quarta-feira, 10 de dezembro de 2025

O fim está próximo

Não é mensagem religiosa, ao contrário, os mensageiros da Bíblia contribuem decisivamaente, com a ideologia da prosperidade, para a aproximação acelerada do fim do mundo. É uma mensagem ecológica, transmitida pela Natureza aos humanos que sabem compreendê-la, como a cientista Luciana Gatti, renomada mundialmente. E inúmeros outros, inclusive quem não é cientista, feito eu, e as pessoas mais simples, mais "atrasadas", mais "ignorantes" e mais "pobres" deste mundo em que o critério de "progresso" é riqueza material. 

"Tenho uma frustração gigantesca de ser cientista e não fazer a menor diferença na sociedade", diz Luciana nesta entrevista. 

O chamado "agro", o agrotoxiconegócio, que nada mais é do que o velho latifúndio exportador, agora industrializado e tecnologizado, produz muita "riqueza" na Amazônia, ao mesmo tempo em que derruba a floresta e enche o solo, as águas e o ar de venenos. "Progresso", que o governo do bozo liberou, ao "abrir a porteira", e que os governos democráticos não contiveram, porque o modelo político brasileiro é expressão do domínio econômico do "agro", junto com a mineração e os banqueiros, esse "progresso" é a destruição da Natureza e da espécie humana que é parte dela mas finge ignorar, porque o que interessa a todo mundo é ganhar dinheiro. É o fim do mundo. A consciência disso já me angustiou muito, hoje penso que se livrar da espécie humana é o melhor que a Terra pode fazer para se recuperar e novamente, em milhares ou milhões de anos, voltar a ter a biodiversidade que nós extinguimos e a Natureza maravilhosa que nós destruímos. 

terça-feira, 9 de dezembro de 2025

Revolução ou reforma, o velho dilema dos socialistas

Sempre achei que, em vez de fundar um partido para disputar eleições burguesas, os revolucionários deviam fortalecer e unir os movimentos populares e sindicatos de forma independente do Estado burguês. Organizá-los para exigir o atendimento das suas reivindicações pelo Estado burguês. Nesse processo, os trabalhadores não apenas arrancariam conquistas com a luta, mas também se organizariam de forma independente e formariam a consciência da necessidade de substituir o Estado burguês capitalista por um Estado popular socialista, ou seja, construiriam sua consciência e as instituições do futuro Estado socialista. Formar um partido, disputar eleições burguesas, conquistar assentos nas Câmaras de Vereadores e Assembleias estaduais e no Congresso Nacional, eleger prefeitos, governadores e até presidente, governar municípios, estados e até o país na ordem burguesa, tudo isso é fazer a política burguesa e participar da sua lógica, fortalecer o sistema capitalista e o Estado burguês, explorador, opressor, injusto, desigual. Se a esquerda marxista quer fazer uma revolução, destruir o capitalismo e construir o socialismo, não deve fortalecer o Estado burguês, suas instituições e ideologia, entre as quais se incluem partidos, eleições, parlamentos, governos etc. Para fazer a revolução, o caminho é fortalecer a organização popular e a ideologia socialista, tratar sempre o Estado burguês e seus representantes como inimigos. Foi isso que o partido bolchevique fez na Rússia, foi esse o significado da palavra de ordem "Todo poder aos sovietes!" lançada por Lênin e Trotski em 1917, que deflagrou a revolução, transferiu o poder para o povo e começou a construção do Estado socialista. 

Coisa diferente é se os marxistas não pretendem fazer uma revolução, mas sim reformar o Estado burguês, transformá-lo gradualmente num Estado socialista e transferir também gradualmente o poder das mãos da burguesia para os trabalhadores, substituir o capitalismo pelo socialismo sem fazer revolução, de forma civilizada, consensual, pacífica, ainda que em conflitos, mas acreditando que a ordem burguesa é capaz de resolvê-los. Neste caso, formar um partido para disputar eleições burguesas e legitimar a política burguesa faz sentido. Trata-se de participar das instituições do Estado burguês, conquistar a maioria do eleitorado, chegar ao governo pelo voto e reformar o Estado burguês internamente, transformando-o num Estado socialista. O PT, liderado por Lula, evidentemente, não escolheu o caminho da revolução. Tampouco, porém escolheu o caminho da reforma. Na falta de definições claras e na confusão provocada pelo fim da URSS e pela ofensiva neoliberal, tornou-se um partido burguês comum, cujo governo é determinado pelos interesses dos setores burgueses mais fortes e mais influentes. 

Carlos Marighella, por Breno Altamn

Mais uma aula de história do Breno Altman. Desta vez, a aula inclui o PCB, o Partido Comunista Brasileiro, o partidão, sua trajetória sinuosa e contraditória e suas inúmeras defecções e dissidências, das quais Carlos Marighella é das mais famosas (antes de ser petista, B.A. foi do PCB; trocou o partidão pelo PT e Stalin por Lula). Estamos vivendo uma época rica em debates na esquerda. Podcasts, transmissões de programas, noticiários, debates, palestras etc. via YT. Espero que tudo isso seja também fértil em novas forças políticas de esquerda. É um fenômeno intelectual, reúne e atrai classe média, acadêmicos, estudantes, militantes diversos. As grandes forças sociais estão no trabalho, nos locais de trabalho, nos ambientes sociais, não nos virtuais, são os trabalhadores, e estes estão desorganizados, desmobilizados, e quando se mobilizam o fazem em torno de movimentos sociais conservadores, reacionários, de direita e extrema direita, isto é, das igrejas evangélicas e do bozoísmo. Isso acontece porque a esquerda, o PT e Lula se afastaram das suas bases sociais nas últimas décadas e se dedicaram a administrar o Estado capitalista, deixando o povo para a militância e as ideias da direita e da extrema direta. Esse fenômeno de discussões na esquerda expressa o fim de um ciclo, o ciclo protagonizado pela liderança do Lula e do PT, sendo que este foi sempre um instrumento daquele. Breno Altman é uma das principais estrelas do fenômeno e um dos principais expoentes do lulopetismo. Destaca-se por sua cultura ampla e por suas posições marxistas. É um marxista stalinista, o que é muito interessante, porque o stalinismo é o marxismo vitorioso, por assim dizer, e Altman mostra como funciona o pensamento de um stalinista, isto é, de um marxista vitorioso. É diferente do pensamento dos trotskistas, que são muito mais brilhantes, a exemplo do seu ídolo, Leon Trotski, o político revolucionário mais importante do século XX, porém foram e continuam sendo sempre derrotados, minoritários, oposição etc. (Trotski liderou a derrota dos inimigos externos da revolução russa, mas foi derrotado pelo inimigo interno, Stalin). O stalinista Altman é um marxista vitorioso mais uma vez, porque pode-se negar todas as qualidades ao PT, mas não se pode negar que, seguindo devotadamente o Lula (assim como os marxistas vitoriosos se curvaram ao Stalin), o PT é um partido vitorioso, mais do que foi o PTB e ao contrário dos demais partidos que pretenderam representar os trabalhadores brasileiros até hoje. É a vitória do Lula que legitima o discurso do Altman. A ponderada, culta, ilustrada e convincente retórica do Breno Altman é cheia de falácias, justificadas pelo cerne do pensamento stalinista, isto é, marxista vitorioso: se deu certo é porque é certo, é marxista, é materialista. Quem pensa diferente, como o Nildo Ouriques (com quem Altman debateu em alto nível, porque Ouriques é, como diz o Altman, "muito preparado", um dos marxistas mais qualificados do país, e de fato demonstra isso), é "idealista", porque não vê a realidade vitoriosa dos fatos que se resumem ao Lula, ao governo petista "de frente ampla", às vitórias eleitorais. Fora do Lula e do PT, não há salvação, diz a cartilha do Breno Altman, em resumo, assim como fora do Stalin e do Estado soviético não havia salvação para os comunistas, para os marxistas vitoriosos. 

segunda-feira, 8 de dezembro de 2025

Nildo Ouriques x Breno Altman debatem os dilemas da esquerda brasileira

O melhor debate sobre os descaminhos da esquerda brasileira nos últimos cinquenta anos. São dois militantes da minha geração. Fico pensando que nosso legado para o país foi zero, porque nossa geração ficou agarrada no Lula, que é uma grande personagem da história e um político digno de figurar no Príncipe, do Maquiavel, mas muito pouco fez pelos brasileiros. Para ser exato: na chamada Era Lula o Brasil piorou muito, com o avanço destruidor do latifúndio exportador (também conhecido como agro, o agrotoxiconegócio) sobre o Cerrado, o Pantanal e a Amazônia e a desindustrialização. Nas últimas décadas, o Brasil andou aceleradamente para trás no desenvolvimento econômico, com a diferença que o atraso veio junto com o uso intensivo de capital e novas tecnologias, o que se traduz numa destruição ambiental também acelerada. Uma nova geração de esquerda vai ter de construir tudo, pois perdemos meio século seguindo o neoliberalismo. Isso na versão otimista, isto é, se o mundo não acabar em consequência das mudanças climáticas. 

Stedile também quer plano nacional de desenvolvimento

É curioso ver toda a esquerda, um expoente após outro, pregar agora a necessidade de um plano ou projeto nacional de desenvolvimento. Eu fico pensando onde eles estavam nos últimos trinta anos. Ciro Gomes fala isso pelo menos desde 1996, escreveu livros, elaborou seu projeto, pregou-o nas duas últimas eleições presidenciais, e todos o ignoraram, fingiram não escutar, continuaram dizendo que Lula era a salvação. Breno Altman, um desses expoentes mais brilhantes, ainda acusa Ciro de ter ido para a direita, ao se afastar do petismo, como se o petismo não tivesse ele próprio ido para a direita. Agora, todos concordam também, em graus diferentes, que o governo Lula é um governo neoliberal, liberal, social-liberal etc., que sua política econômica é a mesma do governo bozo, mas ainda assim é melhor Lula do que bozo, e vamos de Lula novamente em 26, bla-bla-bla. Eu não discordo: Lula é melhor que bozo, já votei nele no segundo turno várias vezes e votarei novamente, contra candidato mais à direita, embora tenha dúvidas se ele será reeleito. No entanto, Lula já deixou de ser um líder operário há muitos e muitos anos, hoje é um político burguês, assim como o PT deixou de ser o partido dos trabalhadores brasileiros para se tornar mais um partido que representa interesses do capital. O lulopetismo não faz autocrítica dos seus erros, o principal deles se tornar lulólatra e ter jogado fora o grande fato histórico para o Brasil que foi a construção de um partido dos trabalhadores, deixando que ele se transformasse no partido do Lula. O PT é o partido mais importante do Brasil porque foi o único na nossa história que nasceu do povo, mas vem perdendo importância porque trocou as bases pelo lulismo e vai se tornar igual aos outros quando não tiver mais o Lula para guiá-lo. No ano que vem ou quatro anos depois, o ciclo Lula terminará finalmente e a esquerda brasileira não terá nada para pôr no lugar do lulismo, nem mesmo o tal projeto nacional, tendo perdido meio século para isso. Construir um novo partido popular é a tarefa da esquerda, mas será muito mais difícil do que foi criar o PT. Na onda de discussões atual eu não vejo as estrelas da esquerda nem de longe pensando nisso, ou seja, em como construir um novo partido a partir das bases e plural, como foi o PT, sem sucumbir a um dono, a um messias, mantendo-se democrático, plural e intimamente ligado ao povo, aos trabalhadores, às massas trabalhadoras e populares. Nos idos de 1970 e 1980, quando se começou a discutir a fundação de um novo partido de esquerda (na ditadura militar havia apenas dois partidos, a Arena, do governo, e o MDB, pretensamente de oposição) e quando esse movimento resultou no PT, eu tinha uma visão particular do assunto, mas fiquei nela completamente solitário, "idealista", como poderia definir Breno Altman. Eu era contra a fundação de um partido, pensava que os movimentos populares que estavam surgindo e crescendo deviam manter sua independência, se manter reivindicatórios, de massa e unidos entre si, em oposição ao Estado burguês. Hoje penso que estava imaginando a formação dos futuros sovietes brasileiros, uma base de organizações populares sobre as quais se assentariam a revolução e o Estado socialista. Em vez de formar um partido próprio, o que os trabalhadores deviam fazer, portanto, era organizar seus instrumentos de luta, independentes do Estado, para atuar sempre em conflito com o Estado e negociar com os partidos burgueses, todos eles, também de forma independente, sem compromisso. Com independência, qualquer político burguês e qualquer partido burguês serviam igualmente para atuar a favor dos trabalhadores nos governos do capital. Continuo considerando esse pensamento razoável: se os trabalhadores querem construir outro Estado, seu, com sua ideologia, devem fazê-lo gradativamente, organizando-se na oposição ao Estado burguês e preparando a nova ordem com a sua experiência de organização e com a ideologia que vai formando nesse processo. A trajetória do PT e do Lula é inegavelmente uma trajetória de um operário e um partido que vieram do povo e se transformaram em defensores da ordem burguesa. 

domingo, 30 de novembro de 2025

Música do dia: Dedicated to the one I love, The Mamas & the Papas

E pergunta do dia: por que, a despeito de tantas canções lindas a exaltá-lo, o amor não predomina na espécie humana?

terça-feira, 25 de novembro de 2025

Neoliberalismo: morto, vivo ou zumbi?, por Juliane Furno

Mais Juliane Furno, que tem um canal no YT. Aqui ela faz resumidamente uma análise que me parece cada vez mais consensual, com a qual concordo, mesmo porque óbvia, as variações ficam por conta das consequências que cada um tira, e nesse ponto a esquerda atual (Juliane é do Levante Popular da Juventude, que já vi em manifestações, se não me engano esteve na linha de frente das jornadas de 2013 e até entrevistei alguns militantes para o Cometa Itabirano, na época, mas pouco sei sobre ele), que é mais avançada do que a da minha geração, é igualmente dividida. Por que não existe uma convergência socialista (epa!), quero dizer, uma união de esforços por um projeto de esquerda de fato? Outra militante que ouvi hoje também no Breno Altman (muitas mulheres protagonistas), Mandi Coelho, é do PSTU, o partido mais esquerdista do país, trotskista, feminista que diz que a luta de classes está acima do feminismo, igualmente é daquela geração de 2013. Tomara que consigam se unir, mesmo porque o desafio é muito maior do que isso, esse seria só o começo, o desafio é liderar os trabalhadores, as massas populares que foram capturadas pela extrema direita no vazio deixado pela esquerda, leia-se PT, que escolheu administrar o Estado burguês e passou da esquerda para o centro, abandonando as organizações populares das quais se originou. 

'Governo Lula não é neoliberal, tem contradições'

Excelente entrevista dessa bela economista (?) que eu não conhecia. Fala de tudo com simplicidade, clareza e boas posições, inclusive essa do título, da qual eu discordo, porque acho que as decisões neoliberais predominam, mas compreendo o ponto de vista dela. Faz críticas importantes (e poderia ser diferente?), mas é tranquila, otimista. E tem senso de humor: "não vimos a Seleção jogar bola", diz ao listar as frustrações da sua geração, a primeira, segundo ela, a viver pior do que seus pais, o que gera problemas sociais e mentais. "Tudo está pior para nós." 

Música do dia: Quando eu me chamar saudade, Nélson Cavaquinho

Com parceria do Guilherme de Brito.