sexta-feira, 31 de maio de 2019

O novo sempre vem

Como diria Belchior.
Assim como faliram as instituições que fizeram o golpe, aderiram a ele, foram cúmplices dele ou se omitiram, também faliram os partidos de esquerda e centrais e sindicatos que foram incapazes de resistir, o PT e a CUT à frente. O PT morreu em 2016, como o PTB morreu em 1964, e a CUT como a CGT. O PT não foi capaz de entender o golpe, resistir a ele e assumir a liderança de um novo momento político. Lula está preso, e tentou ser presidente assim mesmo, compreende-se, porque era a única alternativa do PT. O PT é menor do que Lula, o PT depende de Lula, o PT é Lula.
O PT pode renascer, Lula pode renascer, como Perón renasceu. Vai depender do que vier. O peronismo renasceu, sobreviveu, existe até hoje. O PTB morreu -- e o PT ajudou a matá-lo, recusando unir-se a Brizola, a submeter-se a Brizola, a reverenciar Getúlio Vargas. A esquerda brasileira tem essas rupturas, ao contrário da esquerda argentina.
Neste momento, porém, o PT, as centrais e, em menor medida, os sindicatos, porque mais próximos dos trabalhadores, estão mortos. E Lula está preso. Uma resistência verdadeira ao golpe, que continua nesse governo espúrio, passa por compreender isso. E formular novas bandeiras e forjar novas lideranças. A juventude entende isso melhor que os velhos.

Presença de partidos, sindicatos e 'Lula Livre' causa divergências em ato pela educação em SP

João Fellet, da BBC News Brasil em São Paulo

Enquanto sindicalistas discursavam no maior carro de som durante a manifestação contra o bloqueio de verbas para a educação nesta quinta-feira (30/5), em São Paulo, um grupo de seis estudantes do primeiro ano do ensino médio acompanhava as falas à distância.

Pareciam desconfortáveis com a presença de bandeiras de partidos e a defesa de outras causas por parte dos manifestantes, entre as quais a rejeição à reforma da Previdência e a liberdade para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

"Estou aqui porque critico o Bolsonaro, que faz um governo horrível e tira verba da educação. Mas não sou a favor do PT, que também prejudicou o país, e nem de Lula", disse Eric Freire, de 15 de anos, que participava pela primeira vez de um protesto contra a política educacional do governo.

"Aqui tem muitos sindicatos que, quando convém, apoiam os estudantes, mas que também apoiam políticos envolvidos em corrupção", afirmou a colega Ísis Cavalcante.

Autoridades não estimaram o número de pessoas presentes; para organizadores, foram "mais de 200 mil", muitos dos quais professores e estudantes. As manifestações ocorreram em várias cidades do país e sucederam protestos ocorridos em 15 de maio, confrontados por atos pró-Bolsonaro no último domingo.

Clique AQUI para ler a íntegra no saite da BBC Brasil.

Clique AQUI para ler uma análise da situação brasileira no jornalaico wordpress. 

sexta-feira, 24 de maio de 2019

Por que precisamos de uma Constituinte

Democrática, popular e soberana.
Porque a ordem brasileira desmoronou. Todas as instituições fundadas em 1988 foram se desmanchando ao longo da Nova República e naufragaram no golpe de 2016. Agora entramos no "buraco negro", mas não só da economia, como diz Delfim Neto, principalmente no buraco negro da ordem social e política.
A notícia abaixo é mais um exemplo. Militares não podem ser julgados por seus pares, a não ser em questões internas. Militares são subordinados aos civis, à sociedade, como tudo mais. A Constituição de 1988 manteve essa aberração, assim como manteve a organização policial da ditadura. Corporações protegem seus membros, é para isso que existem. Assim como o Judiciário protege juízes e desembargadores e o Legislativo protege seus políticos. Ao longo da Nova República as corporações foram tomando conta do país, criando e aprofundando privilégios, de forma que hoje vivemos numa sociedade de castas. Todas as instituições brasileiras precisam ser revistas democraticamente, para que possamos reconstruir a democracia e sair do buraco negro que nos leva para a anarquia ou para a ditadura.
A PM, por exemplo, que deveria ter sido extinta, se tornou herdeira da ditadura como força de repressão do povo, se corrompeu e se misturou com o crime organizado. O golpe aprofundou isso, o governo atual é o próprio governo do crime organizado. E as instituições que deveriam impedir isso -- juízes, tribunais, STF, Congresso, imprensa -- se omitiram ou aderiram ao golpe, corrompidos também.
Só uma Constituinte nos tira disso, porque o caos é tamanho que precisamos reorganizar tudo. Com uma Constituinte, com mobilização da sociedade, com discussão franca e profunda dos nossos problemas, organização de novas forças políticas, decisões da maioria formada pelo esclarecimento e pela responsabilidade, pela participação, pelo estabelecimento de princípios claros, democráticos.
Que Brasil queremos?
A maioria não quer, ou pelo menos a ela não interessa, o Brasil que os banqueiros e o capital estrangeiro, além dos interesses americanos, estão nos impondo, com o corte dos direitos e o aprofundamento das desigualdades e injustiças, com a reforma da Previdência, a reforma trabalhista, a entrega do pré-sal, a entrega da Amazônia, os rompimentos das barragens, a liberação dos agrotóxicos, a matança dos pobres, a destruição do SUS, a privatização das universidades públicas, a entrega da Embraer, a destruição do ensino público, o desemprego, a miséria.
Precisamos discutir o Brasil que queremos e começar a construí-lo, não sob a liderança de um messias, mas com a força da nossa vontade e com a nossa responsabilidade. 

Tribunal manda soltar 9 militares que mataram músico e catador no Rio
Decisão foi do Superior Tribunal Militar. Agentes já são réus pelos crimes que serão julgados pela Justiça Militar, sob crítica de especialistas.
O Superior Tribunal Militar (STM) decidiu nesta quinta-feira (23/5/19), por 12 votos a 2, soltar nove militares do Exército que estavam presos preventivamente desde 8 de abril por terem disparado mais de 240 tiros de fuzil e pistola, 62 deles contra o carro em que estava o músico Evaldo Rosa dos Santos, em Guadalupe, na zona oeste do Rio de Janeiro. Santos, que viajava com a família para um chá de bebê, e o catador Luciano Macedo, que tentou socorrê-lo, morreram em decorrência do ataque. Os militares, que já são réus pelo crime, dizem ter confundido o veículo com o de traficantes.

Clique AQUI para ler a íntegra da matéria no El País.


quarta-feira, 22 de maio de 2019

Para que foi o golpe

Para pôr em prática os interesses de uma ínfima parcela de privilegiados que vão contra os interesses da coletividade. O governo atual é continuação do governo Temer.

Governo Bolsonaro libera uso de mais 31 agrotóxicos; já são 169 apenas neste ano
Três dos produtos registrados nesta terça-feira (21/5) são compostos pelo glifosato, substância considerada cancerígena.
Clique AQUI para ler a íntegra da matéria do Brasil de Fato.

Clique AQUI para ler a matéria do G1.

Aprovações de agrotóxicos no governo Bolsonaro beneficiam empresas estrangeiras 
Por Pedro Grigori, Agência Pública / Repórter Brasil, 14/5/19
Dos 166 registros de pesticidas liberados neste ano, apenas 5% são totalmente produzidos em solo nacional. Brasil é o maior importador de agrotóxico do mundo, segundo especialista.
Clique AQUI para ler a íntegra da matéria no Repórter Brasil.

Meninada, o que a gente vai fazer hoje?

Ou: educação infantil é a solução.

Sempre. É óbvio. É sabido. Inúmeras vezes foi tentado com sucesso. O projeto desta matéria da BBC que reproduzo abaixo é uma delas. Por que não se realiza de forma universal? Por que o problema da humanidade não é só conhecimento, é principalmente política.
E aí vêm as elites reacionárias e dizem que a política é corrupta, que precisamos acabar com os políticos etc. e tal. Essas elites estão no poder no governo federal e domingo pretendem fazer manifestações ao presidente "que não é político" (mas é: desde que foi expulso do Exército, há trinta anos; é o político que representa as milícias e outras organizações criminosas armadas).
Acontece que tudo é política, inclusive desmoralizar a política e os políticos.
A política que melhora a vida é a política democrática, na qual todos participam em igualdade.
Ou, dito de outra forma: quanto mais participamos, mais a política melhora; quanto mais participamos, menos corrupta é a política.
Porque a questão da política se resume a isso: fazer o que é melhor para a coletividade. E é no exercício da democracia, na participação, que aprendemos isso, experimentando, praticando, observando, pensando, testando, conhecendo. É um processo lento, longo, árduo, difícil, por isso muitos desistem, e os oportunistas que defendem interesses pessoais e de minorias, mas não têm coragem de dizer isso abertamente, que se escondem atrás de interesses ditos do povo, ditos patrióticos, ditos interesses do bem, da vontade divina e coisas assim, aparecem para defender soluções fáceis, autoritárias.
Somos nós que temos de resolver nossos problemas, porque eles só deixarão de ser problemas se nós os resolvermos. Qualquer solução que vier de outros, como presentes, não resolverão nada. Simples assim. A reforma da previdência, por exemplo, é ruim porque não atende os interesses da maioria, é a proposta de uma minoria ideológica, exaltada, que se considera iluminada, mas na verdade defende interesses particulares, de grupos, de banqueiros, de empresários que vão ganhar dinheiro com ela.
A solução efetiva dos problemas, a construção de uma sociedade melhor, começa pela educação infantil. O Clic! sabe disso há muito tempo, e as crianças que passaram por lá e seus pais sabem disso muito bem. Assim como aqueles que passaram pelo projeto americano da matéria da BBC. São os interesses de quem quer manter seus privilégios e o mundo ruim para a maioria que impedem que a solução seja universalizada. E somos nós, a maioria, que temos de conquistar a solução. Os privilegiados não farão por nós.

Investir em educação para a primeira infância é melhor 'estratégia anticrime', diz Nobel de Economia
Por Luiza Franco, da BBC News Brasil, em São Paulo.
James Heckman já era vencedor do Nobel de Economia quando começou a se dedicar ao assunto pelo qual passaria a ser realmente conhecido: a primeira infância (até 5 anos de idade), sua relação com a desigualdade social e o potencial que há nessa fase da vida para mudanças que possam tirar pessoas da pobreza.
BBC News Brasil - Acha que os governos têm dado mais atenção nas últimas décadas à primeira infância? Quais são os desafios nesse sentido?
Heckman - O desafio é mudar a forma de pensar. A forma errada é pensar que a educação formal é o caminho para a criação de habilidades e que o modelo de professor em pé na frente da turma lecionando para crianças é o jeito certo de gerar vidas bem sucedidas. Esse raciocínio é promovido inclusive por cursos superiores de educação e por pessoas bem intencionadas. Mas o que importa é pensar na família e na formação da criança. 
Clique AQUI para ler a matéria no saite da BBC Brasil.

Meninada, o que a gente vai fazer hoje? conta a história do Centro Lúdico de Interação e Cultura – Clic!, que funciona desde 1996 em Belo Horizonte, numa casa com quintal, árvores e muito espaço, oferecendo a crianças de um a seis anos esse bem cada vez mais raro nas cidades grandes: viver a infância no seu próprio ritmo. Escrito por um pai de alunas, é um trabalho jornalístico apaixonado, baseado em entrevistas e observações, e revela como este projeto, tão vivo e tão rico, evoluiu e se transformou, mantendo-se fiel à sua ideia original de valorizar a cultura da criança.
Clique AQUI para conhecer a história do Clic!.

terça-feira, 21 de maio de 2019

A nova praga dos passeios públicos

A patinete é a nova praga dos passeios públicos.

Antes de tudo, é preciso dizer que patinete é um substantivo feminino, a patinete. Embora esse seja um defeito da língua portuguesa, porque patinete não tem sexo, e a língua deveria dar tratamento neutro para o que não é nem feminino nem masculino, o fato é que a patinete foi transformada em o patinete pela imprensa, assim como a personagem foi transformada em o personagem, e tantas outras palavras. Quando eu era menino e fazíamos, eu e todos os meus amigos, nossas próprias patinetes, elas eram chamadas assim. No português de Portugal, é a patineta, assim como vitrine é vitrina, ambas palavras de origem francesa. Agora, no Brasil, está virando o patinete. Machismo evidente, numa época de ascensão feminina. E ignorância.

Bem, a patinete é um veículo automotor e como tal deve estar sujeita às regras dos veículos automotores. Mais até do que bicicleta, que não tem motor. Além disso, é um negócio, explorada comercialmente. Isso é óbvio. Ao contrário da bicicleta, não traz benefício à saúde, como atividade física; de fato, vai é fazer as pessoas engordarem, porque está sendo usada por aqueles que são ou eram pedestres, que praticam ou praticavam o saudável exercício de caminhar. Tudo bem, no entanto, se circular no asfalto, substituindo carro e ônibus.

A praga surgiu de repente, no mundo inteiro; no Natal do ano passado, soube que tinha se espalhado em São Paulo. Vejo por uma notícia que em dezembro também estava no Rio. No começo do ano chegou a BH e proliferou mais do que rato e barata, primeiro a amarelinha, depois a verde.

Obviamente, é irregular, vai contra as regras em vigor, mas as autoridades não fazem nada. Ignoram, se omitem. Porque as autoridades, assim como os jornalistas, vivem dentro de escritórios, dentro de carros, e, agora, no mundo virtual, olhando telas de computadores e de celulares, não se conectam à realidade das ruas, portanto não veem o que está acontecendo, não percebem as novidades.

Provavelmente a patinete elétrica é uma (re)invenção chinesa (é curioso que nenhuma matéria que eu li fale de onde veio essa praga, como se fosse uma coisa natural; obviamente, alguém inventou isso e alguém está investindo muito dinheiro para espalhar a praga pelo mundo inteiro, mas a imprensa não se interessou em descobrir, ou contar ao leitor).

Pode ser um interessante meio de locomoção nas cidades. Como veículo, porém, o que significa que não pode ocupar passeios, faixas de pedestres, andar na contramão etc. Enfim, precisa seguir as leis dos veículos, talvez adaptadas para suas especificidades. E é negócio, paga, alugada, logo deve pagar impostos etc., como todos os veículos. Faz parte dessa nova modalidade de transporte tecnológico, via aplicativo, celular e cartão de crédito, que não passa pelo Estado, serviço direto contratado entre o dono do aplicativo e o usuário, embora, no caso do úber, explore um trabalhador informal, o dono do carro, ou até crie uma nova condição, em que o dono do carro também é intermediário e aluga seu carro para um motorista.

A tecnologia é uma maravilha, facilita, melhora, pode até diminuir a poluição, se substituir o carro (no caso do úber, é exatamente o contrário, aumentou o número de carros nas ruas), mas é preciso ver como as coisas funcionam e regulamentar, porque alguém está ganhando, só ganhando, e muito, enquanto outros estão perdendo (o pedestre está sempre perdendo, porque é o mais fraco), sendo explorados, numa relação desigual de competição com outros veículos e com o Estado, que é responsável por oferecer boas vias públicas, com que dinheiro?

No caso das patinetes, assim como das bicicletas, a ameaça é aos pedestres. No Rio, uma notícia informa que em quatro meses houve uma centena de acidentes. Uma das operadoras suspendeu o serviço. Patinetistas, assim como ciclistas, acham que continuam sendo pedestres, querem só benefícios, os dos pedestres e os dos motoristas, e andam nos passeios, embora estejam conduzindo veículos. E largam as patinetes no meio do passeio, em qualquer lugar.

Tenho dificuldade de entender isso. Não ando de patinete nem de bicicleta de aluguel na cidade, mas se andasse, não andaria no passeio, não furaria sinas, não andaria em faixas de pedestres, não andaria na contramão, não as largaria atravessadas no passeio, como vejo fazerem essas pessoas "modernas", "avançadas", "tecnológicas" e sem educação, sem respeito. Não consigo entender essas pessoas. Elas têm o mesmo comportamento dos donos de cachorrinhos que saem com eles para fazer cocô no passeio, nas portas dos vizinhos. São os mesmos que reclamam do Estado, dos impostos, mas que não sabem viver em coletividade, não respeitam os direitos dos outros, acho que nem notam que os outros existem.

A praga das patinetes chegou no mundo todo, mas cidades civilizadas estão regulamentando seu uso, não é como aqui, terra de ninguém. 

Alemanha se prepara para a febre dos patinetes
Eles já são populares em vários países. Na Alemanha, permissão para uso dos veículos nas ruas está em fase de regulamentação, e empresas especializadas no aluguel do equipamento se preparam para entrar no mercado.
Clique AQUI para ler a matéria da DW.

França vai proibir patinetes elétricos em calçadas
Governo francês anuncia que vai impedir circulação de patinetes elétricos nas calçadas do país a partir de setembro. Quem violar a regra estará sujeito a multa de 135 euros. No Brasil, ainda falta legislação específica.
Clique AQUI para ler a matéria da DW.

As regras para dirigir patinetes elétricos no Brasil
Embora não haja legislação específica para esse tipo de veículo, existem normas a serem seguidas, de acordo com o Conselho Nacional de Trânsito.
Clique AQUI para ler a matéria da DW.

Bicicletas de aluguel: incômodo ou solução?
Enquanto ativistas dizem que bicicletas públicas são melhores que carros nas ruas, cidades da Alemanha querem limitar número de bicicletas compartilháveis estacionadas de forma desordenada em parques e calçadas.
Clique AQUI para ler a matéria da DW.

Para ler (em inglês) a matéria dessa imagem impressionante abaixo, clique AQUI.

quarta-feira, 15 de maio de 2019

Os fatos nas ruas e as mentiras nas redes

A notícia do El País (abaixo) cita uma questão estarrecedora e decisiva na política, mas não nova: a guerra de informações pelas redes sociais. Não é nova porque foi isso que elegeu o atual presidente. Basta dizer que o maior fato político da eleição de 2018 foram as manifestações #EleNão, e no entanto quem cresceu na preferência do eleitorado depois foi o candidato capitão, porque manipulou as redes sociais. O que grande parte da população leu, ouviu ou viu sobre as manifestações não foi o que aconteceu, mas as mentiras que a campanha do atual presidente espalhou (fake news),
Isso significa que estamos numa época -- graças à democrática internet -- em que o que vale para formar opinião não é mais o fato, mas a versão do fato disseminada na internet, quem ganha a guerra da versão ganha a opinião pública. O que também não é novidade: a ditadura militar controlou a opinião pública via Rede Globo, que criava uma versão cor de rosa do Brasil nos tempos de maior repressão, inclusive censura à imprensa, às artes, a tudo.
Agora não há censura mais, mas a Globo continua manipulando informações, como se viu na obscena campanha do impeachment. E há esse fato novo, a manipulação das redes sociais via robôs. Como mostra a matéria do El País, o atual governo mantém mobilizado seu exército que dissemina fake news, enquanto faz o desmanche do país. Ou seja, tenta manter apoio para o desmanche e para o governo, dizendo que faz uma coisa enquanto faz outra, e disseminando também mentiras sobre seus adversários políticos.
A matéria aponta para o confronto entre os fatos nas ruas e as mentiras nas redes, o que é fundamental e decisivo, mas é preciso atuar também sobre as fake news, tanto da parte de quem divulga a verdade, quanto da parte das autoridades que precisam ser severas e exemplares na punição de quem dissemina fake news.
Isso não acontece no Brasil porque a esquerda não está tendo capacidade de atuar nas redes sociais e porque as autoridades estão envolvidas no golpe, são cúmplices das fake news, como foram cúmplices do impeachment, como foram cúmplices da larva jato. O Estado brasileiro faliu no golpe, as instituições não cumprem suas obrigações legais.
Por isso o Brasil vive num estado de exceção, por isso é preciso uma nova ordem constitucional, para que o país volte a ser um Estado de Direito, uma democracia.
A questão fundamental é: o capitão presidente continua tendo a iniciativa de ação, a oposição apenas reage. Enquanto continuar assim, não haverá mudança no quadro político. A oposição precisa ter iniciativa, apresentar um programa à sociedade. Não faz isso porque, na minha opinião, não tem. A esquerda se perdeu contaminada pela conversa fiada do neoliberalismo e pelo fim da URSS. Apesar de ter conquistado o poder pelo voto em 2002 e se mantido nele em mais três eleições consecutivas, até ser deposto por um golpe, o PT não fez um governo de esquerda, fez um governo que misturou desenvolvimentismo com neoliberalismo, e criou renda mínima para os mais pobres, mas nada consistente.
Consistente, na minha opinião, seria investir prioritariamente em educação pública de qualidade em tempo integral para todos e comprometer a sociedade nesse projeto. O PT distribuiu renda e apostou na nova classe média, no aumento do consumo. Veio o golpe e toda a distribuição de renda inconsistente escorreu para o ralo, e voltamos à miséria, à desigualdade crescente, ao desemprego.
O programa da oposição deve ser a DEMOCRACIA, resumindo nessa palavra tudo que significa o oposto do que faz a extrema direita, do que faz o golpe. Significa distribuir poder, renda, conhecimento, riqueza, construir um novo Estado com participação do povo.
O que podemos desejar é que tenha ficado pelo menos a consciência de uma parte da população que entendeu o que aconteceu e é capaz de lutar pela recuperação e ampliação dos seus direitos. A greve nacional da educação, hoje, pode indicar isso.

Mobilização por educação confronta bolsonaristas nas redes e testa força nas ruas

A sociedade reage ao desmanche da nação e ao autoritarismo

A quebra da ordem constitucional que aconteceu no Brasil a partir o resultado das urnas em 2014 exige uma nova Constituição, um novo processo constituinte. Vivemos num estado de exceção, todas as instituições da República faliram no golpe, aderindo a ele ou não reagindo como exigia a democracia. Em vez da presidenta reeleita, tivemos um presidente que implantou o programa da oposição, derrotado nas urnas. O presidente eleito em 2018 só o foi porque o candidato preferido pela população foi preso e porque  fake news de forma ampla, ilegal e decisiva.
Agora a sociedade começa a acordar, porque tudo que esse governo faz é destruir, sem sequer ter um projeto para pôs no lugar. Sua proposta é voltar ao fracassado liberalismo do século XIX. Sua batalha é para aprovar a reforma da Previdência, que, mesmo draconiana, acabando com a aposentadoria para os mais pobres, não vai resolver problema nenhum, a crise econômica vai continuar e com ela as cenas dantescas que vemos no país há um quadriênio: miséria nas ruas, duas bacias hidrográficas destruídas, epidemias, violência.
Sem o exemplo superior do respeito às leis pelas autoridades, a nação afunda na anarquia, os valores se perdem, a civilização deteriora, seres humanos se transformam em bestas. Essa situação caótica na qual no golpe nos meteu só pode ser resolvida com uma assembleia constituinte, que reorganiza a nação legalmente, socialmente, politicamente, economicamente.
Hoje é um dia de reação, com o que pode ser o primeiro ato de resistência consequente, a greve nacional da educação. Foi assim em 1977, quando o movimento estudantil nas universidades abriu caminho para as greves no ABC paulista e outras que se seguiram, campanha Diretas já!, eleição da Tancredo e Constituição de 1988. O caminho pode ser longo, quatro anos horrorosos e inimagináveis já se passaram, mas chegará um dia em que as coisas estarão melhores e a democracia prevalecerá, não por doação das elites, mas por vontade do povo.
As duas primeiras notícias abaixo são do El País e da BBC. Não é por acaso que a "grande" imprensa brasileira ignora os acontecimentos que vão contra o golpe; ela participou ativamente do golpe e está comprometida com ele. Assim como a larva jato não foi para combater corrupção, a reforma da Previdência não vai resolver problema nenhum, apenas piorar a vida dos trabalhadores, mas os veículos repetem essa baboseira todos os dias, como idiotas obsessivos. As outras são do GGN, que faz jornalismo sem recursos, mas com dignidade.

Mobilização por educação confronta bolsonaristas nas redes e testa força nas ruas
'Não podemos ignorar o Estado fuzilando civis', diz ministra que votou por prisão de militares que mataram músico e catador
Dia Nacional de Greve na Educação: manifestações ocorrem em todo o país
Economistas destroem ‘mitos’ da ‘reforma’ da Previdência e lançam manifesto
Jornalismo convencional defende educação, mas se isenta de questionar reforma da previdência

sexta-feira, 10 de maio de 2019

O que é ser uma falsa herdeira diante de ser uma herdeira de verdade?

Os falsos herdeiros um dia acabam presos, os herdeiros verdadeiros herdam fortunas roubadas, passam a vida roubando e nunca vão presos. Parodiando aquela velha frase: "o que é assaltar um banco diante de abrir um banco?".
Especialistas logo encontram uma doença em gente como essa Ana. E no comportamento dos herdeiros de verdade? Qual é a doença dessa gente? Por que ser banqueiro (milionário e destruir o planeta e seus semelhantes) não é considerado doença nem crime?
A notícia: 

A falsa herdeira que enganou a alta sociedade de NY e deixou um rastro de golpes no valor de milhares de dólares
Alessandra Corrêa*. De Winston-Salem (EUA) para a BBC Brasil.
Ela se apresentava como Anna Delvey, herdeira alemã de uma fortuna de 60 milhões de euros (cerca de R$ 261 milhões), e em pouco tempo conquistou a alta sociedade de Nova York. Morava em hotéis cinco estrelas, frequentava festas exclusivas, vestia roupas de grife, viajava em jatos privados e distribuía gorjetas de US$ 100 (R$ 388).

Clique AQUI para ler a notícia na íntegra.

Por que eles querem reformar a Previdência

A questão da reforma da Previdência é que ela não precisa ser reformada, mas ninguém diz isso. Ao dizer "ninguém" estou me referindo a políticos e partidos políticos, e a veículos de comunicação. Assim como tudo mais que Temer fez e o capitão está fazendo, a reforma da Previdência é uma bandeira ideológica. Não se trata de falência da Previdência, muito menos de retomar o crescimento, trata-se de defender interesses particulares dessa gente que está no poder.
Quem está no poder desde o golpe são fanáticos ideológicos, os liberais exaltados, evangélicos exaltados etc. Eles estão defendendo seus interesses particulares, querem dinheiro do Estado para eles, não querem que o Estado dê dinheiro para pobres. Nem em aposentadoria, nem em saúde, nem em educação, nem em transporte, nem em moradia, nem em seguro desemprego, nem em bolsa família.
É simples assim. Mas a esquerda capturada pelo neoliberalismo é incapaz de dizer não à reforma da Previdência e dizer claramente: "Queremos manter a Previdência como está, vamos tirar dinheiro dos banqueiros para sustentar a Previdência e a educação pública, a saúde pública, o transporte público, a moradia dos pobres, o bolsa família, a pequena propriedade rural, o ambiente, os territórios indígenas e tudo mais".

Empresas ligadas a deputados devem R$ 172 milhões à Previdência
Camilla Veras Mota, da BBC News Brasil em São Paulo.
Mesmo tendo passado pela maior renovação dos últimos 20 anos, a Câmara dos Deputados mantém uma característica que marcou as legislaturas anteriores – empresas ligadas a parlamentares devem cifras milionárias ao fisco e, em particular, à Previdência, cuja proposta de reforma tramita na Casa.
Um levantamento feito pela BBC News Brasil com dados obtidos via Lei de Acesso à Informação mostra que um em cada quatro deputados é sócio, diretor ou presidente de empresa com débito em aberto com a Receita Federal ou o INSS.
São 134 parlamentares, que somam uma dívida de R$ 487,5 milhões. A Previdência responde por mais de um terço desse valor: R$ 172 milhões em débitos de 61 empresas ligadas a 46 deputados. 

Clique AQUI para ler a íntegra da matéria.

Para entender o conflito da direita: militares x olavistas, segundo a BBC

Em 10 minutos.

Capitão presidente decreta o fim do Dia das Mães

A data faz parte do legado de Getúlio Vargas que os liberais exaltados querem liquidar. Assim como a CLT, a Petrobrás e tudo mais que começou a ser criado em 1930. E o horário de verão. Não sei se o capitão presidente vai fazer isso, não li em lugar nenhum, talvez ele não tenha pensado nisso ainda, mas é bem mais factível do que muitas fake news que os brasileiros repetem. De qualquer forma, é uma boa oportunidade para discutir essa ideologia liberal fanática. E a ideologia da Revolução de 30. Se o Dia das Mães é parte do legado do ditador Getúlio, por que não acabar também com essa data, como acabaram com o horário de verão? A matéria da BBC não se compromete. Trata o assunto como curiosidade, como quase tudo. O sujeito fez a matéria na Eslovênia (!) para publicar no Brasil. Mas é brasileiro, pelo nome. Eu, heim. Será que foi à Eslovênia pesquisar sobre o Estado Novo?

Dia das Mães: como surgiu a celebração no Brasil e por que a data varia em outros lugares do mundo

Edison Veiga. De Bled (Eslovênia) para a BBC News Brasil. 

"O segundo domingo de maio é consagrado às mães, em comemoração aos sentimentos e virtudes que o amor materno concorre para despertar e desenvolver no coração humano, contribuindo para seu aperfeiçoamento no sentido da bondade e da solidariedade humana."

Assim declara o decreto de número 21.366, assinado pelo então presidente Getúlio Vargas (1882-1954) e publicado em 5 de maio de 1932.

O documento ainda tece três considerações para justificar a lei: "que vários dias do ano já foram oficialmente consagrados à lembrança e à comemoração de fatos e sentimentos profundamente gravados no coração humano"; "que um dos sentimentos que mais distinguem e dignificam a espécie humana é o de ternura, respeito e veneração, que evoca o amor materno"; e "que o Estado não pode ignorar as legítimas imposições da consciência coletiva, e, embora não intervindo na sua expressão, e do seu dever reconhecê-las e prestar o seu apoio moral a toda obra que tenha por fim cultuar e cultivar os sentimentos que lhes imprimem, força afetiva de cultura e de aperfeiçoamento humano".

Clique AQUI para ler a notícia na íntegra.

sábado, 4 de maio de 2019

Manhã com Bach

Clique AQUI para ouvir Manhã com Bach, um delicioso programa da civilizada Rádio USP, desta vez apresentando a Suíte Inglesa Número 2. Imagem relacionada

Impeachment já!

Crimes de responsabilidade não faltam, ao contrário do que aconteceu com o impeachment da ex-presidenta Dilma, cujo processo foi forjado. Nassif já listou dezenas de crimes de responsabilidade praticados pelo presidente capitão e seus ministros, num desgoverno sem precedentes na história do Brasil. O mais lúcido e bem informado dos analistas brasileiros convoca os brasileiros para interromper o desgoverno antes que a nação seja destruída e retroceda um século, porque esse é o propósito do capitão e seus liberais exaltados, evangélicos exaltados, milicianos exaltados, militares exaltados etc.

Tem que tirar Bolsonaro, antes que acabe com o sistema educacional brasileiro

Por Luis Nassif, no GGN, 3/5/19

O bloqueio das verbas de custeio, autorizado por Jair Bolsonaro, vai paralisar todo o sistema de ensino superior e dos Institutos Federais de Educação. E foi motivado exclusivamente pela tal guerra ao marxismo cultural que orienta todas as ações de governo e pelos investimentos de Paulo Guedes no setor privado.

É tão maluco esse desmonte quanto seria a ideia de estatizar o setor privado. São posições ideológicas sem nenhuma avaliação sobre o resultado final para o país.

Essa loucura vai desestruturar o sistema universitário, prejudicar milhares de alunos, interromper pesquisas científicas, comprometer o atendimento dos hospitais universitários.

Insisto: o país não pode continuar refém desses celerados. O governo é transitório. Dura um mandato, dois, com reeleição. Há obras que são permanentes, como é o caso do sistema de ensino público. Não há nenhuma possibilidade de conferir a um mandatário o poder de destruir uma construção intergeracional e, mais do que isso, essencial para o desenvolvimento do país.

Talvez essa irresponsabilidade  seja derrubada em breve, por uma decisão do STF (Supremo Tribunal Federal). Mas como se pode conviver com armadilhas diárias, desmontes diários de toda uma construção política, social, de várias gerações de brasileiros, não apenas destruindo o que foi construído ao longo de décadas, mas deixando um vácuo, sem nenhum projeto alternativo?

O STF, o Congresso, o Judiciário, as Forças Armadas são parte do Estado brasileiro. Não podem permitir a continuidade dessa loucura. Se não agirem, serão cúmplices da destruição do país como Nação.

(Clique AQUI para ler no GGN.)


Bastidores da entrevista do Lula

Esses bastidores das notícias, que os jornais não publicam, sempre me pareceram tão ou mais importantes que as notícias. As notícias são sempre uma seleção e enfatização de informações, feitas pelos repórteres, editores e donos dos veículos.O depoimento abaixo é do advogado do El País, que acompanhou a entrevista publicada domingo passado (30/4).

Sobre o que falou Lula

Não era crível que a um único brasileiro, isolado em uma sala da Superintendência da Polícia Federal de Curitiba, não se aplicava a Constituição Federal.

Cezar Britto, no El País.

Confesso que, nos meus 34 anos de advocacia militante, não havia testemunhado um aprisionado ser tratado com tanta rigidez, insensibilidade e constrangimento. Da chegada até a saída do pequeno e cercado birô em que sentara — sempre escoltado por policiais armados — não fora permitido ao entrevistado qualquer interação com as pessoas que se encontravam na sala, desde um abraço amigo ou mesmo simples e educado aperto de mão. Nada, além do distanciamento compulsório.
A cena de isolamento testemunhada pelo Brasil quando da presença de Lula no sepultamento de seu neto Arthur — guardadas as devidas proporções — era também repetida na ambiência interna da superintendência curitibana. Deu-me a impressão de que tratavam o cidadão Luiz Inácio Lula da Silva como uma espécie de criminoso de altíssima periculosidade. O que acentuava a contradição da própria autoridade policial, pois no dia anterior, não fosse o firme posicionamento do ministro Ricardo Lewandowski, manobrara para encher a sala de entrevista com jornalistas por ele próprio escolhido, desrespeitando a decisão judicial e o direito constitucional de recusa do próprio entrevistado.
Ultrapassada esta fase, as câmaras passaram a registrar, depois, o que muitas outras fingiam não saber: que Lula — ainda com condenação não transitada em julgado e preso antes da formação definitiva da culpa — era o único brasileiro censurado previamente por decisão judicial, pelos próprios órgãos de imprensa, pelos contumazes defensores da liberdade de imprensa e até mesmo pelas associações que sempre repelem com veemência qualquer ataque a esta mesma e fundamental liberdade.
Afinal, como destacado em grandes manchetes no recente episódio envolvendo o saite O Antagonista e a revista Crusoé, a liberdade de imprensa é direito universal, fundamental para a preservação do Estado Democrático de Direito. Direito que, inclusive, já havia sido concedido a pessoas condenadas em decisões transitadas em julgado, alguns em presídios de segurança máxima, como atestam os diários programas de puro sensacionalismo policial e até mesmo as grandes empresas de comunicação em seus horários tidos como comercialmente nobres. Direito já exercido por Fernandinho Beira Mar, Marcola, o chamado Maníaco do Parque, Bruno do Flamengo, Guilherme de Pádua, Suzane Richthofen, Farah Jorge Farah, Hosmany Ramos, Alexandre Nardoni, Anna Carolina Jatobá, dentre tantos outros entrevistados, perigosos ou não.
Assim, quando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ingressou, no dia 26 de abril de 2019, na pequena sala instalada na Superintendência Regional de Polícia Federal do Paraná, não apenas se quebrou o isolamento físico a ele imposto, inclusive no seu ato rebelde de cumprimentar os jornalistas que iriam exercer o seu trabalho por aproximada duas horas de entrevistas. Quando o entrevistado começou a falar diante das câmaras previamente instaladas, quedava-se parte da Bastilha que o fazia ser o mais desigual dos brasileiros. Naquele momento, não mais era ele o único cidadão, aprisionado ou não, judicialmente amordaçado e previamente impedido de exercer o constitucional direito de exprimir o seu pensamento. O silêncio compulsório imposto ao brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva estava rompido, reconhecendo-o — mesmo com injustificável retardo — como cidadão comum, detentor dos mesmos direitos e de idênticos deveres dos demais.
E quando Luiz Inácio começou a falar, compreendeu-se a razão do silêncio imposto ao ex-presidente Lula, do aparato policial que o isolava do mundo, da cumplicidade dos “notórios defensores da liberdade de imprensa” e do tratamento marginalizado. 

(Clique AQUI para ler a íntegra no El País.)

Nova York também dá o exemplo

O segundo exemplo do dia vem de Nova York.

“Homofóbico virulento”: leia a carta de senador americano ao hotel Marriott de NY contra Bolsonaro

Publicado em 4/5/19, pelo DCM.

O senador democrata Brad Hoylman organizou a campanha para cancelar o evento em homenagem a Bolsonaro em Nova York.

Ele escreveu uma carta ao hotel Marriott, onde iria ocorrer a festa, e a tornou pública:

"Estou escrevendo para vocês como o único senador LGBTQ pelo Estado de Nova York e senador representante de Times Square para pedir que cancelem o jantar de “Personalidade do Ano” da Câmara de Comércio em homenagem ao presidente brasileiro Jair Bolsonaro em 14 de maio de 2019.
O presidente Bolsonaro tem um histórico extremamente perturbador de intolerância e misoginia.
Entre outras coisas, ele disse uma vez que “seria incapaz de amar um filho homossexual” e que preferiria que seu filho morresse a ser gay. Além disso, o presidente Bolsonaro disse que uma deputada brasileira “não merecia ser estuprada” porque “ela é muito feia”.
Dado o registro sórdido de comentários públicos do Presidente Bolsonaro, fico chocado com o fato de que uma empresa do meu distrito organizaria um evento em apoio a ele.
Também estou profundamente preocupado com a mensagem que tal evento enviaria para seus funcionários e novaiorquinos em geral, incluindo jovens LGBT, muitos dos quais estão lutando por sua identidade.
Outros estabelecimentos da cidade de Nova York, como o Museu de História Natural e o Cipriani Wall Street, recusaram corajosamente a realização deste evento nas últimas semanas por causa dos comentários ultrajantes e inaceitáveis ​​do Presidente Bolsonaro.
Insisto que vocês façam o mesmo com firmeza contra a intolerância e cancelem a festa de “Personalidade do Ano” de 2019 da Câmara de Comércio do Brasil-EUA no Marriott Marquis. (…)
Atenciosamente,
Brad Hoylman
Senador
27º Distrito do Senado"

(Clique AQUI para ler no DCM.)

Barcelona decide parar de maltratar animais em zoológico

Barcelona, a cidade mais progressista do mundo, mais uma vez dá o exemplo. A ideia é tão simples quanto racional; o que impressiona é que só em 2019 um zoológico lidera a iniciativa. Bichos são espécies animais que merecem respeito e devem viver em liberdade no seu habitat; cabe ao homem, bicho também, e pretensamente espécie mais evoluída que as demais, respeitar estas e criar condições para sua sobrevivência, por entender que a diversidade ambiental é necessária à vida. Ponto. O passo seguinte é adotar o mesmo comportamento para a própria espécie humana. Esse nosso admirável mundo desenvolvido foi feito pelos europeus com a captura, transporte, matança e escravização dos africanos; com a matança e escravização de indígenas da "América", da África, da Ásia e da Oceania. Hoje, os descendentes dos humanos capturados e escravizados são os miseráveis do mundo. Como bichos de zoológico, os europeus capturaram seres humanos de outros continentes para ganhar dinheiro com eles, não confinando-os e exibindo-os como fazem com outras espécies (indígenas "brasileiros" foram exibidos na Europa também, ao lado de papagaios e onças pintadas), mas fazendo-os trabalhar como animais de carga. Domesticar animais, inclusive humanos, é uma especialidade da civilização humana. Quando a gente superar essa bestialidade viverá num mundo razoável. A espécie humana é tão estúpida, no entanto, que talvez o planeta só melhore quando ela for extinta. A paralisação dos trabalhadores do zoo de Barcelona é um pequeno e felizmente provável e inócuo e raro exemplo dessa estupidez.

Zoológico de Barcelona adere ao animalismo após 127 anos de história

Funcionários param contra norma que proíbe reprodução dos animais se não for para repor espécies ameaçadas.

Alfonso L. Congostrina, Barcelona 3/5/19, no El País.

As elefantas, leões, camelos, girafas e ursos do zoológico de Barcelona em breve serão história, depois que a Câmara Municipal da capital catalã aprovou nesta sexta-feira uma regra de proteção de animais para transformar essa instalação no primeiro parque zoológico “animalista” da Europa. Uma mudança que motivou protestos dos trabalhadores da instituição, que consideram que a equipe de Governo da prefeita Ada Colau, com apoio de parte da oposição, pôs a primeira pedra do que em poucos anos representará a desativação do zoo, inaugurado em 1892.

O regulamento aprovado determina que o zoológico não promoverá mais a reprodução de espécies que não estiverem em perigo de extinção. Assim, cangurus, elefantes e ursos desaparecerão quando os atuais exemplares morrerem. O documento aprovado na manhã desta sexta determina também que os espécimes que se encontrarem em boas condições deverão ser transferidos a algum “santuário, refúgio ou equivalente”. Atualmente, cerca de 2.000 animais de 300 espécies vivem no zoo de Barcelona.

O ativista Leonardo Anselmi (que também coordenou a iniciativa legislativa popular para abolir as touradas na Catalunha) promoveu uma rede de zoológicos que batizou de Zoológicos pela Mudança. Por enquanto, são poucos os parques que já adotaram este modelo, embora na Argentina comecem a trabalhar nesse sentido o ecoparque de Mendoza e o de Buenos Aires.

A iniciativa popular promovida pela entidade animalista Libera conseguiu modificar o estatuto da instituição e atingir diretamente os critérios de reprodução das espécies. Alejandra García, a ativista do Libera que leu no plenário a proposta de alteração antes da sua votação, disse estar “feliz” por já saber para qual santuário, no sul da França, serão levadas as três elefantas de Barcelona, chamadas Susi, Yoyo e Bully.

Os animais que não tiverem condições de seguir o mesmo caminho ficarão no zoológico, e a direção tem três anos para conceber um projeto para cada espécie. Entre os objetivos previstos está também a recuperação da fauna em diversas zonas.

(Clique AQUI para ler a íntegra no El País.)


sexta-feira, 3 de maio de 2019

Como a larva jato nasceu nos EUA

Luís Nassif revela o começo da larva jato nos Estados Unidos. A larva jato de fato é uma milícia que vende proteção às empresas corruptas (isto é, quase todas, porque a corrupção é parte intrínseca do capitalismo).

Um presidente que governa por meio de crimes de responsabilidade

O que Luís Nassif diz é o mesmo que eu escrevi (clique AQUI para ler). E também o que Eliane Brum tem escrito no El País (clique AQUI para ler). E Bob Fernandes (clique AQUI).

Forma-se nos mais lúcidos, que têm olhar crítico e não estão presos a um partido ou ideologia, um consenso sobre o significado desses quatro anos de golpe. Enquanto a esquerda se imobiliza, incapaz de reagir, a extrema direita avança e faz o Brasil voltar a 1930. Nassif diz que é hora de promover o impeachment do presidente, que comete um crime de responsabilidade atrás de outro. De fato, pode-se dizer que o golpe afastou uma presidenta que não cometeu crime de responsabilidade e a eleição de 18 levou ao poder um presidente que governa por meio de crimes de responsabilidade.

A sociedade está ainda anestesiada, triste, de um lado, ou aparvalhada, do outro; minorias, de um lado e de outro, insistem na cegueira, uns ainda presos às fake news ou comprometidos ideologicamente com elas, por índole fascista, outros presos ao passado e às fórmulas satalinistas.

É hora de parar Bolsonaro

O que está ocorrendo não são apenas erros de políticas públicas que poderão ser consertados a partir das próximas eleições: estão promovendo desmontes irreversíveis, que se refletirão sobre o presente e sobre as futuras gerações.

Por Luis Nassif, no GGN, em 1/5/19

O país ainda não se refez do trauma do impeachment de Dilma. O desmonte institucional, induzido por Aécio Neves e convalidado pelo Supremo Tribunal Federal, produziu um caos geral. Assim, há sempre o prurido de reincidir e banalizar o impeachment como saída para as crises institucionais.

Mas o caso Bolsonaro é diferente de tudo o que se viu no país antes e depois da democratização. O país está entregue a um celerado, com ligações diretas com as milícias do Rio de Janeiro, comandando um bando de alucinados que assumiram posição de destaque no Ministério e que tem como único objetivo a destruição de todo sistema formal construído ao longo da história.

(Clique AQUI para ler a íntegra.)


quarta-feira, 1 de maio de 2019

Brasil, campeão mundial do populismo

Pesquisa divulgada exclusivamente pelo jornal londrino The Guardian revela que o Brasil é o país com maior índice (42%) de populistas no mundo, e que estes, muito mais do que outras pessoas, acreditam em teorias da conspiração. Por exemplo: que notícias de jornais são mentirosas, que há um complô para esconder informações. De fato, a pesquisa confirma o que nós, brasileiros, estamos vendo há alguns anos, o número crescente e absurdo de ignorantes repetindo idiotices que receberam em redes sociais.

Revealed: populists far more likely to believe in conspiracy theories

Largest survey of its kind uncovers suspicion of vaccines in big part of world population

Methodology: How the Guardian analysed YouGov-Cambridge data

Paul Lewis, Sarah Boseley and Pamela Duncan

Populists across the world are significantly more likely to believe in conspiracy theories about vaccinations, global warming and the 9/11 terrorist attacks, according to a landmark global survey shared exclusively with the Guardian.

The YouGov-Cambridge Globalism Project sheds new light on a section of the world population that appears to have limited faith in scientific experts and representative democracy.

(Clique AQUI para ler a íntegra em inglês.)

Uma esclarecedora análise da classe trabalhadora brasileira contemporânea

Incluindo todos esses serviços criados pelas novas tecnologias do celular e internet, como uber. Para esses, a jornada de trabalho é de 12 horas ou mais, sem direitos trabalhistas, usando seus próprios equipamentos. E no jornalismo, os frilas fixos, isto é, frilas, sem contrato, mas exclusivos. Em uma palavra, os empreendedores, os patrões de si mesmos.

Por que Temer não foi derrubado? Porque tinha a missão, dada pelo capital que apoiou o golpe, de fazer algumas 'reformas', em especial a trabalhista.

Agora que o capitão é presidente está estendendo as reformas a todos os setores. O que são as reformas? Voltar ao século XIX, antes da Revolução de 1930.

Quem tem um projeto alternativo a isso? O PT e a esquerda não têm, ou pelo menos não o apresentam à população. É preciso afirmar que queremos sim uma previdência deficitária, se for o caso, mantida pelo lucro dos banqueiros. Por exemplo. Queremos direitos para os trabalhadores e não a selvageria das terceirizações e do trabalho informal das "novas tecnologias". Queremos sim o controle dos agrotóxicos, que diminui o lucro do agronegócio, mas preserva a saúde e o ambiente. Queremos sim seguro desemprego. Queremos aposentar, queremos escolas e serviços de saúde públicos, gratuitos e de qualidade. Queremos transporte público gratuito de qualidade. E por aí vai. E é o capital quem tem de bancar isso. O problema é que os desenvolvimentistas brasileiros não têm coragem de enfrentar o neoliberalismo selvagem.

Publicado pelo Brasil de Fato.

Brasileiros bebem água contaminada por agrotóxicos


A notícia mais estarrecedora dos últimos tempos estarrecedores. Não é à toa que câncer virou uma epidemia. As autoridades que estão no poder desde o golpe de 2016 não vão fazer nada contra, porque servem aos interesses do agronegócio e dos fabricantes de venenos. Ao contrário, estão fazendo a favor, liberando mais agrotóxicos. Para eles tanto faz, porque não tomam a água que nós tomamos e ganham muito dinheiro com as colheitas gigantescas de monoculturas para exportação. Só a sociedade pode reagir, denunciando, agindo, aliando-se aos mercados estrangeiros consumidores, que, afinal, estão comprando comida envenenada também.

O governo do capitão liberou o uso de agrotóxicos cancerígenos e está liquidando a fiscalização. Quando fiscais atuam, o presidente os desautoriza publicamente, como no caso da queima das máquinas dos desmatadores da Amazônia. Aliás, o fiscal que em 2012 multou o capitão por pesca ilegal em reserva foi demitido do serviço público.

Como diz Eliane Brum, ilude-se quem pensa que o governo está paralisado, ao contrário, ele cumpre velozmente o que prometeu: desmontar o Brasil construído a partir de 1930, fazer o país voltar ao século XIX do liberalismo, quando não havia Estado e quem mandava eram os latifundiários, as multinacionais e os banqueiros. A novidade é que ele acrescentou o crime organizado ao rol de poderosos.

Uma das medidas do governo do capitão é impedir o acesso a informações públicas que possibilitaram essa reportagem.

Detalhe: o levantamento abrange parte do governo Dilma, o que significa que a situação já era calamitosa antes, quando havia relativo controle dos agrotóxicos. Podemos imaginar o que vai acontecer a partir de agora, que eles foram liberados. 


'Coquetel' com 27 agrotóxicos foi achado na água de 1 em cada 4 municípios

São Paulo, Rio de Janeiro e outras 1.300 cidades acharam agrotóxicos na rede de abastecimento. Dados do Ministério da Saúde revelam que a água do brasileiro está contaminada com substâncias que podem causar doenças graves.

Por Ana Aranha e Luana Rocha - Repórter Brasil / Agência Pública, 15/4/19. 

Um coquetel que mistura diferentes agrotóxicos foi encontrado na água de 1 em cada 4 cidades do Brasil entre 2014 e 2017. Nesse período, as empresas de abastecimento de 1.396 municípios detectaram todos os 27 pesticidas que são obrigados por lei a testar. Desses, 16 são classificados pela Anvisa como extremamente ou altamente tóxicos e 11 estão associados ao desenvolvimento de doenças crônicas como câncer, malformação fetal, disfunções hormonais e reprodutivas. Entre os locais com contaminação múltipla estão as capitais São Paulo, Rio de Janeiro, Fortaleza, Manaus, Curitiba, Porto Alegre, Campo Grande, Cuiabá, Florianópolis e Palmas.

Os dados são do Ministério da Saúde e foram obtidos e tratados em investigação conjunta da Repórter Brasil, Agência Pública e a organização suíça Public Eye. As informações são parte do Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano (Sisagua), que reúne os resultados de testes feitos pelas empresas de abastecimento.

Os números revelam que a contaminação da água está aumentando a passos largos e constantes. Em 2014, 75% dos testes detectaram agrotóxicos. Subiu para 84% em 2015 e foi para 88% em 2016, chegando a 92% em 2017. Nesse ritmo, em alguns anos, pode ficar difícil encontrar água sem agrotóxico nas torneiras do país.

Embora se trate de informação pública, os testes não são divulgados de forma compreensível para a população, deixando os brasileiros no escuro sobre os riscos que correm ao beber um copo d’água. Em um esforço conjunto, a Repórter Brasil, a Agência Pública e a organização suíça Public Eye fizeram um mapa interativo com os agrotóxicos encontrados em cada cidade. O mapa revela ainda quais estão acima do limite de segurança de acordo com a lei do Brasil e pela regulação europeia, onde fica a Public Eye.

(Clique AQUI para ler a reportagem na íntegra e consultar o mapa da água contaminada.)