história do Brasil, na chamada campanha da Diretas já!; começa então, em 1989, uma nova fase política que já dura 35 anos, caracterizada pela vigência da nova Constituição, da eleição direta do presidente, primeiro com mandato de cinco anos, depois com mandato de quatro anos com reeleição, copiando o modelo americano, e adoção da cartilha do capitalismo neoliberal na qual o Brasil abandona o nacionalismo e a industrialização e se torna exportador de minérios, carnes, soja, café e outros produtos agrícolas, comandado por banqueiros e latifundiários associados ao capital internacional, ao qual se submetem os partidos e líderes políticos emergentes após a ditadura, a saber: PRN, PSDB, PT, PL, Collor, FHC, Lula, Dilma, Bolsonaro, período no qual não faltam golpes, agora dados pelo Congresso e legitimados pelo STF, com maior ou menor participação dos militares e aos quais aderem os principais partidos e políticos no momento que lhes convém, nas formas de impeachment, processos judiciais, prisões, mudança no mandato presidencial, em 1992, 1997, 2016, 2018, 2025; a fase atual do Brasil é de deterioração política, econômica, ambiental, social e institucional, que caracteriza o fim do modelo citado acima, no qual políticos corruptos e corrompidos pelo sistema ajustam permanentemente as leis e as instituições para permanecerem no poder e servirem ao capital hegemônico, isto é, banqueiros e agrotoxiconegociantes, equilibrando-se entre os poderes do capital (“mercado”, “bolsas”, “investidores” etc.), do Congresso, da justiça, especialmente do STF, pesquisas de opinião, redes sociais, veículos de comunicação, interesses das suas bases eleitores, além dos seus interesses particulares, do interesse nacional e do voto popular expresso de quatro em quatro anos, sendo que dois últimos, os mais importantes, são os menos considerados, na verdade são incômodos que, se fosse possível, eles aboliriam e sempre que podem abandonam – o interesse nacional submetendo-o aos interesses dos lobbies e o voto popular logo depois da eleição (agora mesmo o Congresso está em vias de aprovar uma nova mudança nas regras eleitorais que aumenta os mandatos para cinco anos, proíbe a reeleição nos cargos do Executivo e faz coincidir as eleições, ou seja, o incômodo da manifestação popular só acontecerá de cinco em cinco anos; os deputados, senadores e vereadores continuarão com o direito à reeleição eterna. É curioso observar que, quando o interesse da reeleição era manter FHC no cargo, a mudança valeu para o presidente em exercício, mas agora o fim da reeleição não vai valer para os atuais prefeitos, governadores e presidente; além disso, os mandatos dos futuros prefeitos serão aumentados para seis anos, para possibilitar a coincidência das eleições, ou seja, teremos prefeitos com mandatos de dez anos! – os políticos só legislam em causa própria, o que é uma característica do corporativismo dominante no país, que longe de ser uma nação é formado por castas, que nunca pensam no interesse nacional ou do povo). 

segunda-feira, 16 de junho de 2025

Cenas do fim do mundo: vida individual e ação política

Há alguns dias notei que o ator Lázaro Ramos anda sumido, mas eu não tenho televisão e não acompanho noticiário de celebridades, podia estar enganado. Hoje vi essa notícia abaixo, que não pode ser compartilhada, mas pode ser lida no link. Reproduzo aqui porque é uma questão importante do mundo globalizado: a relação entre a vida individual e a situação geral da espécie humana e da Terra. O que aconteceu com o ator é o que acontece silenciosamente com todos nós que acompanhamos as notícias do mundo e do Brasil e olhamos a nossa cidade quando andamos nas ruas.

Os idiotas não sofrem com o que está acontecendo e até justificam e promovem as atrocidades, os conscientes sofrem. É comum que aqueles que protestam por causas gerais ajam na vida pessoal de forma contrária ao que dizem defender. O genocídio dos palestinos por um povo que sofreu genocídio é um terror que mobiliza ativistas, o genocídio dos pretos no Brasil pelas polícias não mobiliza. O que indivíduos podem fazer para melhorar o mundo? Eis a questão. Quando a ação se dá em torno de instituições, como partidos e outras, torna-se política e política é negociação, é falsidade, aparência, dinheiro, corrupção, interesses e coisas assim. O controle dos judeus sionistas sobre a comunicação mundial é impressionante, o controle dos banqueiros sobre a comunicação brasileira, também. O filme de um banqueiro que denuncia a ditadura militar ganhou Oscar, mas o cineasta não fala do Brasil contemporâneo, dos 99,99% dos brasileiros que os juros bancários mantêm na pobreza e na miséria. Sofrer pelo mundo e fazer o quê? E as vidas dos pobres e miseráveis que já são tão sofridas? E as vidas individuais de luxos dos ricos e célebres hipócritas que protestam? Coerência entre vida individual e vida social, ação política consequente e radical: acho difícil salvar o Homo sapiens (por sinal, o grande escritor e judeu sionista israelense Yuval Harari se cala criminosamente sobre o genocídios dos palestinos) e a Terra de outra forma que não esta. Tudo nesse cenário do fim do mundo é muito contraditório.

'Meu corpo parou e eu me vi adoecido': o desabafo de Lázaro Ramos na Bienal 

Filipe Pavão De Splash, no Rio 15/6/2025 22h52 

Lázaro Ramos, 46, relembrou o episódio de burnout que teve em 2024 e fez um desabafo hoje, durante a Bienal do Livro, no Rio. Compartilhou uma confissão particular sobre adoecimento emocional recente, causado por um período intenso de trabalho, como revelou anteriormente, e por absorver as "dores do mundo" – em especial, as que atingem as pessoas negras. "Uma das coisas que me fez adoecer no ano passado foi porque estava ouvindo os problemas das pessoas, do mundo e eu processava como se fosse comigo. Eu tinha sensações físicas, mentais, pensamento… Não conseguia distinguir um pensamento do outro. Eram quatro coisas ao mesmo tempo."

https://www.uol.com.br/splash/noticias/2025/06/15/meu-corpo-parou-e-eu-me-vi-adoecido-o-desabafo-de-lazaro-ramos-na-bienal.htm

 

Cenas do fim do mundo: troca de CPF em mandado de prisão atinge jornalista

Sakamoto é parado pela PM, CPF e placa de carro em mandado de prisão foram adulterados.

Cientista judeu especialista em genocídio afirma que Israel pratica genocídio dos palestinos

É óbvio. O fato de a imprensa não tratar o assunto dessa forma e o mundo não se revoltar mostra como Israel e Estados Unidos controlam a informação mundial. Timidamente, a BBC toca no assunto. É significativo que a entrevista não esteja assinada: é para proteger o autor ou a autora da perseguição de Israel. Nessa cena do fim do mundo, o mundo acompanha um genocídio como nunca aconteceu antes e não nos revoltamos, as autoridades nacionais e mundiais não o impedem. Escolas, hospitais, igrejas, áreas residenciais são bombardeados, crianças, mulheres, médicos, enfermeiros, jornalistas, funcionários de instituições de ajuda internacional são mortos. Tudo acontece há dois anos diariamente e assistimos  pela televisão e pela internet. O mundo vai acabar assim, sem reação da espécie humana para defender a vida, a vida individual e a vida de todos. 

'O que Israel faz em Gaza não tem precedentes no século 21', diz historiador israelense especialista em holocausto  

BBC News Mundo  

"O que está acontecendo em Gaza se encaixa na definição de genocídio, uma tentativa de destruir um grupo como tal", afirmou Omer Bartov à BBC News Mundo, serviço de notícias em espanhol da BBC.

Bartov é professor de estudos sobre Holocausto e genocídio na Universidade Brown, nos Estados Unidos. Ele é um dos maiores especialistas em genocídio mundialmente, de acordo com o site do Museu Memorial do Holocausto dos EUA.

O historiador é cidadão israelense e americano e, na década de 1970, foi soldado do Exército israelense.

Inicialmente, Bartov não classificou como genocídio as ações militares de Israel em Gaza após o ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023. Agora, ele não hesita em fazer isso, e afirma que há um consenso neste sentido entre especialistas em genocídio.

Bartov explicou à BBC News Mundo por que mudou de posição e por que a ação israelense em Gaza "não tem equivalente" na história recente. Ele também refletiu sobre algo que descreve como "perturbador": a indiferença de muitos israelenses ao sofrimento dos palestinos. 

Israel enfrenta uma acusação de genocídio na Corte Internacional de Justiça (CIJ), e o primeiro-ministro do país, Benjamin Netanyahu, tem um mandado de prisão do Tribunal Penal Internacional por supostos crimes de guerra.

O parlamentar israelense Boaz Bismuth, leal a Netanyahu e suas políticas, argumenta: "Como podem nos acusar de genocídio quando a população palestina cresceu não sei quantas vezes? Como podem nos acusar de limpeza étnica quando estou deslocando a população dentro de Gaza para protegê-la? Como podem nos acusar quando estamos perdendo soldados para proteger nossos inimigos?"

Israel lançou uma campanha militar em Gaza em resposta ao ataque pela fronteira do Hamas em 7 de outubro de 2023, no qual cerca de 1,2 mil pessoas foram mortas e outras 251 foram feitas reféns.

Desde então, os ataques israelenses mataram pelo menos 54.470 pessoas em Gaza, incluindo mais de 17 mil crianças, de acordo com o Ministério da Saúde do território, administrado pelo Hamas.

A seguir, está a entrevista que a BBC News Mundo fez com Omer Bartov.

BBC News Mundo - Nos primeiros meses após o ataque do Hamas, você não usou a palavra genocídio para se referir às ações de Israel em Gaza. Quando e por que você mudou de posição?

Omer Bartov - Mudei de opinião e passei a acreditar que Gaza é inegavelmente um caso de genocídio no início de maio de 2024.

Em novembro de 2023, escrevi que havia evidências de crimes de guerra, possivelmente crimes contra a humanidade.

Eu ainda não tinha certeza de que havia provas suficientes de genocídio. Mas havia indícios de que poderia chegar a isso, porque havia declarações com conteúdo genocida.

Em maio de 2024, quando as Forças de Defesa de Israel (FDI) entraram em Rafah e desalojaram cerca de um milhão de pessoas para a região de Al-Mawasi, uma área sem infraestrutura à beira-mar, isso parecia indicar que se tratava de uma operação com intenções genocidas, intenções que já haviam sido manifestadas em outubro de 2023.

Leia a íntegra clicando aqui. 

 

Cenas do fim do mundo: o genocídio dos palestinos pelos judeus

"Fracasso moral e ético total": O judeu estudioso do Holocausto Omer Bartov fala sobre o genocídio de Israel em Gaza.

Cenas do fim do mundo: a comida envenenada

"Pessoas preferem não saber o que tem no tomate, alface ou morango. Se soubessem, não comeriam."

quarta-feira, 11 de junho de 2025

Música do dia: Chora coração, Tom Jobim

Celebridades, jornalistas e as duas questões fundamentais do nosso tempo

Nos últimos dias vi três entrevistas muito boas no canal Rivo Talks no Youtube com Alexandre Frota, Ciro Gomes e Lobão. São entrevistas longas e não são recentes, o YT tem essa vantagem, a gente pode ver quando quiser. Cada vez mais a exibição é interrompida por anúncios e eu tenho de clicar no “pular”; alguns anunciantes põem uma opção de aparência idêntica mas escrito “comprar”, uma armadilha. É um saco ficar “pulando” toda hora; depois de algumas vezes, o YT oferece a opção de assinatura, sem anúncios, que é o que ele quer, que a gente assine, mas eu me nego a pagar assinaturas de serviços na internet, não pelos produtores de conteúdo, mas porque as “big techs” pegam a maior fatia; prefiro continuar “pulando”, e está cada vez mais chato. Esse é um problema que pouco se discute, todo mundo foi se adaptando ao modelo que tomou conta da internet e que é controlado por meia dúzia de empresas americanas de alcance mundial que se tornaram bilionárias e superpoderosas. Pouco se discute os assuntos mais importantes do mundo contemporâneo e era sobre isso que eu queria escrever ao falar das entrevistas citadas no começo, mas o tema volta também aqui. 

O controle da inteligência pelas empresas de tecnologia é um dos dois fenômenos mais importantes da nossa época e pouco falamos dele. Como disse, todo mundo se adaptou à condição de “produtor de conteúdo”, que de fato foi um avanço impressionante, porque a divulgação de informações (conhecimentos) multiplicou-se infinitamente ao mesmo tempo que saiu do controle de meia dúzia de empresas como acontecia antes, na era da televisão, do rádio e da imprensa impressa. Eu sou um consumidor ávido do YT, como disse, a única “rede social” que me parece interessante, além do zap, que, para mim, funciona para telefonemas e mensagens individuais; não uso outras redes. O YT, porém é um veículo fantástico de informação, especialmente de informações não imediatas; para noticiários ainda é insuficiente, mas para conteúdos diversos, ele cumpre o que se esperava da internet: que todo mundo pudesse transmitir seus conhecimentos diretamente para todo mundo, sem depender das grandes empresas “de mídia” tradicional, como se dizia. 

Qual é o problema? O problema é o controle dessa “nova mídia” por meia dúzia de empresas gigantes multinacionais de origem americana. Não é um controle com o da velha mídia, mas na essência é o mesmo: dominação econômica e manipulação da informação. Do ponto de vista da informação, as empresas direcionam os conteúdos que o público vê, por meio dos famosos algoritmos. Do ponto de vista econômico, o controle é muito maior do que antes, porque meia dúzia de empresas americanas detêm a comunicação mundial, o que as levou a se tornarem as empresas mais ricas do mundo neste século. E o que elas produzem? Nada. Elas desenvolvem tecnologias para a população em geral consumir conteúdos que alguns profissionais produzem. 

O que significa isso? 

Em primeiro lugar, os profissionais que desenvolvem tecnologias, isto é, os trabalhadores dessas empresas, são poucos e estão sendo substituídos por uma tecnologia que eles mesmos desenvolveram, a chamada “inteligência artificial”. Em segundo lugar, os produtores de conteúdos não são empregados das “bich tchs”, produzem gratuitamente para elas e ainda repassam a elas a maior parte dos seus ganhos gerados pelo consumo de toda a população. Ou seja, o modelo de negócio desenvolvimento pelas “big tchs” que dominam a internet transformou um enorme contingente de trabalhadores em produtores não remunerados de conteúdos que elas vendem; quem paga é o público que consome e a maior fatia fica com as empresas, não com os produtores. E quase ninguém discute isso, ninguém se revolta, ninguém se insurge, ninguém se organiza contras as empresas. As “big techs” inventaram o modelo de negócios capitalista perfeito. E está tudo bem, não há “conflitos de classe” como há no capitalismo industrial, não há sindicatos, não há regulamentação do trabalho, não há direitos trabalhistas, não há greves, nada. Não é à toa que nesse ambiente a ideologia da “teologia da prosperidade” das igrejas protestantes prospera. 

O segundo fenômeno fundamental da nossa época é a origem deste texto: a destruição das condições de vida na Terra pela espécie humana. Vendo as três entrevistas citadas pensei nisso: são três indivíduos muito importantes no Brasil contemporâneo, inteligentes, famosos, ricos, cultos, integrantes das elites nacionais nas últimas cinco décadas e principalmente brasileiros que tiveram vidas admiráveis, o que não significa concordar com eles e com suas ações, mas reconhecer que são indivíduos que experimentaram vidas muito mais, digamos, ricas do que as pessoas comuns. E as entrevistas refletem isso, são muito interessantes. No entanto em nenhum momento se falou do assunto mais importante do nosso tempo. Isso expressa como a consciência das catástrofes que já acontecem e nos aguardam nos próximos anos inexoravelmente e que nos levarão para o “fim do mundo”, não no sentido religioso, mas no sentido ambiental, essa consciência não faz parte do nosso dia a dia, todo mundo continua vivendo suas vidas individuais que, em síntese, significam fazer o capitalismo funcionar (e destruir cada vez mais), produzindo, ganhando dinheiro, trabalhando, se divertindo, consumindo etc. O mundo contemporâneo é um mundo de entretenimento – a internet tornou-se parte da indústria de entretenimento, a parte mais dinâmica dela, e falar da catástrofe ambiental não diverte, não entretém. Talvez as pessoas mais conscientes e verdadeiramente comprometidas com “a pauta ambiental”, como se diz hoje, ainda não saibam como fazer isso: constatam, se preocupam, mas não sabem o que fazer. 

O fato é que a questão mais importante da nossa época não entrou nas três excelentes entrevistas. Os três entrevistados célebres e os dois entrevistadores muito bons falaram de feitos e ideias notáveis, mas a catástrofe ambiental não faz parte das suas vidas aparentemente. 

PS: O Rivo News, só descobri hoje, 16/6, é um canal que se cala diante do genocídio dos palestinos pelos judeus e faz comentários simpáticos a Israel, o que é decepcionante. 

terça-feira, 27 de maio de 2025

Calma urgente: realidade é fricção. I.A. e o fim do arbítrio

Os grandões da tecnologia americanos anunciaram que vão inventar Deus em 2027. É essa a ideia, o Deus do século XXI, Deus redivivo. A inteligência artificial vaia estar em toda parte, interagindo com a nossa vida, presencialmente, sem que precisamos operar um celular. Isso nãoa é Deus? Há milhares de anos, o homem inventou um Deus, vários deuses, agora estão inventando outro, com a tecnologia. 

sábado, 24 de maio de 2025

Música do dia: Que loucura, Sérgio Sampaio

Sebastião Salgado, 1944-2025

O mundo está ficando despovoado de gente boa. Depois da Argentina e do Uruguai, o Brasil dá sua cota para o empobrecimento do mundo em 2025. Não se pode dizer que Salgado, Mujica e Bergoglio tenham levado vidas de sofrimento, ao contrário, nesse mundo absurdo do século XXI, viveram vidas boas e longas. A foto abaixo foi copiada do do saite do International Center of Photografy, no qual tem a seguinte legenda: São Paulo, Brazil: Abandoned babies playing on the roof of a Febem (Foundation for Child Welfare) center; 430 children live there, 35 percent of those children were found abandoned on city streets. 2007. Entre as incontáveis obras de arte do Sebastião Salgado, mostrar crianças abandonadas é certamente o retrato mais eloquente da espécie que destrói o planeta Terra e não se interessa sequer pela sua continuação. 

São Paulo, Brazil: Abandoned babies playing on the roof of a FEBEM (Foundation for Child Welfare) center; 430 children live there, 35 percent of those children were found abandoned on city streets;

terça-feira, 20 de maio de 2025

CALMA URGENTE! Deus abençoe minha audiência

Um quadro do absurdo da nossa época, expresso num Congresso alienado. Coisas desse tipo me parecem formar um ambiente de véspera de revolução. 

Franklin Martins conversa com Hildegard Angel

Ouvir Franklin Martins sempre é bom. Ele tem pedigree, tem uma história admirável, faz parte da geração de 68, tem experiências no jornalismo e no governo e uma obra extraordinária de pesquisa da MBP; não é qualquer um. Sua limitação, na minha opinião, é ver a realidade de um ponto de vista político tradicional, numa época em que o absurdo se impõe no mundo. Sua aula de história é importante, embora quase tudo eu já soubesse e pense igual. Ele disse duas coisas novas para mim. A primeira é que abandonar a oposição legal entre 1964 e 1974 foi um erro, o que me parece correto, e até óbvio, hoje, diante das consequências da luta armada. A segunda é que a política está presente na MPB desde o Império, o que é uma característica que nenhuma outra nação tem, e isso aconteceu em decorrência da oralidade da nossa cultura, numa sociedade de analfabetos. 

quarta-feira, 14 de maio de 2025

Música do dia: Lero e Leros e Boleros, Sérgio Sampaio

Sempre que escuto as obras-primas da música popular brasileira, penso para que publicar poesia em livro. 

 

Bergoglio, Mujica e Lula

Cada povo com sua peronalidade.

segunda-feira, 12 de maio de 2025

Dois óscares para Fernanda

Um pela a ponta em Ainda estou aqui e outro pela magnífica atuação em Vitória. Eu nunca tinha visto nada igual. Pensei que era uma ponta também e vi um filme inteiro sustentado por uma atriz de 95 anos. Nem Ruth Gordon (75 anos), em Harold and Maude, nem Jessica Tandy, em Driving Miss Daisy (80 anos). Vitória tem um defeito imperdoável: o filme se baseia na história de uma mulher negra e isso fica evidente, quando a gente fica sabendo, e então as peças se encaixam, mas o defeito imperdoável é perdoado porque a protagonista é vivida pela Fernanda Montenegro, a maior atriz de todos os tempos. Só ela era capaz de fazer isso. A plateia aplaudiu ao final da sessão. 

 

quarta-feira, 7 de maio de 2025

Provoca com Tadeu Jungle, 6/5/2025

Vale a pena ver. O melhor Provoca com Marcelo Tas a que eu já assisti. Eu não conhecia um dos maiores artistas brasileiros contemporâneos.

terça-feira, 6 de maio de 2025

Calma urgente! - O inferno é a nuvem

Ótima discussão pertinente, cheia de informações e opiniões inteligentes. 

Uma radiografia da CBF, um retrato do Brasil

Que país é este? Que democracia é esta? O poder mais democrático é também o mais corrupto. O menos democrático é o que tem salvado a democracia. Aquele no qual os brasileiros depositam nas urnas de quatro em quatro anos as suas esperanças é um fantoche dos banqueiros e agrotoxicoexportadores. Talvez o que os chineses estão dizendo para os americanos sirva também para os brasileiros: vocês precisam de uma revolução. Não sou favorável a revolução, que é uma violência terrível, mas me pergunto se ela mataria mais do que os 700 mil mortos de covid que um governo de criminosos matou, se mataria mais do que 30 mil mortos nas rodovias e os 50 mil pobres mortos por violência por ano. Essa matança de brasileiros acontece porque a vida do pobre aqui não vale nada, porque o Brasil é uma nação que não tem identidade, não tem um projeto nacional, é profundamente injusta e desigual, governada por interesses particulares, nos quais predominam castas, lobbies, facções criminosas. Há dez anos o país estava em ebulição com uma pretensa campanha anticorrupção, que derrubou uma presidenta reeleita, e o que tivemos depois, o que temos hoje? Muito mais corrupção do que antes, corrupção desavergonhada, em todas as instituições, no Congresso, nos poderes executivos e até no STF. Juízes de primeira instância ganham mais de 100 mil reais por mês e os presidentes das federações estaduais de futebol também. E o salário mínimo, quanto é? 1.500 reais! E o trabalhador, quantas horas trabalha? Dezesseis horas por dia, sem descanso remunerado, porque agora todo mundo é PJ, é MEI, é "empreendedor". O Brasil está se desintegrando sob o comando do neoliberalismo desde o governo Collor, passando pelos de FHC, Lula, Dilma, bozo, temer e Lula outra vez. Os integrantes do STF fazem política, pelo menos um usa o cargo para benefício pessoal, como mostra a reportagem da Piauí e outras antes já tinham mostrando, mas não foram eleitos, foram escolhidos pelo presidente da República da vez, um processo absolutamente elitista. O Congresso escolhido pelo voto popular, que reúne os políticos espalhados pelo país e mais próximos do povo e do seu pensamento, que dependem do que entregam aos eleitores para serem reeleitos, não têm a menor responsabilidade com o governo, cada um pensa em si, e nele a corrupção é generalizada, quem manda são os donos dos partidos. O Brasil só existiu como nação na Revolução de 1930 (1930-1945) e nos efeitos desta que duraram até o desmonte feito pelo neoliberalismo a partir da redemocratização de 1985, não porque a democracia seja ruim, mas porque seu projeto nacional, materializado na Constituição de 1988, não foi implantado, porque a Constituição democrática foi usurpada pelos banqueiros, pelas castas, pelos lobbies e pelo crime organizado cada vez mais poderosos. Para o povo, sobraram os desmontes da regulação do trabalho, o pagamento eterno da dívida dos banqueiros, os venenos na comida, as destruições ambientais provocadas pela mineração e pelo agrotoxiconegócio e as matanças diárias de pobres pelas polícias e pelos bandidos. Esse é o ambiente que gera revoluções.


sábado, 3 de maio de 2025

A técnica que aniquila qualquer sofrimento

Muito interessante. Certamente a transformação social passa pela transformação dos indivíduos, isto é, pela vontade de cada um transformar-se a si mesmo, em vez de esperar a revolução (ou o paraíso) ou se esconder nos males sociais que justificam seu comportamento. 

Lições e estratégias da Cidade do México para os centros das cidades

Excelente fonte de reflexões. 

 

A revolução bolchevique segundo Paulo Leminski

Muito bom. Depois vou escrever comentários, por enquanto vou só republicar.

quinta-feira, 1 de maio de 2025

Música do dia: Gota d'água, Chico Buarque

Uma curiosidade nessa gravação: ao repetir a primeira parte da canção, Chico canta: "Já lhe dei eu meu corpo, não me servia..." Bonito e significativo. Será a letra original, censurada, como costumava acontecer? Será que ele escreveu e nunca gravou, mas lembrava? Conferi em outras gravações, inclusive da Bibi Ferreira, que é a original, da peça, a primeira parte declamada, e belíssima, por sinal, também não tem esse verso. Essa gravação do Chico, até onde sei, é uma singularidade.

quarta-feira, 30 de abril de 2025

Calma Urgente! - Sinofolia. China e a Nova Guerra Cultural

O que comentei aqui no dia 16/4, que a China desenvolveu o seu modelo de capitalismo comunista e que precisamos conhecê-lo, continua sendo objeto de interesse dos principais podcasts. Este talvez seja o melhor que ouvi. Não sou nenhum visionário, apenas vejo o óbvio, que a esquerda brasileira (mundial?) prefere ignorar, porque parou em Lênin, o que me possibilitou criticar Lula, em vez de endeusá-lo. Enfim, essa verdade fundamental do século XXI está emergindo agora com a confusão provocada pelo presidente americano. Nós, brasileiros, achamos que somos europeus e queremos ser ianques, ignoramos as civilizações indígenas que viviam aqui quando os portugueses chegaram para pilhar estas terras, condição que não mudou até hoje, a destruição do Cerrado e da Amazônia pelo agrotoxiconegócio é só uma espécie de atualização da destruição da Mata Atlântica pelos colonizadores. Porque não temos identidade própria e copiamos outros povos, não conseguimos entender a civilização chinesa, milinar, para a qual a atual fase capitalista comunista é só uma nova era. Como será esse novo predomínio mundial chinês?

segunda-feira, 28 de abril de 2025

O melhor programa do YouTube

Sobre urbanismo e arquitetura -- há outros que discutem política e nos informam sobre questões humanas fundamentais, como Calma! Urgente, A Hora, Foro de Teresina e outros. São Paulo nas Alturas, porém, que apesar do nome, viaja pelo Brasil e já veio a BH, é mais amplo, é sobre a vida contemporânea, abrange o principal, como vivemos nas cidades no mundo contemporâneo, e interferir nisso é mudar a nossa própria vida. São escolhas políticas e passam pelo povo, que pode decidir, nas eleições, e pode escolher sabiamente, pois são escolhas que lhe dizem respeito e qualquer um percebe o que é melhor. Há muito tempo não via uma iniciativa como essa, um projeto patrocinado por uma entidade com um objetivo público. Mostra que boas iniciativas são possíveis -- e existem, muitas. Fico pensando que o que falta para a espécie humana se salvar -- e vai ser assim, com iniciativas locais, a partir das escolhas dos indivíduos, coletivamente, que podem ser copiadas mundo afora -- é as pessoas boas se unirem, juntando o que cada um e cada uma sabem e fazem para tornar a vida boa. Esse primeiro programa da série pergunta se Curitiba é a melhor capital do Brasil. Me parece evidente que sim, por um motivo muito simples, citado logo no começo: teve um prefeito sensato, nos anos 70, que planejou o crescimento da cidade com propostas razoáveis, que qualquer prefeito pode seguir, se pensar na coletividade, não nos interesses particulares dos capitalistas que dominam os governos brasileiros em geral.  Belo Horizonte mesmo tem todas as condições para ter um transporte coletivo de qualidade como Curitiba, mas em vez disso fez o monstrengo do Move, falso metrô (Curitiba não tem metrô) horroroso e ainda os carros e motos lotando as ruas, ou seja, retrocedeu terrivelmente nas últimas décadas. 

 

Não atenda ligações no celular, é robô e vai prejudicá-lo

Ninguém deve atender ligações de números não identificados no celular. São ligações feitas por robô e o objetivo é enganar e cometer um crime. A mesma tecnologia que cria o crime é capaz de impedi-lo, mas não o faz, as autoridades tentam resolver o problema mas ainda são incapazes, e os prejuízos são permanentes. Isso tudo é óbvio, mas tem gente que atende.

 

quarta-feira, 23 de abril de 2025

Papa Francisco cortou luxos e abriu Vaticano para sem-tetos

Mais informações e análises, outros pontos de vista. Até o papa foi mais reformador do que o Lula. Francisco nomeou 108 dos 135 eleitores no próximo conclave, de 71 nacionalidades, a maioria deles conservadores, mas os conservadores são mais unidos.

'O novo papa será italiano e progressista', prevê Frei Betto

A análise do Frei Betto completa a conversa do Calma! Urgente e tem discordâncias importantes, ditas por quem é da Igreja e conheceu Francisco de perto. O título no YouTube está errando, o correto é este que aparece aqui: "um corpo conservador e uma cabeça progressista".

A morte do papa Francisco e o futuro

Estou em dúvida, talvez seja esse o melhor podcast semanal.

terça-feira, 22 de abril de 2025

Comemos alimentos envenenados e fingimos não saber

Assim como a destruição ambiental, que conhecemos desde os anos 70 pelo menos, mas fingimos que não é com a gente. É. Todos destruímos o ambiente, como nossos hábitos de consumo, e contribuímos para que o capitalismo continue sua obra de destruição. Achamos que o problema é tão grande que não podemos fazer nada. Ou fazemos algumas coisas que não mudam o quadro, porque a mudança precisa ser radical. Achamos que isso é responsabilidade dos governos e das empresas, mas empresas querem ganhar dinheiro, não vão mudar suas práticas para conter e reparar a destruição ambiental, e governos são eleitos com dinheiro das empresas, não vão contrariá-las. Para impedir a catástrofe ambiental, para que continue a existir mundo para nossos filhos e netos, somos nós, as pessoas comuns, que temos de agir. Cada um tem que tomar a decisão determinada de mudar seu estilo de vida e abolir práticas que destroem o ambiente. Simples assim. Quando fizermos isso, estaremos influenciando políticos e empresas. Outra coisa é ilusão. Gostamos muito de nos iludirmos.  

 

sábado, 19 de abril de 2025

O que você precisa saber sobre a China, segundo Toledo e Haddad

O que eu cobrei há alguns dias, está sendo motivo de atenção não só do jornalista José Roberto de Toledo, mas também do ministro Fernando Haddad, o que mostra que estou pensando bem, sobre o óbvio: precisamos conhecer a China, o que está acontecendo lá e o que aconteceu para que esse país comunista e capitalista (!) não repetisse o fracasso da União Soviética. Uma das coisas que a China fez diferente da Rússia foi não aderir às soluções neoliberais do FMI. Este programa dá algumas dicas e ainda uma bibliografia para quem quiser saber mais.

sexta-feira, 18 de abril de 2025

Agrotoxiconegócio destrói o ambiente e não produz alimentos suficientes

Da excelente Repórter Brasil.

‘Comida mais cara tem a ver com a falta de reforma agrária’, diz pesquisadora

Para Yamila Goldfarb, presidenta da Associação Brasileira de Reforma Agrária, combater a concentração de terras ainda é ferramenta para reduzir a fome, diminuir a injustiça social, fazer reparações à população negra e mitigar a crise climática. 
 
Por Igor Ojeda, 17/4/2025  

A ALTA DOS PREÇOS dos alimentos observada nos últimos meses no Brasil tem como um dos fatores a falta de uma política consistente de reforma agrária. A avaliação é de Yamila Goldfarb, presidenta da Abra (Associação Brasileira de Reforma Agrária). 

“Há um déficit de oferta de alimentos que seria suprido pela reforma agrária, com mais famílias tendo acesso à terra e, portanto, podendo produzir alimento”, explica, em entrevista à Repórter Brasil

Segundo Yamila, a oferta de alimentos deve ser uma das medidas de combate à fome. Mas, ao contrário do que propaga, o agronegócio não supre o mercado interno, além de ser responsável por danos ambientais e conflitos no campo. 

Doutora em ciências humanas pela USP, Yamila Goldfarb preside a Associação Brasileira de Reforma Agrária (Foto: Arquivo Pessoal)
Doutora em ciências humanas pela USP, Yamila Goldfarb preside a Associação Brasileira de Reforma Agrária (Foto: Arquivo Pessoal)

“O agronegócio implementou uma estratégia política e midiática de se fazer valer como sendo tudo e todos: ‘É o motor da economia brasileira, representa o campo brasileiro.’ E essas duas afirmações são mentiras”, afirma.

Doutora em ciências humanas pela USP (Universidade de São Paulo), Yamila argumenta que a modernização do campo a partir da década de 1990 abriu margem para o discurso de que a reforma agrária não é mais necessária, ideia que considera um equívoco. “Não somente a reforma agrária sempre se manteve atual, como ela ganha uma nova importância hoje frente à questão climática”, reflete.

A entrevista é publicada por ocasião do Dia Nacional de Luta pela Reforma Agrária, celebrado em 17 de abril. Instituída em 2002, a data marca o Massacre de Eldorado dos Carajás, no Pará, quando, nesse mesmo dia de 1996, 21 trabalhadores rurais sem-terra foram assassinados pela polícia. 

Na entrevista, a presidenta da Abra analisa também a relação do agronegócio com a extrema direita, as dificuldades encontradas pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva para implementar a reforma agrária e a importância dessa política como medida de reparação para a população negra.

Leia a íntegra clicando aqui.

Tom Jobim, a imprensa e a verdade

Esse trecho da entrevista é importante, porque o interrompem menos. 

"O Brasil não é para principiantes" (Tom Jobim)

Hoje é sexta-feira 18 de abril, segunda-feira é feriado e por conta disso a feirinha aqui da esquina não funcionou. Eu não entendi por que e lembrei da frase do Tom Jobim: "O Brasil não é para principiantes". Ouvir o Tom falando sempre é ótimo, quando os entrevistadores deixam e não o interrompem, com sua ignorância, vontade de aparecer mais que o entrevistado e perguntas fúteis. Essa prática, generalizada, me incomodava, até entender que a função dos entrevistadores na televisão é realmente atrapalhar, para que nada importante seja dito, porque televisão não é para isso, televisão é show. Há exceções, e acho até que vem melhorando, talvez por influência da internet. A gente tem que pular, ouvir só o entrevistado, e aí consegue escutar o Tom explicar a história da sua frase famosa, a exata inclusive. 

PS: Desligado do mundo e da religião, não me dei conta de que hoje é feriado cristão, Sexta-feira da Paixão. O comércio todo tá fechado. Feriadão daqueles, quatro dias.

quarta-feira, 16 de abril de 2025

Capitalismo sem-vergonha

Há muito tempo não via um programa com tantas verdades sobre o mundo contemporâneo e de uma forma amarrada, ligando áreas distintas, como a vida privada, a política, a economia, a arte, enfim, a ideologia da nossa época, como esse Calma urgente! Sem-vergonhismo. Aplausos prolongados para Gregório Duvivier, Alessandra Orofino e Bruno Torturra. Eles discutem sobre esses estranhos tempos em que os mais ricos e poderosos não têm vergonha de roubar, manipular e enganar, inclusive seus "seguidores", isto é, seus fãs, seus eleitores, seus consumidores. O que escrevo aqui não é exatamente o que diz o trio do programa, mas o que penso a partir do que eles dizem, inclusive comentários críticos.

O ponto fundamental é que o capitalismo não mudou, continua o mesmo na sua essência, o que mudou, o que muda sempre é só a ideologia. A ideologia pela qual o capital se expressa nas mentes de alguns, os ideólogos do capital, e escraviza a todos nós, humanos, como seus servidores, capitalistas e trabalhadores. 

A nova direita, também chamada de extrema direita e de fascista, adotou o método que está sendo um sucesso, comercial e eleitoral, o que dá no mesmo. A esquerda brasileira, no poder, misturou o sucesso político e eleitoral com a corrupção; a corrupção fazia parte do sucesso político, do poder, o preço a pagar para, e deixou de ser uma alternativa ao sistema capitalista sem-vergonha. Isso continua e está mais desavergonhado nesse terceiro governo Lula. 

No fim, tudo é capitalismo, de direita ou de esquerda. Não penso que a extrema direita seja pior do que a esquerda capitalista ou o centro capitalista, está aí o "Centrão" para provar, na política brasileira. São diferentes e a sem-vergonhice assusta alguns, os crimes assumidos nos aterrorizam, sejam as mais 700 mil mortes por covid-19, sejam os extermínios de indígenas e de palestinos, seja a matança diária de jovens pretos, seja a devastação de ambientes inteiros por rompimentos de barragens de minérios, seja a derrubada de vastas extensões de floresta etc. 

Aliás, a política brasileira atual é um contraponto interessante à política americana atual e à política brasileira do governo anterior. Na prática, qual a diferença entre elas? São variações do mesmo, sendo as duas últimas versões desavergonhadas, enquanto o governo Lula 3 equilibrando-se entre o Congresso desavergonhado e o STF moralizador, finge oferecer uma alternativa a isso, mas, na prática, oferece? O que o ex-ministro Sílvio Almeida teria a dizer sobre isso? 

A chamada nova extrema direita fascista é só o que o Homo sapiens, o Homo capitalista, a velha direita, o centro, a dita esquerda são mas têm vergonha de ser. Chegamos a esse ponto do capitalismo em que as catástrofes ambientais, também conhecidas por mudanças climáticas, não podem ser negadas, mas não são enfrentadas, porque enfrentá-las é mudar o sistema e isso ninguém tem coragem de fazer, nem esquerda nem centro nem direita. A diferença é que a extrema direita não tem vergonha de afirmar que está destruindo mesmo e que destruir é bom e vai continuar destruindo e quer destruir cada vez mais e que todo mundo deve destruir. O governo Lula, por exemplo, que ainda tem alguma vergonha, mantém a destruição, mas diz não tem força política para contê-la. A pergunta inevitável é: para um governo de esquerda, se vai praticar a mesma política da extrema direita?

A extrema direita é a expressão da barbárie em que vivemos e para a qual todos contribuímos, seja como capitalistas seja como trabalhadores, seja como proprietários das riquezas, seja como produtores assalariados das riquezas, porque somos todos consumidores: os capitalistas, consumidores das riquezas que nós produzimos e nós, todos os outros, consumidores das sobras e da ideologia que nos convence a consumi-las. O capitalismo continua porque queremos que continue, apesar dos discursos em contrário.

A esquerda no poder não é de fato esquerda. Finge ser. A esquerda no poder torna-se uma variante do poder burguês, um outro time de administradores dos negócios do capital, para repetir a expressão do Marx no Manifesto Comunista. A esquerda no poder não é esquerda, se a gente considera o que caracteriza a esquerda, ou seja, a intenção de superar o capitalismo e substituí-lo por outro sistema. Nos tempos atuais, tudo isso ficou esquecido, o capitalismo perdeu totalmente a vergonha de ser o que é, de mostrar o que é, de afirmar que é o que é, e a nova direita é a expressão política disso e tem muito sucesso, porque está no seu próprio ambiente, no qual a referida esquerda tenta entrar. A formulação da alternativa a tudo isso, seus porta-vozes e modelos existem, mas não aparecem tanto quanto o modelo hegemônico, sustentado, afinal, pelo capital, o senhor do mundo. 

Me impressiona como pessoas brilhantes, cultas, inteligentes vejam tudo, conheçam tudo e cheguem só à conclusão de que tudo isso é "extremamente problemático". É um começo. O que fazer com isso, ou seja, o que queremos no lugar disso e como fazer para chegar ao que queremos não está mais no horizonte da esquerda. Não falo de utopia, falo de propostas concretas que a esquerda não ousa ter. 

Qual é a alternativa ao capitalismo? Alternativa prática, com propostas concretas para "o público". Penso que essa alternativa não existe porque o marxismo, ou marx-leninismo e outras variantes esgotaram as perspectivas da esquerda, com a experiência russa e o desmoronamento do bloco soviético. Não existe um marxismo do século XXI -- e o stalinismo foi o marxismo do século XX. Todos os intelectuais que têm coragem hoje de se dizerem marxistas não dão um passo para atualizar o marxismo, tudo que fazem é louvar Marx, dizer como ele é genial, tentar aplicar o que ele disse há duzentos anos ao mundo contemporâneo que é completamente diferente. 

Nenhuma das previsões do profeta Marx se realizou, embora seu retrato do capitalismo tenha sido o melhor e definitivo. O Capital, hoje, é só um livro base, um ponto de partida para a formulação de uma alternativa de esquerda ao capitalismo, seja qual for o seu nome, comunismo, socialismo, social-democracia, democracia dos trabalhadores, anarquia. A China comunista desenvolveu seu modelo capitalista de Estado, que não é comunista, apenas não é esse capitalismo sem-vergonha, mas provavelmente tem suas características, mas a gente pouco sabe dele, porque a esquerda não tem coragem de discuti-lo, talvez para não expor a fragilidade do seu marxismo. Me parece incrível que a esquerda que se diz marxista ignore uma nação que cresce de forma espetacular e está prestes a se tornar a maior potência capitalista mundial e se diz comunista.

É impossível não comentar, porque, ao fazer certas afirmações ("extremamente problemático", "a publicidade tem pessoas brilhantes"), os analistas não veem o óbvio. É claro que a publicidade suga mentes brilhantes, porque senão ela não faria comerciais eficientes. A publicidade, como expressão institucional do capital, faz o que tem de fazer: compra trabalhadores. E os indivíduos mostram o que são. O capital, uma coisa imaterial, que não existe de verdade ("é só dinheiro"), só pode exercer seu poder dominando os humanos; se os humanos disserem não a ele, se forem capazes de adotar uma ideologia anticapitalista, não capitalista, o capital desaparece como num passe de mágica. São os humanos, com suas ideologias, capazes até de transformar Jesus Cristo crucificado pelos poderosos dois mil anos atrás num avalista da prosperidade, que encarnam o capital e lhe possibilitam exercer seu poder. 

Não vou dizer que publicitários são geniais nem criadores de verdadeiras obras de arte, embora pudesse dizer que são, porque de fato não são, mas parecem ser, e quase são, chegam a exercer a mesma função no público, mas não são simplesmente pelo fato de que mentem sempre para vender, enquanto a arte é o oposto disso, nos mostra a verdade. A publicidade captura a arte para fingir, enganar e vender. O indivíduo "brilhante" ou "genial" que troca a arte pela publicidade prefere ser um publicitário rico do que um artista pobre, justifica-se dizendo "eu tenho que sobreviver, entende?", para citar o melhor Pasquim, dos anos 70, pra gente ver como isso não é novo e já na ditadura tinha gente se vendendo. De fato, esse "modelo de negócio" baseado na publicidade é parte do capitalismo americano do pós-guerra, do consumismo, que é explicado de forma brilhante e genial no vídeo A história das coisas. Quem na minha geração não se lembra do seriado A feiticeira, cujo marido é um publicitário, seriado que, por sua vez, é exemplo do modelo televisão, negócio fingindo ser arte para vender sabão em pó?

"A nossa enorme economia produtiva exige que façamos do consumo nossa forma de vida, que transformemos a compra e uso de bens em rituais, que procuremos a nossa satisfação espiritual, a satisfação do nosso ego, no consumo. Precisamos que as coisas sejam consumidas, destruídas, substituídas e descartadas a um ritmo cada vez maior." (Victor Lebow, teórico do consumismo que passou a vigorar nos EUA e no mundo a partir do fim da 2ª Guerra Mundial, citado em A história das coisas.) 

Uma coisa puxa outra e vai dar no que o mundo é hoje. No século XX, o capitalismo entrou em colapso, com a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), a Revolução Russa de 1917, a ascensão do fasci-nazismo (1911-1945), a Grande Depressão de 1929 e a Segunda Guerra Mundial (1939-1945). Hoje, as pessoas razoáveis ficam estarrecidas com o genocídio na Palestina e chocadas com o projeto do presidente americano de transformar a região, depois de exterminado o último palestino, num resort fantástico, e é possível que consiga, já que as resistências parecem fracas, mas não há nada de extraordinário nisso, a não ser a nossa -- das pessoas razoáveis, boas, de esquerda -- aparente infinita incapacidade de compreender a realidade, a história e o comportamento humano. Os acontecimentos do século XX citados acima produziram horrores que, se houvesse uma força superior para julgá-los, teriam condenado ao extermínio da espécie humana da face da Terra. A Segunda Guerra Mundial terminou com os EUA, "a pátria da liberdade", despejando duas bombas atômicas sobre a população civil japonesa. Foi talvez o maior crime da ideologia capitalista no século, mas não o primeiro nem o último -- não vou falar dos outros acontecimentos nem dos que vieram depois e continuam ainda hoje.

O projeto do presidente americano é a história do capitalismo, exterminar um povo para explorar a sua terra. Por que não me soa estranho? Por que não me parece novidade? O que foi que os europeus fizeram neste continente desde sua chegada no fim do século XV? O que é que o agrotoxiconegócio faz na Amazônia ainda hoje, senão exterminar os povos originários para explorá-la comercialmente e enriquecer, derrubando a floresta e transformando-a em pasto e solo de plantio de monoculturas? O que foi que os próprios colonizadores europeus fizeram naquelas terras para fundar os EUA, a nação sem nome, senão exterminar os povos indígenas?

Isso é o capitalismo na sua essência, passando por todas as suas variantes, envergonhadas ou desavergonhadas. O único objetivo é o lucro, é a produção de riqueza para obtenção de lucro. O capital é como um câncer, que só existe crescendo sempre e destruindo. Faz isso encarnado nos humanos que o criaram e por meio de nós consome a Natureza. Qual é a alternativa a ele? Apresentá-la, conquistar as mentes e implantá-la é o papel da esquerda para tentar ainda salvar a espécie, a civilização, a vida na Terra. 

Conclusão que eu tiro do brilhante programa, um dos melhores dos que já vi: a esquerda é igual a Marx, excelente em fazer diagnósticos, mas não tem uma proposta alternativa melhor (considerando que nem a URSS nem a China comunista, esta até prova em contrário, se mostraram melhores) ao capitalismo.

 

terça-feira, 15 de abril de 2025

Rotina para dormir bem

Muito bom. Ver o nascer do sol e o pôr do sol. Acho que é a primeira vez que tenho essa vontade. Os vídeos desse médico são muito interessantes, práticos e úteis. E ele parece confiável.

sábado, 12 de abril de 2025

Françoise Hardy, Le premier bonheur du jour (Official Lyrics Video)

Outra pérola que Françoise Hardy nos deixou. 

A capital e o capital: o homem, Brasília, Tom, Vinicius, JK, história

Dentro de nove dias, Brasília completa 65 anos. Pela lei brasileira, pode se aposentar. 21 de abril de 1960, data da inauguração, celebrada numa sinfonia por Tom e Vinicius. 

Foi quando tudo começou. Em clima de ufanismo, pelas mãos, ou melhor, pela cabeça e pela vontade determinada do mais querido presidente do Brasil, uma unanimidade nacional, cuja vida trágica exemplar é um retrato da trajetória dos brasileiros nos últimos cem anos. Presidente do melhor quinquênio da nossa história, ajudou a eleger no Congresso o primeiro presidente ditador militar, como líder do seu partido, o de maior bancada na época, confiando na promessa de eleições diretas no ano seguinte, quando voltaria pelo voto popular, para completar sua obra gloriosa, mas foi traído e cassado, passou o resto da vida no ostracismo e morreu num atentado tramado pelos terroristas de direita, versão que não se pode mais rejeitar. 

(Leio na Wikipédia que Brasília tem um lema: "Aos ventos que hão de vir". Nada mais adequado; os ventos vieram, soprando forte da Floresta Amazônica, varrendo o Planalto Central, o Sertão e chegando ao litoral, de onde partiu o homem, não qualquer homem, o Homo sapiens capitalista, que atravessou o Atlântico vindo da Europa e começou a devastar o continente. Outro homem, habitando a floresta e convivendo sabiamente com a Natureza, já vivia aqui. Foi e continua a ser dizimado, extinto como as outras espécies que o Hs não reconhece como tendo direito à vida e parte do planeta que ele considera seu, propriedade e mercadoria, simples fonte da matéria-prima para produção de riquezas. O Homo contemporâneo nunca foi sapiens, mas talvez possa ser adequadamente chamado de Homo trumpis, sua mais perfeita tradução.) 

Brasília: Sinfonia da Alvorada, o poema sinfônico de Tom e Vinicius, acabou se tornando um projeto não concretizado, mas cumpre o papel da arte de retratar ideologicamente um povo, uma época, um lugar. Idealizada pelo arquiteto Oscar Niemeyer, cujos prédios monumentais estão lá testemunhando aquela época grandiosa, embora tenhamos nos acostumado de tal forma que nem damos mais valor e até pichamos esculturas, numa demonstração de que não reconhecemos a cidade como nossa (de fato, tornou-se a cidade das castas privilegiadas do país), a sinfonia deveria ser apresentada pela primeira vez nas solenidades de inauguração da nova capital, mas isso não aconteceu. Só veio a ser executada de fato depois que a ditadura militar acabou. 

Parodiando JK, Brasília tornou-se a tragédia síntese do Brasil. Abriu o caminho para a devastação do Cerrado, do Pantanal e da Amazônia. Com o melhor dos propósitos, como atesta o poema sinfônico do Vinicius e do Tom. A música expressa a grandiosidade da Natureza que o Homem encarava -- e sempre é bom lembrar que uma árvore gigantesca matou, ao tombar, o engenheiro que liderava a construção da rodovia Balém-Brasília, outro símbolo inaugural da devastação que então de chamava de desbravamento. A questão é simples: o capitalismo "desbrava", para gerar lucro, para produzir riquezas e o rastro desse desbravamento, o outro lado da moeda, é a destruição, no caso, dos biomas milenares e suas populações, para os quais o capital não dá a menor bola. O capital não tem subjetividade, só objetividades. Enquanto o Homem for seu escravo, fazendo o que "o mercado" manda, será assim, riqueza criada com destruição e que só vai terminar no dia que as mudanças climáticas eliminarem as condições da existência humana (e de inúmeras outras espécies extintas antes) na Terra. Simples assim. 

No glorioso quinquênio JK, quando o Brasil cresceu 50 anos em 5, tudo aquilo parecia maravilhoso. O desafio era o Homem conseguir "vencer a floresta" inexpugnável durante mais de quatro séculos. O Brasil ainda era uma nação imensa cuja população estava concentrada no litoral do Leste, deixando a Natureza em paz no restante do seu território. JK, um mineiro, diamantinense, conhecia a devastação que o "desenvolvimento" provoca enquanto cria riquezas, porque foi isso que ele fez nestas montanhas, em Diamantina, Ouro Preto e todas as "cidades históricas", e faz ainda, com os rompimentos de barragens. Com seu plano, JK invadiu o Sertão e começou a marcha para Oeste. Deu aquele salto na industrialização no país e tudo mais. Enquanto ele construía Brasília, os artistas criavam como nunca antes nem depois a Bossa Nova e o Cinema Novo, além do futebol arte, que conquistou enfim a primeira Copa do Mundo. Confirmava-se, naquele pós-guerra de recuperação mundial, que o Brasil era "o país do futuro" previsto pelo escritor austríaco exilado Stefan Zweig. 

Depois da bonança do glorioso quinquênio JK, sobreveio porém uma sucessão de desgraças: a eleição de Jânio, sua renúncia, a tentativa de golpe contra a posse de Jango, o desastroso governo Jango, o golpe vitorioso do dia da mentira, uma ditadura militar de 21 anos. 

Note-se: a história não se explica pela economia, simplesmente e principalmente. O plano de JK foi só a iniciativa mais eficiente de um projeto nacionalista elaborado a partir da Revolução de 1930, que previa modernização, industrialização, urbanização, atração de capitais estrangeiros, uso de capital estatal para apoiar a iniciativa privada com obras de infraestrutura (o que foi Brasília, senão uma imensa e complexa obra de infraestrutura?). Um projeto em que o capital até então agrário e concentrado no litoral se expandiria para as cidades e para o interior, rumo à Amazônia, para transformá-la e tudo no seu caminho num gigantesco pasto e terreiro de monoculturas. Getúlio começou a fazer isso, Dutra continuou e JK deu-lhe um impulso monumental, mas a ditadura não o interrompeu, ao contrário, prosseguiu o "desenvolvimentismo" nacionalista. Nunca se criaram tantas estatais, as "brás", quanto na ditadura militar. Esse projeto só acabou com a democratização, a partir de 1985, e foi substituído pela "modernização" do neoliberalismo inaugurada por Collor, que -- ironia -- evocou JK, e seguida por Itamar, FHC, Lula e Dilma. Os que vieram depois do golpe parlamentar de 2016 só fizeram administrar o desmoronamento da economia nacional iniciado décadas antes. A bem da verdade, é preciso dizer que, embora pelo método confuso, sem um plano como JK, Getúlio ou os governos militares, Lula tentou ressuscitar o desenvolvimentismo, como o seu Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). 

A tragédia brasileira é que não continuamos de forma persistente o único projeto de desenvolvimento nacional que tivemos, como fizeram as nações que cresceram nos séculos XX e XXI, como China e outras nações asiáticas, e ao mesmo tempo procedemos a todas as ações nefastas contra a Natureza que o desenvolvimento capitalista realiza. Somos a nação que mais destrói a Natureza irresponsavelmente em troco de nada, só para benefício de uma casta capitalista riquíssima, egocêntrica, reacionária, estúpida e antidemocrática, sem qualquer benefício para 99,99% dos brasileiros, exceto as demais castas privilegiadas que sustentam essa ordem. Onde? Em Brasília, naquela cidade modernista, que foi o maior testemunho do gênio brasileiro durante cinco anos. 

JK foi modesto: seus cinco anos já representam mais de cinquenta e pelo visto se tornarão cem, pois não há no belo horizonte planaltino sinal de que os ventos substituirão a destruição em curso por um ambiente melhor. A única voz lúcida entre os políticos brasileiros (reza a lenda que, no segundo mandato que não houve, 1965-1970, JK corrigiria os erros que já antevia no seu plano de desenvolvimento), Ciro Gomes, propõe um desenvolvimentismo reciclado, que tem méritos evidentes diante do caos vigente, por tentar reorganizar a nação, mas ignora que aquele tempo passou, exatamente pelos seus efeitos desastrosos para o ambiente, e que um plano atual, para o Brasil e para o mundo, precisa partir do decrescimento econômico, da distribuição das riquezas e da recuperação da Natureza, para que a espécie humana sobreviva, numa vida em harmonia com as demais especiais, como nos ensinam há séculos os habitantes primitivos destas terras e que nunca se consideraram seus proprietários. 

Música do dia: O Homem (Man), Tom Jobim

Nessa melodia vejo perfeitamente o Homo sapiens capitalista derrubando e queimando a floresta para criar gado, plantar soja, explorar minérios e exportar madeira clandestinamente. 

domingo, 6 de abril de 2025

Cidadão Boilesen, de Chaim Litewski, filme completo

O documentário citado na entrevista sobre o livro A serviço da repressão, de 2009.

Livro mostra participação da Folha de S.Paulo no golpe de 64 e na ditadura

A serviço da repressão: Grupo Folha e violação de direitos na ditadura, livro escrito por uma equipe de pesquisadores acadêmicos para subsidiar ação do Ministério Público Federal, mostra como os donos do da Folha de S. Paulo participaram das preparações do golpe militar de 1964 e como a empresa colaborou com o aparelho repressivo da ditadura, inclusive dentro do jornal contra seus próprios jornalistas e demais funcionários. Não é exatamente novidade: a Comissão Nacional da Verdade atestou isso, conforme reportagem da Carta Capital de dezembro de 2014. De mais a mais, a participação da Folha na ditadura era amplamente conhecida, exceto pelos incautos. Inexpressivo, o jornal deu uma guinada editorial e apoiou a campanha Diretas Já, declarando-se desde então como diário pluralista, fez mais ou menos o mesmo que Sarney e seus colegas da dissidência do PDS que virou PFL. O livro conta em detalhes, inclusive com depoimentos de integrantes da repressão, como se deu a colaboração da Folha, como diz a entrevistada, muito maior e pior do que a da Globo, e nesse sentido é um livro definitivo. A ação do MPF está responsabilizando empresas, a Folha entre elas, por colaborarem com a repressão. 

  

sábado, 5 de abril de 2025

Música do dia: Desculpe o auê, Rita Lee

Não sou fã da Rita Lee depois dos Mutantes, gosto de uma coisa ou outra, sobretudo do show inesquecível que vi dela com Gilberto Gil no Ibirapuera em 199 ou 2000, na melhor companhia. Esta canção é exceção, uma pérola, um John Lennon pós-Beatles. As comparações param aí, porque não existem propriamente Mutantes pós-Mutantes, só Rita Lee, que seria Paul, e Paul não fez muita coisa depois, só pérolas pontuais também; não há John Lennon nos Mutantes pós-Mutantes. Desculpe o auê é a Jealous Guy da Rita Lee, seu momento John Lennon pós-Mutantes, sem o mesmo fôlego, mas a mesma graça. Se ela tivesse cantado isso para mim naquela época, talvez ainda estivéssemos juntos cercados de filhos ou eu tivesse morrido Roberto do lado da minha Rita. Feliz aniversário.

 

sexta-feira, 4 de abril de 2025

Trailer do documentário Pau D'Arco

Você teria coragem de depor contra a polícia?, pergunta a Repórter Brasil ao divulgar o documentário Pau D'Arco. A Amazônia é o faroeste brasileiro, manda a força, que faz justiça pelas próprias mãos, formando exércitos de jagunços, inclusive policiais militares, e compra autoridades. E qual é a força? O capital, pelas mãos dos seus escravocratas capitalistas, que destrói a floresta e extingue espécies, inclusive humanas, para criar gado e plantar soja para exportação, para promover o "progresso", nome socialmente aceitável do lucro abundante e crescente que a destruição do ambiente gera. E assim caminhamos todos juntos para a catástrofe das mudanças climáticas e do fim da civilização.  

 

Música do dia: Luz negra

Ninguém melhor do que Cazuza para interpretar essa canção do Nelson Cavaquinho.

quarta-feira, 2 de abril de 2025

O Japão "estagnado", segundo a BBC News Brasil

Fiquei estupefato com essa reportagem absurda da BBC News Brasil, que tanto elogio. Depois de listar supostos problemas da economia do Japão e afirmar que ela está "estagnada", a repórter diz que, "apesar de tudo isso, não tem nenhum protesto nas ruas". "Parece que vai tudo bem": a criminalidade é muito baixa, a expectativa de vida é muito alta, a inflação é mínima, o desemprego também, a educação é excelente, a saúde também. Ou seja, qualidades viraram defeitos, que impedem a população de reagir. Uma inversão completa. 

Um "defeito" dos japoneses que torna ineficazes medidas econômica governamentais é que eles preferem poupar e se prepararem para o futuro a consumir freneticamente e se endividar, como os americanos e povos que seguem seu modelo. No Brasil mesmo isso aconteceu nas duas décadas do Plano Real e do governo Lula. A ideologia justifica tudo e na época considerava uma maravilha que os pobres tivessem entrado no "mercado de consumo". Como se viu, não durou e hoje o endividamento dos trabalhadores é tão grande que o governo liberou o FGTS para pagamento de empréstimos consignados. Se isso fosse feito por um governo de direita, seria denunciado como um crime contra os trabalhadores, assim como foi a reforma trabalhista de temer e do bozo, mas como foi cometido por um governo "de esquerda" e tolerado pelas centrais e sindicatos dos trabalhadores. Afinal, é para isso mesmo que servem os governos do PT, para tomar medidas a favor do capital e contra os trabalhadores sem que estes reajam. 

Outro suposto problema do Japão é que sua população está diminuindo; foi a primeira nação desenvolvida em que isso aconteceu, o que poderia ser um indicador de que o Japão está na vanguarda. Num mundo em que o consumo crescente e estimulado destrói a Natureza e a população humana cresce aumentando o consumo e a destruição, o decréscimo populacional me parece ser uma boa notícia. Para a matéria, porém é mais um aspecto da situação "complexa" do Japão "estagnado". A produtividade dos trabalhadores japoneses é baixa porque "tem muita gente empregada", se houvesse desemprego, se as empresas trocassem gente por robôs, a produtividade aumentaria, sugere a matéria. Uma espantosa analista britânica diz que no Japão a gente encontra "seis pessoas orientando o trânsito", ou seja, trabalhando, mas isso é desnecessário. Elas poderiam ser demitidas e substituídas por robôs, deduzimos. 

A mesma analista afirma que o governo japonês tenta fazer a economia "pegar no tranco", estimulando o consumo e baixando juros, mas não consegue. A impressão que dá é que a vida no Japão está miserável, para que seja necessário o crescimento que a BBC News Brasil e suas fontes querem, mas não está, o povo está satisfeito, como a própria matéria mostra. O "problema", portanto, não existe para as pessoas, para os trabalhadores, para os japoneses, o problema existe para o capital, porque, para o capital, a economia só vai bem se há crescimento, porque crescimento significa lucro, capital só existe crescendo permanentemente, e quanto mais melhor, para o capital, e para seus escravos de luxo, os capitalistas. 

Esta é a questão e é uma questão ideológica, é assim que o capitalismo funciona. Mesmo os ideólogos marxistas, supostos inimigos do capital, concordam que a economia precisa crescer. O que significa que, na prática, são capitalistas, porque o que promove o crescimento é o capital, sua expansão permanente: dinheiro que não aumenta no fim da sua aplicação não é capital, é só dinheiro, equivalente geral, meio de troca. O crescimento é bom, o desenvolvimento é bom, o progresso é bom, o capital é bom -- essa é a nossa ideologia, a ideologia do sistema capitalista, e todos nós acreditamos nisso, inclusive os marxistas. A diferença é que os marxistas querem que o capital esteja sob controle do Estado. Pois bem, a China está fazendo isso. A China "comunista" é uma nação comunista ou capitalista?

Eu fico imaginando por quantos cursos passou e quantas línguas fala essa repórter evidentemente muito qualificada para dizer uma estupidez assim. Não é ironia, nenhum jornalista trabalha na BBC se não for muito qualificado, e ela efetivamente se qualificou para falar isso, que é uma expressão da ideologia capitalista. Ter uma vida boa (emprego, renda, educação, saúde, segurança, ou seja, os famosos "indicadores") é o que as populações de todas as nações querem, mas se a economia não cresce como crescia, se as fábricas não substituíram gente por robôs, se as empresas não promoveram desemprego em massa, se os computadores ainda usam disquetes e os faxes ainda estão em operação, então o país está atrasado. Até as tampas de bueiros japonesas são questionadas na matéria.

A reportagem poderia mostrar o contrário, como os japoneses estão satisfeitos com sua vida, apesar de o Japão não acompanhar a loucura de "modernização" de outras nações; poderia apontar os "sinais de atraso" e por que eles não prejudicam a qualidade de vida, ao contrário, contribuem para ela. Entretanto, faz o discurso ideológico da modernização como um objetivo em si. A repórter sequer percebe o ridículo que é falar em "parar no tempo" referindo-se a um período de duas décadas para uma civilização milenar. Quem sabe, abordando isso, não poderia fazer matéria muito mais relevante sobre como a cultura japonesa se impõe sobre a ocidentalização e cria até uma alternativa sábia à destruição frenética da vida pelo capitalismo? 

A matéria também não pode afirmar, embora nos deixe depreender isso, que o Japão é um títere americano, que foram os EUA que despejaram capitais para reerguer a nação asiática depois de despejarem bombas atômicas sobre sua população, que significaram o fim da Segunda Guerra Mundial. E que, mais tarde, quando sua economia se tornou a segunda maior do mundo, superada apenas pela americana, a obrigaram a reduzir a competitividade dos seus produtos. A matéria, enfim, não mostra muitos aspectos desse contextos que ajudariam a compreender melhor o Japão. Prefere o apelo sensacionalista, como toda "boa" matéria, para capturar o público, porque a BBC News Brasil faz parte de um "mercado" que disputa telespectadores e busca "sucesso".   

Eu seria ingênuo se pensasse que isso é feito simplesmente porque um jornalista pensou essa pauta e sua chefia aprovou. E seria maniqueísta se dissesse que a matéria foi pautada com um objetivo preciso de atender a determinado interesse. Uma matéria é sempre uma escolha. Minha experiência jornalística me ensinou que no topo das empresas jornalísticas está uma elite intelectual ideológica que orienta o conteúdo produzido. Não é uma ditadura, não tem  censura, talvez não tenham sequer um "manual", como fizeram jornais brasileiros há algumas décadas (imagino que ainda existam). É um modelo de produção que vai moldando os profissionais para seguirem determinada linha, porque tal pauta é "boa", outra é "ruim", e todo jornalista quer fazer uma boa matéria com repercussão. 

O fato é que a matéria afirma que o Japão parou no tempo porque não seguiu a modernização tecnológica com desemprego em massa e baixos salários que o capitalismo impõe no mundo inteiro, e esta é a mensagem. É assim que a ideologia funciona e é assim que a imprensa, até a melhor dela, contribui para formar a mentalidade que leva a espécie humana para a catástrofe.

 

terça-feira, 1 de abril de 2025

Música do dia: Woman, John Lennon

Ou será essa a mais bela canção de amor? Uma pérola, poesia de primeira. "The little child inside the man." 

segunda-feira, 31 de março de 2025

Música do dia: Juventude transviada, com Luiz Melodia e Cássia Eller

"Até sonhar de madrugada / Uma moça sem mancada / Uma mulher não deve vacilar." Um encontro raro, um daqueles momentos especiais que só a arte propicia.

Adolescência: meninos desesperados por modelos de comportameto

Ouvi uma mãe, se não me engano uma psicóloga, falando sobre isso há algum tempo, acho que na própria BBC: o outro lado, os meninos. Foi a primeira voz que ouvi falando sobre o assunto. Essa reportagem entra no assunto. Me faz pensar na crise da esquerda: sem proposta para eles, deixou os pobres (trabalhadores ) para serem conquistados pela direita. Deixou também os homens? 

domingo, 30 de março de 2025

Música do dia (2): Fullgás, Marina Lima

"Nada de mau nos alcança / Pois tendo você meu brinquedo / Nada machuca nem cansa." Antônio Cícero foi um grande poeta.

Música do dia: Help!, The Beatles

Um vídeo completamente non sense. A canção é um ícone do rock e a letra mostra a genialidade do John para expressar a condição humana na juventude. Genial porque simples, é isso mesmo. É impressionante a autoconfiança das crianças, que são frágeis. Quando a gente se torna adulto, gente grande, "independente", a segurança desaparece. Como acontece isso? Por que acontece? É porque "as portas de abrem"... A segurança das crianças vem da confiança incondicional nos seus pais, no amor da mãe em especial, mas também na força do pai, na onipotência de ambos, enfim. E é por isso que o homem adulto busca o amor romântico (com as mulheres é diferente, não ouso tentar explicar, está além da minha experiência e da minha capacidade) e depende da mulher amada (a Bossa Nova não cantou outra coisa e os Beatles também não), que é a substituta da sua mãe. Na história musical do John Lennon, que foi criado sem pai e mãe, isso é evidente. E nos deus tantas pérolas, de Help! a Woman, passando Mother, God, Jealous Guy e Oh Yoko!, para citar algumas.

"When I was younger, so much younger than todayI never needed anybody's help in any wayBut now these days are goneI'm not so self assuredNow I find I've changed my mindI've opened up the doors

"And now my life has changed in, oh, so many waysMy independence seems to vanish in the hazeBut every now and then I feel so insecureI know that I just need you likeI've never done before"

sexta-feira, 28 de março de 2025

Uma análise ampla sobre o que está acontecendo na internet

Bruno Torturra faz uma excelente análise, ampla e oportuna, sobre o que está acontecendo aqui, na internet, nas redes sociais, que se tornaram a grande mídia contemporânea, com seus magnatas, agora alinhados numa nova extrema direita internacional liderada pelo presidente americano. Tenho o que dizer sobre isso, mas estou amadurecendo.

Boletim do Fim do Mundo - Ainda Estamos Aqui...

Paulo Leminski Neto, músico e filho do poeta, está em situação de rua no Rio

Como escrever ficção com uma realidade que supera uma boa imaginação?

Paulo Leminski está em situação de rua no Rio
Por Jotabê Medeiros, no blog Farofafá, 27 de março de 2025. 


O policial militar pediu ao pessoal em situação de rua dormindo na Praça São Salvador, em Laranjeiras, no Rio de Janeiro, para mostrar os documentos. Uma batida de praxe. O primeiro homem abordado remexeu nos bolsos e entregou a sua carteira de identidade. O policial leu o nome no RG: “Paulo Leminski Neto. Não tem um compositor com esse nome?”, murmurou o policial. O homem na praça respondeu: “Sim, é o meu pai”. 

No próximo dia 30 de julho, a 250 km do Rio, o pai daquele cidadão que está vivendo em situação de rua será o próximo homenageado do maior evento literário do País, a Festa Literária de Paraty 2025, a Flip. Já Paulo Leminski Neto, seu filho, foi despejado em dezembro da casa onde vivia na Lapa, Rio, por não ter conseguido pagar o aluguel. Desde então, Paulo Neto tem vivido com a mulher durante quase quatro meses na rua.

Paulo Leminski Neto é cantor e professor de música. Mas ficou sem trabalho no final do ano passado e não conseguiu cumprir compromissos de sobrevivência básicos. “Em dezembro, a cidade fica cheia de turistas, os alugueis sobem, os preços ficam difíceis de acompanhar. Eu adoro o Rio, mas a cidade está numa situação muito difícil em termos de trabalho e contexto social”, ele diz, acrescentando que talvez se mude para as montanhas, para o interior.

Nesta quinta-feira, por conta de um incidente trágico que enfrentou há uma semana na rua, Paulo está temporariamente num hotel de pernoite com a mulher, a figurinista Claudia Tonelli, com quem vive há 6 anos (foram despejados juntos). Na saída dos banhos, foi atacada por um sujeito (um homem de 29 anos com 22 passagens pela polícia), levou um soco na testa e caiu no chão. O homem seguiu batendo nela e tentou estuprá-la. Uma pessoa que passava viu e chamou a polícia, e o homem foi preso em flagrante. Claudia foi atendida emergencialmente no Hospital Miguel Couto.

Paulo Leminski Neto, na verdade, só existe com carteira de identidade desde agosto de 2021. Antes, seu nome era Luciano Costa, nascido em 31 de janeiro de 1968, apelidado de Lucky (Sortudo). Foi somente em 2001, com o lançamento do livro O Bandido Que Sabia Latim, de Toninho Vaz (relançado pela Tordesilha Livros em 2024), que ele soube que era filho do famoso poeta curitibano. Mais: que o próprio Leminski o tinha registrado como seu filho, existia uma certidão. De posse dessa certidão, ele conseguiu anular uma segunda certidão de nascimento (que, ele alega, foi forjada em 1976 por sua mãe, Nevair Maria de Souza, ex-mulher de Leminski, no papel, entre 1963 e 1985).

Leia a íntegra no Farofafá clicando aqui. 

segunda-feira, 24 de março de 2025

Mineradoras querem destruir o Gandarela, mas os mineiros resistem

Destruir o Gandarela significa, entre outras coisas, liquidar o fornecimento de água para Belo Horizonte e região dentro da alguns anos. A ganância do capital não tem limites, as mineradoras continuam atuando do mesmo jeito, mesmo depois dos crimes ambientais de Mariana e Brumadinho.

Audiência da Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Assembleia Legislativa de Minas Gerais em 21/3/2025.

sábado, 22 de março de 2025

Trailer do dia: A conspiração consumista

Segunda música do dia: As tears go by, Marianne Faithfull

A primeira gravação dessa deliciosa balada. Outra cantora que tinha apenas dezessete anos quando surgiu e que faleceu recentemente.

Música do dia: Joseph, Georges Moustaki

Rita Lee gravou e fez sucesso, Nara Leão escreveu a versão, a gravação original é esta, do egípio-francês Georges Moustaki, e o autor é o compositor grego Manos Hadjidakis. Rita elevou a leveza da canção.

sexta-feira, 21 de março de 2025

Lula na pesquisa Ipsos-Ipec, bozo às vésperas de se tornar réu e mais

Alguns programas têm a qualidade rara de estarem no ponto, como o pão de queijo de determinada padaria, a broa de outra, a pizza de um restaurante, a massa de outro etc., que fazem a gente caminhar mais para usufruir daquela prazer. Me ocorre imediatamente o Jô Soares Onze e Meia, que durante um bom tempo me proporcionou prazer certo com a inteligência do entrevistador e suas conversas descontraídas com os entrevistados. Padarias e restaurantes costumam manter o padrão durante anos e anos, conservando cozinheiras e cozinheiros, receitas, ingredientes etc. Na comunicação, ao contrário, parece que a qualidade tem prazo de validade. Lembro da alegria com que eu ia à banca comprar a revista Bondinho, no começo dos anos 70, até que um dia ela acabou. O mesmo posso dizer do Grilo, jornal de quadrinhos, e do Ex-, jornal alternativo, e ainda da revista Argumento, de artigos políticos e culturais. Todos desapareceram abruptamente, no auge do sucesso. Naquela época, a ditadura militar interferiu diretamente, mas há outros casos em que foi o próprio veículo que exauriu. O Pasquim, por exemplo, foi um estrondoso sucesso desde seu lançamento, em 1969, até meados dos anos 70, sob feroz censura, depois foi decaindo, mesmo sem censura. Me parece que um veículo de comunicação perfeito depende de vários fatores, entre eles o momento em que é feito. Mesmo o longevo programa do Jô perdeu seu encanto quando se transferiu para a Globo. Sem querer fazer trocadilho e já fazendo, como diria o Jô, o podcast A Hora é o veículo da vez, um programa da hora. Vem elevando seu nível há 35 edições, ao tratar dos principais assuntos políticos da semana, combinando competência e descontração, inteligência e simpatia, experiência e humor, informação e análise, de forma que uma hora passa depressa e a gente já fica esperando a próxima edição. Tomara que essa "química" que une a dupla de jornalistas aquarianos, sua equipe e o público continue por muito tempo ainda, informando e divertindo.

Françoise Hardy, L'amitié

Outro belo vídeo da bela Françoise Hardy.

quinta-feira, 20 de março de 2025

Provocações, Vladimir Safatle, 2013

Interessante. Uma entrevista diferente do Safatle, de respostas curtas. Antônio Abujamra morreu em 2015.

Maior saite de venda ilegal de dados é derrubado

Nossos dados estão à venda na internet, inclusive para golpistas. Dados que nós nem imaginamos que possam estar disponíveis e até que desconhecemos, como o endereço em que nossos pais moraram quando eram solteiros. 

Mais um excelente podcast do Uol Prime.  

segunda-feira, 17 de março de 2025

Águas de março, Tom e Elis

Belo Horizonte agora tem chuva com dia e hora marcados: segunda-feira, às 17h. Semana passada choveu segunda-feira às 17h e hoje chove de novo. A regularidade da Natureza é uma coisa admirável. A gente já andava até reclamando, dizendo que, com as mudanças climáticas, as águas de março não existem mais, mas elas estão aí, fechando o verão, com uma precisão impressionante.

sábado, 15 de março de 2025

O necrossistema e a necropolítica. Acervo da Pandemia, trailer

Esquecemos muito rápido. Cinco anos. Na época eu me espantei por os outros poderes da República, a população e seja lá quais fossem os poderes existentes no país não se levantarem para depor esse presidente e metê-lo na cadeia. Só agora ele está prestes a ser preso. Terminou seu governo e tentou a reeleição. Esse acervo, testemunho permanente dos crimes que levaram a centenas de milhares de mortes por ações e omissões deliberadas do governo federal, é mais do que oportuno.

Gleisi queridinha do Centrão; governo Trump, extrema direita pelo mundo

O melhor, mais informativo, mais simpático e mais bem-humorado podcsta semanal.

Um atraso de quarenta anos

Os atos protagonizados pelo Bozo na tragédia brasileira me fazem pensar no atraso em que se meteu esta nação que poderia ter um destino único e brilhante na história do Homo sapiens, o que não aconteceu porque a qualidade dos nossos políticos, como disse Brizola, é muito ruim. Nos ocuparmos hoje do que fez a escória é o atraso do atraso.

Vivemos paradoxos; a ditadura militar tinha um projeto nacional e os governos democráticos que vieram depois, não. Os militares que implantaram a República, em 1889, eram idealistas e as expressões mais próximas do povo que tivemos, até o governo Lula, os militares de hoje são apenas uma casta privilegiada, que cuida só do seu e foi capaz de apoiar um sujeito que o próprio Exército expulsou dos seus quadros. Um presidente operário, líder sindical, retirante nordestino tornou-se a maior liderança política da nossa época, mas em vez de governar para os trabalhadores, governou e governa ainda para os banqueiros, para os agrotoxiconegociantes, para as mineradoras, para as multinacionais, enfim, para o grande capital internacional. Um partido definido como "dos trabalhadores" tornou-se o principal partido dos capitalistas. 

Como partido da ordem, o PT não faz nada para desmontar a tragédia brasileira. Lula presidente não mudou a política econômica do seu antecessor, nos dois primeiros mandatos, e não revogou a reforma trabalhista do golpe nem a política de desmatamento da Amazônia do bozo, para dar exemplos importantes. 

Isso não acontece à toa, mas porque o PT virou PC, o partido dos capitalistas e a política dos capitalistas para o Brasil é essa.

A direita quando chega ao poder, faz o que promete e nos impinge atrasos terríveis. E então o PT volta para manter tudo como está, sem mudar o que a direita fez, sem fazer coisas novas, sem dar outro rumo para o país. 

Uma direita que faz mais do que promete e uma esquerda que não faz o que se espera dela. E assim vamos andando para trás -- ou para o abismo. Essa é a tragédia brasileira.

Julgamento sobre golpe é marcado para o dia 25; saiba os próximos passos do processo que pode tornar Bolsonaro réu
Ontem (13), o relator do caso no STF, ministro Alexandre de Moraes, liberou os autos para votação da Primeira Turma
Ana Gabriela Sales
Publicado em 14 de março de 2025, 10:38    
O ministro presidente da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF), Cristiano Zanin, marcou para o dia 25 de março o início do julgamento da denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e mais sete acusados pela tentativa de golpe de Estado em 2022.
Ao todo, foram convocadas três sessões para análise do caso. As discussões da Primeira Turma irão começar com uma sessão extraordinária, às 9h30, da terça-feira (25). No mesmo dia haverá uma segunda sessão, na faixa tradicional das 14h. Outro encontro extraordinário foi agendado para a quarta-feira (26), às 9h30.

Leia a íntegra no Jornal GGN

sexta-feira, 14 de março de 2025

Brizola mo Roda Viva, em 2001 e 1994

Imagina se a eleição em papel e urna não fosse nos Estados Unidos, como a imprensa brasileira a trataria. Como isso acontece lá, a imprensa colonizada sempre tratou o assunto com respeito, explicando para seu público que esse é um costume deles, como, por exemplo, o dia de ação de graças, que para nós também soa estranho. Nossa reverência a tudo que é americano, que a imprensa expressa e incentiva, é impressionante. A mesma reverência temos pela tecnologia. A urna eletrônica é um "avanço tecnológico" e basta isso para aprová-la. O fato de não ser possível a recontagem de votos é um argumento desprezado. O fato de os partidos não têm acesso aos programas também. Brizola questiona a informatização do voto e a totalização. Por que não entregar para os estados a totalização? Afinal, o Brasil é uma federação. O papel do TSE poderia se limitar à soma e divulgação. É assim que acontece nos EUA e a nação mais desenvolvida do mundo não se considerada atrasada por não adotar o voto eletrônico. A eleição foi dominada por uma tecnocracia, argumenta Brizola. 

Brizola tinha autoridade moral, como ele mesmo lembra, para questionar a entrada da informática na eleição. Em 1982, ainda sob a ditadura militar, ele foi eleito governador do Rio de Janeiro graças à descoberta, por acaso, de um programa de totalização de votos que transferia seus votos para o candidato preferido dos militares e da Globo. O JB, concorrente do Globo, comprou a briga e ajudou o PDT a desmascarar a farsa. Como lembra Brizola nessa entrevista ao Roda Viva, foi um órgão do sistema de informações da ditadura quem montou a fraude, que nunca foi apurada nem punida, assim como o órgão continuou funcionado, incorporado pela Abin, que existe ainda hoje e participou ativamente da tentativa de golpe em 8 de janeiro de 2023. 

Rever programas assim é uma aula de história, mas não só: é uma oportunidade de fazer uma autocrítica de quem fomos, como pensamos e nos comportamos nesses quarenta anos de redemocratização do país. 

Ridicularizado como um político antiquado pelos entrevistadores, que não tinham nenhum constrangimento em rir dele, Brizola demonstra uma lucidez impressionante. Suas críticas, suas ponderações e suas bandeiras eram pertinentes. Com sua experiência política e inteligência admirável, ele via o que poucos viam, o que intelectuais, líderes políticos e jornalistas não queriam ver e, com sua influência de formadores da opinião pública, impediam que a população visse. 

Eu era um, reconheço, que considerava Brizola, com sua fala arrastada, um político ultrapassado. Tinha embarcado, assim como a maioria, no espírito do nosso tempo, na ideologia dominante, na era de neoliberalismo. Abrimos mão do desenvolvimento nacional em nome da modernização. Um dos muitos exemplos que Brizola dá é a própria informática, que se desenvolvia protegida pela reserva de mercado e foi destruída pela abertura à concorrência internacional. Collor começou isso, mas foi FHC, aparentemente seu adversário, quem impulsionou e Lula, tido como esquerdista, quem continuou e continua ainda. Sem nenhum plano de desenvolvimento nacional, sem nenhum planejamento de longo prazo, sem nenhum equilíbrio, sem considerar os interesses nacionais e muito menos os interesses populares. 

Na prática, a política econômica brasileira após a ditadura nada mais foi do que entregar para o capital estrangeiro todo o patrimônio nacional, transformar o Brasil numa nação exportadora de produtos primários -- à custa da catastrófica destruição ambiental -- e importadora de tudo mais, cujo desequilíbrio só faz aumentar sua dívida e entregar para banqueiros somas astronômicas de juros, todo ano, há décadas. 

Brizola via tudo isso desde o começo e era considerado ultrapassado.