domingo, 30 de outubro de 2022

Meio milhão de visualizações

Este blog ultrapassou as 500 mil visualizações num dia importante para o Brasil, no qual, em eleição acirradíssima, o povo decidiu, por maioria, pôr fim ao pior governo que já tivemos, o governo dos piores, de fato um desgoverno, que tem em cada área um dirigente para destruí-la e não para construir -- o Ministério do Meio Ambiente é o exemplo mais bem acabado disso, mas a situação pode ser constatada na educação, na saúde, na segurança, na cultura e em todas as outras. O povo brasileiro, no seu dia, no único dia em que exerce o poder, de quatro em quatro anos, acaba de destituir o atual presidente e escolher outro que promete unir a nação, governar para todos, conciliar irmãos que viraram inimigos, recolocar o Brasil no cenário mundial e cuidar de uma vida melhor para o povo. É o que esperamos. Restam agora só dois meses para nos vermos livres do horror em que vivemos há quatro anos. Com alguma virtude, essa quadra obscurantista vai se transformar gradativamente num passado triste que terá servido como uma espécie de provação para nos tornarmos um povo melhor. A democracia é o começo, o meio e o fim.

Hoje é o dia do poder do povo

Hoje é o dia do poder do povo, o dia da democracia, o único dia em que somos todos iguais. Cada um de nós tem um voto, um voto apenas, nem mais nem menos.

O voto do presidente vale o mesmo que o voto do favelado e o voto do eloquente vale o mesmo que o voto do calado.

O voto do pobre vale o mesmo que o voto do rico.

O voto do faminto vale o mesmo que o voto do bilionário. 

O voto do assediador vale o mesmo que o voto do assediado. 

O voto do artista vale o mesmo que o voto do fã. 

O voto do velho vale o mesmo que o voto do jovem.

O voto da mulher vale o mesmo que o voto do homem e o voto do filho vale o mesmo que o voto do pai.

O voto do preto vale o mesmo que o voto do branco.

O voto do armado vale mesmo que o voto do desarmado, o voto do violento vale o mesmo que o voto do pacífico e o voto do agressor vale o mesmo que o voto do agredido.

O voto da diarista vale o mesmo que o voto da patroa.

O voto do patrão vale o mesmo que o voto do empregado.

O voto do ambientalista vale o mesmo que o voto do garimpeiro.

O voto do índio vale o mesmo que o voto do desmatador e o voto do morador vale o mesmo que o voto do minerador.

O voto do honesto vale o mesmo que o voto do corrupto.

O voto do bom vale o mesmo que o voto do canalha.

O voto do viciado vale o mesmo que o voto do traficante.

O voto do lixeiro vale o mesmo que o voto do porcalhão e o voto do catador vale o mesmo que o voto do consumidor.

O voto do motorista vale o mesmo que o voto do flanelinha. 

O voto do porteiro vale o mesmo que o voto do proprietário. 

O voto do doente vale o mesmo que o voto do doutor e o voto do estudante vale o mesmo que o voto do professor.

O voto do religioso vale o mesmo que o voto do ateu e o voto do budista vale o mesmo que o voto do judeu.

O voto do cristão vale o mesmo que o voto do muçulmano.

O voto do candomblecista vale o mesmo que o voto do evangélico.

O voto do homossexual vale o mesmo que o voto do homofóbico e o voto da feminista vale o mesmo que o voto do misógino.

O voto do desempregado vale o mesmo que o voto do banqueiro e o voto do atingido por barragem vale o mesmo que o voto do empreiteiro.

O voto do sem-teto vale o mesmo que o voto do dono de mansão.

O voto do agricultor vale o mesmo que o voto do agroexportador e o voto do sem-terra vale o mesmo que o voto do latifundiário.

O voto do industrial vale o mesmo que o voto do operário.

O voto do trabalhador vale o mesmo que o voto do miliciano.

O voto do civil vale o mesmo que o voto do fardado. 

O voto do desconhecido vale o mesmo que o voto da celebridade.

O voto do injustiçado vale o mesmo que o voto do juiz.

O voto do político vale o mesmo que o voto do eleitor.

O voto do homem do povo vale o mesmo que o voto do poderoso. 

O meu voto vale o mesmo que o seu.

Só o voto nos iguala, o voto é o nosso poder.

O neofascismo ocupando as redes sociais e o arqui-stalinismo na defensiva

Boa entrevista do Bruno Torturra, ex-Mídia Ninja, um sujeito que entende da nova comunicação na internet e fala de questões elementares e cruciais. Fala coisas certas, como o apego da esquerda a símbolos velhos que possibilitam acusações pelos neofascistas, embora estejam longe de ser ainda o que eram ou pretendiam ser, tipo comunismo, foice e martelo, cor vermelha etc. O que ele não vê é que o marxismo faz parte desse mundo dos séculos XIX e XX, que a superação revolucionária do capitalismo não deu certo e que essa ideologia está ultrapassada. Nossa urgência é salvar o mundo real capitalista da autodestruição e a defesa do ambiente como centro de todas as políticas é a essência. A questão não é acabar com o capitalismo, é enquadrá-lo em políticas democráticas de igualdade, fraternidade, conservação e recuperação do ambiente, incluindo todas as espécies vivas, entre elas todos os humanos. A alternativa ao capitalismo não é o comunismo, é a democracia.

quarta-feira, 26 de outubro de 2022

Música do dia: Acertei no milhar

Composição genial de Wilson Batista e Geraldo Pereira, de 1935, em gravação de Jorgei Veiga em 1959. (Informações do blog 365 Canções Brasileiras.) 

segunda-feira, 24 de outubro de 2022

Explicação para o ataque terrorista de Roberto Jeferson contra policiais federais

A melhor análise que eu vi do ataque terrorista do aliado do atual presidente candidato à reeleição foi feita por policiais ao Eduardo Moreira. Objetivo é desviar atenção da informação que importa, revelada em reportagem da Folha de S. Paulo: o projeto do ministro Paulo Guedes de reduzir o salário mínimo e as aposentadorias no próximo governo. Notícia fez cair índices de intenção de voto no inominável na semana passada.

ICL Notícias - Desesperado e atrás nas pesquisas, bolsonarismo tenta última cartada e fracassa.

quinta-feira, 20 de outubro de 2022

O que é o Orçamento Secreto

R$ 20 bilhões do orçamento distribuídos por deputados federais e senadores sem prestação de contas e sem que possam ser fiscalizados. A institucionalização da corrupção e mais uma prática de destruição do Estado brasileiro no atual governo.

quarta-feira, 19 de outubro de 2022

O bozoísmo em ascensão será derrotado pelo lulismo em decadência?

(Publicado originalmente em 8/9/22.)

Fiquei impressionado com a multidão que afluiu à manifestação convocada pelo inominável ontem, no 7 de Setembro. Me chamou atenção a predominância de gente do povo mais pobre, de pele escura, famílias inteiras vestidas com camisas amarelas de seleção ou com dizeres bozoístas, envolvidas em bandeiras do Brasil. O fenômeno não se limita mais a branquelos de classes preconceituosas e reacionárias, incomodadas pela perda de privilégios, de alguma forma ele alcançou o povo. 

Temo que a nova pesquisa Datafolha desta sexta 9/9 mostre que as intenções de voto no atual presidente continuam crescendo, não sei se mantendo o ex-presidente em posição estável, como nas pesquisas anteriores, ou se com queda deste, o que seria o pior cenário. O melhor cenário, evidentemente, é o crescimento expressivo do Ciro, o melhor candidato.

Primeiro, a direita se apropriou dos símbolos e das cores nacionais, ontem o inominável se apropriou também da data nacional e usou dinheiro público e instituições nacionais para fazer uma manifestação de apoio à sua candidatura, excluindo da comemoração do bicentenário a maioria dos brasileiros. Mais um crime de responsabilidade que precisa ser e provavelmente não será punido pelas autoridades coniventes.

O bozoísmo é frequentemente comparado ao fasci-nazismo e é compreensível que o seja, mas é mais importante entender o que ele tem de diferente e novo. O que ele tem de semelhante ao fasci-nazismo pode ser facilmente apreendido, em ideologia, métodos, símbolos, ações, porque já foi muito estudado pela ciência política e pela história, na época e depois. O que ele tem de novo precisa ser estudado e compreendido agora, o que é muito mais difícil, não só porque é novo, mas também porque está acontecendo agora.

Temos dificuldade de compreender as coisas quando elas estão acontecendo, em geral as compreendemos pelas suas consequências. O desafio é perceber as consequências ao mesmo tempo em que elas acontecem. Exige esforço e pesquisa de dados, o que hoje é facilitado pela tecnologia. A maior dificuldade é escapar à influência da ideologia para olhar para as coisas certas.

O bozoísmo, na manifestação de ontem, gritava, do alto de um trio elétrico, slogans como “acabar com o comunismo”. Comunismo? Onde? Quem? Como é que esse movimento alucinado consegue mobilizar pessoas para combater, na terceira década do século XXI, um movimento do século XIX que acabou no século XX e foi enterrado há mais de trinta anos?

Mais do que nunca, vale hoje, com outra interpretação, a frase inicial do Manifesto Comunista, que diz que um espectro ronda a Europa; o que Karl Marx e Friedrich Engels usaram como figura de linguagem há 170 anos, agora é mesmo um fantasma. Seria exagero afirmar também que comparar o bozoísmo ao fasci-nazismo é também evocar um fantasma?

A grande diferença entre o fasci-nazismo e o bozoísmo é que aquele de fato nasceu para combater a ascensão do comunismo, vitorioso na Revolução Russa de 1917, enquanto no Brasil atual, um século depois, não existem sequer comunistas, o que dizer de comunismo em ascensão? Por que então o apelo funciona?

A dificuldade vem tanto da insistência em se comparar o bozoísmo ao fasci-nazismo quanto da dificuldade de entender o fenômeno anterior do lulismo – o qual, diga-se logo, não tem nenhum parentesco com o comunismo.

Essa dificuldade existe porque grande parte dos nossos intelectuais é contaminada pelo lulismo ou pelo antilulismo. No entanto, como compreender um fenômeno novo sem entender o fenômeno mais antigo e em cujo combate aquele se apoiou para nascer, crescer e se impor?

A questão é: por que evocamos fantasmas para combater seres de carne e osso? Por que apelamos para fenômenos antigos para combater fenômenos novos? Por que essa dificuldade de enxergar condições reais e atuais e entender suas personagens?

Tão preocupante quanto o inominável cometer crimes de responsabilidade e não ser processado e afastado é o fato de um fenômeno de classe média reacionária ter chegado ao povo. Certamente, não é o mesmo apelo aos privilégios perdidos que mobiliza os pobres. O que é então? O que tem o bozoísmo de tão convincente que consegue conquistar camadas populares contra cuja ascensão ele surgiu?

Sim, porque essa é a grande contradição do fenômeno que a intelectualidade da velha imprensa não explica, porque tem suas digitais nele. Tampouco a explica a intelectualidade de esquerda, porque a ideologia a impede de enxergar.

O fenômeno bozoísta é um fenômeno ainda em ascensão, quando o lulismo é um fenômeno em evidente decadência. Não se deve esquecer que Lula deixou o cargo com aprovação de mais de 80% do eleitorado, que o lulismo elegeu e reelegeu um poste e só foi derrotado há quatro anos, quando o grande líder foi preso e impedido de se candidatar.

A mesma maioria que escolheu o lulismo em quatro eleições seguidas mudou surpreendentemente para o bozoísmo em 2018 e o que a eleição deste ano mostra é que não foi um fenômeno episódico, ele continua crescendo, chegou às camadas populares e vai continuar existindo, mesmo se for derrotado pelo lulismo em decadência – será?

O bozoísmo é uma grande força eleitoral em 2022 ainda. Isso é facilmente compreensível, a princípio, basta prestar atenção em fatos.

Em primeiro lugar, todos os presidentes desde a invenção da reeleição por FHC foram reeleitos; esse é o grande crime histórico do ex e único presidente tucano, a compra do Congresso para aprovar a emenda constitucional customizada que possibilitou sua reeleição. Por que o inominável seria exceção?

Se ele conseguiu vencer uma eleição muito mais difícil, programada para possibilitar a volta dos tucanos ao poder, via candidatura Alckmin, esse mesmo que hoje é vice do Lula (o que demonstra de forma inequívoca quanto Lula foi incorporado pelo sistema), por que não venceria uma eleição muito mais fácil, a reeleição?

Não é à toa que os presidentes brasileiros são reeleitos, é porque o controle da máquina pública os torna muito mais poderosos do que seus adversários e desequilibra a disputa. A máquina pública brasileira é pouco democrática e muito ideológica. Tentando equilibrar a balança, o STF e seu braço eleitoral, o TSE, interferem diretamente na campanha, prejudicando o candidato ao qual se opõem; em 2018 tiraram Lula da disputa, dessa vez incomodam o inominável.

Mesmo tendo contra si denúncias e processos de corrupção, o lulismo foi reeleito três vezes. O inominável chegou ao poder carregando uma extensa folha corrida como militar, vereador e deputado, numa trajetória de ascensão ligada ao crime, na qual envolveu seus filhos, sua família e amigos, mas todos permaneceram impunes; fez o pior governo da história brasileira, foi acompanhado de escândalos desde o primeiro dia e cometeu novos crimes como nenhum outro, inclusive e principalmente crimes de morte, não só liberando a matança de adversários políticos em todas as áreas – pobres, pretos, mulheres, ambientalistas, índios, gays etc. – como cometendo genocídio contra seu próprio povo com o descaso irresponsável no combate à pandemia.

O desastre do seu governo dos piores, que tem os piores indicadores econômicos e sociais das últimas décadas, levava à previsão de impeachment ou uma estrondosa derrota eleitoral. O controle simples da máquina pública não seria suficiente para comprar o eleitorado. Entretanto, se manteve no cargo, é candidato competitivo e, se não vencer, seguirá sendo a principal força oposicionista, o que não é pouco.

No poder estaria uma força decadente, que faz esforços enormes e tenta superar dificuldades imensas para voltar ao poder, sendo os principais deles abraçar a direita e reconquistar a simpatia popular. Força que no passado também chegou ao poder cercada de dúvidas e se manteve nele, com quatro vitórias eleitorais sucessivas, até ser derrubado por um golpe.

Da mesma forma como a ilusão democrática não podia ignorar, em eleições passadas, apesar do apoio popular majoritário expresso nas urnas, a oposição das forças reacionárias, não se pode ignorar a existência dessa nova força política pujante. Sem entender as causas do fenômeno e de como ele passou das pouco numerosas classes privilegiadas e reacionárias para as camadas populares, não será possível entender também como e o que o fará refluir e desarmar a eterna bomba da ameaça totalitária.

Compreender as razões da origem e da popularidade do fenômeno bozoísta possibilitará saber quanto tempo ele vai durar. Sem isso não será possível definir políticas de governo que, aparentemente, já começam erradas, quando o lulismo, para voltar ao poder, abraça forças corruptas dominantes na política brasileira na fase pós-ditadura, já que o combate à corrupção foi e continua a ser uma das principais velhas bandeiras do novo fenômeno corrupto.

Será que o entendimento do lulismo e seus aliados é que a corrupção não é um problema real?

Quais seriam então os problemas reais, que a nova aliança liderada pelo lulismo tenta superar?

Como o possível novo governo se prepara para governar no novo ambiente em que a extrema direita é a força oposicionista majoritária? Da mesma forma corrupta de comprar o centrão? Fazendo concessões às velhas forças oposicionistas, isto é, classes médias privilegiadas, empresários reacionários, Judiciário empoderado e a expressão comunicativa de tudo isso, a velha imprensa?

Como ficará nessa configuração o povão que se endireitou? O que o possível futuro governo pretende fazer para cooptá-lo outra vez?

Será possível Lula recuperar a velha popularidade?

Nunca é demais lembrar que os tempos são outros e tudo é muito diferente daquela que foi a melhor década das nossas vidas, 2003-2012. A conjuntura política internacional é outra, a economia mundial é outra, a situação ambiental é outra, a situação sanitária é outra, as lideranças políticas internacionais são outras, o próprio Lula está mais velho vinte anos e seu partido é uma força política decadente.

De fato, a maioria que agora o reelegerá, se isso acontecer, o fará menos por esperança e mais por desespero, possivelmente com uma maioria mais estreita – nas eleições que venceu, Lula obteve em torno de 48% no primeiro turno e 60% no segundo.

sábado, 15 de outubro de 2022

O nascimento da extrema direita no Brasil

Interessante depoimento. De dentro. Como aconteceu e continua acontecendo. Desde 2015. O sectarismo de direita. O radicalismo crescente. Nas redes sociais. Entre jovens. Se espalhando. Atos violentos. Terrorismo doméstico. Não adianta ter ódio dessas pessoas, é preciso compreender e aprender a lidar com elas, desenvolver políticas sociais de Estado, com adesão da sociedade.

Só a democracia derrota o populismo

A qualificação da democracia passa pela qualificação da sociedade: dos eleitores, dos políticos, da imprensa, dos jornalistas, das instituições e dos cidadãos em geral. A democracia é o governo do povo. A democracia é a esperança. A democracia é o começo, o meio e o fim.

Vários comportamentos mostram que a sociedade brasileira até hoje não se ajustou à democracia: a extrema direita ameaça a sociedade com uma volta da ditadura militar; a imprensa tem preferências partidárias, mas não as explicita e informa com parcialidade, a ponto de se tornar porta-voz de uma campanha de impeachment; a população não valoriza seu poder de escolher seus governantes pelo voto direto e não participa ativamente da política, ao contrário, a despreza; a esquerda ainda mantém ranços revolucionários e não se empenha em defender e aprimorar a democracia.

Comecemos pela esquerda. O que chamamos de esquerda no Brasil é fundamentalmente o PT; vai além dele, inclui outros partidos e grupos, mas o PT, nos anos que se seguiram ao fim da ditadura militar e até hoje se tornou a mais completa tradução do que chamamos de esquerda brasileira. 

E o que é o PT? Originalmente, o PT foi formado por uma união de grupos marxistas-stalinistas sobreviventes da luta contra a ditadura com o novo sindicalismo emergente e as comunidades de base da igreja católica progressista. São três forças, mas o mais exato talvez fosse dizer quatro forças, incluindo nelas o Lula.

Clique aqui para ler a íntegra.

Democracia, mercado, Estado, educação

Para que serve o Estado? Para fazer o que é bom para a população e não acontece naturalmente, isto é, pela ação “natural” do mercado. O capitalismo é um sistema caótico em que a produção e a distribuição das riquezas são desiguais e provocam distorções, conflitos, violências, pobreza, fome, miséria, destruição etc. É o que queremos? Imagino que a maioria decidirá que não. O Estado deve agir para corrigir isso.

Há quem argumente que o mercado resolve todos os problemas, basta deixar que ele funcione livremente. Esta não é uma questão ideológica, é uma questão prática. O que deve fazer uma sociedade democrática? Estabelecer objetivos e como alcançá-los. Se a maioria decide deixar o mercado livre para agir e resolver os problemas, a decisão democrática deve ser acatada e um ano depois avaliada para saber o que aconteceu, comparar, tirar conclusões e decidir como continuar. Se o mercado não resolveu, a sociedade, democraticamente, decidirá por outro caminho.

É aí que entra o Estado, com suas instituições e indivíduos, os funcionários públicos. A atuação do Estado e dos seus funcionários também deve ser decidida, acompanhada e avaliada. Que poder deve ter o Estado? Que tamanho? Sejam quais forem, devem ser avaliados democraticamente, periodicamente. Seus funcionários devem ter privilégios? Isso também deve ser avaliado democrática e periodicamente. Nada é questão ideológica, de princípio, perene, tudo é prático, reavaliado periodicamente, democraticamente. Só a democracia é ideológica.

A democracia é o sistema, o começo, o meio e o fim, é a ideologia: o que a população, por maioria, decidir é o que deve ser feito. Em todas as questões.

A derrota em uma votação não exclui a busca de convencimento para uma votação futura – na democracia, todas as decisões são revistas periodicamente, sempre.

Ninguém é melhor ou pior, ninguém vale mais, ninguém vale menos, indivíduo nenhum vale pelo dinheiro que tem nem pelo sobrenome, muito menos pela cor da pele, pelo gênero, pelo lugar de onde vem. Na democracia, todos são iguais.

A minoria se submete à maioria, mas não é eliminada, não é calada, ao contrário, é da discordância que muitas vezes vem o novo, o melhor, o certo. Os derrotados devem respeitar os vencedores e os vencedores devem respeitar os derrotados. Uns não são inimigos dos outros, apenas pensam diferente e futuramente poderão pensar igual, discordam em um ponto e concordam em outro.

A maioria não deve exigir que a minoria seja igual a ela. Este é um aspecto da democracia, que precisa ser debatido, regulado e respeitado: os direitos das minorias. Quais são os critérios orientadores? A liberdade, o direito à diferença, a diversidade, a tolerância.

Interesses individuais e de grupos devem ser sempre explicitados. A democracia exige que os interesses coletivos prevaleçam sobre todos os outros – os individuais, os de grupos, corporações, classes. Mas estes também devem ser considerados.

O interesse nacional prevalece sobre o interesse regional, o interesse regional prevalece sobre o interesse local, mas os interesses locais e regionais não são anulados, ao contrário. Na democracia busca-se o equilíbrio entre diferenças, pensa-se na maioria e na minoria, no coletivo e no individual, no local e no regional, no regional e no nacional, no todo e nas partes, no predominante e no particular.

Uma sociedade democrática deve discutir e estabelecer valores, virtudes, qualidades; deve combater defeitos, malefícios. É bom ser tolerante ou intolerante? Como buscar a tolerância? O que favorece a tolerância? Que práticas a sociedade deve adotar para incentivar a tolerância e outras virtudes?

A educação das crianças e dos jovens é o que molda o comportamento dos futuros adultos, não há dúvida. Como se deve então educar as crianças e jovens para a sociedade que queremos? Como é uma educação democrática? A educação democrática também deve ser decidida e implantada democraticamente e avaliada periódica e democraticamente para ver se está no caminho certo.

Não há segredo nisso, é só praticar, pensar, falar e ouvir e decidir democraticamente. Com o passar do tempo, os indivíduos vão se acostumar a praticar a democracia e a reconhecer seus benefícios. Com a sucessão das gerações, com o crescimento de crianças educadas democraticamente, a democracia se tornará ideologia dominante e sua prática se tornará mais fácil e natural. 

sábado, 8 de outubro de 2022

A esperança vem de Ana Júlia

A secundarista que virou ícone do movimento estudantil que ocupou escolas defendendo a educação pública de qualidade em 2016 e enfrentou os deputados machos brancos reacionários falando palavras de sabedoria diante da intolerância e do autoritarismo. 

É a esperança de um Brasil melhor nas próximas gerações, porque os jovens de hoje são melhores do que fomos as gerações mais velhas. 

Ana Júlia faz uma carreira meteórica, foi eleita vereadora há dois anos e agora se torna deputada estadual paranaense. Sua inteligência luminosa arranca lágrimas numa época de horrores.

Minha esperança não vem de Lula, vem de Ana Júlia.

Ana Júlia para presidente em 2030! 

Mônica de Bolle reflete sobre Brasil em 2023

Hora de ouvir gente inteligente que pensa além do maniqueísmo. 

A disputa no segundo turno do ponto de vista do modelo econômico: o inominável representa uma economia centrada no agrotoxiconegócio, o lulismo forjou uma aliança social ampla, que inclui indústria, agro e agricultura familiar, além de trabalhadores.