sábado, 20 de dezembro de 2014

Zé Simão: Obama é petralha!

Do DCM.
Zé Simão: "Vamos pra Paulista pedir o impeachment do Obama. O Obama é petralha!"
Postado em 19 de dezembro de 2014 às 4:46 pm
De Zé Simão, na Folha:

Buemba! Buemba! Macaco Simão Urgente! O esculhambador-geral da República!
Estados Unidos e Cuba fazem as pazes! Pelo telefone! Já imaginou a conversa do Obama e do Raúl?
“Raúl, lets go fazer as pazes!” “Solamente se me dieres um iPhone 6!” “And you um charutito e um mojito.
O papa conseguiu reconciliar os EUA e Cuba, mas não consegue reconciliar coxinhas e petralhas!
“Sem chances, com petralha não tem conciliação.” “Aí é pedir demais, a não ser que os coxinhas se purifiquem.” “Vamos pra Paulista pedir o impeachment do Obama.” O Obama é petralha! Rarará!

O papel de Mário Covas

Era mais ou menos esta a visão que eu tinha do Covas, em 1989, quando votei nele, no primeiro turno. Aparentemente, não estava errado, apesar do que virou o PSDB de FHC, a partir de 1994.

Do jornal GGN. 
A constituição de 1988 e o papel de Mário Covas
sab, 20/12/2014  
Luis Nassif

Prestes a completar 90 anos, o jurista José Afonso da Silva é uma instituição brasileira. Considerado o mais importante constitucionalista brasileiro, José Afonso teve papel central na Constituição de 1988, a “Constituição Cidadã”, que lançou o país definitivamente na era civilizatória, ao reconhecer direitos fundamentais da população à saúde, educação e alimentação, entre outros temas, ao avançar nos direitos dos consumidores, das crianças, das mulheres, a temas como meio ambiente, casamento homoafetivo.

O grande papel de José Afonso foi um pouco antes, na coordenação da Comissão Afonso Arinos, constituída logo após a eleição de Tancredo Neves para propor uma nova constituição ao país. Montou dezenas de grupos de trabalho, convocando as principais lideranças e movimentos brasileiros para a empreitada.

Os trabalhos acabaram arquivados pelo presidente José Sarney, quando avançaram na proposta de um sistema parlamentarista. Algum tempo depois, quando a Constituinte foi convocada, as propostas da Comissão Afonso Arinos serviram de fio condutor para os trabalhos.

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Em um Congresso eminentemente conservador, esses avanços foram possíveis graças ao trabalho do senador Mário Covas, coordenador dos trabalhos.

Jogador de xadrez, estrategista brilhante, Covas montou uma estrutura em que, na presidência de cada grupo foram colocados políticos – a maioria de cunho conversador – mas na relatoria e na sub-relatoria pessoas identificadas com o que se chamava na época de ideias progressistas.

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Na ocasião, a política vivia impasses. A ditadura militar fora definitivamente abolida com a eleição de Tancredo. Mas os primeiros movimentos do novo governo já prenunciavam o desastre do presidencialismo de coalizão. Houve grande leilão de cargos que desmoralizou o novo regime.

Foi essa dupla desmoralização – da ditadura e do fisiologismo – que abriu espaço para o avanço das propostas sociais.

José Afonso lembra de participações inesquecíveis, como a do deputado federal paraibano Antônio Mariz, responsável pela vitória dos progressistas na redação do Capítulo 1 da Constituição. Ou do "coronel" Virgílio Távora, cuja secretaria sugeriu a inclusão do mandado de injunção – pela qual pode-se provocar os tribunais para a aplicação de direitos reconhecidos na Constituição, mesmo que não tenham sido regulamentados.

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Foi um período de apostas na utopia democrática. Chegou-se até a tratar da questão da mídia, com o jurista Tércio Sampaio Ferraz defendendo o acesso dos diversos segmentos sociais aos meios de comunicação. A proposta foi torpedeada por Saulo Ramos, o consultor Geral, depois Ministro da Justiça de Sarney, que atuava como lobista da Rede Globo.

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O trabalho de Covas refletiu-se nos anos seguintes na modelagem do seu partido, o PSDB, no início um partido progressista, com visão social democrata.

A morte de Covas, a eleição de Fernando Henrique Cardoso para a presidência, descaracterizaram totalmente a proposta inicial do partido.

Hoje em dia, quando se assiste José Serra, Aécio Neves e Fernando Henrique Cardoso apoiando manifestações do grupo Revoltados Já, vem a memória Covas e o partido que deixou de ser.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Quem quer combater a corrupção?

É isso aí.
Mas a imprensa publica? A "grande" imprensa quer isso? Os interesses da imprensa sensacionalista, que vive de publicidade pública, que sonega impostos, que inventa notícias e flerta com o golpe, são inconfessáveis. Ela se alimenta da corrupção como os aguapés da Lagoa da Pampulha prosperam no esgoto.

Do Portal Brasil.
Dilma convoca pacto nacional contra a corrupçãoEm solenidade de diplomação para seu segundo mandato como presidenta da República, nesta quinta-feira (18/12/14), Dilma Rousseff convocou "um grande pacto contra a corrupção" entre a sociedade e todas as esferas de governo

"Esse pacto vai desaguar na grande reforma política que o Brasil precisa promover a partir do próximo ano. Vamos convidar todos os Poderes da República e todas as forças vivas da sociedade para elaborarmos, juntos, uma série de medidas e compromissos duradouros", declarou.
Dilma reforçou a necessidade do diálogo com a sociedade e instituições numa “guerra contra a corrupção” e saiu em defesa da Petrobras, alvo de recentes denúncias.
"Toda vez que, no Brasil, se tentou condenar e desprestigiar o capital nacional estavam tentando, na verdade, dilapidar o nosso maior patrimônio – nossa independência e nossa soberania", observou a presidenta.
"Temos que saber apurar e saber punir, sem enfraquecer a Petrobras, sem diminuir a sua importância para o presente e para o futuro. (…) Temos que punir as pessoas, não destruir as empresas. Temos que saber punir o crime, não prejudicar o país ou sua economia", enfatizou.
Dilma Rousseff destacou os esforços do país em investigar e descobrir a verdade, tanto em relação a crimes praticados durante a ditadura, como o recente trabalho da Comissão Nacional da Verdade, quanto na investigação de acusações.
"Temos a felicidade de estar vivendo em um país onde a verdade não tem mais medo de aparecer e onde as pessoas enfrentam a verdade sem medo. Um país que não tem medo de discutir os crimes do arbítrio durante a ditadura e também não tem medo de expor e punir as mazelas da corrupção e dos crimes financeiros", afirmou.

A normalidade democrática

É o mínimo que o país precisa e a grande maioria da população -- muito mais do que os 54 milhões que votaram na presidenta Dilma -- quer.
É uma vergonha nacional que a "grande" imprensa decrépita, que vive de dinheiro público, tem incentivos, sonega impostos e ainda assim está falida, por incompetência e absoluto desconhecimento do que é jornalismo, dê o tom da política brasileira.

Do jornal GGN.
Na diplomação de Dilma, Toffoli diz que eleição é 'página virada' e repudia 3º turno


Jornal GGN - O presidente do Tribunal Superior Eleitoral Dias Toffoli aproveitou a diplomação da presidente reeleita Dilma Rousseff (PT) e do vice Michel Temer (PMDB) para repudiar as tentativas de terceiro turno encampadas pelos partidos de oposição desde que o senador Aécio Neves foi derrotado pela petista em 26 de outubro. Toffoli afirmou que "não há espaço para terceiro turno" e pediu que os "especuladores" de plantão se calem.
"As eleições de 2014, para o Poder Judiciário, são uma página virada. Não haverá terceiro turno na Justiça Eleitoral. Que especuladores se calem. Já conversei com a Corte, e esta é a posição inclusive do nosso corregedor-geral eleitoral [João Otávio de Noronha], com quem conversei, e de toda a composição. Não há espaço para, repito, terceiro turno que possa cassar o voto destes 54.501.118 eleitores [que garantiram a vitória de Dilma]", afirmou Toffoli.
A diplomação de Dilma estava agendada para às 19h, segundo informações do TSE, e começou com alguns minutos de atraso. Horas antes, o PSDB informou que entrou com um novo pedido de cassação de Dilma na Justiça Eleitoral. Desta vez, com um diferencial gritante: solicitando a diplomação de Aécio Neves e seu candidato a vice, Aloysio Nunes, no lugar de Dilma e Temer.
Em seu pronunciamento, Dilma afirmou que a eleição não pode ser entendida como uma guerra que produz vencidos e vencedores. "O povo, na sua sabedoria, escolhe quem ele quer que governe e quem ele quer que seja oposição, simples assim. Cabe a quem foi escolhido para governar, governar bem. Cabe a quem foi escolhido para ser oposição, exercer da melhor forma possível o seu papel", disse a presidente.
Com um tom de independência das "amarras partidárias", Dilma ainda avaliou que "mais importante e mais difícil que saber perder, é saber vencer. Quem vence com o voto da maioria e não governa para todos, transforma a força majoritária em um legado mesquinho."
Leia mais: Armado por Toffoli e Gilmar, já está em curso o golpe sem impeachment
O TSE destacou, em seu portal, a presença dos ex-presidentes Lula (PT) e José Sarney (PMDB), do presidente do Supremo Tribunal Federal Ricardo Lewandowski, do deputado Henrique Alves (PMDB), representando a Câmara Federal, e do presidente do Senado Renan Calheiros (PMDB). A presença de Gilmar Mendes, que julgou as contas de Dilma e do PT, não foi citada pelo Tribunal.
A diplomação na mídia

Nos saites dos jornais O Globo, Estadão e Folha, a diplomação de Dilma e o clima de terceiro turno deram lugar às falas da presidente sobre o combate à corrupção e o caso Petrobras. Exceto na Folha, onde a chamada de destaque era a multa que o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), pretende aplicar em quem aumentar o consumo de água. O jornal trata a multa - mais uma ação para lidar com as crises dos Sistemas Cantareira e Alto Tietê - de "sobretaxa".
Sobre a Petrobras, Dilma disse que a estatal e o governo vão superar a crise atual, mas que é preciso encontrar um caminho para que as investigações da Lava Jato não signifiquem necessariamente a diminuição da relevância da empresa.
"Temos que saber apurar e saber punir sem enfraquecer a Petrobras, sem diminuir a sua importância para o presente e para o futuro. Temos que continuar acreditando na mais brasileira das nossas empresas.​"
Com informações do R7, G1 e TSE

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Um dos dias mais tristes da História

Interessantes as coincidências do relato e o sentimento comum que uniu os bitoumaníacos do mundo inteiro. Em BH saímos para as ruas em busca de sei lá o quê. Era um tempo em que os amigos se encontravam nas ruas
Achava que o assassino devia ser condenado a ter seu nome e sua imagem apagados.
John Lennon foi muito mais do que um beatle -- foi o único dos quatro que teve própria depois, e com isso quero dizer que ele foi o único que foi ainda maior sem os beatles.
Foi muito mais do que um pop star, muito mais que um rolling stone, por exemplo, vivo ou morto.
Ele foi o grande artista da sua geração, que foi a última geração de grandes artistas, em todo o mundo. Compara-se a Chico Buarque, no Brasil.
Que tenha morrido tão precocemente foi uma perda gigantesca para os sobreviventes, que tenha morrido como morreu, um atestado do quanto vale a espécie humana e uma antecipação do que este mundo se tornaria nas décadas seguintes. 

Do Diário do Centro do Mundo. 
O dia em que a música morreu
Por Paulo Nogueira

Long, long time ago, but I still can remember.
O verso inicial de American Pie, de Don McLean, sempre me ocorre quando penso em John Lennon.

Muito tempo atrás, mas ainda lembro o dia em que ele morreu.

Eu morava ainda na casa de meus pais, no Previdência, em São Paulo. Tinha 24 anos. Era manhã. Papai saíra com meu irmão temporão Kiko, de 12 anos. Eles ouviram a notícia no rádio, como era comum naqueles dias. Kiko me contou.

Os beatlemaníacos criaram instantaneamente uma corrente de solidariedade. Ligávamos uns para os outros, em busca de conforto. Tocava John no rádio o tempo todo. Pouco depois, começaram a aparecer as homenagens musicais a ele, em várias línguas. “Naquele dia em que ficamos tristes com Yoko” foi a música mais bonita que fizeram para ele no Brasil. Simone gravou.

George primeiro, depois Paul também compuseram para John. “Here Today”, de Paul, é dos tributos o mais bonito, compreensivelmente. Paul canta “Here Today” na atual turnê.

Ouço John com frequência, sobretudo o John dos Beatles, jovem, sardônico, revoltado, a voz anasalada que é para mim a maior da história do rock, e talvez não só do rock. Entre todas as músicas que já ouvi na vida, “In My Life” é minha favorita. Gosto não apenas de ouvi-la mas de cantá-la, desajeitadamente, ao violão.

Fui várias vezes a Liverpool, desde que vim para a Europa, e em todas elas passei pela casa em que John viveu mais que em qualquer outra na vida, a da Tia Mimi, e por Strawberry Fields. Sempre que estive em Strawberry Fields havia um grupo de turistas.

Dois meses atrás, em minha mais recente ida a Luverpool, o guia me contou que o Dakota, o prédio em que John viveu e morreu em Nova York, tinha uma forte semelhança arquitetônica com o prédio que fica em Strawberry Fields, um orfanato que o pequeno John gostava de frequentar por se sentir entre iguais.

Meus três filhos, em diferentes ocasiões, acompanharam o pai na peregrinação a Liverpool. O quarto, a caminho, conhecerá Liverpool tão logo possa.

Na casa de John está a placa redonda azul que distingue alguém notável, e que os ingleses só colocam 20 anos depois da morte, para que o morto enfrente a última prova, a do tempo.

Sempre bato os olhos no lugar, ali pertinho, em que Julia, a mãe de John, morreu atropelada. Eles tinham se reaproximado, depois que John foi entregue à tia para que o criasse porque o pai era um aventureiro e a mãe irresponsável. Julia ainda teve tempo de ensinar banjo a John antes de ser atropelada.

O sentimento de rejeição tornou John infeliz e atormentado, mas ao mesmo tempo fez dele o gênio que foi. John é um daqueles casos que comprovam amplamente a vinculação entre a grande arte e a dor. Tivesse sido criado convencionalmente e tido uma vida normal entre pais de classe média, talvez estivesse agora aposentado jogando baralho em Liverpool.

Paul foi o moderador dos Beatles, George foi o menino prodígio que deu suporte musical a seus companheiros antes que estes virassem os bons músicos que seriam. Mas foi o tormento pessoal, intransferível, cruel de John que fez os Beatles romperem barreiras e destruírem limites até a última faixa do último disco.

Tenho vivo o 8 de dezembro de 1980 em minha memória. Eu era um jovem reporter que começava a carreira na Veja, e acreditava em muitas coisas. Lembro a capa das revistas americanas. Guardei uma delas durante anos, e talvez ainda a encontre se mexer em minhas velharias. O título era tirado de American Pie. O dia em que a música morreu.

De alguma forma, para todos nós que amávamos tanto Lennon, a música morreu mesmo naquela noite em Nova York, sob os tiros de Mark Chapman.

Ódio mortal, o país da mídia

Entreouvido na fila do caixa do supermercado.

A velhinha: Tem coisas que não é pra rir, mas que são engraçadas. O cara que matou cinco pessoas, moradores de rua, disse que é porque eles não contribuem com o sistema, não pagam impostos...
A caixa: Por que não mata a Dilma então?

Este é o país que o ódio da mídia de esgoto estimula nos brasileiros, mesmo numa velhinha que parece ser uma avó carinhosa e numa caixa possivelmente mãe, pobre e trabalhadora.

'Junk press': o jornalismo sob encomenda, de tese e de denúncia que reina hoje

Recebo na portaria do prédio uma dessas revistas distribuídas gratuitamente. Já que ninguém as compra mais, a velha "grande" imprensa agora distribui suas publicações de graça, em domicílio ou nos sinais. Isso vale para esta revista que ostenta na capa preço de venda em banca, mas vale também para Veja, "a maior revista do país", que continua sendo entregue de graça para assinantes que não renovam a assinatura. O interesse dessas publicações não é que o leitor as compre ou assine, é só manter uma tiragem fictícia, para, dessa forma, venderem anúncios caríssimos -- inclusive, talvez principalmente, para o governo federal, governos estaduais, prefeituras e estatais.

Como sempre, a revista que recebo na portaria vem com um encarte "especial" cuja manchete é "Um gestor no governo". O "gestor" é o governador de saída, filho prematuro dos seus antecessores, que ficou só sete meses e nos dois últimos vem fazendo tudo que certamente esperavam dele, caso ocorresse o desastre eleitoral tucano, como de fato houve: adiantar licitações, prorrogar contratos, gastar todo o dinheiro disponível, aumentar gastos, fazer dívidas e tudo mais que possa ajudar os amigos do governo que sai e pôr em maus lençóis o governo que entra. É este o "gestor.

Mais uma vez pergunte-se a essa imprensa, para testar sua honestidade: se o governador encomiado não desse à revista centenas de milhares de reais em anúncios e patrocínios (o leitor que se assusta com os números de corrupção difundidos pela imprensa ficaria bestificado com os preços dos anúncios), ele receberia os mesmos elogios?

É patético ver os "gestores" durante 12 anos louvados, finalmente derrotados e agora largamente desmascarados na sua incompetência administrativa figurarem sorridentes nas páginas da revista, repetindo todas as mentiras que disseram ano após ano e justificando "dificuldades" com causas externas.

Este -- não ser confiável -- é um dos motivos pelos quais a "grande" imprensa não tem mais leitores. Há outros: os modelos de "jornalismo" que hoje se praticam. São basicamente três, mas nenhum deles é o que os estudantes aprendem nas faculdades.

Dos mestres experientes e bons profissionais, os aspirantes a jornalistas aprendem que jornalismo é o que alguém não quer ver publicado, é que o incomoda o poder, é o que interessa o leitor.

Jornalismo não é feito para agradar o entrevistado, e muitas vezes vai desagradá-lo; é feito para informar o leitor e não para enganá-lo.

O patrão do jornalista é o leitor, que é quem, em última instância, paga seu salário, consumindo o que o jornalista escreve.

O patrão paga o salário, o anunciante paga a publicidade, mas se não tiver leitor, não há publicidade e não há dinheiro para pagar salário.

Logo, o respeito ao leitor é o ponto de partida do jornalista, é para informar o leitor corretamente que ele trabalha; só entregando a informação correta é que o jornalista conquista a confiança do leitor.

Se o patrão não entende isso, está no negócio errado.

Se o anunciante e o governante não entendem isso, não merecem respeito, e se o patrão se curva às pressões de anunciantes e governantes, também não.

É simples, é o que todo jornalista sabe, é o que se ensina nas faculdades de jornalismo, como se ensina a Constituição nas escolas de direito e anatomia nas escolas de medicina.

No entanto, é o que se pratica cada vez menos, a ponto de novas gerações de jornalistas não sentirem o menor escrúpulo em moldar seu trabalho pelos três modelos que prevalecem hoje em dia e que descrevo a seguir.

O primeiro modelo é informe "especial", este mesmo da revista citada.

Não é novo, nos melhores momentos do JB, o grande jornal carioca publicava matérias pagas pelo governo de Minas. Essas matérias, no entanto, eram cercadas de pudor. Primeiro, porque não passavam pela redação, mas pelo departamento comercial -- era o comercial quem acertava o negócio e contratava os jornalistas. Estes, geralmente não eram da redação, mas quando eram recebiam como um frila e não punham seus nomes nas matérias. As matérias eram identificadas como informe publicitário, ainda que fossem muito mais informativas e tecnicamente bem feitas; as fontes governamentais respeitavam os profissionais. A bem da verdade, eram matérias corretas, com a diferença de que sua publicação estava garantida antecipadamente, independentemente da qualidade da notícia, e nenhum jornalista contratado para produzi-las saía buscando "o outro lado", para confirmar as informações recebidas. Várias vezes no entanto escrevi, para o JB, como frila e sem me envergonhar, matérias "a favor" sobre assuntos relevantes que o governo de Minas ou outro anunciante queria publicar.

Hoje, esses informes publicitários se tornaram a regra e as matérias saem assinadas! Profissionais assinam embaixo do texto encomendado! Publicações inteiras são feitas assim, sem informar o leitor de que se trata de matéria paga, e tecnicamente são muito piores. Rasgam elogios pessoais, como nomear um governador tampão de "gestor", ignorando todas as denúncias contra ele por seus atos de fim de governo. No entanto, esse "jornalismo" está em toda parte. 

O segundo modelo é o do jornalismo de tese.

Ele tem variações, mas consiste basicamente em ter já a matéria pronta na pauta. A tese pode ser a favor ou contra, pode ser sobre assunto relevante ou bobagem, pode ser local ou nacional. Não importa, o que importa é que o pauteiro "sacou" uma ideia que parece nova e que atrai os leitores da publicação -- todas as publicações, hoje, acham que conhecem o seu "público" e são feitas para ele, na maior parte a classe média alta. Outra coisa importante: a matéria precisa dar boas fotos. Satisfeitas estas condições, a pauta está aprovada. Junto com a pauta, vem já o título e o lide -- e as fotos sugeridas. Cabe ao repórter basicamente encontrar personagens que confirmem a tese, com histórias, depoimentos, "aspas" e boas fotos. Assim, se a boa história é de uma personagem que "não dá boa foto", ela perde pontos; será preciso "produzir" a foto ou conseguir outra personagem.

Com esta fórmula pode-se produzir qualquer matéria, pode-se até mesmo produzir matérias antagônicas. Note-se que a fórmula não é ruim em si, e realmente foi um achado, quando surgiu, lá atrás, nos anos 80. A sensibilidade de bons jornalistas possibilitou a produção de belas matérias que renovaram o jornalismo factual. Nasceu como jornalismo de revista, provavelmente na Revista de Domingo, do JB, ou na Veja, e ganhou fôlego nas publicações da Abril; nas Vejinhas, espalhou-se como praga pelo país. No jornalismo diário, foi também o JB que lhe deu espaço.

O diabo é que o que era uma pérola tornou-se uma fórmula repetida mecanicamente por profissionais menos competentes e principalmente menos escrupulosos. A banalização generalizada do modelo pode hoje ser vista amplamente, como uma mistura de ficção com textos publicitários, que prolifera como aguapés nas águas sujas da imprensa contemporânea, nem só "grande".

O terceiro modelo é o sensacionalismo.

Também não é novo, talvez seja mesmo o mais antigo de todos, o jornalismo que quer vender exemplares a custa de aberrações. No Brasil, no entanto, ele ganhou caráter político nas últimas décadas e desde 2003 configura-se principalmente como jornalismo de oposição ao governo do PT. Há casos célebres, criminosos, como o da Escola Base, que prenunciavam o esgoto que viria a seguir, mas o marco é a eleição de 1989, a primeira direta, na qual a grande imprensa (então ainda relativamente grande) conseguiu fabricar um candidato e elegê-lo, para derrotar Brizola e Lula. Logo em seguida, fabricou o impeachment do presidente. Elegendo e depondo um presidente, provou o gosto do sangue e não parou mais de sugá-lo. Nos doze últimos anos transformou o vampirismo em vício tresloucado; é só de sangue que essa imprensa vive, criando um novo escândalo a cada dia, uma nova denúncia, um novo sensacionalismo. Veja, que cunhou um dia a expressão "caçador de marajás" e três anos depois garantia que "Pedro Collor conta tudo", sobre o irmão presidente, lançando irmão contra irmão, em capas históricas -- no mau sentido -- do jornalismo brasileiro, destaca-se como grande líder desse jornalismo de esgoto, mas outros veículos a acompanham de perto, em especial um que é distribuído nos sinais, e que faz o papel de guerrilheiro audacioso e ativo, uma vez que vai direto ao leitor, de graça, não espera que ele o procure.

O sensacionalismo antes episódico (basta lembrar da morte de Elis Regina: "A tragédia da cocaína"; e da doença de Cazuza: "Uma vítima da aids agoniza em praça pública") tornou-se regra. Quando vemos outra vez a capa da Veja em que Pedro Collor denuncia o irmão, quando pensamos no que aconteceu depois (seu câncer fulminante no cérebro, as histórias da traição da sua mulher com o irmão, da morte de PC Farias), impressiona a sequências de fatos que adoeceu a política brasileira, mas impressiona ainda mais, do ponto de vista do jornalismo, que a imprensa tenha colaborado muito para a corrupção e muito pouco para combatê-la. Desde 1989, o jornalismo brasileiro é cada vez mais uma planta que se alimenta do esgoto -- que não quer eliminá-lo, mas ao contrário, vê-lo crescer, porque depende dele. Esgoto verdadeiro ou fictício, não sabemos mais diante das informações distorcidas, aumentadas, falsificadas, inventadas até -- nunca é demais lembrar que Collor foi absolvido pelo STF, assim como não é demais lembrar que o PT, as esquerdas, os estudantes e movimentos populares deram apoio ao impeachment promovendo manifestações públicas. Também não é demais ressaltar que o argumento da "falta de provas" que inocentou Collor foi desconsiderado para inocentar José Dirceu e demais petistas.

A imprensa de sarjeta inaugurada em 1989, com fins políticos, contaminou a sociedade brasileira, envenenou a opinião pública, disseminou o desmando no judiciário, a ponto de juízes agora prenderem agentes de trânsito e funcionários de companhias aéreas que cumprem suas obrigações. Se o reconhecimento mundial do governo e do presidente Lula elevou a autoestima do povo brasileiro, esse falso jornalismo esforça-se diariamente para que nos vejamos e nos tornemos muito piores do que somos.

Com um jornalismo assim é compreensível que cada vez menos brasileiros se informem por jornais, revista e televisões. Que leitor inteligente quer se envenenar dia após dia consumindo, digamos, junk press?

O que esses três modelos predominantes mostram é como o jornalismo, uma atividade tão simples que a bem da verdade dispensa quatro anos de formação técnica, embora exija formação cultural e ética tão longa ou maior; atividade que já foi exaltada como a principal porta do povo para a cultura, como vigilante do poder, guardiã da democracia e quarto poder, o velho e bom jornalismo praticamente inexiste hoje na chamada de grande imprensa. Foi esquecido e substituído por outra coisa, bem diferente e que no entanto continua sendo chamada por esse nome.

O velho e bom jornalismo sobrevive em algumas publicações e principalmente na internet, pois foi para ela que migraram os melhores jornalistas, exilados da velha imprensa, e é nela que se encontram novas condições de se praticar essa ideia simples de informar o leitor sobre o que interessa a ele e não a outras sempre obscuras, ricas e poderosas personagens desse universo que se convencionou chamar de mídia.

O última (?) batalha contra o cigarro

A lei antifumo é uma vitória pontual da razão contra o capital.
Os prejuízos pessoais, sociais e estatais do tabagismo são astronômicos.
As multinacionais do tabaco durante décadas venderam em belíssimas e caríssimas propagandas as maravilhas de se fumar, enquanto produziam doenças nos fumantes ativos e passivos.
Prevaleciam os interesses das agências de publicidade, dos veículos de comunicação, dos governos que arrecadavam impostos.
Virar esse jogo foi uma luta de Davi contra Golias, mas a vitória está sendo alcançada, até mesmo no Brasil, onde se diz que as leis não pegam.
Há outros Golias a serem derrotados: os agrotóxicos, as cervejas, os automóveis...

 

Estado fora de tudo que for possível, a começar pela imprensa

Artigo do vice-presidente de um jornal da capital repete a cantilena do neoliberalismo.
Contra a Petrobrás.
O objetivo de toda a campanha contra a gigante estatal é claro, desde o governo FHC: transferir a extração de petróleo para as multinacionais.
Tivessem tido êxito antes, não haveria pré-sal, não haveria dinheiro para educação e saúde, previsto da lei que regulamentou a exploração das novas reservas.
Mas tentam de novo.
A grande imprensa que se horroriza com a corrupção finge que não participa dela -- e não há nada mais corrupto no Brasil do que a imprensa, basta ler as biografias de Chateaubriand e Samuel Wainer, para ficar em lado opostos -- e finge também que a corrupção não existia nos governos que ela apoiava.
Estado fora de tudo que for possível, é o título do artigo do executivo do jornal.
Para testar a honestidade do argumento, basta propor: comecemos pela imprensa. Nada de verba publicitária nem de subsídios governamentais para a imprensa, ok?

Os golpes tucanos contra o próximo governo Pimentel

Os descalabros do final da administração tucana em Minas não param.
Todo tipo de arapuca está sendo montada para que o eleito petista tenha muita dificuldade em governar, além de assumir um estado falido e endividado até as alturas.
O primeiro trabalho do novo governador deverá ser informar a população sobre o caos encontrado.
Mais do que uma necessidade, é um dever que ele tem com o eleitorado.
Minas Gerais hoje é como a Serra do Curral, uma casca de beleza aparente do lado de cá e um enorme buraco de destruição do outro lado.

O golpe agora vem da Cemig, como se lê na notícia abaixo.
A armadilha é clara: se o próximo governo rompe o contrato, as emissoras ficam contra ele.
Da mesma forma, com verbas do governo e ajudas de custos de estatais, como a Cemig, a imprensa radiofônica e televisiva é toda amiga do governo.
O único período da história mineira em que o Estado de Minas esteve na oposição foi quando o governador era Newton Cardoso e resolveu deixar de manter o jornal com verbas publicitárias.
Agora podemos ter um caso semelhante; jornais, hoje, não têm mais importância, tanto que mesmo como a oposição sistemática dos principais jornais do país, Lula e Dilma foram eleitos e reeleitos. Pimentel foi eleito mesmo o Estado de Minas atuando como panfleto de propaganda aecista durante toda a campanha.
Rádios e tevês, no entanto, têm mais influência. São controladas por amigos e parentes de políticos que ganham destes as concessões, uma troca de favores feita às custas de bens públicos, uma situação vergonhosa que impera no Brasil. Políticos distribuem concessões de rádios e tevês, distribuem verbas de publicitária, desconto na energia elétrica etc. e em troca fazem propaganda dos seus amigos políticos.

Do Portal Minas Livre.
Cemig beneficia rádios e tevês com desconto de 55% na conta de energia
Convênio renova garantia de publicidade por mais 30 meses. Objetivo é ressarcir 55% do valor da fatura de energia paga pelas emissoras 
por Aloisio Lopes

A dois meses do encerramento da gestão tucana na Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), a empresa renovou por 30 meses um convênio com a Associação Mineira de Rádios e Tvs (Amirt) que beneficia 380 emissoras no Estado. O convênio, que foi celebrado em 1988, no governo Hélio Garcia, prevê ressarcimento da conta de energia das emissoras. A reposição atual, em forma de publicidade, é de 55% do valor da conta.
Na edição deste mês da revista da Amirt, a entidade comemora a renovação do convênio e orienta as emissoras filiadas sobre como proceder a veiculação e o faturamento da publicidade.
A compra antecipada de publicidade, vinculada à conta de energia, independe da tabela comercial de cada emissora, segundo a assessoria de imprensa da Amirt. O parâmetro utilizado é o valor da conta de energia paga no mês. Para todas, o convênio prevê a veiculação de 300 spots de 30 segundos por mês, que podem versar sobre avisos de desligamento ou mesmo de apoio cultural a qualquer programa da emissora.
Segundo apurou o Minas Livre, uma rádio de grande porte paga em média R$ 40.000,00 por mês de energia elétrica. Para uma TV de grande porte, a média mensal da conta de energia é de R$ 100.000,00. Sobre este valor elas têm, garantido pelo convênio, um ressarcimento de 55% em forma de publicidade.
A publicidade distribuída, por meio do convênio, independe de outras campanhas publicitárias da empresa ou do governo estadual. Segundo levantamento do Tribunal de Contas do Estado (TCE), o governo de Minas gastou entre 2003 e 2011, R$ 1,5 bi em publicidade. Deste total, R$ 596 milhões foram bancados pelos cofres das empresas controladas pelo Estado, dentre elas a Cemig.