quarta-feira, 17 de janeiro de 2024

Patrícia Ahmaral lança o disco do ano

Só não sei dizer se de 2023 ou 2024, já que o lançamento aconteceu no dia 29/12/23. Se for 2023, são favas contadas, se for 2024, alguma coisa extraordinária terá que acontecer na MPB dominada por horrores, pelo menos nos meios de comunicação e divulgação hegemônicos, para tomar dela o título. É difícil imaginar coisa mais importante no cenário musical atual do que ressuscitar a obra do poeta tropicalista meio século depois da sua morte. Patrícia, cuja projeção não faz jus ao seu talento, entra para a história da música brasileira ao gravar o primeiro song book dedicado a Torquato Neto. 

Talvez não tenha existido na Tropicália de tantos talentos geniais poeta mais genial do que Torquato. Basta pensar em Gilberto Gil, Caetano Veloso, Tom Zé, Jorge Ben, Mutantes. Basta pensar em Marginália II, Louvação, Geleia Geral Mamãe Coragem, Cogito, Go back, Pra dizer adeus. Cito algumas canções primorosas, mas todas as letras do álbum Patrícia Ahmaral canta Torquato Neto são primorosas, verdadeiras pérolas a demonstrar que a melhor poesia brasileira está na MPB e atingiu o cume com o letrista piauiense. O piropo Zabelê é de dar inveja a Vinicius de Morais. Torquato, que suicidou em 1972, aos 28 anos, foi letrista, não foi músico, todas as canções do álbum são divididas com outros compositores.

Primoroso também é o álbum: arranjos, instrumentos, vozes. Um presente para ouvidos cansados de tanta mediocridade. Tem importância equivalente ao song book Balaio do Sampaio, de 1998, talvez maior. Diferentemente deste (iniciativa do músico Renato Piau, que contou com interpretações de cantores do primeiro time), o álbum da Patrícia é a concretização de um projeto pessoal e antigo da cantora belo-horizontina, intérprete das 19 canções. O álbum duplo é composto dos discos Um poeta desfolha a bandeira e A coisa mais linda que existe

Ela não está sozinha, porém. Em torno do projeto, viabilizado com recursos de incentivo cultural e financiamento coletivo, reuniu um time igualmente de primeira, a começar por Zeca Baleiro. O compositor e cantor maranhense com estreitas relações com Minas Gerais e que tem se dedicado, paralelamente ou como parte da sua carreira, a apoiar trabalhos que lançam luzes sobre grandes músicos brasileiros e cantores menos famosos, é o diretor artístico do álbum. Para acompanhá-la nas gravações, Patrícia contou com Jards Macalé, Banda de Pau e Corda, Chico César, Ná Ozzetti, Paulinho Moska, Moda de Rock, Maurício Pereira e Tonho Penhasco, além do próprio Zeca Baleiro. Na produção estão Rogério Dalayon, Marion Lemmonier e Walter Costa.

Patrícia Ahmaral foi jornalista na juventude; felizmente para a música, encaminhou-se para o canto. Começou sua carreira no ambiente do criativo e tropicalista rock belo-horizontino dos anos 80 animado pelo falecido poeta Marcelo Dolabela, cujas influências a acompanham. É irmã do Ricardo Amaral, este sim um bem-sucedido repórter político que há alguns anos ligou sua trajetória profissional à do presidente Lula, de cujo instituto é assessor. 

Para ouvir o álbum na página da Patrícia no YT, clique aqui

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Para ver uma boa entrevista da Patrícia à Carta Capital, clique aqui.