terça-feira, 10 de janeiro de 2023

Oh Yoko!

No dia 18 do próximo fevereiro Yoko Ono completará 90 anos.

A segunda posse do Lula


 

No seu comentário de hoje no UOL, o jornalista Josias de Souza disse que Lula teve ontem, na reunião seguida de caminhada pela Praça dos Três Poderes com os governadores e representantes do Legislativo e do Judiciário, uma segunda posse. Me parece o resumo perfeito de tudo que está acontecendo no Brasil desde a invasão dos palácios do Planalto, do STF e do Congresso pelas hordas de bozoístas domingo 8/1/23. Quarenta e oito horas depois daquelas cenas estarrecedoras, uma semana depois da sua posse, o governo Lula começa novamente, hoje, na forma necessária, de união nacional na defesa da democracia.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2023

Relato de uma jornalista no Congresso em 8/1/23

 

O vídeo acima contém um excelente relato de uma (ou um) jornalista de O Tempo que acompanhou a invasão do Congresso ontem. Ela foi cercada, agredida, roubada e ameaçada de morte com revólveres nas costas e na cintura por não estar vestida como "patriota", não se comportar como eles, ser considerada "infiltrada". 

É o único relato de jornalista que ouvi e vi até agora, porque o que aconteceu ontem foi uma versão distópica, como se diz agora, daquele documentário "A revolução não será televisionada". No Brasil de 2023 a imprensa foi interditada, não pelo governo nem pelos barões da mídia, mas pelos próprios manifestantes de extrema direita. Cobrir os extremistas é correr risco de vida. 

Tudo que vimos ontem foram imagens de longe ou posteriores feitas pela imprensa e imagens de perto feitas pelos próprios criminosos, uns imbecis alucinados que produziam provas contra eles mesmos. A imprensa, exceto essa admirável repórter, não acompanhou os fatos, como aconteceu na invasão do Capitólio, há dois anos, quando uma repórter da Globonews, por exemplo, transmitiu direito do meio da confusão, entre invasores e polícia. 

sexta-feira, 6 de janeiro de 2023

Dia de Reis

Trecho do livro 17

-Vale seis, ladrão de milho!
Tio Quito deu um pulo jogando a cadeira para trás e começou a gesticular em direção ao tio Lindolfo.
-Seis só! – repetia.
Em volta deles, a meninada tentava entender aquele teatro que se repetia uma vez por ano. Na mesa estavam os quatro jogadores: papai, tio Tom, tio Quito e tio Lindolfo.
Tio Lindolfo dera as cartas.
-Eu sou pé – disse.
E fez a primeira mão matando um três jogado pelo papai com um sete de ouros. Na segunda, tio Quito foi obrigado a gastar o zap, a carta mais alta do jogo, para matar outro três. Agora, na mão decisiva, papai jogava mais um três e tio Tom não deixava passar.
-Truco esse três – disse.
Tio Quito fez cara de surpresa. Coçou o queixo, olhou para papai.
-Jogamos errado – comentou.
-Truco! – entusiasmou-se tio Tom.
-Quanto eles têm? – quis saber tio Quito.
Papai contou:
-Com o truco eles fecham a partida.
Tio Quito fez que ia pôr sua carta no baralho, mas voltou a mão.
-Vamos ver? – sugeriu.
-Ainda tem um três rodando – observou papai.
-Vocês vão ou não vão? – perguntou tio Tom, impaciente.
-Cai – ordenou tio Quito.
Tio Tom sorriu e jogou na mesa sua carta, certo da vitória. Era mais que um três, era a espadilha. Tio Quito coçou o queixo outra vez, o olhar desolado. Tio Tom fez menção de puxar os grãos de milho. Foi quando tio Quito deu o pulo da cadeira e gritou, assustando todo mundo.
-Vale seis, ladrão de milho! Vale seis!
Tio Quito era o rei do truco. Podia não ser o melhor jogador, mas era a principal atração do Dia de Reis, quando se comemorava lá em casa o aniversário de casamento dos meus pais. Aprontava tal estardalhaço que a gente nunca sabia se ele tinha ganhado ou perdido: ria, gritava, gesticulava, fazia sinais, piscava, levantava, sentava, e até subia na cadeira.
Tio Quito era o rei do truco e a alegria da meninada. Sempre chegava com balas ou outra guloseima nos bolsos, repetindo vovô, que no trajeto da sua casa à nossa ia deixando balas debaixo da porta de toda casa onde havia criança. Irmão mais velho de papai, tio Quito fazia contraste com ele. Papai era severo, contido, certinho; tio Quito era brincalhão, carinhoso e desbocado; papai era forte, saudável, jogava futebol, tio Quito era miúdo, cego de uma vista e mancava; papai estava sempre sóbrio, tio Quito adorava uma cachacinha. Papai, o mais bem-sucedido dos irmãos, lamentava frustrações pessoais – uma delas envolvendo o próprio tio Quito: cedendo a pressões familiares, papai vendeu barato o lote do Caiçara ao irmão, que não construiu e se desfez do imóvel. Tio Quito, simples balconista, funcionário na loja do sogro, sem casa própria, gozava a vida com humor e alegria. Tinha sempre uma história pra contar.
-Escuta esta aqui – dizia, chamando um dos sobrinhos para sentar do seu lado.  

Clique aqui para saber onde comprar os livros da trilogia Cadernos do Calbercan


quinta-feira, 5 de janeiro de 2023

Conflito distributivo

Começou um novo governo e começou uma nova fase do conflito distributivo. 

Isso significa que ao fazer mudanças na economia o novo governo vai afetar interesses e que os interesses que estão ganhando vão reclamar. Mônica de Bolle explica isso muito bem, de forma que todo mundo entende, desmascarando "o mercado". 

"O teto de gastos é inconstitucional. A tecnocracia ignora a Constituição. Essa economia não serve mais. Essa economia levou o mundo ao estado de extrema desigualdade que hoje temos", diz Mônica, que é economista excelente e trabalha nos EUA. O que dizer? Não há nada a acrescentar, exceto bater palmas.

Quando os analistas e pseudojornalistas da Globoetc. dizem "o mercado" na verdade estão falando dos interesses dos ricaços e dos que têm influência na mídia, na Globo, na Folha, na CNN, na Band, no Estadão, na Record etc.

Por isso eles defendem o teto de gastos e dizem que as mudanças na política econômica vão desequilibrar as contas públicas e provocar inflação bla-bla-bla. 

Inflação é uma coisa ruim, é a pior coisa para quem vive de salário, mas essa gente não vive de salário, vive de renda, por que então diz isso? 

Para assustar o povo e parecer que estão preocupados com o país, com o Brasil, com os brasileiros, com o povo. Na verdade, eles estão preocupados com a sua renda, que vem dos juros altíssimos pagos à dívida do governo.

Por isso eles defendem o teto de gastos que impede que o governo gaste mais com programas sociais, saúde, educação etc., mas não impede que o governo gaste mais com pagamento de juros, que está fora do teto de gastos. 

Na verdade, o teto de gastos é para que o governo gaste com juros e não com programas sociais. 

Simples assim. Isso é conflito distributivo. O dinheiro é escasso, quem vai ficar com ele? Os ricaços que ganham R$ 737 bilhões por ano e que têm voz na Globoetc. querem que fique com eles, para continuarem vivendo no luxo, comprando jatinhos e iates e mansões e fazendas e todo tipo de artigo de luxo e dando festas de arromba para celebridades. Enquanto isso, milhões passam fome, quem trabalha tem salário sem reajuste, porque o salário mínimo é uma miséria e os sindicatos foram destruídos pelos governos Temer e bozo, e para completar o imposto sobre o salário aumentou nos últimos anos, já que as alíquotas não foram reajustadas. 

(Chamam o imposto sobre salários de "imposto de renda", embora só o pague quem ganha salário. Quem realmente vive de renda não paga "imposto de renda", porque sua renda vem de lucros e dividendos, que não são tributados. O Brasil é assim, um país de absurdos, que continua o mesmo sai governo, entra governo. Moto, o verdadeiro "carro popular", paga IPVA, mais iate e jatinho não pagam. Por quê? Porque é bom para o país? Não, porque quem manda na política e na mídia são os que têm jatinho e iate e vivem de lucros e dividendos. O único candidato na eleição do ano passado que denunciou e prometeu mudar isso foi Ciro, mas ninguém queria escutá-lo. Agora é inevitável que a discussão retorne, com o novo governo, que assumiu compromissos com os trabalhadores. Será que terá coragem de enfrentar os ricos e a Globoetc. que o apoiaram?) 

Tudo é política, mas os ricos e poderosos se escondem por trás de mentiras que dizem ser ciência econômica. Como bem lembra Mônica, a economia não existe sem a política e o direito. Eu acrescentaria: e sem a ideologia produzida pela mídia. Por isso os ricaços controlam o governo, fazem reformas constitucionais e dominam os veículos de comunicação. 

Mônica explica, por exemplo, que as fontes que os jornalistas da Globoetc. citam em defesa do teto de gastos etc. são na verdade economistas que trabalharam em governos anteriores e há décadas vivem de ganhar dinheiro com os juros da dívida pública, por isso querem que eles continuem altíssimos. 

Essa gente ganhou R$ 737 bilhões em 2022 graças à diferença entre a inflação de 5% e os juros de 13%. E quer continuar ganhando. 

É isso o conflito distributivo, a essência da economia, que a economia não resolve, quem resolve é a política. E a lei, o direito. Por isso temos uma Constituição magnífica, democratizante, que nunca foi regulamentada em vários pontos, os pontos que não interessam aos ricaços e poderosos, e que foi emendada inúmeras vezes, nos pontos que interessam aos ricaços e poderosos. 

Simples assim. 

A esquerda, porém, em vez de enfrentar a política real, prefere fazer discursos ideológicos socialistas e se corromper. Esse é o resumo dos governos do PSDB e do PT. Será que Lula terceiro, que tem um tucano histórico como vice, será diferente? 

Será que Lula vai governar para o povo que o elegeu no único dia em que teve poder, o dia da eleição, ou será que vai governar para aqueles que têm poder em todos os outros dias, os ricaços, os donos da mídia, o "mercado"?