segunda-feira, 11 de novembro de 2024
Cientista perseguida por denunciar agrotóxicos nos alimentos brasileiros
Farmacêuticas vigiam médicos e tentam influenciar o que ele vai te receitar
Você sabia que os médicos mineiros receberam R$ 200 milhões em presentes da indústria farmacêutica entre 2017 e 2022?
Quem ainda não acompanha, está perdendo. Uol Prime entrevista repórteres sobre excelentes reportagens que eles fizeram. É uma coisa nova, até onde sei, muito bem conduzida pelo José Roberto de Toledo. Essa, da Amanda Rossi, é só uma das ótimas reportagens.
Você sabia que Minas Gerais é o único estado, dede 2016, que obriga a indústria farmacêutica a informar suas relações com os médicos que nos prescrevem remédios, ou seja, os conflitos de interesses?
Você sabia que fica um tempão esperando o funcionário olhar sua receita no computador porque ele está anotando seus dados e os do médico para vendê-los à indústria farmacêutica?
Isso e muito mais. O jornalismo está mais vivo do que nunca.
quinta-feira, 7 de novembro de 2024
Viver por Viver
quarta-feira, 6 de novembro de 2024
Anarquismo e Pós-anarquismo, Camila Jourdan
quinta-feira, 10 de outubro de 2024
sexta-feira, 27 de setembro de 2024
Guiomundo, mas pode me chamar de Raí
Sujeito de sorte, esse Raí. Podia se chamar Guiomundo, afinal, seu pai, Raimundo, gostava de juntar sílabas do seu nome e do nome da mulher para formar os nomes dos filhos. Já tinha posto o nome Raimar em um quando dona Guiomar deu um basta naquela excentricidade. Sujeito de sorte, o Raí: dos dez filhos da sua mãe, quatro morreram – ele, o último, sobreviveu, cresceu – muito, inclusive: 1,89m –, virou atleta, craque, famoso. Sujeito de sorte mesmo: podia ser feio como seu irmão mais velho, o extrovertido Sócrates, e, embora tímido – é ele quem diz –, acabou galã – são elas que dizem.
E dizem os sábios que não há sorte sem merecimento. Raí, além do trato refinado à bola, tem em comum com o outro craque da família o caráter, ao que parece a maior herança deixada por seu Raimundo. Eles bem que podiam se chamar “os filhos do Raimundo”, embora este fosse ruim de bola. Dois irmãos foram profissionais, mas todos jogavam bem, exceto Sófocles, que por isso, é claro, foi parar no gol. Família grande tem essa vantagem: dá pra fazer time completo.
É sorte ter bons pais, é sorte ter muitos irmãos, é uma felicidade crescer numa casa com muito espaço, sempre repleta de gente, familiares vindos do interior, muitos amigos. Gente entrando e saindo, mesa repleta e comida farta, conversa na varanda, depois do jantar. Futebol no campinho perto de casa e boa escola. Quem cresce assim tem muita chance de ser feliz e de proporcionar felicidade aos outros.
Herança, porém, é coisa que muitos põem fora. O que se recebe no lar é preciso depois ser construído, quando a casa da gente passa a ser o mundo e uma multidão de desconhecidos substitui a família e os amigos. Ainda mais para quem fica famoso. Para quem, ao encerrar uma carreira de sucesso, sempre breve no futebol, tem de encontrar outro rumo e levar vida equilibrada. Raí fez mais que isso: ajuda crianças e adolescentes a também descobrirem seu rumo com equilíbrio.
Homem de caráter e de sorte, esse Raí tem um grave defeito: não jogou no meu Galo, não deu à massa o orgulho de mais um título nacional, como Telê nos deu, em 1971. O mesmo Telê que de tanto exigir dedicação e treinamento fez de Raí um craque completo, como poucas vezes se viu. Confesso que, mesmo odiando o tricolor paulista, que nos “roubou” o título de 1977, torci sinceramente pelo time de Telê e Raí. De certa forma, a conquista do Mundial de Clubes, em 1992, foi como se Telê, Cerezzo e Sócrates – Raí, afinal, era Sócrates! – tivessem, enfim, conquistado a Copa do Mundo de 1982, com o mesmo futebol refinado, mais, digamos, “competitivo”, e com um pouco de sorte...
A sorte que faltou em 82, a sorte do Raí. Homem de sorte esse Raí, que pôde dar ao irmão a alegria que merecia ter tido e lhe faltou. Que cresceu cercado de homens, que lhe serviram de referência, e vai envelhecer cercado de mulheres – três filhas e uma neta – que lhe dão amor. Sinceramente, com tamanha sorte podia até se chamar Guiomundo.
(Texto vencedor do concurso "Eu Escritor", em 2012, e que fez parte do livro "Todo mundo tem uma história pra contar", comemorativo dos 20 anos do Museu da Pessoa.)
quarta-feira, 21 de agosto de 2024
A primeira publicação deste blog, em 17/9/2009
Jornalismo agora é uma atitude
Com a internet, todo mundo tem seu jornal pessoal, o jornalismo se transformou. Não importa a visão antiga de jornalismo, ela não serve para enxergarmos a realidade. Se as pessoas leem blogs, sítios, portais etc., se veem youtube, google vídeos etc., se se comunicam por e-mail, orkut, msn, celular etc., a comunicação mudou. Não adianta a imprensa impressa espernear, não adianta a televisão reagir, as pessoas não estão prestando atenção nelas. Cada um vai ler o que lhe interessa, cada um vai se ocupar com o que lhe agrada. Jornal virou peça de museu, revista virou objeto de sala de espera. Se o jornalismo está na internet, ele agora é feito de outra forma, com as características da internet. Todo mundo pode ter seu jornal, a leitura é dispersa, a informação é interativa.
Genoíno pede um programa socialista para o PT. Com quarenta anos de atraso
(Encontro com José Genoino na Tapera Taperá, em Sampa.) Não conheço José Genoíno pessoalmente nem posso dizer que acompanhei sua trajetória, porque nunca foi petista nem filiado a qualquer outro partido. A primeira vez que o ouvi falar longamente foi nesse vídeo. E gostei; ele passa confiança, a qualidade social mais importante, e faz uma análise lúcida. Infelizmente, sua proposta está atrasada quarenta anos.
Genoíno é da geração de 68, que foi às ruas contra a ditadura militar, depois foi à luta armada para fazer a revolução e por fim fundou o PT. Eu sou da geração de 77, que também foi às ruas e, sob a liderança da geração de 68, ajudou a construir o PT. Fui militante na universidade e depois mantive um olhar simpático e crítico ao que considero a grande obra política da minha geração. Tenho enorme respeito por pessoas como ele, com uma vida rica de experiências. Quantas vidas ele viveu? Desde militante estudantil, muito mais do que eu, depois guerrilheiro, que eu não fui, preso político, que também eu não fui, não sofri o que ele sofreu, não fui torturado nem passei anos encarcerado; depois sair e se dedicar a construir um partido popular como jamais houve antes na história brasileira, disputar eleições, que significa ter contato com o povo, conhecer sua realidade, depois a experiência de ser parlamentar por vários mandatos, depois fazer parte do governo federal do PT, uma experiência grandiosa, histórica, depois a perseguição que sofreu, a queda, nova prisão, e se recuperar. Tenho o maior respeito por tudo isso e por agora ter a capacidade, que muitos dos seus pares petistas não têm, de formular uma análise como essa que ele formulou e voltar à militância na base, sem querer mais ter cargo em governo nem disputar eleição, o que mostra sua coerência ideológica. Mas francamente... tem um atraso de quarenta anos na sua proposta.
O PT nasceu para ser isso que ele prega agora. Por que não foi? Por que nunca teve um programa socialista? O PT nasceu para isso, mas conciliou com o neoliberalismo e em seguida se tornou porta-voz do neoliberalismo. Os governos do PT foram neoliberais e o atual continua sendo.
Apesar de sua análise ser um avanço na ideologia petista, Genoíno repete o erro do José Dirceu e dos petistas em geral: fala como se o PT não tivesse governado o Brasil durante 14 anos e agora não estivesse novamente no governo, como se não tivesse responsabilidade sobre o que aconteceu e acontece no país. Enfim, não tem autocrítica.
A proposta do Genoíno chega com mais de quatro décadas de atraso, deveria estar presente no nascimento do PT em 1980 ou ter sido construída até 2002, quando finalmente chegou ao poder. Por que não foi? Genoíno não toca no assunto, como se ter um programa de governo alternativo ao neoliberalismo fosse uma necessidade atual, não de todo esse período.
E aí está a segunda verdade que Genoínio não fala, óbvia: é que o empecilho de o PT não ter sido o partido que deveria ter sido foi o Lula -- e continua sendo. O PT deixou de ser o que deveria ter sido e que o Genoíno pede que seja agora, com quarenta anos de atraso, para se tornar o partido do Lula. Isso é óbvio. A militância petista trocou um programa socialista por um líder messiânico. Genoíno critica o individualismo contemporâneo do neoliberalismo, que criou o caos social em que a gente vive hoje, e tem toda razão. Pois bem: Lula foi o individualismo no PT, foi a expressão neoliberal na política da esquerda brasileira. Talvez ele seja a prova da força ideológica do neoliberalismo burguês, que contaminou até um partido que nasceu para ser de esquerda, dos trabalhadores, socialista, uma alternativa ao capitalismo, mas o fato é que esse partido, suas várias correntes políticas, seus milhões de filiados e militantes e a enorme força social que mobilizou a partir dos anos 70 se curvaram à figura do Lula, tornaram-se lulólatras, trocaram um projeto coletivo por um messias.
Genoíno tangencia a questão, sem ter coragem de encará-la, ao dizer que em 2030 Lula não poderá mais ser candidato, que o PT precisará ser capaz de seguir seu caminho. Ora, isso já aconteceu em 2010! Mas Genoíno também não fala sobre isso. Por que naquele ano o PT não fez isso, não voltou às suas origens, não se tornou um partido "coletivo", em vez de um partido com dono? Dizer que agora o PT precisa ter um programa de governo socialista, ser uma alternativa prática ao neoliberalismo fascista caótico e continuar achando que até hoje o partido fez tudo certo, que o mal foi praticado pelos outros é o fim da picada.
Antes tarde do que nunca, diz o ditado, mas acho que ele não vai se aplicar à situação atual pelo simples fato de vivermos outro momento histórico. Aquela energia que criou o PT acabou, as gerações de 68 e 77 estão velhas, muitos já morreram, a militância que o ex-deputado imagina não existe mais. O PT terá de ser refundado -- e a proposta do Genoíno, de um programa que defenda direitos, é um bom ponto de partida, embora de nada valha um programa se ao chegar ao poder o partido o troca por uma conciliação com o capital: o atual governo Lula não revogou a reforma trabalhista que o golpe de 2016 implantou, por exemplo --, mas quem vai fazer isso são as novas gerações. Será que vão aproveitar a legenda e a experiência do PT ou vão fazer como fizeram os fundadores do PT, que jogaram no lixo a legenda e a experiência do antigo partido dos trabalhadores, o PTB, para começar do zero, sem máculas do passado?
quinta-feira, 15 de agosto de 2024
quinta-feira, 8 de agosto de 2024
Ativistas em defesa da Terra decoram mansão de Messi
Não se pode dizer que não tem gente fazendo alguma coisa contra a destruição da Terra pelo capitalismo, seja americano seja chinês. Ou espanhol. Ou argentino. Ou brasileiro. Mundial, que é uma coisa que Messi expressa bem: um indivíduo da parcela de 0,001% da população que goza de todos os luxos enquanto o futuro das próximas gerações é destruído, as demais espécies são extintas e a imensa maioria dos humanos atuais vive na miséria, em condições degradantes e violentas. O presidente argentino obviamente não se preocupa com estes, mas se manifestou enfaticamente contra as pichações na mansão ilegal do Messi. E têm bom humor esses ativistas do Futuro Vegetal: AJUDE O PLANETA,
COMA OS RICOS,
ACABE COM A POLÍCIA, diz o cartaz. A primeira e a última palavras de ordem são bem lúcidas, a segunda é uma atualização de outra que, nos anos 70, dizia, com muito mais violência: faça economia, mate um rico por dia. Ações assim são polêmicas, a esquerda hoje costuma repudiar qualquer ato que possa ser chamado de violento pela direita, embora a direita seja cada vez mais violenta: a polícia pode matar jovens pretos pobres diariamente sem ser incomodada, exércitos podem matar crianças palestinas igualmente. Já vivemos a barbárie. Deveríamos todos estar nas ruas levantando cartazes singelos como este da foto, mas nos acomodamos como o sapo cozinhado no caldeirão enquanto a água esquenta devagar e grande parte acredita que Deus quer que a gente progrida materialmente trabalhando dezesseis horas por dia, sem direitos trabalhistas, votando em genocidas e dizendo sim senhor, vai com Deus, Deus te projeta etc.
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