Dom Pedro I não proclamou a independência do Brasil. É
impressionante como a verdade é escondida por palavras e discursos.
Uma das características da sociedade é criar discursos para
esconder a verdade. O que aconteceu em 1822 pode ser chamado de
várias formas, mas independência do Brasil não é uma delas. O
príncipe regente Pedro de fato proclamou o oposto: a dependência do
Brasil.
A partir daquele ato de “rebeldia” às cortes portuguesas, o
Brasil tornou-se dependente de Dom Pedro, da família real
portuguesa, da monarquia, dos próprios portugueses residentes no
Brasil, dos ingleses e da Inglaterra, que o apoiaram.
Ao mesmo tempo, o imperador passou a perseguir os brasileiros
republicanos e até monarquistas constitucionais, que, estes sim,
lutavam por diversas formas de independência do Brasil.
De fato a situação sob Pedro I nada mudou em relação à
colônia. Pedro, como seus antepassados, explorou o Brasil para a
família real, manteve-o como posse pessoal, perseguiu, guerreou,
prendeu e matou brasileiros rebeldes.
1822 tem pouquíssima importância para a afirmação do Brasil.
Os fatos decisivos estão em 1808, quando a Revolução Francesa,
levada pelo exército de Napoleão, invade Portugal e põe para
correr a corte portuguesa. Dom João VI, sua mãe louca e sua mulher
maluca, seus filhos, entre eles o adolescente Pedro, e milhares de
nobres fogem numa grande frota naval para o Brasil. Durante 13 anos,
até 1821, o Brasil será sede do império, condição que mudará
radicalmente a colônia. Obviamente, quando, expulsos os franceses, a
corte volta para Portugal, o “Brasil” não quer retornar à
condição de colônia. Foi uma situação impossível que os
portugueses tentaram impor.
Neste ponto, nosso olhar deve se voltar para o ambiente americano,
para os antecedentes nativistas no Brasil, para o processo de
independência da América espanhola, para os recém-criados Estados
Unidos da América. O que aconteceu em torno do príncipe regente não
tem a importância que lhe deram as palavras e discursos dos
dependentes. Embora seja importante também conhecer aqueles
círculos monarquistas, especialmente o “patriarca” José
Bonifácio de Andrade e Silva. É significativo que ainda hoje seus
descendentes estejam presentes na política nacional, como agentes
reacionários que nunca serviram à independência e sempre se
aliaram a interesses estrangeiros.
Porque esta é a questão fundamental: os dependentes, de Pedro I
a Temer, dos Andradas aos tucanos, sempre se aliaram às grandes
potências estrangeiras para esmagar o povo brasileiro. O Brasil e
sua independência não são assuntos que lhes interessam, eles nunca
tiveram um projeto de nação para o Brasil. Não tinham em 1822 e
não têm hoje.
Independência implica num projeto de nação, se os donos do
Brasil não têm um projeto de nação, mas sim de manter o país
como colônia dependente de grandes potências, como é possível
falar em independência? Nunca tivemos independência.
Simples assim.