sábado, 11 de fevereiro de 2012

A entrevista de FHC em inglês e o fim do Serra

Analisando a entrevista de FHC à revista The Economist, dada em inglês, Luís Nassif diz que Serra acabou para o PSDB, finalmente, depois que o ex-presidente, que sempre foi seu avalista, leu o livro do Amaury Ribeiro Júnior. Sem ele a convivência entre tucanos e petistas se tornaria mais civilizada -- quem sabe até se unindo, como prometem fazer em Belo Horizonte na eleição deste ano? O que não é motivo de tranquilidade para o cidadão comum. Afinal, além das péssimas administrações que vemos em Minas e na capital atualmente, o governador de São Paulo, responsável pela barbaridade no Pinheirinho e outras, é Alckmin, não é Serra. As tendências neofascitas da direita tucana vão além de Serra. O que o PSDB está fazendo é se livrar de um peso morto que seria nefasto para o País, mas que já causou grandes prejuízos ao partido. Mais uma vez é preciso lembrar que o presidente da República tucano não foi Serra, foi FHC. A incompetência, a arrogância e o elitismo tucanos vão muito além de Serra. (Marcos Coimbra, em artigo pulbicado na CartaCapital, faz uma boa análise da entrevista e da personalidade de FHC. A íntegra da entrevista, em português, pode ser lida aqui.)

Do Luís Nassif on line.
FHC decreta o fim de Serra
Enviado por luisnassif, qui, 26/1/2012
Na segunda-feira, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso concedeu uma entrevista ao blog do The Economist. Na terça-feira a entrevista foi reproduzida pelos principais jornais. Nela, FHC rompe com limitações emocionais, reconcilia-se com sua biografia e ajuda a salvar o que resta do PSDB: rompe politicamente com José Serra, através de um diagnóstico duro: O PSDB perdeu as eleições de 2010 devido a erros primários na campanha.Esses erros foram de responsabilidade exclusiva de José Serra, por seu individualismo, arrogância e pelos conflitos que criou dentro do próprio partido. Aécio Neves é o candidato natural do PSDB nas próximas eleições. Serra não tem possibilidade de vitória. A terça-feira foi dos piores dias da vida de Serra. Contrariando seus hábitos – de dormir tarde e levantar tarde – antes das 7 da manhã estava no Twitter – o sistema de mensagens curtas da Internet. Mandou uma mensagem insossa: "É a primeira vez que entro para dizer bom dia a todos". Alguns minutos depois, outra mensagem, desta vez com críticas ao governo Dilma. Depois sumiu, contrariando seu padrão de atuação. Ontem à tarde houve evento na prefeitura de São Paulo. No palco principal, o prefeito Gilberto Kassab, a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente FHC em demonstrações explícitas de civilidade política. Serra, na plateia, passando despercebido. (...) Vários fatos contribuíram para que FHC revisse definitivamente seu julgamento sobre Serra. A gota d’água foi o livro de Amaury Ribeiro Jr., "A Privataria Tucana" -- um nome inadequado para um livro que revela sinais de corrupção especificamente em Serra, não no partido (sic). (...) Informações que circularam semanas atrás davam conta de que ficou escandalizado com o que leu. Agora, o PSDB fica livre para se reconstruir. Na entrevista, FHC unge Aécio Neves como candidato natural do partido e tece elogios ao governador de Pernambuco, Eduardo Campos. A grande agonia de Serra foi acompanhar a repercussão nos jornais. Há alguns anos, FHC tornou-se o referencial máximo para os grandes grupos de mídia do eixo Rio-São Paulo. Serra tem boa ascendência, contato com alguns jornalistas influentes, mas o que o segurava era o aval de FHC. (...) Em toda sua vida política, Serra sempre foi protegido por uma blindagem, devido ao seu passado intelectual. Essa blindagem impediu que fosse questionado sobre a mudança do padrão de vida ainda em pleno governo Montoro – no qual ocupou seu primeiro cargo público. Em pouco tempo saiu de um pequeno sobrado na Vila Madalena para um sobrado amplo perto da Praça Panamericana. Aos amigos dizia ter conseguido um aluguel barato. Sua atuação de bastidores iludiu não apenas a FHC, mas também Lula, seus colegas na Unicamp, jornalistas, amigos dos tempos de exílio. Nas eleições, algumas de suas características ficaram evidentes, como o uso de dossiês contra adversários – de Aécio a Dilma –, o discurso religioso, destoando de toda sua vida política. Mas ainda havia crença de que não se valeu da influência política para ganhos pessoais. O livro de Amaury O livro "A Privataria Tucana" demoliu as últimas defesas de Serra. Pelos documentos apresentados, reconstitui-se sua trajetória nas privatizações. Para fora do governo, fazia um discurso aparentemente crítico à privatização desvariada. Para dentro, era o encarregado da privatização e seu defensor mais acerbo. Tempos atrás, o próprio FHC afirmou que Serra foi o mais radical defensor da privatização da Vale. Nem se considere a questão ideológica. A privatização tem um conjunto de méritos assim como uma série de restrições. Daí a importância de ser trabalhada sem dogmatismo. Mas Serra abriu mão de projetos que poderiam tê-la legitimado – como, por exemplo, a privatização com fundos sociais, beneficiando optantes do FGTS, cotistas do FAT. Boicotou a iniciativa. Agora, sabe-se que havia interesses de ordem pessoal em sua posição.
A íntegra.