segunda-feira, 30 de dezembro de 2024

Homo sapiens, capitalismo, mundo e Brasil em 2025

O Homo sapiens desenvolveu o cérebro, pensa, imagina, experimenta, transforma a Natureza, cria o mundo, que é o ambiente artificial no qual vivemos. Nesse processo destrói a Natureza e os ambientes e as espécies que vivem neles. Cria conhecimento, tecnologias, riquezas, poder.

Civilizações antigas criaram também sabedoria para viver na Natureza, respeitando-a. A civilização capitalista atingiu tal poder e riqueza, mas não criou sabedoria; despreza a condição humana de ser parte da Natureza e a importância de viver em harmonia com ela. Para o capitalismo, a Natureza é só matéria-prima para produção de riquezas. O resultado é a destruição contínua do planeta, um processo acelerado que nos leva para a autodestruição.

O século XXI é o século das mudanças climáticas, do colapso ambiental, da alteração drástica nas condições que tornaram possível a vida na Terra. O que virá? A espécie humana será capaz de dirigir o rumo do capitalismo e conter sua autodestruição? As tecnologias serão capazes de salvar o Hs e reverter a destruição do ambiente?

Hoje, no limiar do ano 25 do novo milênio dC, o que se pode dizer é que não existe a consciência dos poderosos e da população de que nossa tarefa urgente e prioritária é mudar essa trajetória, colocar a Natureza acima de tudo, entender que somos parte dela, mudar o modelo de economia. Ao contrário, continua-se falando em desenvolvimento, crescimento, ganhar dinheiro, enriquecer, progredir, enfim, todas as ideias que fazem parte da destruição capitalista. Guerras estão em curso, a produção de armamentos aumenta, a população humana, que já ocupa e destrói praticamente todo o planeta, continua aumentando e avançando sobre as regiões habitadas por povos primitivos não capitalistas da Amazônia e outros.

Há muitas iniciativas conservacionistas, ambientalistas, preservacionistas, ecológicas, anticapitalistas etc., mas elas são marginais, vão contra a corrente, não comandam o mundo, governos, empresas e instituições.

A ideologia dominante é a do capitalismo: produzir (destruir) cada vez mais para gerar riquezas (lucro) em nome do progresso, do desenvolvimento, de alimentar as populações humanas e melhorar suas condições de vida.

Não há salvação no capitalismo, porque o motor do capitalismo é o lucro, o capital só existe com lucro, capital é dinheiro que está sempre aumentando, o que significa produzir cada vez mais e destruir cada vez mais.

Em torno desse motor existe a ideologia do individualismo, da liberdade individual, do progresso individual, da propriedade privada, coisas que a religião cristã protestante considera que expressam vontades divinas, de forma que gera guerras religiosas até e os indivíduos são capazes de pegar em armas para defendê-la, tão impregnada está no Hs.

A história do Hs é simples assim. A espécie que pensa e cria transforma e destrói a Natureza, cria maravilhas mas não tem sabedoria, por isso caminha para a autodestruição, pois ao destruir os ambientes extingue não só outras espécies, mas também as condições que nos possibilitaram existir. O capital é a grande força motriz da nossa civilização e ele só existe com destruição crescente, justificada pela ideologia do progresso e do individualismo, que o Hs defende com unhas e dentes, inclusive aqueles que se consideram progressistas, revolucionários, socialistas, comunistas, cientistas etc.

Para escapar da autodestruição, é preciso que a ideologia dominante mude, que o capital seja controlado e se submeta aos interesses da espécie humana e das demais, da vida, que a civilização capitalista tome outro rumo, que as populações mudem sua consciência, os capitalistas se submetam, os poderosos mudem seus governos e suas políticas. Isso acontecerá?

Nada indica que sim, talvez aconteça mais adiante, quando as catástrofes levarem o capitalismo ao colapso e a barbárie – que já está em curso – tornar a vida humana insustentável, mas pode ser também que os poderosos e as multidões optem por morrer cantando e dançando e rezando. Já vimos isso acontecer em duas guerras mundiais no século XX e o Hs não aprendeu, continuou produzindo armas cada vez mais poderosas e guerras para usá-las, tudo isso porque dá lucro.

A ideologia capitalista é muito forte, ela diz que o progresso é para alimentar e melhorar a vida do povo e as pessoas acreditam e aderem ao capitalismo. No entanto, o número de miseráveis e famintos aumenta, a desigualdade aumenta; a maior parte da riqueza vai para capitalistas bilionários (no final de 2024, os dez homens mais ricos do mundo possuíam juntos 2,1 trilhões de dólares, quase 10% do PIB dos EUA); os alimentos são contaminados por agrotóxicos que envenenam e matam, em vez de alimentar; os maiores investimentos vão para armas, não para alimentação, saúde, moradia, educação, transporte coletivos etc. Até mesmo quando o governo de um presidente dito de esquerda faz uma reforma fiscal preserva a riqueza dos banqueiros e dos agrotoxiconegociantes e tira mais dinheiro dos pobres, aumenta a desigualdade. 

Os homens mais ricos do mundo em dezembro de 2024  

(valores em bilhões de dólares, fonte: Bloomberg Bilionaires Index

Elon Musk, 474, Estados Unidos

Jeff Bezos, 251, Estados Unidos

Mark Zuckerberg, 221, Estados Unidos

Larry Ellison, 194, Estados Unidos 

Bernard Arnault, 178, França 

Larry Page, 175, Estados Unidos 

Bill Gates, 165, Estados Unidos 

Sergey Brin, 164, Estados Unidos 

Steve Ballmer, 156, Estados Unidos

Warren Buffett, 143, Estados Unidos

Marx foi um filósofo reacionário e idealista. Sua filosofia visava a superar os conflitos sociais terríveis do capitalismo destruindo-o. Sua proposta de socialismo é expressão de ideias e desejos de igualdade e harmonia social que a história dos séculos XIX, XX e XXI não confirmou. Sua concepção da história não é científica conforme ele pretendia: o capitalismo não foi substituído pelo socialismo, o proletariado industrial não fez uma revolução para avançar a espécie humana e a civilização.

Não se pode ignorar porém que os comunistas chineses, ditos discípulos de Marx, fizeram uma revolução e em meio século transformaram aquela imensa nação oriental agrária numa sociedade capitalista avançada comandada pelo Estado, por sua vez dirigido pelo Partido Comunista, de forma mais rápida que qualquer nação governada pela ideologia capitalista tradicional do liberalismo. É um modelo diferente de capitalismo, em primeiro lugar porque é um capitalismo planejado, que define e muda seu rumo, o que o torna mais eficiente para tomar decisões com agilidade, inclusive em relação à destruição ambiental, e em segundo lugar porque não não intervém em outras nações, não faz guerras, seu desenvolvimento não é impulsionado pela indústria bélica igual os EUA. Prevalecerá mundialmente e será capaz de salvar a espécie humana da autodestruição?

Enquanto isso, as nações europeias, que inventaram o capitalismo e o exportaram para todo o mundo, se preparam para uma terceira guerra mundial, conforme mostrou recentemente reportagem da BBC. A nação capitalista mais poderosa a partir da Primeira Guerra Mundial e pátria de nove dos dez maiores bilionários do mundo vive uma fase de predomínio da ideologia liberal reacionária e seu povo elegeu conscientemente por maioria um presidente negacionista para um segundo mandato. O capitalista mais rico do mundo será homem forte no seu governo. 

O Brasil se livrou dessa ideologia há dois anos, mas voltou a ficar sob o comando de um governo medíocre que diz ser a favor do povo e do progresso mas atende os interesses dos banqueiros e dos agrotoxiconegociantes, de forma que o país não vai para lugar nenhum, e não indo para lugar nenhum não enfrenta e agrava seus problemas, desigualdades, destruição ambiental. 

No Brasil como no resto do mundo a questão fundamental da espécie humana é que não formulou uma ideologia que, traduzida em movimentos e partidos políticos, seja capaz de unir e mobilizar as massas para eleger governos que mudem o rumo da história, colocando ao mesmo tempo a vida em harmonia com Natureza e a igualdade entre os seres humanos como objetivos de uma nova civilização.