terça-feira, 7 de outubro de 2025
Kid games and nursery rhymes
Você conhece Gaza?
Clique no link abaixo e veja o que o Google nos oferece sobre Gaza. Imagens antigas de uma cidade de 600 mil habitantes belíssima, que foi destruída pelas bombas de Israel.
O genocídio dos palestinos em Gaza por Israel é o maior crime da história
Gostaria que todos os indivíduos da espécie humana se levantassem espontaneamente no mundo inteiro contra isso, porque é essa a resposta que o genocídio dos palestinos em Gaza pelos judeus sionistas de Israel deve ter. Se ainda houver história, porque os acontecimentos contemporâneos superam qualquer barbárie histórica anterior e indicam um futuro próximo catastrófico, esse genocídio será lembrado como o maior crime da história. Pior do que o extermínio dos judeus pela Alemanha nazista.
Nenhum genocídio foi tão violento quanto o que vemos acontecer hoje de forma descarada e desavergonhada, aos olhares da população mundial, transmitido pela televisão há dois anos, do conhecimento de todos os governos, inclusive a ONU e as nações mais poderosas, que nada fazem contra isso. Por muito menos, ou sob pretextos muito mais fracos, os EUA, o império britânico e outras nações imperialistas invadiram inúmeros países e fizeram guerra contra outros povos.
A flotilha internacional não governamental tentava levar alimentos e remédios para os palestinos, que estão sob cerco e extermínio de Israel em Gaza, mas o exército israelense a interceptou, prendeu os pacifistas humanitaristas e confiscou a ajuda. Milhares de crianças, mulheres e homens morrem de fome diariamente. O exército de Israel cercou a cidade, despeja bombas nela, cortou água e energia, impede que seus moradores recebam alimentos. São esses os crimes dos judeus sionistas de Israel há dois anos, a que governos de todo o mundo assistem passivamente. Foi a maior flotilha interceptada até agora, mas não foi a única, isso vem acontecendo sistematicamente, em dois anos de genocídio. Os judeus sionistas que vivem em Israel, como o grande intelectual Yuval Harari, autor do livro Sapiens, acham normal eliminarem crianças. Se a espécie humana, o Homo sapiens, não se levanta em todo o mundo contra o genocídio dos palestinos pelos judeus sionistas de Israel, vai se levantar pelo quê?
segunda-feira, 6 de outubro de 2025
Meu trauma profissional
Do alto do palanque improvisado na estância hidromineral, o presidente da República discursava para a pequena multidão que se aglomerou em torno, na tarde daquela sexta-feira. Em certo momento, vociferou contra seus opositores políticos, ameaçando-os com palavras duras. Eu prestei atenção nelas e anotei-as com minha caneta bic no maço de laudas do jornal que carregava. Após cinco anos trabalhando na sucursal belo-horizontina do melhor jornal do Brasil, batizado na cobertura do Plano Cruzado, já experiente em todo tipo de matéria e aprovado com louvor na intensa e trepidante campanha para a eleição presidencial de 1989, a primeira depois de mais de duas décadas de ditadura militar, eu tinha ouvidos bem treinados para notícias e sabia muito bem distinguir o que era importante do que não era. Olhei meus colegas dos três jornais concorrentes, os quais cumprimentara gentilmente, mas sem intimidade nem cumplicidade, e me mantive à distância, pois eles eram de Brasília, repórteres acostumados a cobrir o presidente diariamente, amigos entre si, e eu só os conhecia pelos nomes impressos nas matérias assinadas. Na minha soberba característica, não me sentia inferior a eles, ao contrário, pois tinha uma trajetória bem-sucedida e relações de respeito mútuo com colegas e chefes, de forma que me sentia seguro no meu trabalho. Exatamente um ano antes, tinha publicado minha única manchete no jornal, cobrindo uma inspeção do ministro da Saúde em hospitais públicos da capital mineira; atento, anotei o diálogo do ministro com o diretor da unidade e o transmiti por telefone diretamente ao editor no Rio, que o reproduziu literalmente com destaque. A matéria, mostrando como os pontos dos médicos ausentes tinham sido cortados pessoalmente pela maior autoridade em Saúde do país, repercutiu, meus colegas não tinham sido tão detalhistas nos seus relatos, e recebi elogios. Fiquei satisfeito, mas não me gabei, eu sabia que jornalismo é uma empreitada diária, a manchete de hoje já está velha, o repórter tem que matar um leão todos os dias, como se diz.
De forma diferente, isso se repetiu naquele fim de semana fatídico em que cobri o presidente da República em Araxá. No momento em que, à parte, olhava meus três colegas de Brasília, percebi que eles “trocavam figurinhas”, expressão que a gente usava para se referir às impressões de cada um sobre o que todos tinham presenciado, o que considerava importante, o que era novo e o que não era e como pretendia escrever seu lide. Para nós, do JB, essa prática não era importante. Não que não fizéssemos isso, mas estávamos acostumados a confiar no nosso taco e não temer levar furo, pois éramos quase sempre nós que dávamos o furo, uma vez que nos sentíamos seguros para fazer avaliações próprias, cavar fontes, buscar informações exclusivas. Não havia na sucursal aquela paranoia que tinham os colegas do principal jornal concorrente, instruídos a colar em nós, os do JB, para não serem furados. O sentimento que me tomava era muito diferente: um profundo desprezo por aquele presidente ególatra, falaz, sequestrador da poupança dos brasileiros e superficial como um pires. E bravateiro. Seu discurso agressivo não passava de bazófia, ele procurava animar seus admiradores, bastante desanimados e reduzidos, depois do plano econômico aterrador que implantara um ano antes e já fracassara. Ele dissera que só tinha uma bala para matar a fera da inflação – e errara o tiro. Continuava, porém insistindo no seu estilo de se apresentar como uma espécie de estrela de Hollywood, criando fatos, dando declarações bombásticas, produzindo imagens que os jornais e revistas estampavam e as televisões exibiam, explorando seu dinamismo, jovialidade e coragem, como, por exemplo, ao pilotar um avião supersônico. Ali mesmo, tinha se exibido numa corrida matinal por um parque, em trajes esportes, seguido por uma multidão de repórteres e abordado por eleitores fanáticos. Seu governo, a primeira experiência de um presidente eleito pelo voto direto, era assim, uma espécie de espetáculo diário estrelado pelo presidente, e os jornalistas estavam sempre correndo atrás dele, fotógrafos e cinegrafistas, para registrar a melhor imagem, repórteres para produzir manchetes. Nesse show, a imprensa se transformava numa espécie de máquina de propaganda do governo cujo funcionamento eu tinha oportunidade de acompanhar de perto naquele fim de semana. A docilidade dos meus coleguinhas chamara minha atenção, em especial a intimidade da repórter do principal concorrente com o presidente: ele a chamava pelo nome, lhe sorria, confidenciava palavras no ouvido. No dia seguinte, essa camaradagem ficaria descarada, quando um emissário do presidente a procurou entre nós, disse que ele queria falar com ela e ela o acompanhou à suíte presidencial; eu nunca soube o que conversaram, mas achei aquilo também desprezível.
O fato é que, enquanto observava meus coleguinhas de Brasília – a repórter predileta do presidente e os repórteres dos outros dois jornais de circulação nacional – conversarem naquele fim de tarde, depois do discurso presidencial, eu tomei uma decisão: não mandaria uma nova matéria. Aquele ataque não passava de retórica, seu objetivo, além de animar a plateia, era produzir manchetes na imprensa e criar um fato político. Nós, jornalistas, estávamos sendo usados pelo presidente, que queria se promover e enviar um recado à oposição. Eu não me prestaria a esse papel.
Se eu fosse um sujeito importante, se o episódio tivesse tido relevância, o título do alto seria: “A verdade sobre a cobertura do presidente em Araxá”, mas o episódio não teve importância na política brasileira, muito menos eu fui um repórter de destaque. A única importância que o fato teve foi para a minha vida profissional e a minha vida pessoal, porque, percebo agora, as duas sempre andaram juntas, nos momentos decisivos. Eu nunca soube distingui-las, sempre tomei decisões subjetivas em relação à minha profissão.
Naquela tarde em Araxá, eu tomei minha equivocada decisão com soberba tranquilidade. Como disse, nós, repórteres da sucursal do JB em BH, sempre gozamos de uma exemplar segurança, proporcionada pela excelência do nosso trabalho, e eu, pessoalmente, nunca tinha sofrido sequer uma admoestação por levar um furo. Eu sabia – e não me enganei – que aquelas palavras bombásticas pronunciadas pelo presidente no palanque estariam esquecidas no dia seguinte, sequer teriam consequência, caso a imprensa não as reproduzisse, atuando como máquina de propaganda do governo. Se o editor me questionasse, eu as tinha anotado para o jornal publicar, mas não o faria por minha conta. Obviamente, essa decisão era equivocada, porque, fosse como fosse, eu não tinha direito de privar os leitores do JB daquela demagogia presidencial. Pelo menos não deveria fazer isso sozinho, no mínimo tinha obrigação de telefonar para meu subchefe e lhe narrar o que tinha ouvido, transferir para ele a responsabilidade de publicar ou não aquele destempero. Se eu estivesse preocupado com meu emprego, era o que deveria, prudentemente, fazer. Mas não fiz. Já tinha mandado uma matéria com bastidores da viagem presidencial, cheia de fontes, exclusiva, saborosa, como se dizia, tão boa que no dia seguinte mereceu elogios eloquentes do editor regional, e decidi não enviar outra; sequer liguei para a redação, assumi a responsabilidade sozinho.
Ajuda a explicar minha atitude temerária o fato de que, naqueles dias, a sucursal andava tumultuada, nossa equipe estava insatisfeita e eu mesmo queria sair do jornal, embora não tivesse coragem para pedir demissão. O ambiente no JB mudara radicalmente depois da eleição do presidente. A cobertura da eleição presidencial de 1989 foi o canto do cisne de um jornal que era então o melhor do país e deu um banho nos concorrentes naquela campanha histórica. A equipe foi reforçada, especialmente a sucursal de Belo Horizonte, pois os candidatos privilegiavam Minas Gerais, considerado estado decisivo, como realmente foi naquela e em todas as eleições presidenciais desde então. Minas é uma espécie de síntese do Brasil e o candidato que vence no estado vence também no país, geralmente com percentuais de votos bem próximos. Aquela eleição teve mais de duas dezenas de candidatos e frequentemente vários percorriam o estado ao mesmo tempo em busca de votos. Por ser uma novidade para a maioria dos brasileiros, eleitores e jornalistas, além dos candidatos, havia muito tempo aguardada, a eleição de 1989 foi uma verdadeira festa cívica, repleta de imprevistos. Com empenho dedicado do editor regional, nós, da sucursal do JB em BH, acompanhávamos tudo e nos esmerávamos em produzir notícias exclusivas, abordando os mais diversos aspectos do pleito, presentes nos locais mais improváveis, interferindo, com nossas matérias, até mesmo no rumo da campanha. Foi, por exemplo, a matéria exclusiva de uma colega atenta que derrubou definitivamente as pretensões de um candidato famoso e metido a engraçado, que, num debate noturno numa faculdade, soltou o famoso comentário: “Tá com vontade sexual, estupra, mas não mata”. Ele não imaginou que tinha jornalista na plateia, mas tinha, porque, na eleição presidencial de 1989, em Minas, onde tinha um candidato, tinha um repórter do JB. Foi uma cobertura inesquecível e eu me lembro bem como terminou. No segundo turno, fui escalado para cobrir um lugarejo onde Lula tinha eleitores tão pobres quanto fiéis. Quando liguei para a sucursal para passar a matéria, o editor regional, o mesmo, me disse: “Esquece, não precisa mandar a matéria, pode voltar, Lula perdeu”.
O editor era petista. A equipe, no todo, estava dividida; embora o número de petistas fosse maior, havia também eleitores do Covas, do Brizola e do Freire, mas, no segundo turno, que eu me lembre, Collor recebeu só um voto. Nossas simpatias, porém não prejudicavam nosso trabalho, ao contrário, possibilitavam que não fôssemos cegos para a estrutura crescente do candidato eleito e ajudavam a equilibrar a cobertura. No começo, a preferência do eleitorado brasileiro foi se alternando e a cada semana aparecia um azarão para fazer frente aos consistentemente preferidos: Collor, Brizola e Lula. A eleição seria em dois turnos, o que alimentava duas dúvidas: algum candidato conseguiria maioria no primeiro turno? Se não, quais seriam os dois adversários no segundo turno? Desde o começo, ficou evidente que Collor era o preferido, mas obter a maioria dos votos era outra coisa. Seus concorrentes se alternavam, de repente algum disparava e ameaçava superá-lo. Além disso, pesquisas indicavam chances de candidatos mais fracos o derrotarem no segundo turno. Eu não tinha candidato, escolhi o meu na cobertura, observando-o, ouvindo-o, entrevistando-o, ponderando, comparando. Votei no Covas, mas reconheço hoje que Brizola teria sido o melhor presidente, pois era o mais experiente e tinha um bom programa de governo. O empresariado que apoiara a ditadura militar não o aceitava, porém.
Reconheço também que, além de contar com a simpatia de muitos jornalistas, Lula, então um ex-operário metalúrgico, exercia fascínio sobre os eleitores, especialmente os mais simples. Ele era o candidato mais parecido com as pessoas comuns, dava atenção a todos, conversava com muitos, ia coletando informações sobre a vida do povo da localidade que visitava e, quando subia no palanque, juntava tudo num discurso coloquial que encantava a plateia. Foi a ele que eu pedi o primeiro autógrafo da minha vida, para minhas filhas pequenas – e ele escreveu, numa lauda do JB: “Para Flora e Marina, um abraço do Lula”. Naquela eleição, participei indiretamente de outro episódio importante. Foi quando Collor apresentou na sua propaganda eleitoral uma ex-namorada do Lula que o acusava de ter lhe pedido para fazer um aborto. O candidato petista estava num comício em BH no mesmo horário e o editor regional me mandou lá para ouvi-lo a respeito. Como ninguém no palanque tivesse visto o programa, precisei narrá-lo. Nas suas memórias, ao lembrar a história, o assessor de imprensa Ricardo Kotscho afirma que aquele foi o ponto de inflexão da campanha do Lula, “que até então só pegava sinal verde”.
Embora quase todos os candidatos fizessem questão de ser simpáticos com os jornalistas, entre os quais os do JB não recebiam as menores atenções, alguns transpareciam integridade, honestidade, sinceridade, enquanto outros eram evidentemente espertalhões e inconfiáveis. O líder nas pesquisas tornou-se o pior candidato para se cobrir, não só pelas multidões que arrastava, mas também pelo aparato de segurança mobilizado ao seu redor, responsável por violências contra opositores, maus tratos a eleitores e até desrespeito ao trabalho dos jornalistas. Salvo exceções, oportunistas ou sinceras, a animosidade mútua entre repórteres e o futuro presidente, incluindo sua entourage, ficou logo escancarada. Todos os seus defeitos de ordem pessoal já eram então conhecidos e comentados e apareciam em matérias. As graves acusações que mais tarde seriam abordadas pela imprensa e levariam ao seu impeachment também já eram conhecidas. Enfim, na imprensa, todo mundo sabia, já na campanha eleitoral, quem era aquele que viria a ser o futuro presidente, mas, diante do risco da eleição dos esquerdistas Brizola ou Lula, os empresários da imprensa escolheram ignorar seus defeitos.
A cobertura do JB destoava dessa escolha e por isso era tachada de “petista”. Quando a eleição se consumou, o jornal viu-se em situação difícil, mudou sua chefia de redação e sua linha editorial, cada vez mais governista, o que afetou o ambiente de trabalho. Somava-se a isso o comportamento pessoal do editor regional, infrequente no trabalho, às vezes ausente durante dias. Foi numa situação assim e por força de uma série de coincidências que eu, que não era repórter de política, cobri a visita presidencial em Araxá: enquanto o presidente passava um fim de semana em Minas Gerais, o editor regional tinha sumido, a primeira repórter de política se demitira, o segundo teve um súbito problema pessoal e o subchefe me escalou de última hora para viajar. Nenhum de nós poderia supor, porém, muito menos eu, considerando nosso brilhante currículo coletivo e meu confiável currículo individual, o que estava para acontecer: que eu faria o que fiz e que me tornaria um bode expiatório. Depois de ouvir os elogios do chefe, no sábado de manhã, eu baixei sua bola, perguntando-lhe se tinha visto os outros jornais, ele respondeu que não, e eu lhe disse para ver. Ele não disse mais nada. Fiz e enviei a minha matéria do dia; apesar da discrepância entre a manchete do JB e as dos outros jornais, o assunto não repercutiu, porque havia rumor forte de uma bomba, que monopolizou as atenções dos jornalistas no fim de semana: a possível demissão da ministra da Economia, que eu tratei de apurar e, dessa vez, não destoei dos meus colegas.
Quando, na segunda-feira, o presidente voltou para Brasília e eu cheguei em Belo Horizonte, o editor regional me chamou à sua sala e foi curto e grosso: “Você está demitido. Sinto muito, mas não posso fazer nada. É a sua cabeça ou a minha”, me disse. Eu me resignei, como me resignava sempre, e na verdade senti alívio por me ver livre daquele suplício em que vivia desde 1990, querendo sair do jornal e sem poder pedir demissão. Apesar do trauma que me amargurou, pela situação em que a demissão se dava, eu tinha a desculpa de ela ter sido drástica e injusta. Mais difícil foi, nos dias seguintes, recusar as propostas de emprego que me foram feitas: eu não queria mais ser jornalista e considerava incogitável trabalhar em outros jornais depois de trabalhar no JB: todos me pareciam menores, quase insignificantes.
(Capítulo do livro inédito Nada é o que parece ser.)
domingo, 5 de outubro de 2025
Uma carta aberta antidemocrática e ridícula
Uma carta aberta encabeçada pelo Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC) com mais de uma centena de signatários dignos de respeito e com passado relevante em defesa da liberdade de informação e da democracia é um dos documentos desse tipo mais equivocados que eu já li. Divulgada no final de setembro passado (9/25), a carta, que pode ser lida na íntegra na página do Fórum, clicando aqui, faz afirmações corretas e considerações pertinentes antes de assumir uma posição descaradamente antidemocrática e atacar um dos podcasts mais interessantes dos últimos tempos, o Três Irmãos. Pelo espaço que o ataque ocupa na carta, parece que a intenção era mesmo essa. Em resumo, o texto afirma que o podcast faz muito sucesso e é de extrema direita, que pessoas progressistas e de esquerda não devem participar dele, só devem participar dos veículos de comunicação progressistas. Discordo radicalmente dessa ideia. Em primeiro lugar, não considero que o podcast é de extrema direita. Seus apresentadores expressam nítidas divergências entre si e, mesmo que um deles demonstre simpatias com ideias de direita e até, talvez, de extrema direita, ambos são respeitosos com as opiniões alheias. Esse respeito não é de extrema direita. Correntes stalinistas da esquerda sempre tiveram dificuldade de aceitar a liberdade de expressão dos que discordam delas. Discordo muitas vezes do que os dois apresentadores dizem, mas discordo também do que dizem muitas vezes os entrevistados e debatedores. Desse e de outros podcasts. Aliás, no Três Irmãos, entrevistados e debatedores são muito mais importantes e têm muito mais tempo para falar do que os apresentadores. O podcast tem promovido debates e entrevistas esclarecedores com presenças dos intelectuais mais lúcidos na atual conjuntura, entre eles Vladimir Safatle, Breno Altman, Jones Manoel, Elias Jabbour, José Kobori, Frederico Keper e outros. A propósito, Altman, Manoel e Jabbour manifestam explícita admiração por Stalin e Jabbour é um entusiasmado defensor da China dita comunista, Kobori também. Os debates do Altman com um deputado, este sim, de extrema direita e com um rabino podem ser considerados históricos e prestaram excelentes serviços à informação e às bandeiras da esquerda. O podcast deveria servir de modelo para programas insossos ditos de esquerda e progressistas, mas frequentemente chapas-brancas, e por isso pouco interessantes. Fico imaginando se os inúmeros signatários da carta a leram, compreenderam e concordam de fato com seu conteúdo. Se a resposta é sim, sugiro que a releiam, repensem e divulguem uma nova carta à altura desses tempos que exigem muito mais da esquerda do que a repetição de chavões. Um tema relevante para discussão é por que os que lutam pela democratização da comunicação pouco avançaram nas duas últimas décadas, a despeito dos governos pretensamente de esquerda e progressistas.
sábado, 4 de outubro de 2025
A primeira publicação do jornalaico
Foi esta abaixo, no dia 17 de setembro de 2009. Uau! Há mais de 16 anos! Quanta coisa mudou desde então, inclusive na internet, que se anunciava como o reino da liberdade de informação.
Jornalismo agora é uma atitude
Cenas finais
sexta-feira, 3 de outubro de 2025
Como emendas parlamentares viraram canal de irregularidades
O Brasil apodreceu e esse modelo de emendas parlamentares é o mais fiel retrato disso.
Três instituições funcionam e impedem que este projeto de nação nunca executado desmorone completamente: o STF, a Polícia Federal e a imprensa. Nenhuma delas é impecável, mas elas cumprem seu papel, pelo menos parcialmente, enquanto outras, como o Congresso, são o oposto do que deveriam ser. O Congresso deveria representar o povo que o elegeu, mas atua em benefício próprio, se apoderando do dinheiro público para fins pessoais, transformou-se num covil de bandidos, os quais, recentemente, tentaram incluir na Constituição sua impunidade, o que legalizaria o poder do crime organizado, que já domina amplamente o Estado brasileiro, dentro do qual as instituições ainda funcionam parcial e porcamente graças à dedicação de valorosos trabalhadores, não por empenho dos seus superiores.
É preciso acrescentar que esse quadro medonho acontece e é resultado de quase 37 anos de governos civis, quatro de um governo civil-militar, quase 36 de governos eleitos pelo voto direto, dos quais 16 do PT, três de um vice aliado do PT, 11 deles do Lula. Não se pode dizer, portanto que Lula e o PT, a dita esquerda, não tenham nada a ver com isso. De fato, pode-se incluir nos já 27 anos de governos de esquerda, os oito anos do presidente FHC, pois este foi um destacado opositor da ditadura militar e inaugurou o modelo econômico e político ao qual Lula depois deu seguimento. Ficam na conta da direita os cinco anos do governo Collor (mas nem todos, uma vez que Itamar Franco governou dois anos, assim como temer, o minúsculo, governou dois dos quatro anos do segundo mandato da Dilma) e na conta da extrema direita os quatro anos do governo do bozo.
Penso que basta listar os fatos para compreender o Brasil contemporâneo. Não foi a extrema direita nem a direita quem transformou o Brasil no que é hoje, foi a esquerda submissa ao projeto neoliberal. A direita começou a obra, com o Collor, mas FHC e Lula continuaram a executar o modelo, e a extrema direita tornou o modelo pavorosamente pior, mas o terceiro governo Lula não reverteu o quadro da desproteção do trabalho, destruição ambiental e desmonte do Estado. O Brasil, nesses 40 anos após o fim da ditadura militar, tornou-se a nação dos banqueiros, do agrotoxiconegócio e do crime organizado. A nação apodreceu, o Estado desmanchou, a sociedade degenerou. A esquerda não tem e nunca teve um projeto nacional, a não ser a volta da democracia burguesa. Tampouco a extrema direita tem, como tinham os militares sanguinários, seu projeto se limita a liberar o crime, e o projeto do centro é a pilhagem simplesmente. Além das instituições que funcionam ainda, como as citadas, mas que também são castas privilegiadas do serviço público, algumas vozes se fazem ouvir na esquerda, clamando pela revolução que o país nunca teve, que começou em 1930, mas não completou, pela revolução socialista. O povo, porém ouve as vozes dos pastores evangélicos e parece muito mais perto da extrema direita do que da extrema esquerda ou dos nacionalistas. Penso que só a substituição dessa geração que derrubou a ditadura e governa desde então por outra, dos seus netos, poderá trazer boas mudanças para o Brasil. Que nação, porém a nova geração herdará?
quarta-feira, 1 de outubro de 2025
Historiador israelense Ilan Pappe desmente Israel em entrevista a Breno Altiman
Uma entrevista brilhante. Em poucas palavras e admirável clareza, o historiador israelense explica as origens do Estado de Israel e como ele se tornou o que é. Israel se autodenomina -- e seus defensores repetem isso -- "a única democracia do Oriente Médio", mas de fato nunca foi uma democracia, como revela Ilan Pappe. Ele próprio foi expulso da universidade em que trabalhava e proibido de lecionar em Israel depois de publicar livro em que desmentia a versão oficial do Estado sionista sobre o começo do conflito dos israelenses com os palestinos, em 1948. Israel é uma invenção do Império Britâncio, um enclave ocidental no mundo árabe, os israelenses se consideram superiores aos árabes, por isso são racistas, assim como os alemães, sob o nazismo, se consideravam superiores a outros povos, assim como os africânderes de origem holandesa se consideravam superiores aos africanos da África do Sul, assim como os portugueses colonizadores deste continente se consideravam superiores aos indígenas e aos africanos escravizados, assim como os magas se consideram superiores aos afrodescendentes e latinos. O racismo contemporâneo é uma ideologia europeia. Ilan Pappe é considerado traidor em Israel, posição típica dos governantes racistas contra os integrantes do seu grupo social que desmascaram o racismo.
Sendo como é um Estado inaugurado pela limpeza étnica e que prosseguiu pelo apartheid, condição tolerada, acobertada e apoiada há quase oitenta anos pelos governos norte-americanos e europeus, com a submissão da ONU, fico pensando se o que acontece nos EUA e muitos outros países hoje, isto é, a ascensão de autocracias, o aumento sem limites do poder de governos eleitos e os desmandos despudorados dos bilionários, não é uma "israelização" do mundo. Israel é caso único de um Estado que se estabeleceu nas terras de outro povo, como uma colônia em permanente expansão, que se impõe pela força das armas e do dinheiro com apoio do chamado "mundo ocidental". O regime da África do Sul não durou tanto (começou em 1948, como Israel, e terminou há 31 anos) nem contou com tanta simpatia e cumplicidade para seus crimes de genocídio.