segunda-feira, 10 de novembro de 2025

Clima e justiça intergeracional

"Justiça intergeracional." É justo o termo, sem trocadilho, e óbvio: a geração que manda no mundo hoje está condenando seus filhos e netos a viver num mundo em que não terão o que ela teve, porque estamos destruindo a Terra. O que me chama atenção, porém, mas uma vez, é a nossa capacidade de conversar fiado enquanto o mundo pega fogo. O que eu acrescentaria à explicação abaixo é: inclusive essa. Quer dizer: essa escolha de produzir textos acadêmicos em vez de agir. "Agir", para mim, é uma coisa muito simples que partidos, movimentos sociais, instituições científicas e de comunicação etc. e seus integrantes não fazem: se unirem num movimento mundial e forte para pôr fim ao capitalismo destruidor e começar uma nova civilização baseada na igualdade entre os humanos e no convívio em equilíbrio com a Natureza. Não será fácil, mas não é esse o problema, o problema é que não existe sequer a iniciativa determinada de fazer isso. A academia pretensiosa e a imprensa cínica brincam de formar a consciência do caos. 

Esta publicação de certa forma se soma à anterior. Tudo é entretenimento no mundo absurdo do capitalismo medieval. Milhares de intelectuais e cientistas se dedicam a "trabalhar" e ganhar dinheiro público para produzir textos e pesquisas sobre o sexo dos anjos, o que significa narrar o que todos sabemos que está acontecendo e não fazer nada para mudar. Um comunista famoso do século XIX escreveu uma vez alguma coisa parecia com "os filósofos até hoje se dedicaram a interpretar o mundo, mas o que importa é transformá-lo", posição correta, embora pretensiosa, como a obra em geral daquele filósofo alemão, porque, de fato, filósofos foram também, digamos, "ativistas" e essa coisa de mudar o mundo é uma coisa dos séculos XIX e XX, fruto dessa ideologia comunista europeia, ao passo que civilizações antigas de outras partes do planeta viveram com muito mais sabedoria e muito menos pretensão, inclusive aqui neste continente denominado externamente pelo colonizador de "América". 

Do Nexo. Clique aqui para ler a íntegra. 

Clima e justiça intergeracional
Fillipi Nascimento 28 de Agosto de 2025 (atualizado 28/8/2025 às 17h52)
Parceiro Neri/Insper

A justiça intergeracional implica reconhecer que as escolhas feitas hoje podem impor custos desproporcionais a quem ainda não nasceu, tanto no acesso a recursos como na capacidade de enfrentar crises ambientais. Entenda noções centrais deste debate

Justiça intergeracional

A obrigação das gerações atuais de agir de forma a preservar as condições ambientais, sociais e econômicas necessárias para que as futuras tenham oportunidades equivalentes ou melhores de desenvolvimento e bem-estar. No campo climático, significa tomar decisões que limitem impactos irreversíveis, reduzam riscos e mantenham a integridade dos ecossistemas. Esse princípio exige políticas de longo prazo, que ultrapassem ciclos eleitorais e interesses imediatos, integrando ciência, planejamento e participação social. 

A justiça intergeracional também implica reconhecer que as escolhas feitas hoje podem impor custos desproporcionais a quem ainda não nasceu, tanto no acesso a recursos como na capacidade de enfrentar crises ambientais. Trata-se, portanto, de um compromisso ético e político com a continuidade da vida em condições dignas, sustentado por princípios de equidade e responsabilidade compartilhada no tempo.

As discussões medievais dos economistas

Uma civilização em que militares e economistas são importantes não pode ser levada a sério. Economistas são pensadores medievais, ficam discutindo seriamente, em detalhes e correntes divergentes os assuntos mais idiotas possíveis, todos eles remunerados com dinheiro público das universidades, ao mesmo tempo que, por fora, fundam bancos ou trabalham para capitalistas, sempre ganhando muito dinheiro. Dá para levar a sério? E no entanto, gozam de alto prestígio, mandam nos governos e os políticos os obedecem, os jornalistas reproduzem (tentando compreender -- e aí surgiu outra categoria correlata igualmente inútil, os analistas de economia) tudo que dizem. E tudo que dizem ou é estúpido ou é óbvio. Não sabem nem escrever, cometem erros elementares de português, como se vê no título original do vídeo, um exemplo desse tipo de discussão prestigiosa, que, por ser de difícil compreensão, assim como eram as discussões sobre o sexo dos anjos na Idade Média, a plateia acha que é científica e inteligente. Inúteis. A vida é outra coisa. Assim como os banqueiros, provavelmente nenhum deles jamais trabalhou: como podem entender o que é "economia"? Quando dizem alguma coisa importante, qualquer dona de casa já sabe e explica melhor. 

domingo, 9 de novembro de 2025

Música do dia: Eu sou como você é, Lô Borges

Homenagem póstuma tardia ao Lô Borges. Não publiquei nada sobre ele nesses sete dias desde sua morte porque não cultuo Lô nem o Clube da Esquina. Clube da Esquina, pra mim, é o álbum, uma obra-prima como o Abbey Road, uma conjunção perfeita de astros, em que tudo deu certo, começando pela criatividade potencial de cada um e pelo encontro que cria outra coisa maior ainda. Imagina um disco que, além de tudo, tem arranjos de Eumir Also sprach Zarathustra Deodato. Um dos melhores de todos os tempos. Depois do Clube da Esquina, Milton foi cada vez mais um músico do topo e gravou coisas muito boas, mas nada se equipara àquele álbum, assim como os demais integrantes, dos quais, para mim, o talento mais brilhante e constante foi (é) Toninho Horta. Hoje, porém comecei a cantar "Meu irmão eu sou como você é" e lembrei do Lô, que, para continuar nas comparações, é, para mim, uma espécie de Rimbaud belo-horizontino, brilhou intensamente muito jovem e eclipsou. Não precisava fazer mais nada para entrar para a história além das canções do Clube e desse álbum estranho, irregular, gravado às pressas para atender a gravadora, sem nome, famoso como "o disco do tênis", uma obra de arte já na capa, assim como o Clube da Esquina, fotos do Cafi, ambos lançados no ano emblemático, mais uma vez para mim, de 1972, marcantes na minha vida, ano e discos. Naquele ano, as canções do "disco do tênis", assim como o Clube da Esquina, tocavam direto na alma. Gosto do disco como um todo, de algumas canções em especial: Como o machado, Faça seu jogo, O caçador, Homem da rua, Aos barões, e continuo achando esta a melhor de todas. 

sábado, 8 de novembro de 2025

Música do dia (3): Borzeguim, Tom Jobim

E na sequência vem ainda essa. "Deixa o índio vivo na floresta... Dizem que o sertão vai virar mar, dizem que o mar vai virar sertão..." Parece que o computador também lê o ambiente.

Música do dia (2): Saudade da Bahia, Caymmi e Tom

A propósito. Sinto saudade da chuva em Itacaré, há um ano, e toca essa música na minha lista aleatória de maravilhas do Tom...

Música do dia: Agua de beber, Tom Jobim

Com a letra soberba do Vinicius.

sexta-feira, 7 de novembro de 2025

Entretenimento, é disso que o capitalismo vive

Entretenimento é um dos nomes do capitalismo. Youtube não é outra coisa, inclusive em podcasts sérios, políticos, de informação. Informação é entretenimento. No YT e nas demais redes sociais. Depois de muito ver influenciadores políticos, gente bem informada, com posições respeitáveis, fico me perguntando se de fato são influenciadores políticos ou o que antigamente, na televisão, era chamado de showman. Cito Jones Manoel, que é talvez o mais consequente de todos, militante do PCBR, com participação em protestos e manifestações, posicionamento claro nas questões nacionais e internacionais, que demonstra boa formação e muita leitura. Que papel pode ele desempenhar numa revolução brasileira? Será mesmo capaz de liderar? A revolução não será feita por trabalhadores organizados, a partir dos locais de trabalho e espaços públicos? Será que a influência via redes sociais substitui as organizações reais dos trabalhadores, do povo ou será só mais uma forma de entretenimento? A quantidade de gente que tem ocupada em entretenimento deve ser maior do que trabalhando em atividades produtivas. Todo mundo quer se distrair da realidade e grande parte quer ganhar dinheiro distraindo os outros. Entretenimento não é trabalho, trabalho é atividade produtiva, que atende uma necessidade, entretenimento é feito para ganhar dinheiro, é parte da dinâmica capitalista. Trabalhadores que se mobilizam e organizam para reivindicar, protestar ou, quem sabe, mudar a ordem social o fazem por necessidade, não para serem "monetizados". Influenciadores são parte do espetáculo capitalista. Tudo gira em torno do dinheiro, é claro, nisso e em qualquer coisa. Porta dos Fundos diversifica e tem o seu programa de auditório. 

Aldo Rebelo no podcast 3 Irmãos

Aldo Rebelo é um político de opiniões próprias, fortes e corajosas. Foi num programa da extrema direita, que queria seu apoio para o impeachment do ministro do STF Alexandre de Moraes e outras bandeiras antidemocráticas, golpistas e pró-intervenção americana no Brasil, discordou, e criticou os que ficam atacando o Brasil protegidos nos EUA, defendeu a soberania nacional, argumentou que para melhorar o STF há caminhos constitucionais. O apresentador, que disse ser daqui de Lagoa Santa (MG), ficou abobalhando, se perdeu e perdeu a compostura com seu convidado, ofendeu-o e recebeu resposta à altura. Vale a pena ver, quem quiser constatar a coerência do Aldo Rebelo, que no podcast abaixo defende a curiosa tese de que o principal problema do Brasil são as ongs, o Ibama, o Ministério Público e os ambientalistas. Ataca até mesmo a plataforma Sumaúma, exemplo de jornalismo contemporâneo. Discordo radicalmente do Aldo Rebelo, porque vejo nele uma mentalidade do século XX, ele defende o modelo desenvolvimentista que o Brasil abandonou há cinquenta anos e ignora o colapso ambiental da Terra, mas admiro seu conhecimento amplo do país, sua coerência e sua coragem. O podcast é fraco para apertar o entrevistado, mas é bom para conhecer suas ideias. Será Aldo Rebelo um negacionista do colapso do clima? Não dá pra saber.