Que país é este? Que democracia é esta?
O poder mais democrático é também o mais corrupto. O menos democrático é o que tem salvado a democracia. Aquele no qual os brasileiros depositam nas urnas de quatro em quatro anos as suas esperanças é um fantoche dos banqueiros e agrotoxicoexportadores. Talvez o que os chineses estão dizendo para os americanos sirva também para os brasileiros: vocês precisam de uma revolução. Não sou favorável a revolução, que é uma violência terrível, mas me pergunto se ela mataria mais do que os 700 mil mortos de covid que um governo de criminosos matou, se mataria mais do que 30 mil mortos nas rodovias e os 50 mil pobres mortos por violência por ano. Essa matança de brasileiros acontece porque a vida do pobre aqui não vale nada, porque o Brasil é uma nação que não tem identidade, não tem um projeto nacional, é profundamente injusta e desigual, governada por interesses particulares, nos quais predominam castas, lobbies, facções criminosas. Há dez anos o país estava em ebulição com uma pretensa campanha anticorrupção, que derrubou uma presidenta reeleita, e o que tivemos depois, o que temos hoje? Muito mais corrupção do que antes, corrupção desavergonhada, em todas as instituições, no Congresso, nos poderes executivos e até no STF. Juízes de primeira instância ganham mais de 100 mil reais por mês e os presidentes das federações estaduais de futebol também. E o salário mínimo, quanto é? 1.500 reais! E o trabalhador, quantas horas trabalha? Dezesseis horas por dia, sem descanso remunerado, porque agora todo mundo é PJ, é MEI, é "empreendedor". O Brasil está se desintegrando sob o comando do neoliberalismo desde o governo Collor, passando pelos de FHC, Lula, Dilma, bozo, temer e Lula outra vez. Os integrantes do STF fazem política, pelo menos um usa o cargo para benefício pessoal, como mostra a reportagem da Piauí e outras antes já tinham mostrando, mas não foram eleitos, foram escolhidos pelo presidente da República da vez, um processo absolutamente elitista. O Congresso escolhido pelo voto popular, que reúne os políticos espalhados pelo país e mais próximos do povo e do seu pensamento, que dependem do que entregam aos eleitores para serem reeleitos, não têm a menor responsabilidade com o governo, cada um pensa em si, e nele a corrupção é generalizada, quem manda são os donos dos partidos. O Brasil só existiu como nação na Revolução de 1930 (1930-1945) e nos efeitos desta que duraram até o desmonte feito pelo neoliberalismo a partir da redemocratização de 1985, não porque a democracia seja ruim, mas porque seu projeto nacional, materializado na Constituição de 1988, não foi implantado, porque a Constituição democrática foi usurpada pelos banqueiros, pelas castas, pelos lobbies e pelo crime organizado cada vez mais poderosos. Para o povo, sobraram os desmontes da regulação do trabalho, o pagamento eterno da dívida dos banqueiros, os venenos na comida, as destruições ambientais provocadas pela mineração e pelo agrotoxiconegócio e as matanças diárias de pobres pelas polícias e pelos bandidos. Esse é o ambiente que gera revoluções.