sábado, 25 de outubro de 2025

Música do dia: Desalento, Chico e Vinicius

Vinicius de Moraes era o rei do piropo, segundo Chico, um poeta genial, para o meu gosto o melhor. E poesia encaixada na música, transformando em grande arte palavras banais, como neste sublime Desalento: "Sim, vai e diz, diz assim, que eu chorei, que eu morri... de arrependimento". Sugerir uma coisa e dizer outra é uma capacidade de mestres. E repete a manha: "diz que eu estive por pouco, diz a ela que estou louco... pra perdoar". O mais bonito, porém vem em seguida: "que seja lá como for, por amor, por favor... é pra ela voltar". E vai assim, com ideias preciosas e rimas precisas, até o fim. Vinicius era mesmo o rei do piropo. 

sexta-feira, 24 de outubro de 2025

ONU: Brasil é responsável por 71% da destruição de florestas do mundo

Curiosa a forma da Revista Fórum dar essa notícia: o país do título é o Brasil. Talvez seja por que a revista é lulista, estamos às vésperas da COP30, em Belém, e a barra do governo brasileiro já está muito suja, com a licença para pesquisa de petróleo na foz do Amazonas, que tira qualquer moral do país para ser liderança mundial na defesa do ambiente, como pretende e proclama o presidente Lula. Obviamente, se o Brasil vai produzir mais petróleo, não vai reduzir o consumo e as emissões, assim como, se é líder em desmatamento, este não está sendo contido. Há uma terceira péssima notícia nesse quadro que mostra como Brasil se tornou um imenso latifúndio exportador de produtos primários às custas da devastação ambiental: Lula negocia a instalação de data centers americanos com incentivos fiscais e gigantescos consumos de água e energia. Com um governo assim, pra que o capital precisa do bozo? 

Revista Fórum 

Um único país é responsável por 70% da destruição de florestas no mundo, de acordo com a ONU

O país que concentra boa parte da maior floresta tropical do planeta também é responsável pela maior taxa de destruição líquida de florestas, diz relatório da FAO
Por Anne Silva 
Meio ambiente e sustentabilidade 22/10/2025 · 10:21

Dados divulgados pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) nesta segunda-feira (20/10/25), combinados com plataformas de monitoramento terrestre, mostram que, entre 2015 e 2025, o Brasil foi responsável pela maior parte da perda líquida de florestas do planeta.

Foram cerca de 2,94 milhões de hectares de florestas perdidos por ano, enquanto o número global é de 4,12 milhões de hectares anuais. A parcela brasileira do desmatamento corresponde, portanto, a mais de 70% da perda total.

De acordo com o relatório Global Forest Resources Assessment (FRA 2025), a taxa anual da perda líquida de florestas caiu no mundo inteiro em relação às décadas anteriores — passou de cerca de 10,7 milhões de hectares/ano nos anos 1990 para 4,12 milhões de hectares/ano no período 2015 a 2025.

“As florestas plantadas representam cerca de 8% da área florestal total, cobrindo cerca de 312 milhões de hectares”, informa a FAO. “Sua área aumentou em todas as regiões desde 1990, mas globalmente a um ritmo mais lento na última década.” 

Clique aqui para ler a íntegra. 

quinta-feira, 23 de outubro de 2025

Olho para a China e penso no Brasil

Quanto mais me informo sobre a China, mais me convenço de que é um exemplo de racionalidade, planejamento e estabilidade para o mundo que caminha para seu fim. Ciro Gomes, ao contrário, é o retrato da falta de rumo do Brasil. De longe, ele é o melhor político brasileiro em meio século, isto é, desde que os civis assumiram o poder, com liberdades, eleições periódicas, Constituição etc., enfim a tal democracia pela qual lutamos contra a ditadura militar (1964-1985). Não vou entrar em detalhes sobre ele: acompanho-o desde que li seu primeiro livro, publicado em 1996, e já escrevi diversas vezes a respeito dele. No entanto, sua trajetória foi totalmente equivocada. Ele agora volta ao PSDB, partido do qual talvez nunca devesse ter saído. Saiu por quê? Porque divergiu da linha neoliberal adotada a partir do governo FHC. E ficou trocando de partidos, por fim se fixou no PDT, do qual saiu agora, para voltar ao PSDB e provavelmente se candidatar ao governo do Ceará, ou seja, ao ponto culminante da sua meteórica trajetória, cujo passo seguinte deveria ser a Presidência da República. Os partidos brasileiros não são democráticos, eles têm donos. Por que Ciro não foi presidente? Porque no meio do caminho tinha Lula, o eterno. Se a política brasileira fosse como era a americana antes do Trump, Lula iria embora em 2010 e o caminho do Ciro e dos demais políticos ficaria livre, não teríamos Dilma, incapaz de ser eleita por conta própria, haveria alternância no poder, mas o Brasil não é os EUA antes do Trump e agora se tornou até melhor, mas também está longe de ser uma democracia como desejávamos há meio século. Não só pelo modelo político corrupto e antipopular que se instalou, mas principalmente pelos indicadores sociais. A China mostra o que a democracia e os civis poderiam ter feito pelos brasileiros nesse período. Em vez dos sonhos, o que tivemos foi uma volta acelerada à condição de exportadores de matérias-primas à custa da devastação ambiental e agora prestes a destruir a Amazônia, com todas as consequências para o clima da Terra que isso significa. Agora mesmo estamos prestes a ceder terra, água e energia de graça para instalação de uma das maiores pragas modernas, os data centers. A desigualdade social se aprofundou, com violência, miséria, desregulamentação das relações de trabalho. Tudo patrocinado por quem? Pelo partido que nasceu para representar os trabalhadores, pelos governos do ex-operário que seria a redenção dos trabalhadores, mas infelizmente seguiu a cartilha neoliberal, governou e governa ainda para o sistema financeiro, para o agrotoxiconegócio, para os industriais, para os grandes comerciantes, para o capital e para as castas. Ciro poderia ter sido uma alternativa à política do FHC e do Lula, mas ficou pulando de galho em galho, em vez de fazer a única coisa certa que Lula fez: construir um partido para dar sustentação ao seu projeto de poder. Sou defensor da alternância no poder como característica de afirmação democrática, não gostaria que Ciro se tornasse outro Lula, mas certamente seria melhor experimentar seu projeto de desenvolvimento nacional e, no mínimo, que ele revezasse com o petista no poder. Teríamos alguma comparação. Cada vez tenho mais convicção, assim como tenho sobre a China, que o maior político brasileiro de todos os tempos, por sua incrível e única trajetória e por sua capacidade maquiavélica, no sentido exato do termo, de se manter no poder, foi a arma mais eficiente que o capital poderia usar para manter a dominação sobre o povo: um legítimo operário apoiado por um partido dos trabalhadores. Nenhuma força política de esquerda floresceu sob Lula, todas que tentaram foram liquidadas, Ciro inclusive. O poder do Lula só vai acabar quando ele morrer ou perder uma eleição -- a segunda alternativa é duvidosa no ano que vem, se isso acontecer, certamente será para um candidato à sua direita, e a primeira eu espero sinceramente que ainda demore, que ele viva tanto quanto FHC e Sarney. O fato é que, depois de todo o desgaste provocado pelos governos peseudoesquerdistas da Era Lula, a esquerda brasileira provavelmente vai levar muito tempo para se recuperar e voltar ao poder. Certamente não será com o Ciro, que está próximo dos setenta anos e já teve dias melhores.  

quarta-feira, 22 de outubro de 2025

A China no topo

Mais um a enaltecer a ascensão da China, dessa vez baseando-se na teoria do economista e cientista político austríaco Joseph Schumpeter. Me parece que a China é daqueles casos de realidades que a gente não vê porque não quer, porque é evidente. O que significa? Uma alternativa de rumo para a humanidade, socialista, um socialismo muito diferente do que os idealistas imaginam e do que foi a URSS. Seu planejamento não é só econômico, a China preparou-se inclusive para a volta do Trump e enfrentar as sanções comerciais que estão em curso.  

Xi Jinping e o fim do capitalismo liberal: o socialismo schumpeteriano da China.  

terça-feira, 21 de outubro de 2025

Data center: a negociação secreta do Lula com Trump

O grande líder neoliberal brasileiro está entregando terras, água e energia e renúncia fiscal para big techs americanas se instalarem no Brasil, em troca da revogação do tarifaço. Já está no Congresso. Por isso Trump disse que "pintou um clima (com Lula)". Poderia dizer que pintou um agravamento das mudanças climáticas, que as populações locais vão sofrer ainda mais com falta de água, secas etc. 

PS: o podcast toca no assunto sobre o qual publiquei esta manhã, sobre o vício do celular, e cita uma fala interessante do Lula sobre isso. Lula fala contra o celular e, secretamente, negocia a instalação de data center com incentivos fiscais, oferecendo terra, água e energia abundantes de graça.  

Calma Urgente! O sonho do colonialismo digital

Neonazistas ameaçam de morte Jones Manoel, governo ignora

Autoridades vão esperar um novo caso Marielle

Declaração pública sobre as ameaças de m0rt#

Roda Viva entrevista Carlos Nobre, 13/10/2025

Que o fim está próximo, os cientistas não se cansam de nos avisar, mas quem liga?

A esquerda é de elite

De fato, reconhecer isso é um ponto de partida para a esquerda. 

 

Testemunha do fim do mundo

Sinto que tenho o privilégio de fazer parte das gerações humanas que vão presenciar o fim do mundo. Testemunhei em sete décadas tantos acontecimentos tão graves e tantas mudanças tão grandes que parecem inacreditáveis. As pessoas vivem como se não vissem o que está acontecendo. São incapazes de tomar atitudes para evitar o que está acontecendo. São incapazes de reagir e mudar as suas próprias vidas.

A mudança mais impressionante na contemporaneidade é o celular. Crianças e jovens não conseguem imaginar um mundo sem celular. No entanto, há pouco mais de três décadas nós vivíamos sem celular, sem internet, sem computador. Apareceu o computador, apareceu a internet, apareceu o celular, ficamos todos deslumbrados, mas nós, pessoas comuns, consumidores, gente pobre, simples e ignorante de um país da periferia do capitalismo terráqueo, não podíamos imaginar que as três invenções se juntariam numa só, que todos nós teríamos acesso a essa riqueza prodigiosa, muito menos imaginar o principal: que nos tornaríamos todos dependentes dela, adoradores dela, que nossa vida se tornaria impossível sem ela. (É claro que havia sim uma pequena elite com conhecimentos científicos e tecnológicos e capital abundante pensando e preparando o que estava por vir, uma elite que hoje domina o mundo.)

Olho à minha volta em todos os lugares e o que vejo são pessoas olhando para seu celular, segurando seu celular, digitando no seu celular, falando no seu celular, escutando seu celular. Raramente encontro, em qualquer lugar, alguém que não tenha um celular na mão ou no bolso, que não esteja lhe dando mais atenção do que dá ao que está à sua volta. As relações entre os indivíduos hoje são intermediadas pelo celular. Tudo que fazemos passa por ele, não ficamos uma hora sem olhar para ele, sem pegá-lo, sem usá-lo. Todas as nossas atividades e todas as nossas relações sociais agora passam pelo celular. Sem ele, o mundo para.

Nem todo mundo tem casa – o fenômeno dos moradores de rua é espantosamente crescente e não se limita às miseráveis cidades brasileiras, atinge as nações mais ricas. Nem todo mundo carro – embora existam muito mais do que é razoável e, aparentemente, pela quantidade no trânsito, todo mundo tem moto, embora transportes coletivos de qualidade sejam a solução lógica para o deslocamento moderno; nisso também a China é um exemplo para o mundo. Nem todo mundo tem esgoto, luz, água encanada, emprego, comida, família, mas todo mundo tem celular. Um bem que há algumas décadas apenas sequer existia tornou-se mais necessário do que uma boa roupa ou um bom sapato. Sim, porque às vezes o indivíduo veste-se e se calça mal, mas o celular é de última geração. Ao contrário de tudo mais que os seres humanos consomem e que os diferencia entre ricos, pobres e riquíssimos, entre miseráveis e milionários, o celular precisa ser novo, moderníssimo, para funcionar adequadamente e oferecer os benefícios que as pessoas buscam nele, de forma que, como num passe de mágica, todos conseguem ter um celular de último modelo ou, no máximo, de penúltimo, herdado de quem comprou um mais moderno. Além do que, eles logo se tornam obsoletos, são programados para durar pouco e nenhum vai durar tanto quanto, digamos, um antigo telefone fixo, que era o mesmo durante décadas…

Há apenas três décadas, num tempo que costumamos contar em três milênios ou até bem mais, sete, dez, considerando as civilizações antigas do Oriente, o celular inexistia e hoje ninguém vive sem ele, todos dependemos dele e cada vez mais, ele é a coisa mais importante da nossa vida. Mais importante que uma filha, um filho, uma mãe, um pai, um irmão, uma irmã, um avô, uma avó, um neto, uma neta, um primo, uma prima, um amigo, uma amiga um vizinho, uma vizinha, um empregado, uma empregada, um colega, uma colega, considerando o critério da atenção que dispensamos diariamente a qualquer um desses seres humanos e ao celular. O nosso celular é o ente mais querido das nossas vidas, pelo critério do tempo e da atenção que dedicamos.

Acho que isso é horrível para o que de melhor ainda existe em nós, humanos, Homo sapiens, nesses tempos terríveis em que vivemos, nesse fim do mundo, como disse no começo, mas, também como disse no começo, penso que não vai mudar, porque as pessoas não reagem diante dos acontecimentos que parecem estar muito além das suas forças, acham que é assim mesmo, que está certo, que aqueles que detêm o poder vão agir, se for preciso, que existem pessoas que detêm o poder, que existe Deus e que ele é onipotente, governa tudo, se for para mudar, ele vai dar um jeito, e se for o fim do mundo, é porque tem que ser.

A adesão das pessoas à ideologia dominante é uma coisa que me impressiona muito. Não tanto pela nossa incapacidade de agir coletivamente, coisa que se tornou comum nesse tempo de “empreendedores”, de destruição dos sindicatos, de aparelhamento dos partidos políticos por grupos religiosos, associações criminosas e espertalhões, de indivíduos conectados a celulares, mas pela incapacidade dos indivíduos de mudarem a sua própria vida particular.

Nesse nosso mundo em que todos buscam o sucesso individual, poucos são aqueles que conseguem distinguir seus próprios interesses pessoais dos interesses da manada, dos interesses que a ideologia dominante dissemina via celulares, redes sociais, aplicativos etc., pouquíssimos são aqueles que estão pensando com sua própria cabeça e conduzindo sua vida para um futuro possível melhor.

Não um futuro imediato, de bens, luxos e prazeres perecíveis, que precisam ser sempre superados e trocados por outros melhores, não esse futuro imediatíssimo de realizações ilusórias, que desmorona diante de uma crise econômica, de uma pandemia, de uma catástrofe climática, mas um futuro sólido, baseado em relações humanas amorosas e na vida na Natureza da qual temos de cuidar.

segunda-feira, 20 de outubro de 2025

A cruzada de Haddad contra a saúde e a educação

Militares fora do teto de gastos, povo dentro, é claro.  

A cruzada de Haddad contra a Saúde e Educação

Dispositivos do Arcabouço Fiscal do ministro estão produzindo caos no Orçamento público. Ele teima em mantê-los – e quer alterar a Constituição, removendo conquistas históricas da sociedade. Pode estar em jogo a sorte do governo Lula 
OutrasPalavras, Crise Brasileira

Por Antonio Martins

Publicado em 10/4/2024 às 19:21 - Atualizado 11/6/2024 às 18:31 

I.

O investimento público do Brasil em Saúde precisa crescer muito, mostrou na semana passada um vasto estudo coordenado pelo IBGE com base no Sistema de Contas Nacionais. Esta necessidade salta aos olhos em dois gráficos. Embora o país conte com um sistema público de saúde de acesso universal – o SUS –, o percentual do PIB investido pelo Estado na atividade é raquítico: 4%, contra 11,1% na Alemanha, 10,4% na França, 10,3% no Reino Unido, 7,1% na Colômbia e 5,9% no Chile. Em consequência, abre-se espaço para uma medicina de negócios desmesurada e custosíssima. Os gastos das famílias com Saúde equivalem a 5,7% do PIB – o triplo do percentual na França, por exemplo. Esta fatia não pára de crescer, como se vê abaixo. Agora, de cada R$ 1.000 em despesas com Saúde no Brasil, o poder público participa com apenas R$ 410; a população é obrigada a arcar com os R$ 590 restantes. Na Alemanha, ela limita-se a pagar R$ 150. Cálculos do economista Francisco Funcia vão além, e mostram que o Estado gasta com o SUS apenas R$ 4 por dia, por habitante. 

Os benefícios sociais e políticos que podem advir de um investimento público mais amplo em Saúde são evidentes e múltiplos. A grande maioria dos brasileiros, que recorre exclusivamente ao SUS, teria acesso rápido a consultas especializadas e exames – um dos gargalos do sistema. As Equipes de Saúde da Família, hoje sobrecarregadas, seriam estendidas a 100% da população. Crises sanitárias graves, como a que atinge os Yanomami, poderiam ser evitadas. Os hospitais públicos superariam dramas como os do Rio de Janeiro. E ao menos parte dos que se utilizam dos planos de saúde privados (51 milhões de pessoas, ou 25% da população), poderia deixá-los para trás, recuperando a fatia considerável do orçamento familiar que eles abocanham. Sucessivas pesquisas de opinião têm demonstrado que a Saúde é uma das preocupações centrais da opinião pública. Se o Estado oferecer serviços excelentes e gratuitos, neste aspecto crucial da vida, poderá começar a dissipar o (justo) ressentimento que leva parte da população a desejar o colapso da democracia. 

Leia a íntegra clicando aqui.