quinta-feira, 30 de abril de 2020

Dedicated to the one I love

Que pérola!

Presidente manda Receita perdoar dívidas de igrejas evangélicas

Todos os dias tem uma notícia assim. Pela primeira vez, um presidente não governa a nação, apenas usa o Estado para beneficiar os seus, começando por seu clã, e outros grupos, a saber: evangélicos, militares e paramilitares, desmatadores, armamentistas, machistas, racistas etc. E o capital financeiro, é claro. Pouco se lhe dá -- e ele mesmo diz cada vez mais explicitamente: " E daí?" -- se os brasileiros morrem de pandemia ou de fome ou de tiro. Como um câncer, vai matar o Brasil inteiro, se não for extirpado antes.

Bolsonaro interfere na Receita Federal para perdoar dívidas milionárias de igrejas evangélicas

Bolsonaro promoveu encontro entre secretário da Receita e o deputado David Soares, filho do pastor R.R. Soares, que deve R$ 144 milhões e tem dois processos de R$ 44 milhões no órgão, a terceira maior dívida ativa da União
Em mais uma investida contra os órgãos de investigação, como denunciou Sérgio Moro em seu pronunciamento demissionário, Jair Bolsonaro está pressionando a Receita Federal a perdoar dívidas de igrejas evangélicas, que formam parte do núcleo duro de apoio ao governo.
Segundo reportagem de Idiana Tomazelli e Adriana Fernandes, na edição desta quinta-feira (30) do jornal O Estado de S.Paulo, Bolsonaro promoveu um encontro entre o secretário especial da Receita Federal, José Barroso Tostes Neto, e o deputado federal David Soares (DEM-SP), filho do pastor R.R. Soares, da Igreja Internacional da Graça de Deus.

Clique aqui para ler na revista Fórum.

Clique aqui para ler no Estadão.


Your cat has nine lives, but you only got one, and a dog's life ain't fun

All I want is the truth

Jump when your momma tell you anything

I know you understand the little child inside the man

quarta-feira, 29 de abril de 2020

A pandemia avança: "E daí?"

As notícias da semana são: o Brasil já tem mais mortos por covid-19 do que a China; o presidente diz "E daí?", e negocia cargos no governo com partidos fisiológicos, para barrar seu impeachment; nos EUA, a doença já matou mais americanos do que a Guerra do Vietnã.

Cargos que Bolsonaro negocia com centrão têm mais de R$ 10,6 bi 'livres' para investir em 2020
BBC News Brasil

Brasil ultrapassa a China e é o nono país com maior registro de mortes por coronavírus
País onde surgiu a pandemia teve oficialmente, até hoje, 4.643 óbitos pela covid-19; Brasil soma 5.017 mortes
O Tempo

'E daí? Lamento, quer que eu faça o quê?', diz Bolsonaro sobre recorde de mortos por coronavírus
Brasil registrou 474 novos óbitos nesta terça e ultrapassou a China no total de mortes por covid-19 
Folha de S. Paulo.

Coronavírus já matou mais americanos do que a Guerra do Vietnã
Colabora


terça-feira, 28 de abril de 2020

O Plano Real no final de 1994

Ciro Gomes três anos depois, apenas três anos depois, ministro da Fazenda do presidente Itamar Franco, administrando o recém-implantado Plano Real, breve ápice da sua carreira, quero dizer, detendo poder. Como evoluiu intelectualmente em tão pouco tempo. E também ganhou arrogância, manifestada em respostas grossas a jornalistas imbecis, aqueles aos quais me referi na publicação anterior.
Se soubesse então quanto a arrogância e outros defeitos dos jornalistas estrelas e puxa-sacos de patrões, empresários e políticos lhe custariam, talvez moderasse suas palavras, em nenhum momento, porém, inadequadas. Compartilho sua impaciência com a estupidez.
Já então os jornalistas, ou estes jornalistas, se interessavam por picuinhas e não por questões importantes. Canalhas, palavra que provoca celeuma na entrevista, é um adjetivo que caracteriza muito bem as elites brasileiras, hoje como ontem.
O Brasil desperdiça talentos.  

Há muito tempo os atores são como são

Admirável entrevista do jovem Ciro Gomes (33 anos), em 1991, antes de assumir o governo do Ceará. Em 1989, perdemos a chance de ter Leonel Brizola na presidência e Ciro também já poderia ter sido presidente. Se a gente entendesse por que não tivemos nem Brizola nem Ciro, talvez entendêssemos melhor o Brasil e nossa vida fosse melhor. Como perdemos tempo.
Uma das coisas que mais me impressionam é a paciência dos políticos, a quem tanto criticamos, com as perguntas idiotas, arrogantes, mal informadas, tendenciosas e superficiais de jornalistas medíocres, que, 26 anos depois, já rasgaram a fantasia e se mostraram reacionários e comprometidos com o golpe, afora os representantes descarados do capital financeiro. Há exceções, é claro.  

segunda-feira, 27 de abril de 2020

Pérola das pérolas

Raridade das raridades. George Harrison e Paul Simon juntos, cantando em dueto duas obras-primas, Here comes the sun e Homeward bound. Incríviel. 

Coronavírus já matou mais americanos do que a Guerra do Vietnã

Foto: Duas mulheres no Harlem, em Nova York, observam o mural do artista @Dister, retratando socorristas com máscaras e uma mensagem de agradecimento. Foto Johannes Eisele/AFP.


Por José Eustáquio Diniz Alves, Colabora, 27/4/20.

Os Estados Unidos vão bater um triste recorde nesta segunda-feira, 27 de abril: mais de um milhão de pessoas infectadas e cerca de 58 mil mortes provocadas pelo coronavírus. Em dois meses, os EUA tiveram mais mortes pela covid-19 do que o número de americanos mortos durante a Guerra do Vietnã, que durou 20 anos (1/11/1955 – 30/4/1975). O mundo atingiu 3 milhões de casos, com um terço deles nos EUA. O número de mortes globais está em 207 mil, sendo um pouco mais de um quarto nos EUA. O Brasil está bem atrás do maior país das Américas, mas está se aproximando dele, na medida em que os números brasileiros crescem mais rápido do que a média americana e mais do que a média mundial.

Clique aqui para ler a íntegra do artigo no Colabora.


Governo de dois pesos e duas medidas

A ajuda aos informais é só durante três meses e não chegou para grande parte (maioria?), mas o sacrifício o presidente pede que seja por um ano e meio. Não para todos, é claro: duvido que militares fiquem um ano e meio sem reajuste; com certeza o capitão arranjará alguma justificativa para privilegiar a casta castrense, que teve aumento na reforma da previdência, e que faz parte dos grupos com os quais e para as quais ele governa.

Do O Globo:

'O homem que decide a economia no Brasil é um só: chama-se Paulo Guedes'
Em entrevista, ministro manda recado a servidores: 'Não peçam aumento por um ano e meio, contribuam com o Brasil'

Vices... presidentes


Presidente é investigado por facilitar acesso do crime organizado a armas e munições do Exército

Enquanto isso, no Brasil particular da família que governa...

"Após ser acusado de interferir na Polícia Federal, o presidente Jair Bolsonaro agora está sendo investigado pelo Ministério Público Federal por indícios de violar a Constituição ao determinar atos de exclusividade do Exército.
O documento, divulgado nesta segunda-feira 27/4 pelo Estadão, mostra que procuradores abriram dois procedimentos de investigação para apurar uma ordem dada por Bolsonaro ao Comando Logístico do Exército, no último dia 17, que revoga três portarias publicadas entre março e abril sobre monitoramento de armas e munições."

Clique aqui para ler a íntegra na Carta Capital.

E aqui para ler no Estadão (para assinantes).


São Gabriel da Cachoeira confirma dois casos de covid-19

São Gabriel da Cachoeira está no extremo norte do Brasil, no meio da Floresta Amazônica, onde só se chega da barco, depois de horas e horas de viagem, ou de avião. Está à beira do Rio Negro, se não me engano, antes que ele se torne o Amazonas, e sua população é quase toda de indígenas, tanto que tem quatro línguas oficiais. A pandemia chegou lá. Como?
A reportagem é de Kátia Brasil e Elaíze Farias, do Amazônia Real: https://amazoniareal.com.br/com-apenas-7-respiradores-sao-gabriel-da-cachoeira-confirma-dois-casos-de-covid-19/.

"Um dos pacientes é indígena baniwa e seu estado de saúde é grave, segundo o Ministério da Defesa. O único hospital do município é militar e não tem UTI, só tem sete respiradores. O prefeito (do PT) baixou decreto de toque de recolher e o isolamento social. (Foto: João Cláudio Moreira / Amazônia Real.)"


domingo, 26 de abril de 2020

Tirar o presidente urgente para salvar as vidas dos brasileiros

"Coronavírus nos fará pagar a conta da desigualdade social do Brasil", artigo do Dráuzio Varela na Folha de hoje pode ser lido neste link: https://www1.folha.uol.com.br/colunas/drauziovarella/2020/04/coronavirus-nos-fara-pagar-a-conta-da-desigualdade-social-do-brasil.shtml.
Seremos salvos por um milagre? Somos avestruzes que não querem ver a realidade?

Vergonha de ser de esquerda?

Jovens velhos. Xingar não é preconceito. 

Como ser crítico da esquerda sem ser direitista

Nassif x Giraldeli

O filósofo Paulo Giraldeli (é ele mesmo que diz que a grafia do seu sobrenome varia, sem que seja erro, então escolho escrever sem h e sem l dobrado, essas frescuras de quem acha que assim tem uma linhagem nobre) e o jornalista Luís Nassif não se bicam.
É impressionante como ambos se desqualificam.
Giraldeli diz que Nassif é pau mandado do PT (quando na verdade ele é bastante crítico), que não é jornalista, mas achacador (quando na verdade tem uma carreira admirável).
Nassif diz que Giraldeli se autodenomina filósofo (quando na verdade o é, com também sólida carreira acadêmica), um picareta que publica fotos da sua namorada nua (basta ouvir alguns vídeos dele para ver que tem conhecimento e pensamento ricos).
É uma guerra de egos. Ambos são de esquerda, mas ambos dizem que o outro não é.
Eu, que sou jornalista, mas deveria ter sido filósofo, ouço e admiro os dois, mas não concordo com nenhum.
A seguir, alguns links que mostram os conflitos entre eles e suas contradições na desqualificação mútua.

https://jornalggn.com.br/noticia/o-caso-do-filosofo-ghiraldelli/
http://textosquecurto.blogspot.com/2010/11/canal-de-videos-no-youtube-do-filosofo.html
https://sites.google.com/site/luisnassif02/
https://ghiraldelli.pro.br/2019/04/22/cameron-makes-a-perfect-diving-catch/

sábado, 25 de abril de 2020

Novo diretor da PF é o protetor da família do presidente

Não é o comandante da PF, é o chefe da guarda pessoal do presidente, e vai colocar toda a corporação a serviço das milícias, segundo o filósofo Paulo Giraldeli.

O presidente pôs uma raposa para vigiar seu galinheiro?

O capitão faz um governo original porque não quer governar a nação, que destruir o Estado e tomar o Brasil com aqueles para quem governa, que são as milícias, os neopentecostais, as castas militares, os armamentistas, os machistas, os racistas, os destamatadores, os poluidores, os agrotoxicultores e todo os tipos de criminosos que não aceitam o Estado e afirmam a liberdade individual, que só o capitalismo pode dar. Por isso o filósofo Paulo Giraldeli o chama de anarcocapitalista.
O fato é que o presidente entregou todas as áreas de governo para os inimigos delas, ou seja, pôs raposas para vigiar o galinheiro -- exceto o Ministério da Economia, que entregou a um representante dos banqueiros (mas a lógica é a mesma: banqueiros são as raposas que vigiam a riqueza que a sociedade produz -- e se apropriam dela).
Também no Ministério da Justiça o presidente pôs uma raposa, só que dessa vez a raposa vigiou também o galinheiro do chefe. Ou seja, durante um ano e quatro meses o ex-ministro colecionou provas contra o presidente cujo governo ontem ele abandonou. Ao sair atirando, e dizer as coisas impressionantes que disse à imprensa ontem, Moro deu um recado ao seu ex-chefe.
O que Moro fez ontem provavelmente nunca aconteceu antes, nem aqui nem em parte nenhuma. A imprensa não frisou isso. Vejamos:
1) Moro era ainda ministro quando deu a coletiva. A imprensa inteira o chamou de ex-ministro, mas quando denunciou seu chefe, ele ainda era ministro; só depois foi providenciar sua carta de demissão, como disse no pronunciamento à imprensa.
2) Moro anunciou sua demissão primeiro à imprensa, o presidente ficou sabendo juntamente com toda a população que ele estava saindo. Muitos subordinados já tomaram conhecimento de sua demissão pela imprensa, mas é a primeira vez, que eu saiba, que um chefe fica sabendo da demissão de um subordinado assim.
3) Mais tarde, o Jornal Nacional, com exclusividade, mostrou que o ex-ministro guardou provas dos crimes do presidente. Que mais ele terá? O presidente vai pagar pra ver? Duvido. Mas também duvido que a vida de Moro seja longa, ou pelo menos que possa ser uma vida normal, como ele sugeriu que seria, ao dizer que vai procurar emprego. O juiz que prendeu um presidente, muitos políticos e empresários agora mexeu com o crime organizado violento, para quem nenhuma vida vale nada, como mostra o assassinato da Mariele.

Em print, Moro mostra que Bolsonaro quis demitir Valeixo por investigar aliados

Carta Capital

Presidente enviou ao então ministro uma reportagem sobre investigação da PF contra bolsonaristas: ‘Mais um motivo para a troca’.

O ex-ministro da Justiça Sérgio Moro apresentou imagens que mostram que o presidente Jair Bolsonaro se incomodou com investigações da Polícia Federal sobre deputados da base aliada do governo federal.

Em diálogo por um aplicativo de mensagens, revelado pela emissora Globo, Bolsonaro enviou a Moro um link de uma matéria do saite O Antagonista, que diz: “PF na cola de 10 a 12 deputados bolsonaristas”. A conversa teria ocorrido na quarta-feira 22/4.

Embaixo, o presidente da República afirmou: “Mais um motivo para a troca”, referindo-se ao diretor-geral da Polícia Federal, Maurício Valeixo.

Em resposta, Moro afirmou que não era Valeixo quem conduzia as investigações em questão.

“Este inquérito é conduzido pelo ministro Alexandre [de Moraes] no STF, diligências por ele determinadas, quebras por ele determinadas, buscas por ele determinadas. Conversamos em seguida, às 9h”, disse o então ministro, mencionando o encontro que teriam na manhã da quinta-feira 23.
A TV Globo também revelou um diálogo que Moro apresentou para comprovar que não partiu dele o pedido de que ele ganhe um cargo no Supremo Tribunal Federal (STF). Em pronunciamento oficial, Bolsonaro acusou Moro de ter pedido indicação à Corte, em troca da demissão de Valeixo.

Em uma conversa com a deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP), a parlamentar pede para que ele aceite a substituição de Valeixo por Alexandre Ramagem, diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin). Segundo a emissora, parte da deputada a oferta do cargo no STF.

“Por favor, ministro, aceite o Ramagem. E vá em setembro ao STF”, escreveu a deputada. “Eu me comprometo a ajudar. A fazer o Jair Bolsonaro prometer.”

Moro, então, rechaçou a proposta, afirmando: “Prezada, não estou à venda”.

Carla prossegue: “Ministro, por favor, milhões vão se desfazer…” disse. “Eu sei. Por Deus, eu sei. Se existe alguém no Brasil que não está à venda é o senhor.”

O então ministro respondeu: “Vamos aguardar. Já há pessoas conversando lá”.

Rachadinha de Flávio Bolsonaro financiou prédios ilegais da milícia no Rio

O filósofo Paulo Giraldeli diz que o calcanhar de Aquiles do presidente é o outro lado do que é sua força: seus filhos, a comunhão indestrutível que existe entre eles, a equipe invencível que eles sempre formaram. Por isso ele reagiu violentamente contra Moro, isto é, exigindo a mudança na PF e demitindo um ministro que lhe dava enorme cacife. A reportagem abaixo mostra um dos ataques ao calcanhar de Aquiles do presidente.


'Pica do tamanho de um cometa' 

Sérgio Ramalho, The Intercept Brasil, 25/4/20, 7h30

Flávio Bolsonaro financiou e lucrou com a construção ilegal de prédios erguidos pela milícia usando dinheiro público. É o que mostram documentos sigilosos e dados levantados pelo Ministério Público do Rio de Janeiro aos quais o Intercept teve acesso. A investigação preocupa a família Bolsonaro – os advogados do senador já pediram por nove vezes que o procedimento seja suspenso.

O investimento para as edificações levantadas por três construtoras foi feito com dinheiro de “rachadinha”, coletado no antigo gabinete de Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio, como afirmam promotores e investigadores sob a condição de anonimato. O andamento das investigações que fecham o cerco contra o filho de Jair Bolsonaro é um dos motivos para que o presidente tenha pressionado o ex-ministro Sergio Moro pela troca do comando da Polícia Federal no Rio, que também investiga o caso, e em Brasília.

Clique aqui para ler a íntegra no The Intercept Brasil.

O presidente, via Record Iurd, frita seu Posto Ipiranga?

Interessante matéria sobre o ministro da Economia no Jornal da Record. Seria o presidente fritando seu Posto Ipiranga, depois de afastar os ministros da Saúde e da Justiça?
Como se sabe, a Rede Record, do neopentecostal Edir Macedo Igreja Universal do Reino de Deus, apoia o presidente -- só não apoia mais que o SBT, porque SS é um puxa-saco sem igual. O telejornal da Record faria uma matéria para desagradar Macedo? Macedo permitiria que seu presidente fosse incomodado? Pode ser que sim, pode ser que não. Empresas jornalísticas têm interesses e funcionamentos complexos, ao contrário do que pensam esquerdistas e direitistas maniqueístas. Mas pode também ser um recado para Guedes, que perdeu importância com a pandemia (o filósofo Giraldeli acredita que Guedes vai com o presidente até o fim, porque o sistema financeira o quer lá; eu penso que mesmo assim ele pode cair), talvez o capitão queira tirá-lo, por algum motivo que desconhecemos (talvez ele seja um empecilho para o "PAC" do Braga Neto).
A reportagem, que é o mais explícito ataque ao Posto Ipiranga que eu vi até agora, também pode ter outras motivações, outros interesses do Macedo -- talvez seja porta-voz dos interesses das empresas aéreas, citadas na matéria, talvez a alta do dólar tenha prejudicado os negócios do bispo e da Iurd, talvez estes tenham alguma demanda específica do governo na pandemia, que Guedes está bloqueando. Pode ser até a reportagem óbvia, que os jornalistas conseguiram fazer, sem censura. 
    

quarta-feira, 22 de abril de 2020

Três milhões de índios

E aquilo que nesse momento se revelará aos povos surpreenderá a todos não por ser exótico, mas pelo fato de poder ter sempre estado oculto quando terá sido o óbvio.

We are the world, they were

Ainda é de arrepiar.
Pode parecer brincadeira ou exagero, mas este é o hino do fim do Estado de Bem-Estar Social. Canta um mundo que estava no fim, um mundo que começou no fim da Segunda Grande Guerra, rompeu nos anos 1950, desabrochou nos anos 1960, esperneou nos anos 1970, murchou nos anos 1980 e  desapareceu em seguida, com o neoliberalismo. Tem por isso ar da época em que brilharam todos esses diamantes que se juntam aqui, de Bob Dylan a Michael Jackson, de Paul Simon a Dionne Warwick, de Ray Charles a Willie Nelson, de Quincy Jones a Al Jarreau, de Stevie Wonder a Bruce Springsteen, de Diana Ross a Cyndi Lauper, de Tina Turner a Lionel Richie. Etc.

terça-feira, 21 de abril de 2020

Ilha da Fantasia, 60

Já que estou no Poder360, vamos a essa outra pérola da imbecilidade jornalística. Grande parte do jornalismo é assim, e continua a sê-lo na internet: superficial e expressão de interesses das elites. Incapaz de ir às causas e aos interesses populares, gerais, de longo prazo. As informações são relevantes, mas o tratamento é o de sempre: escandaloso, sensacionalista, manipulador. E o motivo da matéria não é a importância do assunto, é só porque hoje Brasília completa 60 anos. De qualquer forma, é interessante, para quem for crítico. Conhecer esse FCDF é fundamental, mas entender o sistema de castas do DF é o principal. O problema não é Brasília, o problema é que o Brasil inteiro devia ser rico como BSB.


Brasileiros dão R$ 15 bilhões por ano para sustentar serviços de Brasília

O Distrito Federal não destina recursos vultosos à Polícia Militar, mas possui viaturas Toyota Corolla (cujo preço unitário ultrapassa R$ 100 mil) e os policiais com o maior salário inicial do Brasil. Qual é a mágica? Uma parte significativa de tudo isso é pago não com recursos distritais, mas com dinheiro da União.
Soma-se ao gasto arcado por Brasília parte do bilionário FCDF (Fundo Constitucional do Distrito Federal). A verba é em favor do poder público local, mas conta como despesa do governo federal. Por isso há dinheiro para os Corollas.
O FCDF está no texto constitucional – a lei que o regulamenta é de 2002.

[OBS: Por que a matéria não aproveita para discutir isso? O que a Constituição de 88 pretendeu fazer? Por que foi criado o FCDF? E por que ele foi regulamentado em 2002, tanto tempo depois? Que interesses prevaleceram? Os mesmos dos constituintes? Por que inúmeras outras matérias -- com a democratização da comunicação, por exemplo -- também previstas na Constituição nunca foram regulamentadas e essa foi? É isso que interessa. E mais: Brasília é um estado ou é o "distrito federal"? O que significa o Distrito Federal? Como é em outros países? Vamos comparar e sair da velha ladainha de condenar Brasília como a "ilha da fantasia", que de fato é, mas por outros motivos, mesmo porque a imprensa é uma das peças mais destacadas dessa fantasia, e os jornalistas estão entre os mais deslumbrados por ela, que mais contribuem para que ela exista e seu poder de castas se reproduza e aumente sem parar. O mais interessante é conhecer os salários iniciais na PM em todos os estados, que são absurdamente altos, mesmo nos estados que pagam pior (MG está no meio do caminho e o DF está no topo, porque a União banca). Os salários não são altos porque os soldados ganham muito (ao contrário, todos os soldados deveriam ganhar como os de Brasília; essa é a questão brasileira: todos deveríamos ganhar e viver como as casta de Brasília), mas porque os oficiais ganham muito, como todas as castas de elites dos serviços públicos brasileiros.]

O governo dos piores

O atual presidente brasileiro inventou uma nova modalidade de governo: o governo dos piores. O termo terá de ser criado também, porque ainda não existe, nenhum teórico tinha pensado nisso.
Até o ano passado havia outras formas de governo, que o Brasil já experimentou: monarquia, governo de um só, com Pedro I e Pedro II; oligarquia, governo de poucos, durante a Velha República; tirania, governo ilegítimo, durante a ditadura militar e mais recentemente com o vampiro Temer; democracia, governo do povo, entre 1945 e 1964 e entre 1985 e 2016. Aristocracia, que é o governo dos melhores, nunca teve, porque é um ideal, que os governos em geral perseguem, ao colocar no comando das ações públicas indivíduos competentes. O oposto da aristocracia, o governo dos piores, é uma novidade. Não conheço grego, não sei cunhar o novo termo.
O presidente colocou em cada pasta um inimigo dela, colocou raposas para tomar conta dos galinheiros. Não fez isso por acaso. Na Educação, pôs um sujeito que não gosta de educação, cuja missão é destruir a educação pública; nas Relações Exteriores, um sujeito cuja missão é destruir as relações do Brasil com as outras nações (exceto os EUA, dos quais devemos ser vassalos); no ministério da Economia, um sujeito com a missão de destruir o Estado, para que o capital faça o que quiser. O ministro do Meio Ambiente deve destruir qualquer forma de proteção ao ambiente. Na Funai, o sujeito deve ser inimigo dos indígenas. Na Justiça, um super-herói. E por aí vai.
A pandemia exigiu que o ministro da Saúde protegesse a saúde pública; ele agiu assim, contrariou o presidente e foi demitido. A ordem é deixar o vírus e os brasileiros livres -- o presidente valoriza muito a liberdade, diz que vão morrer só "velhinhos doentes" e que os fortes, como ele, serão imunizados.
Agora vejamos o que faz o novo ministro da Saúde: ele age como se fosse o ministro da Economia, sua preocupação não é com a saúde, não é com o combate à pandemia, é com a saída do isolamento social, pelas consequências econômicas que tem. Ele foi posto lá para interromper o combate à pandemia, para preparar a retomada da economia. Isso não é função dele, é do ministro da Economia, mas é o que ele anuncia.
Já o ministro de Economia devia fazer o que não está fazendo: garantir a sobrevivência dos brasileiros -- trabalhadores e empresas -- durante a pandemia e o isolamento social, e planejar a retomada das atividades depois que a pandemia passar. Além de garantir que o ministério da Saúde possa agir com eficiência para combater a pandemia.
Qualquer pessoa razoável entende isso, mas não é isso que o governo faz, não é isso que está acontecendo. Por quê? Porque essa é a natureza desse governo inovador, o governo dos piores.
Se a gente não entende isso, não entende o que está acontecendo.


Teich diz que planeja saída “progressiva e planejada” do isolamento 
Vídeo foi divulgado pelo Ministério
Poder360, 21/4/20

O ministro Nelson Teich (Saúde) disse nessa 2ª feira (20.abr.2020) que a pasta vai elaborar 1 programa de saída “progressiva, estruturada e planejada” do isolamento social –medida usada para frear as contaminações de covid-19, doença causada pelo novo coronavírus.

segunda-feira, 20 de abril de 2020

Brasilia, numa reportagem visual

Você conhece Brasília? A BBC Brasil mostra numa "reportagem visual" fantástica como a capital do Brasil foi construída. Só faltou mostrar a distância entre o Distrito Federal e Belo Horizonte: 700 quilômetros.
Brasília 60 anos: como a realidade transformou a cidade idealizada por Lúcio Costa e Niemeyer

A filosofia explica Bolsonaro

Palestra lúcida e bem-humorada de Paulo Giraldeli. "Com clareza, humor, coragem e um olhar sempre crítico", o filósofo explica que Bolsonaro não é inimigo da democracia, é inimigo da república.

O anarcocapitalismo do capitão e suas milícias

O interessante pensamento "novo" do filósofo Paulo Giraldeli. Vale a pena ouvir.

A concentração de renda vai aumentar

"Macroeconomia na crise: dívida pública, política monetária e bancos privados", artigo de Paulo Nogueira Batista Jr. na Carta Capital. A ótima foto está sem crédito.


sábado, 18 de abril de 2020

Empresas de entrega também lucram e exploram mais com a pandemia

Não são só os bancos que lucram com a pandemia, também as empresas brasileiras com nome em inglês de entrega em domicílio, que exploram milhões de entregadores sem pagar qualquer direito trabalhista, estão ganhando mais e pagando cada vez menos por entrega, pelas quais os entregadores são os únicos responsáveis. Chamam a essa nova escravidão de "empresas de tecnologia". Continuamos aprendendo mais sobre o mundo à nossa volta durante o isolamento social.

Enquanto tirava da aposentadoria dos pobres, governo deu aumento para as castas privilegiadas

Presidente tem duas aposentadorias. Vamos continuar aproveitando a quarentena para tomar consciência do que está acontecendo.

Governo dá R$ 1,2 trilhão para bancos e mesmo assim eles aumentam os juros

Quando a gente vê os bancos "ajudando" o combate ao coronavírus, deve desconfiar. Os bancos sempre ganham, no crescimento e na recessão. Ganhavam astronomicamente antes da pandemia e estão ganhando ainda mais com ela. O governo liberou R$ 1,2 trilhão para eles, mas mesmo assim eles aumentaram os juros para o consumidor. Para o dinheiro chegar aos bancos não teve a burocracia que tem para os R$ 600 chegarem aos pobres, é na hora, já chegou. A propaganda de um banco afirma que depois da pandemia "tudo vai voltar ao normal". Quando vi a propaganda pensei que queria dizer que os bancos iam voltar a ganhar rios de dinheiro. Santa ingenuidade: eles já estão ganhando, continuaram ganhando, ganharam mais. Ganham sempre.

quinta-feira, 16 de abril de 2020

Estamos nas mãos dessa gente

É esse tipo de gente que governa. Não estou falando do governo do capitão, estou falando dos economistas. A vida da gente, o governo do país, a sociedade, o presente e o futuro ficam nas mãos de sujeitos cuja capacidade é ler gráficos. É muito pouco. Governar é pensar em muito mais: no bem-estar coletivo, na felicidade, na igualdade, na liberdade, na fraternidade, na natureza, no futuro, no ar, na terra, nas águas, nas árvores, nos pássaros, nos peixes, nos insetos, nos répteis, nos macacos, e nos seres humanos, é claro. Mas esses caras, que mandam no mundo não é de hoje, só sabem "interpretar" números, ler gráficos, são uns seres humanos limitadíssimos, umas bestas quadradas. Se Marx, que foi Marx, falou besteira e mais besteira, e Keynes, que foi Keynes, também era bem limitado, que dizer desses economistas que seguem cartilha? Inventam cada barbaridade, cometem cada erro grosseiro, nos seus planos mirabolantes! E depois saem do governo, deixam a terra arrasada, e vão ganhar rios de dinheiro em consultorias e bancos. Todos ricos, milionários. 

Presidente do BC diz a investidores que reduzir mortes por coronavírus é pior para a economia

Amanda Audi, The Intercept Brasil

16 de Abril de 2020, 1h01

Em fala a investidores do mercado financeiro, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, tirou de contexto dados de um gráfico elaborado por economistas do Centro de Pesquisas de Política Econômica para defender a tese de que o isolamento social irá aprofundar a recessão.

“Esse é um gráfico que muita gente tem comunicado em palavras, que é a troca entre o tamanho da recessão e o achatamento da curva [de contaminação] que você quer atingir. Mostra que, quando você tem um achatamento maior, você tem uma recessão maior e vice-versa”, teorizou Campos Neto em uma live organizada pela XP Investimentos, uma das maiores corretoras de valores do Brasil. A fala foi acompanhada ao vivo por mais de 6 mil pessoas no último dia 4, um sábado à noite.

Na ótica do neto de Roberto Campos – ministro do Planejamento da ditadura militar e um dos maiores expoentes do liberalismo econômico no Brasil –, o gráfico serve “para ilustrar que existe essa troca [entre salvar vidas ou combater a recessão] e é uma troca que está sendo considerada”.

(...)


O SUS sucateado e a pandemia

Matéria da DW Brasil trata do assunto que a imprensa brasileira não trata, a questão que está por trás da pandemia. Nisso, capitão e Globo são aliados, ambos querem destruir o SUS, querem que a saúde seja privada, apoiaram o congelamento de gastos com saúde por 20 anos, feito pelo governo Temer. A Globo elegeu o ministro da saúde como herói, para combater o capitão, e fica por isso. A imprensa, como sempre fica na superfície dos problemas, porque se aprofundar vai chegar ao conflito dos interesses públicos, coletivos, com os interesses do capital, os dos irmãos Marinhos inclusive, que ela defende. Simples assim. É preciso que uma agência de notícias estrangeira faça a matéria que Globo, Folha, Estadão, Band etc. não fazem. Aliás, apesar das dificuldades de trabalho para os jornalistas, a cobertura da pandemia é bem chinfrim, quer dizer, é o xou de sempre, na superfície dos assuntos. O leitor que quiser saber mais tem que pesquisar por conta própria. É um tal de repetir números e informações governamentais que dá dó. Por exemplo: o dinheiro que o governo diz que está distribuindo. É isso, o governo diz que está distribuindo, e a imprensa repete. Ninguém vai conferir, ninguém vai aos beneficiários, ninguém checa, aceita o discurso das autoridades, como sempre. Quando a revolta e os saques explodirem, a imprensa vai lá mostrar, mas foi incapaz de prever, de mostrar antes que a revolta vai acontecer. É que o governo diz que está distribuindo dinheiro, mas entre o dizer e o dinheiro chegar às pessoas vai uma distância imensa, a distância da necessidade, da fome, da revolta. Esse governo incompetente e que é contra dar dinheiro a pobres, que é contra serviços públicos, que é contra programas sociais, vai fazer o dinheiro chegar a quem precisa? Eu acho que não, que é só conversa fiada. As filas na porta da Caixa mostram isso, o dinheiro não está chegando, as pessoas sequer têm internet, sequer sabem acessar o aplicativo e não têm nem CPF. E os "pequenos empresários"? Para receberem o dinheiro, tem uma burocracia infinita. A mesma coisa com o SUS; o governo faz hospital de campanha, importa isso e aquilo, mas e o corte de verbas que sucateou o SUS? Ninguém fala. E a desindustrialização que obriga o Brasil a importar milhões de simples máscaras sanitárias? Também é assunto ignorado. Por que o Brasil não produz respiradores? O governo ideológico neoliberal dificulta tudo, porque não quer facilitar, porque não quer gastar. Ele diz que está distribuindo dinheiro, e dizer é só isso que lhe interessa, fazer propaganda, e a imprensa repete, como sempre fez, como imprensa oficial até mesmo do governo que ela supostamente critica.

Sucateado, SUS vive "caos" em meio à pandemia

Única opção para milhares de brasileiros, Sistema Público de Saúde vive disparo em atendimentos em hospitais que sofrem até com falta de sabão. Queda de investimento e aumento da demanda provocam "situação de guerra".

Em diversos hospitais públicos do país, a situação beira o caos. O aumento da procura pelos serviços provocado pela pandemia do novo coronavírus testa a já fragilizada capacidade do Sistema Único de Saúde (SUS), relatam servidores da área das cinco regiões do Brasil.

"A situação é de guerra", afirma Cleonice Ribeiro, diretora do Sindicato dos Trabalhadores Públicos da Saúde no Estado de São Paulo (SindSaúdeSP), em entrevista à DW Brasil.

"Tem hospital que não tem sabão para lavar as mãos ou papel toalha para enxugar. Trabalhadores que atendem os pacientes não têm álcool em gel, óculos de proteção ou máscara", exemplifica.

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Para milhões de brasileiros, o SUS é a única alternativa para tratar a saúde. "Existem 40 milhões de pessoas sem carteira assinada, na informalidade, sem emprego. São pessoas totalmente desamparadas, vulneráveis que, se adoecerem, irão buscar o SUS", conclui Moacir Lopes, diretor da Federação Nacional de Sindicatos de Trabalhadores em Saúde, Trabalho, Previdência e Assistência Social (Fenasps), e servidor do INSS.

"A situação atual é traumática. É o caos total", resume a situação de hospitais públicos frente à pandemia. "Isso porque o SUS já vem sendo sucateado há algum tempo, agora isso fica bem visível", justifica.

Falta de dinheiro e combate na saúde básica

Em todo o país, 42 mil postos de saúde atendem gratuitamente a população. Segundo cálculos do Ministério da Saúde, essas unidades têm capacidade de atender 90% dos casos de coronavírus – se os sintomas apresentados pelos doentes forem os mais leves.

"Existem os postos, mas eles não estão estruturados nem pra atender questões corriqueiras da população em geral, imagina uma situação dessa", pondera Cleuza Faustino, auxiliar de enfermagem servidora do Ministério da Saúde e diretora do Fenasps.

Seis hospitais, todos no Rio de Janeiro, são federais. Há ainda mais de 40 hospitais universitários federais. Os demais da rede pública são geridos por governos estaduais e municipais. Segundo o ministério, 55.101 leitos de terapia intensiva são oferecidos no país, 27.445 são do SUS.

A preocupação é que, se muitas pessoas adoecem de uma vez, o sistema não tenha capacidade de tratar todos os pacientes simultaneamente. Especialistas alertam que os problemas respiratórios provocados pelo novo coronavírus exigem mais dias de tratamento com auxílio de aparelhos, como respiradores, do que outras doenças similares. Portanto, o período de ocupação dos leitos é maior.

Limitações do orçamento

Diante da disseminação da doença, o governo federal prometeu liberar 432 milhões de reais para reforçar o combate nos estados. A tentativa de melhorar as condições de atendimento, porém, esbarra na subida dos preços.

"O governo está tentando comprar, mas o aumento da demanda deixou tudo mais caro e há dificuldades de pagar", afirma a Ribeiro sobre iniciativas em discussão com o governo de São Paulo.

Entre os trabalhadores do SUS, o clima é de inquietação. No estado de São Paulo, que tem 47 mil servidores distribuídos por 45 hospitais, a maioria tem entre 50 e 60 anos.

"Ao longo dos anos, o governo deixou sucatear tanto os serviços e não contratou novos trabalhadores", pontua Ribeiro, do SindSaúdeSP. "Há praticamente 20 anos não há concurso público", complementa.

Um levantamento feito por pesquisadores da Fiocruz, intitulado "Monitoramento da assistência hospitalar no Brasil (2009-2017)", concluiu que o número de leitos no SUS está em queda.

"Houve um desinvestimento crônico no SUS, que comprometeu sua capacidade, com fechamento de leitos", resume Josué Laguardia, médico e pesquisador da Fiocruz.

Uma das conclusões da pesquisa é que a rede hospitalar disponível para o SUS reduziu 5,5% no período pesquisado. Em 2009, eram 4.783 hospitais entre públicos e privados, em 2017 foram 4.521 hospitais.

Para o Fenasps, a Emenda à Constituição (PEC) 55, que fixou um teto aos gastos públicos até 2036, votada no governo de Michel Temer, limita a resposta do SUS. "A rede pública, na situação que está, com corte de verbas, com a medida que congelou verbas por 20 anos, está mais debilitada que nunca", avalia Faustino.

No ano passado, o orçamento destinado à saúde foi de 147 bilhões. Em 2020, esse valor caiu para 136 bilhões, segundo os dados da Controladoria Geral da União. A estimativa da Fenasps é que o preparo adequado do SUS para responder à pandemia exige um investimento extra de 20 a 30 bilhões de reais.

domingo, 12 de abril de 2020

Por que os militares apóiam o presidente

A matéria abaixo é antiga, mas toca num assunto fundamental. Não informa o que eu queria saber: ao passar para a reserva, em 1988, o atual presidente continuou recebendo salário dos cofres públicos, pago por nós, contribuintes, sem no entanto trabalhar, e ainda acumulado com outro salário, também custeado pelos cofres públicos, isto é por nós, o de de deputado federal? Se continuou, isso é corrupção, embora uma corrupção legal. 

Corrupção legalizada chama-se privilégio, e o Brasil é uma nação de castas privilegiadas. Privilégio e corrupção estão entranhadas na sociedade brasileira. Por controlar o Estado e influenciar governos, as castas privilegiadas estabelecem legalmente benefícios que os comuns do povo não têm. Tudo bancado pelo dinheiro público. 

Há ainda o "jeitinho", outro tipo de corrupção, benefício que também é dado a quem tem amigos influentes, parentes influentes, enfim, quem é da turma, da casta. Eu e você, seguindo o caminho normal, não conseguimos, mas aqueles que conhecem as pessoas certas conseguem. 

Aquela corrupção que a larva jato dizia combater é só a ponta do aicebergue. A corrupção institucionalizada e legalizada, que beneficia as castas, é muito maior, é a que realmente importa, mesmo porque a corrupção descarada -- benefícios em troca de propina -- só é investigada e punida quando interessa às castas. A larva jato não existiu para combater a corrupção, como disse, mas para tirar o PT do poder, um poder que já ia para o quarto mandato consecutivo, sujeito a mais dois, com a volta e reeleição do Lula, o que desesperou a oposição derrotada, incomodou os interesses dos americanos (leia-se pré-sal e Brics) e atiçou o ódio da direita. A larva jato cumpriu seu papel político e a corrupção continua a pleno vapor, como se vê em notícias esparsas. Levou ao poder outros corruptos e liberou a corrupção dos privilégios, das castas.

A corrupção descarada sempre foi tolerada no Brasil e a corrupção institucionalizada é considerada normal pela ideologia dominante. O juiz da larva jato, por exemplo, tentou continuar professor da Universidade Federal do Paraná, em Curitiba, trabalhando como assistente de uma ministra do STF, em Brasília. Dois empregos públicos, duas elevadas remunerações pagas com o dinheiro público, nosso, da imensa maioria, dos que não recebem quase nada do Estado, só pagam impostos. 

Como é que um sujeito ia cumprir duas jornadas de trabalho em duas cidades diferentes? Isso não é possível para nenhum trabalhador comum, apenas para as castas privilegiadas, porque elas não trabalham de fato, não têm que produzir, não são remuneradas pelo seu trabalho, elas têm empregos públicos. Tem funcionário público que trabalha muito, tem funcionário público que trabalha mais do que trabalhador da iniciativa privada, mas uma coisa não depende da outra, mesmo porque funcionário público não pode ser demitido, outro privilégio.

A pretensão do juiz foi barrada pelo Conselho Universitário da UFPR e ele teve que optar, mas continuou recebendo dois salários, acumulando dois empregos, o de professor e o de juiz, o que também é absurdo: ele trabalha 16 horas por dia, 88 horas por semana, como qualquer trabalhador comum? Argumenta-se que fez concurso, que é mérito. Mas não existe essa meritocracia para trabalhador comum, não há trabalhador comum que, nem passando em concurso, possa ter dois empregos totalizando 88 horas semanais em duas empresas privadas. O que as castas privilegiadas chamam de meritocracia muitas vezes seria melhor definido como privilégio e corrupção.

Agora, ministro todo-poderoso, é bem provável que o juiz continue recebendo os dois salários, mesmo não dando aulas, e é bem provável que a lei lhe garanta esse privilégio; aliás, talvez acumule três salários, os dois que já recebia e mais o de ministro. 

De qualquer forma, sua situação é privilegiada, como a de qualquer integrante das castas. Qualquer sujeito simples, quando ingressa na política, fica deslumbrado com a quantidade de privilégios que passa a ter quando assume um mandato. Isso é corrupção, na essência; o sujeito ganha uma nova condição social e se afasta do que era, da sua classe social, das pessoas e interesses que o levaram ao mandato, que votaram nele, e se vê envolvido pelos interesses das elites que detêm o poder. O sujeito se corrompe. Por isso a sabedoria popular diz que político é tudo igual, porque percebe essa corrupção essencial dos privilégios de casta. 

Para que isso não aconteça, para que políticos e autoridades em geral não se corrompam, eles não podem ter privilégios. Assim, político com mandato popular deve manter o salário original da sua profissão, por exemplo, e cultivar hábitos simples, sem poder nomear um exército de auxiliares (parentes, amigos, cabos eleitorais), usar carro oficial, ter gastos de gabinete, verba para isso, verba para aquilo, diárias etc. 

Juízes, que devem dar exemplo de honestidade, devem ter o mesmo regime de trabalho, assistência social e aposentadoria que os demais trabalhadores, sem décimo quarto salário, férias-prêmio, quinquênio etc. Trabalhador comum, cujo salário é pago com o lucro do patrão, recebe quinquênio? Recebe férias-prêmio? Por que os funcionários pagos com o dinheiro público recebem? Patrão não divide lucro, mas nós contribuintes dividimos fartamente nosso dinheiro pagando impostos que mantêm os privilégios das castas. 

Por que é assim? Porque juiz brasileiro não é juiz para servir à justiça, é juiz para ter uma posição social de privilégios. E não é qualquer um do povo que se torna juiz, é uma posição reservada aos filhos das elites. Isso vale também para as demais castas. E as castas se perpetuam no controle do Estado e no usufruto dos privilégios que não aceitam perder. O brasileiro comum, diante dessa realidade irremovível, ou se conforma ou se esforça para fazer parte de alguma casta privilegiada; raríssimos conseguem, naturalmente.

Juízes brasileiros receberam no ano passado até R$ 1,5 milhão em salários "atrasados", férias "acumuladas" etc. Que trabalhador brasileiro comum pode em algum momento da sua vida ganhar isso? Os privilégios das castas não têm nada a ver com meritocracia ou outros argumentos que tentam justificá-los -- as justificativas vêm depois, os privilégios são obtidos pela influência no poder. Em algum momento importante da "nossa" história, um grupo social se afirmou e começou a construir seus privilégios. Foi o caso dos militares. 

Por que os militares brasileiros têm privilégios? Não é porque vivem em guerras, como os militares americanos. É difícil saber o que fazem os militares brasileiros, já quem não têm de defender o país em conflitos armados. Na verdade, durante três décadas, ficamos satisfeitos por não ter notícias deles; é como se os pagássemos para não fazer nada -- mas ficar bem longe da política.

Os militares brasileiros têm privilégios porque fizeram a República, a Revolução de 1930 e a ditadura de 1964-1985. Eles conquistaram privilégios conquistando o poder e se impondo à sociedade. Se o povo brasileiro quiser ter privilégios também, vai ter de conquistar o poder e se impor.

O Exército brasileiro ganhou importância na Guerra do Paraguai. O Exército brasileiro é um dos fenômenos da formação do povo brasileiro. Para enfrentar o pequeno Paraguai, o Império foi obrigado a formar um exército recrutado no povo. Fazendeiros mandaram homens do povo e escravos para lutar no seu lugar. Assim, o Exército foi a primeira instituição brasileira com participação popular. Vitorioso, o Exército voltou a guerra com status, reconhecimento, importância política, líderes. No seu seio desenvolveram-se ideias republicanas. 

Quando os fazendeiros decidiram se livrar da família real, uma extravagância brasileira nos trópicos, foram os militares que fizeram o serviço. O golpe de 1889, que implantou a República, gerou dois presidentes generais e teve um começo chamado de jacobino, com demandas populares, nacionalistas, progressistas. Não durou, logo os fazendeiros se livraram também dos militares e implantaram seu projeto nacional aristocrático, baseado na exportação de café, produzido em latifúndios. Foi a República Velha, que durou 41 anos (1889-1930). 

Os militares, também chamados de florianistas, por serem seguidores de Floriano Peixoto, o segundo general presidente, continuaram perturbando a República Velha com levantes e tentativas de golpes, até que em 1930, numa situação de desarranjo econômico provocado pela Grande Depressão, que enfraqueceu o poder dos latifundiários, tomaram o poder novamente e nele colocaram Getúlio Vargas. Seguiu-se uma ditadura de 15 anos, garantida pelo poder militar, com os ideários fascinazistas e stalinistas da época, e o projeto nacionalista industrialista. Nesse período os militares começaram a construir seus privilégios de casta -- tiveram tempo de sobra pra isso. O decreto-lei que cria a reserva remunerada e outros privilégios, por exemplo, é de 1938.

Foram os militares que derrubaram o ditador; o primeiro presidente pós-ditadura foi outro general e outros oficiais do mais alto posto disputaram a presidência em todas as eleições seguintes, perdendo sempre para os civis Getúlio, Juscelino e Jânio. Em 1964 deram o golpe e implantaram uma ditadura que durou 21 anos -- tiveram então muito mais tempo para construir privilégios corporativos, sem falar na repressão, na direção de estatais e serviços públicos, na influência, e ainda na anistia, pela qual entregaram o governo assegurando que não seriam punidos pelos crimes que cometeram. 

Agora, depois de 31anos de democracia, estão aí de novo, com um presidente e um vice, além de vários ministros. Outra notícia, de um saite especializado em concursos, que pode ser lida clicando aqui, informa que o salário dos militares (diz-se soldo) foi reajustado em até 48,9% depois do golpe de 2016 (que trabalhador brasileiro teve reajuste assim? Ao contrário, no mesmo período, os trabalhadores brasileiros perderam renda, e não foi pouca, além de terem perdido emprego e serem empurrados para a informalidade).

Para completar, o atual presidente voltou a reajustar os salários dos militares a partir de janeiro deste ano, ao sancionar a reforma da previdência dos militares -- isso mesmo, quando todos os trabalhadores perderam remuneração, ao se aposentar, e passaram a aposentar mais velhos, os militares ganharam. A matéria pode ser lida clicando aqui. A imprensa não fala no assunto e os próprios militares terão muitas justificativas para isso, talvez com razão -- mas todos os trabalhadores têm motivos para ganhar mais, a diferença é que não têm a influência sobre o Estado para conseguir isso.

O Tesouro Nacional gasta com cada militar inativo 17 vezes mais do que gasta com o trabalhador aposentado comum, diz a matéria do Nexo. Mais da metade dos militares se aposentam com menos de 50 anos. Militares aposentados continuam recebendo os mesmos salários dos militares da ativa, não tem isso de teto do INSS ou outro tipo de cálculo, como o da última reforma da previdência, que cortou um terço do valor da aposentadoria. 

De fato, e esta é a questão de fundo, metade da política brasileira é a disputa das castas e classes pelo dinheiro público, para manter ou ampliar privilégios, cada uma abocanhando o seu conforme sua força e sua influência. Os militares estão na carreira -- e na política -- por motivos bem prosaicos e primitivos: salário, benefícios, privilégios. A parte do ideal ou da ideologia fica por conta da ficção, da máquina de ideologia da mídia. E é por isso que os militares apoiam o atual presidente. 


Qual a diferença entre militares da ativa, da reserva e reformados

Confusão sobre situação de Bolsonaro e de Mourão foi comum na campanha eleitoral. Regime especial de militares inativos será desafio para novo governo. 

O verbete “Jair Bolsonaro” na Wikipedia, uma das maiores fontes de consulta na internet, identifica o presidente eleito como “militar da reserva”. O mesmo ocorreu em textos jornalísticos — incluindo muitos do Nexo — e em materiais impulsionados na própria campanha eleitoral de Bolsonaro, como no refrão do funk “O Proibidão do Bolsonaro”, do MC Reaça, que tem mais de 2 milhões de visualizações no YouTube, e foi tocado na festa da vitória do candidato do PSL na avenida Paulista, em São Paulo, no dia da eleição.

Bolsonaro, porém, não é mais “da reserva” das Forças Armadas. Isso desde o dia 21 de março de 2015, quando passou a ser “capitão reformado” do Exército. Mas qual a diferença entre essas duas expressões? 

A reserva e a reforma

A confusão no uso dos termos é comum porque o equivalente ao regime de aposentadoria dos militares é diferente dos civis.

A diferença entre um oficial “da reserva” e um “reformado” é principalmente sua disponibilidade para, em caso de necessidade, ser reincorporado ao serviço ativo das Forças Armadas em situações extremas como “estado de guerra, estado de sítio, estado de emergência ou em caso de mobilização”, nos termos da Lei 6.880, de 1980.

Nos empregos civis, isso não acontece. Um advogado, jornalista ou professor, por exemplo, não pode, uma vez aposentado, ser convocado de volta ao serviço.

Já o militar na reserva segue à disposição das Forças Armadas, enquanto o militar reformado está definitivamente afastado ou aposentado.

O Exército Brasileiro explicou ao Nexo que Bolsonaro foi para a reserva em 1989 e, em seguida, em 2015, tornou-se “capitão reformado”, “por haver atingido a idade limite de permanência na reserva remunerada do Exército”. Essa idade varia dependendo da patente do militar. No caso de Bolsonaro, capitão, a idade é de 60 anos.

O vice de Bolsonaro, general Antonio Hamilton Mourão, acabou de ir para a reserva, em 23 de fevereiro de 2018. O pedido foi feito por ele mesmo, após atingir 30 anos de serviço ativo, como previsto na lei. Mourão, diferentemente de Bolsonaro, ainda está “na reserva” e poderá ir para a inatividade, como “reformado”, em seguida. 


sábado, 11 de abril de 2020

O mundo após a pandemia

O que não falta nesse isolamento social é assunto para ler, pensar, escrever, ver. Vamos ao artigo do filósofo Paulo Giraldeli, que reproduzo abaixo. Ele toca em pontos importantes sobre os quais já escrevi -- como o fato de que o deus mercado não nos salva da pandemia e vai correndo pedir ajuda ao diabo Estado -- e fala coisas que quero comentar -- como o projeto político do capitão presidente.

A pandemia pôs em colapso o neoliberalismo e escancarou sua ideologia nefasta. O mercado não resolve tudo, como mentem os neoliberais há décadas, o Estado é inevitável, o setor público é imprescindível. A pandemia mostra isso, quando os governos e empresários neoliberais correm para pedir ajuda ao Estado e esquecem até a tal da "responsabilidade fiscal", que há cinco anos era tão importante que foi motivo para impichar uma presidenta reeleita. O mercado não resolve tudo e não resolve o principal, agora até os capitalistas reconhecem, mas isso não é novidade: em toda crise capitalista é assim -- em 2008, o Estado foi chamado para socorrer os bancos.

A questão é outra (assim como o impeachment também não foi por crime de responsabilidade fiscal), e precisa ficar bem clara: a questão não é se o Estado é importante ou não, se deve ser maior ou menor, a questão é que os "neoliberais" querem que o Estado sirva a eles -- socorrendo bancos, por exemplo, ou emprestando dinheiro subsidiado pelo BNDES, desonerando empresas, financiando agroexportações, liberando a Amazônia para ser desmatada etc.

"Neoliberais" só reclamam quando o Estado destina dinheiro para pobres, para trabalhadores, para programas sociais, para educação, saúde pública, transporte público, agricultura familiar, meio ambiente etc.

Trata-se de disputar para quem vai o dinheiro público, trata-se de uma disputa pelo Estado porque o Estado controla os impostos, sua arrecadação e destinação. Os neoliberais querem que o Estado arrecade dinheiro dos trabalhadores e o destine aos empresários. Simples assim. Justificam isso dizendo que são eles -- as empresas privadas -- que produzem. E contam com uma fantástica máquina de propaganda, que é a mídia tradicional, no Brasil em especial a Rede Globo, para dizer diariamente que o setor público é uma merda e que a iniciativa privada é o bicho.

A pandemia desmascara isso, quando mostra que o "mercado" não é capaz de enfrentar um vírus e que o setor público -- o tão atacado SUS à frente -- é necessário e eficiente.

Essa inversão de valores a pandemia está fazendo, e conta involuntariamente com a própria máquina de propaganda neoliberal, liderada pela Globo. Giraldeli diz que o mundo pós-pandemia não poderá mais ser neoliberal. Isso é certo, aliás, o mundo da pandemia já não é mais neoliberal. O que falta são análises, reportagens, matérias diárias mostrando isso. Essa economia de guerra não tem nada de neoliberal. A própria China, que lançou a pandemia e a conteve rapidamente, não é uma nação de economia neoliberal, é uma nação comunista (nunca é demais lembrar o que o capitalismo tenta esconder), com Estado forte, totalitário.

Essa é minha primeira crítica: não se trata do mundo pós-pandemia, mas do mundo na pandemia, não se trata do mundo futuro, mas do mundo atual.

O capitalismo, o Estado capitalista, está se revirando para enfrentar a pandemia, e usando para isso, intensamente, o setor público. O mercado só atua na crise episodicamente, explorando oportunidades -- é o caso de empresas que produzem e vendem como nunca produtos emergenciais, inclusive aumentando astronomicamente seus preços, e é também o caso dos larápios que produzem e vendem golpes de todos os tipos (isto também é "mercado"). Afora esses espertos e espertalhões, é sempre o setor público quem está atuando.

No Brasil, o setor privado não foi nem mesmo convocado pelo Estado, como em outros países, para produzir respiradores, máscaras, medicamentos (exceto a ideológica e estelionatária cloroquina) hospitais de campanha (excelente oportunidade para as PPP -- Parcerias Público Privadas, que não me lembro de serem sequer mencionadas nessa crise). É claro que essa inoperância faz parte da incompetência e má vontade do governo, mas se o mercado fosse tão eficiente e ágil já teria atendido a demanda social.

O que eu não vejo é o que o filósofo ressalta no final do seu texto: a esquerda pensando, escrevendo, falando, propondo políticas para a crise atual. Quem está no comando é o governo desgovernado e quem lhe faz oposição, influenciando sua política, é a Globo. A esquerda (falo da esquerda principal, que governou o Brasil durante 13 anos) continua do mesmo jeito: condenando, polarizando, esperando a volta do Lula, falando o que todo mundo já sabe, ou se calando, se omitindo (as principais iniciativas vêm do PSOL, Rede, PDT, e quem faz oposição ao capitão são o DEM, do Maia, e o PSDB, do Dória), sem agir, sem propor, sem fazer sua tão esperada e necessária autocrítica.

E não é difícil pelo menos rascunhar um programa de governo alternativo ao programa neoliberal, denunciando tudo que não funciona no neoliberalismo, tudo que ele promete e não faz, e afirmando tudo que vem sendo roubado dos brasileiros nos últimos cinco anos e tudo que funciona e nos salva no setor público. Com a pandemia, não se trata mais de discurso, mas de afirmar a necessidade de um SUS de qualidade e universal, de transporte público de qualidade, de saneamento básico universal, de um sistema de educação pública de qualidade universal, da agricultura familiar que produz alimentos orgânicos para nos alimentar (e não com agrotóxicos e para exportação, como o "agro" da propaganda da Globo), da proteção ao ambiente como eixo de todas as políticas públicas, de programas públicos de distribuição de renda.

Em relação a este último ponto, a pandemia escancarou um absurdo produzido pelo neoliberalismo: a quantidade de informais e desempregados que precisam de ajuda do Estado (R$ 600!) para não morrer de fome. Estamos reconhecendo o problema e a gravidade dele pela primeira vez! O Estado pela primeira vez está destinando dinheiro para essa parcela de dezenas de milhões de brasileiros. Mas é preciso que se diga que a informalidade e o desemprego fazem parte da política neoliberal! Eles não existem por acaso, mas porque nos últimos cinco anos, após o golpe, o Estado governado pelos neoliberais se dedicou a retirar direitos e empregos dos trabalhadores, a produzir mão de obra barata para o capitalismo, o chamado "exército de reserva", e a destinar para os empresários o dinheiro que era investido em programas sociais.

O que a esquerda precisa afirmar é que nós queremos o contrário disso, queremos um Estado que taxe as grandes fortunas, limite ao estratégico os incentivos fiscais e destine fartamente recursos para programas sociais.  

Por fim, uma observação sobre o projeto político do capitão. A afirmação do filósofo é interessante, mas me faz pensar que, apesar de ser uma besta ambulante há mais de trinta anos, fartamente conhecido pelos absurdos que fala e pelos planos criminosos que sempre alimentou, e que inclusive o excluíram do Exército, o atual presidente continua sendo um desconhecido da maioria. E já passou da hora de conhecê-lo em detalhes, visto que se tornou uma ameaça de morte para os brasileiros. No entanto, ele era uma ameaça quando deputados, uma ameaça quando candidato, uma ameaça como presidente, uma ameaça na pandemia, e agora uma ameaça para nosso futuro.

Mais uma vez, o problema não é a ameaça, não é o futuro -- é o presente, é o que o capitão já fez na sua campanha, o que está fazendo no governo, o que está fazendo nessa crise horrorosa. Seu governo é um desastre para os brasileiros, mas não para os capitalistas que ajudaram a elegê-lo, a Globo inclusive. Por isso, continuamos não sabendo nada importante sobre ele, porque ele tem uma máquina de propaganda digital monstruosa e porque não interessa à indústria da mídia ir a fundo na sua identidade.

O jornalismo e a ciência (política, social, econômica, psicológica e pura) precisam dissecar esse indivíduo e sua cadeia produtiva de males, ignorâncias e interesses. O capitão tem um programa político? Que programa é esse? A visão que prevalece, pelo menos para mim, é que ele juntou um punhado de oportunistas e reacionários de direita a partir do momento que demonstrou sua viabilidade eleitoral. E que esse saco de gatos, uma vez no poder, começou a brigar entre si, ao mesmo tempo em que demonstrava sua incompetência para governar e a inviabilidade de suas ideias, e implantava suas maldades contra o povo brasileiro. Só o apoio da indústria da mídia, que só mostra o que lhe interessa, era capaz de manter esse governo de pé, mas agora, com a pandemia, o mingau desandou de vez. Se o capitão tem de fato um projeto político de longo prazo -- como se dizia que o PT tinha, de pelo menos vinte anos --, precisamos conhecê-lo urgentemente. A princípio, todo presidente tem, pelo menos o projeto de terminar o mandato e ser reeleito, é o vício do poder, mas para isso é preciso ter um projeto estruturado, tanto em relação à administração do Estado, quanto em relação a forças políticas de apoio. E tanto em relação a uma coisa como a outra o governo do capitão é um desastre. O que seria então o seu projeto? Precisamos saber. Acrescento apenas, mais uma vez, que também gostaria de conhecer o projeto político da esquerda brasileira.


Da desobediência civil ao fim do neoliberalismo

Do blog do filósofo Paulo Giraldeli, 10/4/20

Clique aqui para ler a íntegra

Todas as pessoas com alguma escolaridade e com bom senso seguem os especialistas: não há cura para a covid-19, e a medida a tomar é o isolamento radical e horizontal. Mas o presidente Jair Bolsonaro não segue isso. Ele insiste em sair às ruas sem proteção, criar aglomerações e, em pronunciamentos na TV, dizer que a doença é uma “gripinha” e que a tal cloroquina pode curá-la. Nossa desobediência civil é, portanto, contra ele, um mandatário que quer o caos. Um homem que não quer governar; o que ele quer -- e administrar sua estada no Planalto como militante antiliberal e anti-esquerda, e ele assim faz por meio da promoção do absurdo.

Ele, Bolsonaro, quer o caos em doses homeopáticas! O caos administrado com cuidado, que é o seu cálculo, enfraquece a República e, então, lhe dá a chance de iniciar o parto da sua sociedade futura. Trata-se da sociedade anarcocapitalista em moldes especiais: o capitalismo financeiro encapsulando uma sociedade quase anômica, abraçada por igrejas evangélicas, milícias e famílias ricas armadas. Ele não sabe desenhar bem tal coisa, mas é isso que ele quer. Ele vai realizar uma tal distopia?

Temos um dado objetivo contra ele, que pode nos ajudar a barrá-lo.

Bolsonaro tem um ponto fraco no seu esquema de jogo. O neoliberalismo era a sua arma para enfraquecer a República, na medida que diminuía o estado em um nível assustador. Ele se aliou a Paulo Guedes para tal. E a Fiesp o apoiou. Mas, com a pandemia, viu a chance de promover o caos em doses homeopáticas sem o neoliberalismo, somente incorporando os desejos do vírus. Agora, no entanto, dado que o problema social se avolumou, ele próprio não consegue conter seus próprios companheiros de viagem (ou antigos companheiros de viagem, os neoliberais) de seguirem em frente pedindo racionalidade.

Ora, racionalidade no nível que se pede é, em termos políticos, solicitar a ajuda do Estado. A sociedade mundial volta a perceber que a iniciativa privada não dá conta de proteger a sociedade, e parece retomar certo apreço pelo estado. Isso significa, em parte, que o mundo pós-pandemia, até por conta de todo estrago econômico e social causado, não poderá mais ser um mundo de idolatria da herança de Reagan e Thatcher.

O mundo pós-pandemia há de ser um mundo devastado, de mais migração, de mais barbárie. A espinha dorsal dos regimes políticos liberais, ou seja, o mercado funcionando por sua mão invisível para o bem, não mais será conteúdo do sustentáculo da maioria das campanhas políticas. Ninguém em sã consciência irá dizer, daqui para diante, que novas catástrofes não virão, e que o estado é dispensável. O problema todo é saber que Estado emergirá. Um Estado tutelar, autoritário, de cunho neofascista, ou um Estado indutor de vida livre e responsável, criador de oportunidades individuais e coletivas para o bem comum? Além disso, teremos de discutir, de novo, a ideia de desprivatização do Estado. Não adianta ter Estado que não seja efetivamente público.

As pessoas de esquerda terão chance de recolocar ideias no caldeirão de propostas do mundo pós-pandemia. Isso se não emendarmos uma pandemia em outra, ou se não nos metermos em uma guerra ou outras catástrofes maiores, por conta da miséria no mundo, que agora cresce em níveis jamais vistos. Mas, para que as pessoas de esquerda possam fazer isso, elas não podem mais ficar sem estudar e devem ser corajosamente críticas e autocríticas.

Paulo Ghiraldelli, 62, filósofo. Autor entre outros de A filosofia explica Bolsonaro (Editora Leya)

quarta-feira, 8 de abril de 2020

The dream is over

Há cinquenta anos, John Lennon disse "o sonho acabou". Vale a pena ouvir a lista de coisas e pessoas nas quais ele não acreditava mais. "I just believe in Me. Yoko and Me. That's reality." Me pergunto se a sua geração entendeu o que ele disse. Afinal, ele foi a melhor expressão dos que nasceram depois da Segunda Grande Guerra. "Imagine" continua um hino atual, mais atual do que nunca, para além de todo bem e todo mal, de todas as ideologias nefastas.

segunda-feira, 6 de abril de 2020

B.B. King, Jeff Beck, Eric Clapton, Albert Collins & Buddy Guy in Apollo Theater 1993 Part 2

Pra você ter ideia, Eric Clapton é o que toca menos nesse time -- e ninguém toca mais que "Clapton is God".
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Minhas músicas prediletas



Minhas músicas prediletas
*

1) Largo do Concerto para piano em fá menor BWV 1056 (J. S. Bach). 

2) God (John Lennon), com o próprio.

3) I say a little prayer for you (Burt Bacharach e Hal David), com Aretha Franklin 

4) Feitio de oração (Noel Rosa e Vadico).

5) Saudade do Brasil (Tom Jobim), com o próprio

6) Aria da corda sol da suíte nº 3 em ré maior BWV 1068 (J. S. Bach), com Khatia Bunioti.

7) Cordas de aço (Cartola), com o próprio.

8) Dear old Stockholm, com Stan Getz e Chet Baker.  

9) Flor, minha flor, com o Grupo Galpão.   

10) Lodi (John Fogerty), com CCR.   

11) Adagio do Concerto para clarineta e orquestra K 622 (Mozart).

12) Everytime we say goodbye (Cole Porter), com Ella Fitzgerald. 

13) Corcovado (Tom e Vinicius), com Astrud e João Gilberto e Stan Getz. 

14) Oh Darling! (Lennon e McCartney), com The Beatles. 

15) O morro não tem vez (Tom e Vinicius), com Stan Getz, Luiz Bonfá, Tom etc. 

16) Moon river (Henry Mancini), com Andrea Motis

17) Clube da esquina nº 2 (Milton Nascimento e Lô Borges), com Milton Nascimento e cia., sem letra. 

18) Old love (Erico Clapton), com o próprio (acústico).

19) Noites cariocas (Jacob do Bandolim). 

20) Can't take my eyes of you (Bob Gaudio e Robert Crewe), com Frankie Valli. 

21) Primeiro movimento da Quinta Sinfonia (Beethoven). 

22) Por una cabeza (Carlos Gardel e Alfredo Le Pera), Carlos Gardel.

23) Watching the wheels (John Lennon), com o próprio.  

24) Sala de recepção (Cartola), com o próprio. 

25) Nosso romance (Jacob do Bandolim), com Paulo Moura. 

26) If I fell (Lennon e McCartney), com The Beatles. 

27) Melodia sentimental (Heitor Villa-Lobos).

28) Rancho da goiabada (Aldir Blanc e João Bosco), com Elis Regina. 

29) Sinal fechado (Paulinho da Viola), com o próprio

30) My sweet Lord (George Harrison), com o próprio

31) Segundo movimento da Quinta Sinfonia (Beethoven). 

32) Bom tempo (Chico Buarque), com o próprio

33) Oh my love (John Lennon), com o próprio

34) Sábado (Frederico), com Som Imaginário. 

35) The sound of silence (Paul Simon), com Simon and Garfunkel. 

36) Antonico (Ismael Silva), com Gal Costa no disco Gal a todo vapor. 

37) In my Life (Lennon e McCartney), com The Beatles. 

38) Layla (Eric Clapton), com o próprio  

39) My pledge of love (Joe Jeffrey), com Joe Jeffrey Group. 

40) Pois é, pra quê (Sidney Miller), com MPB4. 

41) Pela Décima Vez (Noel Rosa), com Aracy de Almeida. 

42) Take Five (Paul Desmond), com The Dave Brubeck Quartet. 

43) Estrada do Sol (Tom Jobim e Dolores Duran), com Elis Regina. 

44) Ain't no sunshine (Bill Withers), com Bill Withers. 

45) The Medley (Lennon e McCartney), com The Beatles. 

46) Be my Baby (Phil Spector, Jeff Barry e Ellie Greenwich), com The Ronettes. 

47) Dedicated to the One I love (Lowman Pauling e Ralph Bass), com The Mamas and The Papas. 

48) Que Reste-t-il de nos Amours (Léo Chauliac, Charles Trenet, Charles Trenet), com João Gilberto. 

49) Marcha Fúnebre (Fredric Chopin). 

50) Oh, Pretty Woman (Roy Orbison), com Roy Orbison. 

51) Praça Clóvis (Paulo Vanzolini), com Chico Buarque. 

52) Modinha (Tom e Vinicius), com Tom Jobim. 

53) It's too late (Carole King). 

54) Autumn leaves (Joseph Kosma, Jacques Prévert, Johnny Mercer), com Eric Clapton.

55) Cry me a river (Arthr Hamilton), com Julie London.  

56) Look for a star (Mark Anthony), com Billy Vaughn. 

57) Blue in green (Miles Davis), com Miles Davis.  

58) Volver a los 17 (Violeta Parra), com Violeta Parra. 

59) Prelúdio da Bachianas nº 7 (Heitor Villa-Lobos). 

60) Flamenco sketches (Miles Davis), com o próprio

61) Pedacinhos do céu (Waldir Azevedo). 

62) L'hymne a l’amour (Edith Piaf e Marguerite Monnot), Edith Piaf. 

63) Oh Very Young (Cat Stevens), com o próprio. 

64) Sândalo de dândi (Tavinho Paes e Metrô), com Metrô. 

65) Maior abandonado (Cazuza e Frejat), com Barão Vermelho. 

66) Tudo pode mudar (Joe e Ronaldo Santos), com Metrô. 

67) Killing me softy with his song (Charles Fox, Norman Gimbel e Lori Lieberman), com Roberta Flack. 

68) Wuthering Heights (Kate Bush), com a própria

69) It's only love (Lennon e McCartney), com The Beatles. 

70) Tributo a Wes Montgomery (Egberto Gismonti), com Gismonti. 

71) 'Round Midnight (Thelonious Monk, Bernie Hanighen, Cootie Williams), com Chet Baker, Miles Davis ou Thelonious Monk Quartet

72) Un vestido y un amor (Fito Páez), com Caetano Veloso. 

73) Falsa baiana (Geraldo Pereira), com Gal Costa. 

74) Bahia (Ari Barroso), com Stan Getz e Charlie Byrd. 

75) Le premier bonheur du jour (Frank Gérald e Jean Renard), com Françoise Hardy. 

76) De frente pro crime (Aldir Blanc e João Bosco), com João Bosco. 

77) Tous les garçons et les filles (Françoise Hardy), com Françoise Hardy.

 *Música predileta é aquela que me encantou quando a ouvi pela primeira vez e toda vez que a escuto paro para prestar atenção e a repito. Esta lista não está em ordem de preferência. 


(Publicado originalmente em 26/8/2010 (não por acaso), no Belorizontem.)