quinta-feira, 28 de novembro de 2019

Há um ano

PS: Em um ano de governo do capitão, o autoritarismo militar não é a pior das suas características, as piores são a imposição do fundamentalismo evangélico e principalmente a política neoliberal de destruição do Estado, que está tornando o Brasil uma "ex-nação", na expressão do Ciro Gomes, de longe o político mais lúcido que o país tem. Outro aspecto da análise é que o poder da comunicação concentrada em poucas mãos mudou de figura, com um governo que usa a internet, as redes sociais, um exército de robôs e notícias falsas para se comunicar, ao mesmo tempo que ataca a imprensa de todas formas possíveis, tanto jornalistas quanto empresas, que não gostam dele e o criticam, mas apoiam sem pudor sua agenda econômica neoliberal. O que se segue foi escrito há um ano.  


O golpe de 2016 e a volta dos militares torna-se ainda pior porque nos pegou desprevenidos, iludidos com a democracia que durou 31 anos (1985-2016) e com os impressionantes resultados sociais e econômicos da Era Lula (2003-2010). O que vem por aí – um governo militar autoritário eleito pelo voto popular – pode ser pior, em alguns aspectos, do que a ditadura de 1964-1985.
Quase tudo, porém, foi previsto e ignorado, porque nos iludíamos. O próprio provável presidente, um capitão da reserva, que tem um general da reserva como vice, uma legião de militares o apoiando e vários generais cotados para ministros [e as milícias, o crime organizado, multinacionais do petróleo, da indústria armamentista etc., o governo americano], é um exemplo. A democracia não fez o ajuste de contas com a ditadura, deixou o inimigo sobreviver enfraquecido, fingindo que não oferecia mais perigo, e agora, no meio de uma crise econômica e política que golpeou a democracia, ele ressurge, revigorado com o sangue do povo desesperado.
Não era de se esperar que o governo Sarney ajustasse contas com a ditadura, muito menos o governo Collor; esperava-se que os governos tucanos o fizessem, mas nem mesmo os governos do PT, mais à esquerda, foram capazes disso – de punir os torturadores, jogar o autoritarismo na lata de lixo da História e reformar as Forças Armadas e as polícias militares para que se tornassem de uma vez por toda defensoras da democracia. Agora, são os militares que, sem qualquer pudor, fazem a revisão da História, transformam os democratas em diabos e promovem o elogio da ditadura.
Não houve sequer o embate dos políticos com os militares, dos democratas com os autoritários. A volta dos militares ao poder de certa forma afirma, mais de quatro décadas depois, o êxito da abertura lenta, gradual e segura promovida por Golberi e Geisel. Foi como se eles tivessem dito: vamos entregar o poder e nos preservar, para que no futuro novas gerações de militares voltem. Tímidos, medrosos, conciliadores, os civis democratas não compreenderam o perigo que aquilo representava, não tiveram coragem para enfrentar os militares, fingiram que nada tinha acontecido, que a ditadura era um presente do céu, que a democracia ia durar para sempre, que o povo não precisaria defendê-la, que não precisava conhecer os fatos que ignorou durante as décadas de governos autoritários, de repressão e censura. Faltou educar o povo sobre sua História, as verdades e mazelas da ditadura, o valor da democracia e a necessidade de defendê-la.
Os militares não voltariam agora ao proscênio sem a ajuda da mídia golpista. Democratizar a comunicação – que nada mais é do que pôr em prática a Constituição de 1988, coisa que os governos do PSDB e do PT não fizeram – é condição fundamental para a democracia.
Foi com participação decisiva da globoetc. que o PSDB e o PMDB deram o golpe; os dois partidos assumiram o governo golpista, mas quem herdou os votos das multidões que foram às ruas incentivadas pela globoetc. foi a extrema direita militar – que, agora sabemos, não é a corporação, é uma parte dela, envolvida com o crime organizado, assim como as polícias militares, organizadas pela ditadura, que foram mantidas intactas pela Nova República, assumiram o papel de repressão dos movimentos populares, de extermínio de pobres, favelados, negros e jovens, ligaram-se ao tráfico e formaram as milícias.
Uma reforma das polícias é fundamental para organizar um Estado democrático no Brasil. Assim como é fundamental democratizar a comunicação. Não existe em nenhuma nação democrática uma imprensa concentrada como existe no Brasil, capaz de decidir o que o povo vai saber e o que não vai fazer, de eleger e depor presidentes, como um poder acima dos outros; nem mesmo e muito menos nos EUA há uma Globo – lá, a imprensa está cumprindo o papel de desmascarar o governo fake do tri-bi-milionário Donald Trump.
Ainda mais importante do que democratizar a mídia e as forças policiais é democratizar a educação. Não existe nada mais importante para uma nação do que a educação do seu povo. Os governos do ciclo democrático que terminou em 2016 não precisariam fazer mais nada se implantassem em todo o país as escolas da democracia: um sistema de educação pública universal de qualidade em tempo integral. Começando pela educação infantil e sendo implantada gradualmente até a universidade e a pós-graduação, uma educação assim teria feito uma revolução democrática sólida e duradoura no Brasil, como fez nos países capitalistas mais avançados.
Se começasse em 1995, no primeiro governo FHC, e continuasse nos governos seguintes, de Lula e Dilma, como um programa de Estado, não um programa partidário, as crianças que entraram na escola naquele ano já estariam hoje no doutorado. Milhões de jovens estariam na universidade, outros milhões no ensino médio, outros mais no ensino fundamental.
O Brasil tem excelentes educadores e projetos educacionais, não é esse o problema. O problema é o presidente e o partido vencedores na eleição considerarem a educação do seu povo como uma escolha perigosa, porque um povo educado é um povo difícil de ser enganado e manipulado. Com exceção de Leonel Brizola e Darci Ribeiro, nenhum político brasileiro teve essa coragem até hoje, e governos posteriores, no Rio de Janeiro, trataram de destruir seu legado. O PT preferiu expandir a educação distribuindo dinheiro público para a iniciativa privada, fazendo o processo inverso, do fim para começo, contemplando a universidade e o ensino técnico, modelo que enriqueceu, por exemplo, o casal de políticos Muniz, célebre por sua corrupção.
Para democratizar a educação é preciso, primeiro, tornar a educação prioridade e destinar muito dinheiro no orçamento para ela. Atualmente, o dinheiro público é destinado, quase todo, para pagar banqueiros e o restante para o pagamento dos privilégios das castas de juízes, militares, políticos e funcionários públicos graduados. Não sobra dinheiro para o povo: educação, saúde, transporte, ambiente, lazer, qualidade de vida nas cidades etc. não cabem no orçamento.
A educação pública de qualidade é cara, mas não é despesa, é investimento, o mais valioso, pois trará resultados incalculáveis para a nação. Escolas em tempo integral, escolas com espaços e instalações de primeira, com os melhores professores, bem remunerados, com pedagogia moderna, com equipamentos de ponta, com equipamentos esportivos e prática de esportes, com ateliês de arte, com oficinas de ofícios, com refeições e alimentos de qualidade, naturais, orgânicos, com nutricionista, médica, dentista, psicóloga. Enfim, uma escola de qualidade na qual crianças e jovens passem o dia, enquanto seus pais trabalham, convivendo e praticando a democracia, ricos, medianos e pobres, protagonistas da sua formação, com auxílio dos melhores profissionais e a participação dos pais na vida escolar.
Quem pode ser contra uma educação assim? É claro que ela não interessa a uma minoria que já tem educação de qualidade para seus filhos, que paga caro por ela, e que reage a toda mudança, porque quer manter a desigualdade e a injustiça. Mesmo ela, porém, em gerações futuras, se beneficiará dos ganhos que a educação e a democracia trazem, tais como a diminuição da violência que apavora os privilegiados. Por melhor que seja uma boa escola particular, ela não oferece a riqueza da convivência democrática entre diferentes, porque nela todos são ricos.
O atual candidato do PT, um professor, ex-ministro da Educação, poderia ter apresentado essa proposta, só essa, como carro-chefe e síntese do seu programa – como a construção de Brasília foi a síntese do programa vitorioso de JK. Isso jogaria muita luz sobre a proposta, lhe daria personalidade, distinguindo-o do Lula, ampliaria o debate sobre o que realmente importa e no mínimo plantaria uma semente para a próxima campanha eleitoral.
Enquanto essa semente não for plantada, o Brasil não tem futuro democrático. Teremos apenas bons períodos de ilusão, como os anos JK, o Plano Real e a Era Lula, alternados com governos autoritários, obscurantistas, reacionários, antipovo.


Do golpe à eleição

Recapitulando:
o PSDB não aceitou o resultado da eleição de 2014, pediu recontagem de votos e pôs em dúvida a reeleição da presidenta Dilma;
a operação larva jato decidiu derrubar o governo, perseguir o PT e prender o ex-presidente Lula;
a direita decidiu pedir o impeachment da presidenta e convocou manifestações;
a mídia golpista incentivou as manifestações, o impeachment e a larva jato;
a classe média reacionária bateu panelas, vestiu a camisa da corrupta CBF, comprou bandeiras da nação que ela detesta e foi para as ruas manifestar seu ódio contra pobres, negros, minorias sexuais, trabalhadores e esquerdistas;
o Congresso reacionário e corrupto aprovou o impeachment;
o Supremo Tribunal Federal, que tem a função de defender a Constituição, prevaricou e apoiou o golpe com decisões e omissões;
o vice-presidente traidor comprou o Congresso, assumiu o governo e pôs em prática aceleradamente o programa derrotado nas urnas, e até o que a oposição não defendeu, um programa antipovo, antidireitos, antinacional;
a perseguição ao PT, travestido de combate à corrupção, se tornou uma perseguição aos políticos em geral e até um novo impeachment contra o vice-presidente foi tentado;
a crise econômica se agravou, o desemprego se multiplicou, fome, miséria, violência aumentaram; a popularidade dos políticos tradicionais caiu e o candidato da extrema direita se projetou como salvador da pátria, apoiado pelas forças ideológicas e capitalistas mais reacionárias;
o ex-presidente Lula, cuja popularidade ao deixar o governo chegou ao recorde de 87% e que continuava sendo a principal opção do eleitorado, foi perseguido implacavelmente pela larva jato, preso e impedidode concorrer;
um incidente providencial ocorrido durante a campanha, o esfaqueamento por um popular, tirou o candidato da extrema direita da campanha, ele não teve de participar de debates, nos quais se saía muito mal, e sua popularidade cresceu;
sem precisar debater nem se mostrar, o candidato de extrema direita fez uma campanha virtual com informações falsas a seu favor e principalmente contra o principal adversário, do PT, copiando a campanha do presidente americano Donald Trump;
o resultado eleitoral confirmou a liderança do candidato de extrema direita, com votação muito superior à que se poderia esperar numa eleição normal, e o candidato do PT em segundo lugar;
para a esquerda, o candidato de extrema direita seria o mais fácil de derrotar, para a direita, o candidato do PT seria também o mais fácil de derrotar;
a eleição se tornou uma disputa entre petismo e antipetismo, com algumas variantes: autoritarismo contra democracia, barbárie contra civilização, um governo já testado contra um governo imprevisível;
o sentimento antipetista, inflado por uma intolerância que saiu do armário, uma respulsa aos políticos, um autoengano de que o candidato de extrema direita representa o novo e a eterna esperança na mudança, conquistou a maioria do eleitorado, ao que tudo indica, e pela primeira vez levará ao poder no Brasil, pelo voto, um presidente declaradamente autoritário e conservador, além de despreparado e inexperiente;
mais do que isso, com ele irão para o governo as forças políticas, ideológicas e sociais mais reacionárias, que querem fazer retroceder os direitos sociais;
se os quatro últimos anos foram terríveis, aproximam-se tempos ainda piores.

A dependência do Brasil

Dom Pedro I não proclamou a independência do Brasil. É impressionante como a verdade é escondida por palavras e discursos. Uma das características da sociedade é criar discursos para esconder a verdade. O que aconteceu em 1822 pode ser chamado de várias formas, mas independência do Brasil não é uma delas. O príncipe regente Pedro de fato proclamou o oposto: a dependência do Brasil.
A partir daquele ato de “rebeldia” às cortes portuguesas, o Brasil tornou-se dependente de Dom Pedro, da família real portuguesa, da monarquia, dos próprios portugueses residentes no Brasil, dos ingleses e da Inglaterra, que o apoiaram.
Ao mesmo tempo, o imperador passou a perseguir os brasileiros republicanos e até monarquistas constitucionais, que, estes sim, lutavam por diversas formas de independência do Brasil.
De fato a situação sob Pedro I nada mudou em relação à colônia. Pedro, como seus antepassados, explorou o Brasil para a família real, manteve-o como posse pessoal, perseguiu, guerreou, prendeu e matou brasileiros rebeldes.
1822 tem pouquíssima importância para a afirmação do Brasil. Os fatos decisivos estão em 1808, quando a Revolução Francesa, levada pelo exército de Napoleão, invade Portugal e põe para correr a corte portuguesa. Dom João VI, sua mãe louca e sua mulher maluca, seus filhos, entre eles o adolescente Pedro, e milhares de nobres fogem numa grande frota naval para o Brasil. Durante 13 anos, até 1821, o Brasil será sede do império, condição que mudará radicalmente a colônia. Obviamente, quando, expulsos os franceses, a corte volta para Portugal, o “Brasil” não quer retornar à condição de colônia. Foi uma situação impossível que os portugueses tentaram impor.
Neste ponto, nosso olhar deve se voltar para o ambiente americano, para os antecedentes nativistas no Brasil, para o processo de independência da América espanhola, para os recém-criados Estados Unidos da América. O que aconteceu em torno do príncipe regente não tem a importância que lhe deram as palavras e discursos dos dependentes. Embora seja importante também conhecer aqueles círculos monarquistas, especialmente o “patriarca” José Bonifácio de Andrade e Silva. É significativo que ainda hoje seus descendentes estejam presentes na política nacional, como agentes reacionários que nunca serviram à independência e sempre se aliaram a interesses estrangeiros.
Porque esta é a questão fundamental: os dependentes, de Pedro I a Temer, dos Andradas aos tucanos, sempre se aliaram às grandes potências estrangeiras para esmagar o povo brasileiro. O Brasil e sua independência não são assuntos que lhes interessam, eles nunca tiveram um projeto de nação para o Brasil. Não tinham em 1822 e não têm hoje.
Independência implica num projeto de nação, se os donos do Brasil não têm um projeto de nação, mas sim de manter o país como colônia dependente de grandes potências, como é possível falar em independência? Nunca tivemos independência.
Simples assim.


Não começou agora

Ontem, enquanto o Flamengo comemorava os títulos brasileiro e da Libertadores, a Câmara aprovou a transformação dos clubes em empresas.O brasileiro é basicamente um povo que abdica, como talvez nenhum outro, de construir a sua nação.

A Cemig e o Cruzeiro

“O povo que abdica do seu direito não pode queixar-se dos seus opressores.” (Luís Felipe de Saldanha da Gama, 7 de dezembro de 1893.)

Nesta quarta-feira 27/9/17 dois acontecimentos importantes aconteceram para Minas Gerais. O primeiro foi o leilão de quatro usinas hidrelétricas da Cemig – Companhia Energética de Minas Gerais pelo governo federal; o segundo, a conquista da Copa do Brasil pelo Cruzeiro sobre o Flamengo, nos pênaltis. A vitória do clube belo-horizontino, tarde da noite, mobilizou e foi festejada com foguetes por uma quantidade tão numerosa de torcedores que, se quisessem, sozinhos, eles teriam derrubado o presidente golpista Temer. Ainda agora, no dia seguinte, espocam foguetes e ecoam gritos de torcedores. Já a venda das usinas da Cemig foi ignorada.
Os mineiros assistiram impassíveis à entrega a investidores chineses de hidrelétricas construídas com recursos, tecnologia e mão de obra nacionais, ao longo de seis décadas, para gerar energia para o estado e para o país. Sem as usinas, a Cemig, uma estatal gigante do setor, criada nos anos 50 do século passado para promover o desenvolvimento de Minas e do Brasil, torna-se uma empresa menor, quase anã. O preço da hidreletricidade fornecida aos mineiros e brasileiros tende a aumentar e a participação do negócio energia no desenvolvimento tende a diminuir. O governo federal vendeu as usinas para fazer caixa e pagar suas contas do ano, como quem vende o apartamento em que mora para pagar a taxa de condomínio e as contas em atraso.
Um terceiro fato importante aconteceu no mesmo dia: o Supremo Tribunal Federal (STF) aprovou por 6 votos a 5, com o voto de minerva da presidenta Cármen Lúcia, mineira, o ensino religioso nas escolas públicas.
Vale lembrar que na Monarquia brasileira o Estado e a religião católica estavam unidas, o catolicismo era religião oficial e o imperador era o chefe da igreja. A República, implantada a partir de 1889, separou Estado e religião, estabeleceu o Estado laico. Estamos voltando, portanto, 128 anos depois, ao século XIX. O golpe em curso no Brasil, desde 2016, faz a nação retroceder aceleradamente a etapas superadas do seu desenvolvimento. Neste caso, ao século XIX; no caso das riquezas nacionais, o retrocesso é ainda maior: voltamos ao período colonial, aos tempos anteriores à chegada da família real portuguesa ao Brasil, em 1808.
Observo também alguns detalhes significativos que expressam a extensão do golpe. O golpe não é só do presidente ilegítimo Temer, nele estão envolvidas todas as instituições republicanas: os governos estaduais, o judiciário, o legislativo, o empresariado, a imprensa.
O governador, Fernando Pimentel, do PT, fez pronunciamento divulgado em vídeo lamentando a venda das usinas e afirmando que o tempo dirá se foi boa para o Brasil, que com certeza não foi para Minas. Ponto final. Em outros tempos, quando o então presidente FHC quis vender Furnas, o governador Itamar Franco respondeu que reagiria com armas.
Quem não reage ao golpe também participa dele.
O golpe contra o caráter laico do Estado foi dado pelo STF. O golpe primeiro, da destituição da presidente Dilma, foi dado pelo Congresso. O golpe antes do golpe, a não aceitação do resultado da eleição, foi dado pelo candidato derrotado, pelo então principal partido de oposição. O golpe da “legitimação popular” foi dado nas ruas pela minoria derrotada nas urnas. A mobilização popular para apoio ao golpe foi estimulada pela imprensa. O golpe de destruição do principal partido político nacional e do maior líder da história brasileira foi feita pelo Judiciário, pela Procuradoria Geral da República, pelo Ministério Público, pela Polícia Federal e pela imprensa.
É da cultura dos brasileiros se mobilizarem no futebol e no carnaval e ignorarem a política. Faz parte da cultura dos brasileiros agirem apaixonadamente na vida privada e com apatia na vida pública. É claro que o espaço que os brasileiros do povo não ocupam na política é ocupado por outros brasileiros, das elites econômicas e sociais.


sexta-feira, 22 de novembro de 2019

Mais uma comparação entre Brasil e Chile

Olha essa notícia do mesmo Poder 360. E este saite não é da grande imprensa, dos barões -- mas é de jornalistas que conviveram intimamente com o baronato e que pensam que têm pedigri. A Abraji, por exemplo, está cheia deles; quando superar essa limitação, e vai superar em breve, penso eu, por força da realidade, vai ter papel importante na reconstrução do jornalismo brasileiro.

Mas o Poder 360 não tem senso de ridículo, porque critica a aposentadoria chilena, mas se omite (e apoia) sobre a reforma da previdência brasileira. Ora, com o dólar a 4,20, a aposentadoria chilena é bem próxima do salário mínimo brasileiro, menos de 1.000 reais!

A notícia vale pra gente ver como é difícil recuperar direitos perdidos. O reajuste é para aposentados com 80 anos ou mais. Outra medida reduz pela metade a passagem de ônibus para aposentados; aqui não pagamos nada.


Em meio a protestos, Chile aumenta aposentadoria mínima de idosos em 50%

Benefícios são baixíssimos e causam revolta. Mesmo pós-reajuste, valor é só de US$ 207.

Clique aqui para ler a matéria no Poder 360.


O Brasil de 2019 é o Chile de 1973

Este artigo mostra como o governo do capitão está desmontando o Estado na área de meio ambiente. São várias ações articuladas. Não dá dinheiro para a fiscalização e ela não pode funcionar. Quando funciona, é desautorizada. E as multas ainda têm que ser referendadas por um novo órgão que o governo criou.

O que o governo de extrema direita está fazendo no ambiente faz também em outras áreas. E faz isso obedecendo uma política deliberada. Essa política visa a destruir o Estado e deixar a ação livre para o capital.

É uma política de classe portanto, uma política do capital, para o capital. É a política do chamado neoliberalismo.

Que está em vigor e expansão no mundo desde a década de 1980, há quatro décadas, depois de quatro décadas de predomínio de políticas social-democratas.

A social-democracia salvou o capitalismo do colapso no século XX, quando foi ameaçado por  duas guerras mundiais, uma crise econômica devastadora, a de 1929, a ascensão do nazifascismo e a revolução proletária comunista.

O capitalismo liberal, isto é, sem controle, desregulado, não sabia o que fazer, perdeu o controle, e via o mundo caminhar para regimes totalitários nazifascistas ou para a revolução socialista. Preferiu a intervenção estatal que preservava o capitalismo.

Quando a economia da Rússia naufragou, o liberalismo pôs suas manguinhas de fora outra vez. Já não tinha o fantasma da revolução socialista a assustá-lo, já não tinha a sombra de um outro tipo de economia, que não deu certo.

O neoliberalismo começou exatamente quando acabou a ditadura no Brasil. No Chile, o neoliberalismo coincidiu com a ditadura Pinochet. Há quem diga que ele foi ensaiado lá, antes de ganhar os governos dos EUA e da Inglaterra, com Reagan e Thatcher.

Os militares chilenos fizeram o que o capitão e seu primeiro-ministro Guedes estão fazendo no Brasil 45 anos depois. Os resultados chilenos estão aí hoje, para serem vistos e compreendidos. E não podemos esquecer do banho de sangue que foi a deposição do presidente Allende em 1973 e da destruição da oposição, para implantação da ditadura.

No Brasil, a ditadura militar (1964-1985) conviveu ainda com a ordem social-democrata mundial do pós-guerra e foi comandada por uma corporação que tinha um projeto nacional; em vez desregular e desestatizar a economia, regulou-a e estatizou-a mais.

Exemplos: a ditadura acabou com a estabilidade no emprego, mas criou o FGTS; perseguiu os trabalhadores do campo, mas criou um programa de reforma agrária; prendeu, matou ou exilou as lideranças trabalhistas e comunistas e colou pelegos nos sindicatos, mas manteve a estrutura rica e poderosa destes. Da qual, por sinal, nasceu Lula.

A ditadura acabou numa onda claramente trabalhista, social-democrata, de esquerda. A Constituição de 1988 expressou esse anseio de liberdade, democracia e direitos exatamente no momento em que nascia a nova onda neoliberal. O conflito esteve presente na Constituinte e se expressou na eleição de 1989.

Collor, representante do neoliberalismo em ascensão, foi eleito naquela primeira eleição direta com apoio decisivo dos barões da comunicação.

Do outro lado estavam as forças da social-democracia: Covas, Brizola e Lula (embora este ainda não soubesse que era social-democrata, porque o PT foi criado antes do fim da União Soviética e do colapso dos partidos comunistas e estes ainda tinham grande influência na esquerda).

A partir do impeachment de Collor, porém, o governo caminhou para a social-democracia, com Itamar, FHC e Lula. Incorporando sempre a tensão entre os direitos sociais democráticos da Constituição de 1988 e as pressões do neoliberalismo.

Os barões da mídia, representando o neoliberalismo, sempre pressionaram por reformas na Constituição e apoiaram candidatos de direita. Tiveram de engolir o sapo barbudo, preferível a Brizola, mas para isso Lula fez inúmeras concessões, antes de ser eleito, com a Carta aos Brasileiros, e depois, governando "para todos", o que significou dar muito dinheiro para os banqueiros, para o agronegócio, para a elite empresarial da Fiesp e para os barões da mídia.

O golpe de 2016 desorganizou a ordem democrática vigente de 1994, quando o Plano Real elegeu FHC. Tirou do poder o PT -- que parecia eterno, tendo ganhando quatro eleições presidenciais seguidas, inclusive reelegendo uma presidenta explicitamente inepta para o cargo -- e colocou no seu lugar um capacho. A mesma onda que derrubou o PT, porém, afogou o PSDB, a oposição mais civilizada.

Na crista da onda golpista vieram o partido da larva jato e o capitão, com seus evangélicos e milicianos, associados ao neoliberalismo.

Ou seja, com o capitão, o neoliberalismo chega ao poder novamente, como chegou com Collor, em 1989, sem qualquer resquício ou pudor social-democrata, como tiveram os governos de Itamar, do PSDB e do PT. Por suas características autoritárias, broncas e reacionárias e por suas ligações com o crime organizado, este governo pratica o liberalismo sem qualquer restrição. Ele está aí pra isso mesmo e não se preocupa com as consequências, porque acredita que cumpre uma missão divina.

As organizações social-democratas ainda estão atônitas e desunidas e o povo sofre, desorganizado, humilhado, desempregado, miserável, faminto, desamparado.

O projeto neoliberal não cria nada, só destrói. É pior, muito pior, do que a ditadura dos militares. Muito mais obscurantista, muito mais reacionário, muito mais antinacional, muito mais antipovo. Um horror. Para sair disso, as lideranças social-democratas terão cair na real e se iluminarem, e o povo terá de tirar forças não sei de onde, mas terá de tirar.


Um desgoverno que estimula o desmatamento

Por Randolfe Rodrigues, no Poder 360

O Brasil possui 334 Unidades de Conservação Federais que estão sob revisão do Ministério do Meio Ambiente. Correm o risco de terem o seu tamanho reduzido, a destinação alterada ou mesmo serem extintas. Entre elas, Abrolhos, santuário ecológico que o governo pretende inserir nas áreas passíveis para exploração de petróleo. A região concentra a maior biodiversidade do Atlântico Sul e 1 gigantesco banco de corais, além de ser berçário das baleias jubarte.

A fiscalização dos crimes ambientais também caiu drasticamente com Bolsonaro na presidência. O número de multas aplicadas teve redução de quase 40%. Para completar, o governo criou os “núcleos de conciliação”, foro instituído via decreto para analisar as multas aplicadas mesmo que os infratores não reclamem das sanções. Em outras palavras, algo como uma anistia antecipada para crimes ambientais e desmoralização dos órgãos de fiscalização.

Ataques aos servidores dos órgãos ambientais não ficaram de fora do desmonte da governança ambiental promovida por Bolsonaro. Agora, o governo anuncia previamente as operações de fiscalização, proporcionando aos desmatadores e outros criminosos ambientais camuflarem suas atividades e destruírem provas dos crimes cometidos, sem falar na exposição dos fiscais ao risco de serem alvos de ataques e emboscadas dos criminosos. Um completo absurdo! 

Clique aqui para ler a íntegra do artigo. 

sábado, 16 de novembro de 2019

A direita tem projeto, a esquerda, não

Essa jornalista e filósofa alemã diz o que venho observando desde o governo Lula: a esquerda não tem um projeto de sociedade. Entendo isso em relação à esquerda marxista-lenininista-stalinista, que predominou no século XX, como decorrência do fim da URSS. Não entendo bem em relação à social-democracia. Lula e o PT, por exemplo, que se projetam como socialistas, vermelhos, amigos de revolucionários cubanos e outros, estão à direita da social-democracia. O fato é que a direita tem um projeto reacionário, mas a esquerda não tem mais.

“A extrema direita tem uma utopia. Conservadores e sociais-democratas não têm nenhuma”

A alemã Carolin Emcke, filósofa e repórter de guerra durante dez anos, analisa como a xenofobia tenta monopolizar o discurso político

Milagros Pérez Oliva, El País.

A jornalista e filósofa alemã Carolin Emcke (Mülheim an der Ruhr, 1967) vem há muitos anos observando e refletindo sobre diferentes formas de violência que condicionam nossas vidas. Aluna de Jürgen Habermas, o pensador vivo mais influente do mundo, trabalhou como repórter de guerra para a Der Spiegel entre 1996 e 2006, em lugares como o Afeganistão, Kosovo e Iraque. Seus livros Gegen den Hass (“Contra o ódio”) e Wie Wir Begehren (“Como desejamos”), ambos inéditos no Brasil, são uma referência nos debates sobre a ascensão de uma extrema direita racista e xenófoba que tenta monopolizar e condicionar o discurso político. Emcke proferiu nesta semana uma conferência dentro do ciclo Feminismos, do Centro de Cultura Contemporânea de Barcelona (CCCB).

PERGUNTA. Em sua obra você aborda a relação entre poder e violência. O que mais a preocupa em relação a esta questão?

RESPOSTA. Preocupa-me a força que está adquirindo uma ideologia autoritária, antimoderna e baseada em dogmas de pureza que constroem a realidade como se fosse um perigo, uma ameaça. Esta ideologia está mudando o discurso político no sentido de normalizar o racismo, o antissemitismo, o antifeminismo, e contribui para desumanizar as pessoas ou coletivos que mais tarde são vítimas de atentados da extrema direita. O problema é que, quando eles ocorrem, focamos o debate na violência e despolitizamos o contexto ideológico que a torna possível. Não só temos que lutar contra o extremismo quando é violento, mas também contra a ideologia que leva à violência.

Clique aqui para ler a entrevista no El País.


sexta-feira, 15 de novembro de 2019

Aspectos progressistas no fenômeno evangélico

Assim como a igreja católica, em especial as comunidades eclesiais de base, foi uma base do crescimento do PT, as igrejas evangélicas são base do crescimento da direita no Brasil.
Eduardo Cunha e o capitão são expressões disso.
A esquerda não compreende o fenômeno de expansão dos evangélicos, que, segundo projeções, podem ser a maioria dos brasileiros dentro de vinte anos.
Essa ótima entrevista lança luz sobre o assunto, começando por sua frase final. Vale a pena ver esse diálogo inteligente.

Um país de castas

O Brasil é um país de castas, e isso nunca é questionado por nenhuma reforma. Ao contrário, toda reforma é sempre para tirar mais dinheiro (e direitos) das castas dos pobres e miseráveis para dar dinheiro às castas privilegiadas.
Estas são as dos banqueiros, dos ministros, desembargadores, juízes, procuradores e promotores, dos vereadores, deputados e senadores, dos oficiais militares, dos industriais, dos agrotoxiconegociantes, dos mineradores etc.

Quanto custa o Judiciário brasileiro 

Por Juliana Fuzaro, no Justificando.

O Brasil possui um dos Poderes Judiciários mais caros do mundo.

De acordo com dados averiguados por Luciano da Ros, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em seu estudo O Custo da Justiça no Brasil. Ele revela que com exceção de El Salvador, que utiliza 1,35% do PIB (Produto Interno Bruto), o Brasil é o responsável pelo Judiciário que mais gasta no mundo, com 1,2% do PIB em 2014. Se comparado a países como EUA (0,14%) e Itália (0,19%), o Brasil fica em disparada.

O Artigo 37, inciso XI e XII, da Constituição Federal de 1988, tratam a respeito da diferença da remuneração entre os três poderes, sendo o primeiro referente ao teto, que não poderão ultrapassar em espécie, o subsídio mensal, dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, enquanto o segundo diz respeito a remuneração dos cargos da mesma alçada entre os poderes, que não poderão ultrapassar ao do Executivo.

Entretanto, a complexidade do Poder Judiciário não é dada apenas aos valores salariais, que chegam a R$37.000,00 para os Ministros do Supremo Tribunal de Justiça. Em 2014, o gasto do PJ foi correspondente ao gasto das Forças Armadas brasileira (1,4% do PIB), mesmo a última tendo 330 mil servidores, e o PJ, de acordo com o Relatório Justiça em Números/2015, possuía 418.000 servidores somando todos as categorias, além de 22,5 mil juízes. Em 2017, o Poder Judiciário gastou 36,2 bilhões de reais, de acordo com dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e do Tesouro Nacional. Esse retrato revela o quanto o sistema possui números exorbitantes e uma complexidade que deveria ser repensada, apesar de a fatia salarial e de encargos representar 80% das despesas sujeitas ao teto.

Clique aqui para ler a íntegra da matéria.

terça-feira, 12 de novembro de 2019

Um projeto de estilo nazista

Por quê? Porque baseado em um líder, um füher.
O capitão acredita, depois de sobreviver à misteriosa facada, que é um predestinado. Liberta-se do partido para criar um à sua imagem e semelhança -- com seus filhos e seguidores fanáticos. Começa pelo nome Aliança (palavra de evangélicos, uma base, talvez única, do fundamentalismo no Brasil contemporâneo) pelo Brasil (apelo ao patriotismo). Aposto que criará um símbolo forte, como a suástica, provavelmente com as cores verde e amarela.
Terá fragilidades, ou contradições: será o partido do liberalismo "puro"? O liberalismo é uma política de elite, de ricos, de desigualdade. Como arrebanhará o povo? O nazismo foi uma política com dominação e uso do Estado, coisa que o governo do capitão faz, impregnando educação e cultura públicas com valores fundamentalistas cristãos. O que fará em relação à economia para que possa controlar recursos estatais, já que está liberalizando a economia e enfraquecendo o Estado? Dará uma guinada na campanha de 2022, talvez já em 2020?
O que eu penso é que não se deve subestimar o capitão, principalmente nesse ambiente de enfraquecimento da direita tradicional.

O ambicioso plano de Bolsonaro de usar smartphones para criar um novo partido em 4 meses

André Shalders - @andreshalders Da BBC News Brasil em Brasília

O presidente da República, Jair Bolsonaro (PSL), apresentará a seus aliados políticos nesta terça-feira 12/11 o plano de criar uma nova legenda: a Aliança Pelo Brasil.

A ideia é dispensar os cabos eleitorais nas ruas coletando assinaturas em papel. Os interessados em apoiar o novo partido do presidente da República usariam apenas um aplicativo de celular e o leitor de digitais de seus próprios aparelhos para firmar a adesão.

Com o novo meio de coleta de assinaturas, a sigla reuniria as quase 500 mil assinaturas necessárias em 3 a 4 meses - a tempo de lançar candidatos nas eleições municipais de 2020.

Clique aqui para ler a matéria na BBC Brasil.


Os milhões de dólares do Bolsa Capital

Publico a matéria abaixo por três motivos. O primeiro é que sou amigo do Nairo; o segundo é para chamar atenção para o blog Além do Fato; o terceiro é chamar atenção para a notícia.

Nairo é um amigo extraordinário e talvez o melhor repórter de economia de Minas, há décadas. Tem um defeito: escrever para seus iguais, isto é, quem conhece como ele. Não escreve para o público leigo, e por isso sempre precisou de um editor puxando sua orelha, lhe dizendo isso, pedindo que explique ao leitor comum conhecimentos básicos que ele menospreza porque domina. Nesta matéria, por exemplo, o que é semicondutor, para que serve, a importância econômica e tecnológica da fábrica para o país.

Além do Fato é um blog relativamente recente ancorado no portal Uai, liderado pelo experiente Orion Teixeira, com notícias produzidas também pelos não menos experientes Nairo e Ricardo Campos. Oxalá prospere; o jornalismo depende para sobreviver de iniciativas dos jornalistas. Os colegas de Alagoas estão dando o exemplo. A gente nota logo que as páginas estão cheias de anúncios, mas, na internet, isso não significa que os autores estejam faturando, como nos impressos. O dinheiro da publicidade na internet não vai para o veículo e o portal que o ancora também não paga os autores como um jornal paga um jornalista. Trata-se de um mercado muito lucrativo para gigantes multinacionais (Gg e Fb, em especial), baseado num tipo de trabalho parente do trabalho escravo, no qual todos nós estamos produzindo conteúdos de graça, e aqueles que descobrem como faturar, os que se tornam fenômenos de público, tornam-se também milionários. Não é o caso dos jornalistas, mas quem sabe será ainda?

Quanto à notícia, em resumo ela expressa o que não se fala: o Estado brasileiro distribui dinheiro à vontade para empresários, "investidores", capitalistas, enfim. E a imprensa se cala, os indignados se calam, a direita se cala. Estes só atacam o dinheiro gasto com a previdência, Bolsa Família, SUS, universidades públicas, educação básica, enfim, com o dinheiro cujos destinatários são o povo, os pobres, os trabalhadores. O Bolsa Capital ninguém ataca. E é ele que destrói o Brasil, que quebra o Brasil.

O Bolsa Capital come metade do orçamento brasileiro. Todo mundo sabe disso, toda a imprensa, todos os especialistas, todos os políticos. No entanto, não existe nenhuma campanha e nenhum programa de governo pretendendo reformar os bancos. Ao contrário, todo o esforço do governo, com apoio da imprensa e especialistas dizendo que "é necessário", é feito no sentido oposto: economizar nos gastos com o povo para sobrar mais dinheiro para pagar os bancos.

Todas as reformas "necessárias" são feitas para isso, para que o governo tenha dinheiro para pagar suas dívidas com os bancos.

Um absurdo do qual poucos falam e quando falam são ignorados ou duramente atacados -- pela imprensa, pelos especialistas, pelos governos. Por quê? Porque a opção da imprensa, dos especialistas, dos governos é pelo capital. Governos, especialistas e imprensa são representantes do capital. Simples assim.

E quando se fala em Bolsa Capital não se fala em 89 reais por família, fala-se em milhões de dólares por empresa.

Essa notícia é mais uma sobre um assunto que fica escondido do leitor, dos cidadãos, dos pobres, dos trabalhadores, do povo, dos brasileiros: as montanhas de dinheiro que o Estado gasta com empresários, enriquecendo "investidores", transferindo riqueza de pobres para ricos, destinando a uns poucos o dinheiro arrecadado com impostos cobrados de todos nós. Simples assim.


BNDES abandona Unitec e faz cobrança extrajudicial

por Nairo Alméri | publicado: 12/11/2019

BNDES bancou 33% dos quase R$ 1 bilhão investidos Unitec Semicondutores (foto). Agora recorre à Justiça para receber o financiamento vencido e não liquidado. Foto: Facebook/Unitec Tecnologia

O BNDES não quer perder mais tempo com a Unitec Semicondutores, de Ribeirão das Neves. O banco é acionista-investidor, tendo aportado 33,02% do cerca de R$ 1 bilhão aplicados na sociedade. A empresa, porém, não superou os estágios da construção civil, montagem de equipamentos (muitos deles usados) e comissionamentos etc. Nem todos os equipamentos foram instalados. 

Em agosto, precisava de mais US$ 80 milhões, para montar a parte fundamental da fabrica de chips. Mas, por falta de garantias, há três anos nem os acionistas-investidores estatais (o outro é o BDMG) nem a Finep colocam dinheiro.

A última tentativa de uma tábua de salvação para a Unitec foi em 29 de agosto, em reunião no BDMG (Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais). Teve participação de representante da Finep (Financiadora de Pesquisa e Inovação/Ministério de Ciência, Tecnologia, Inovação e Comunicação).

Aquela rodada ocorreu após duas convocações frustradas de AGEs dos acionistas (12 e 28 de agosto). Em ambas, a ordem do dia previa a desde a venda dos equipamentos à extinção da fábrica. O extremo seria na hipótese de os acionistas não aprovarem aportes de capital nem identificado outro investidor. Todas as partes silenciaram sobre a tal AGE e a reunião no BDMG.
BNDES tornou reunião inútil

Mas, fato é que, em 22/8 (bem antes da reunião no BDMG), já estava publicado despacho da juíza Andrea de Araújo Peixoto, da 26ª Vara Federal, do TRF-RJ, autorizando o BNDES a executar extrajudicial a dívida Unitec. Contudo, deixava brecha para, em até 15 dias, independentemente de penhora, para executada impetrar ação de embargo.

Clique aqui para ler a íntegra no blog Além do Fato.

O gráfico abaixo foi reproduzido do saite Auditoria Cidadã da Dívida.

https://auditoriacidada.org.br/wp-content/uploads/2019/02/grafico.jpg

quinta-feira, 7 de novembro de 2019

Grande imprensa finge que é contra, mas apoia governo do capitão

Assim como apoiou Temer, assim como apoiou o golpe. Basta ver as manchetes.
O governo liberal destrói o país, entregando-o para o capital e tirando todos os direitos possíveis dos brasileiros, mas a imprensa chama isso de "reformas", que ela apóia sem criticar.
São "necessárias". Para quem? Não para os brasileiros, não para os trabalhadores, não para o povo. São necessárias para o capital.
A reforma da previdência vai "economizar" bilhões. Como assim "economizar"? Tirar aposentadoria dos velhos trabalhadores. Quer dizer que tirar dinheiro dos trabalhadores é economizar. A reforma trabalhista também "economizou". Assim sobra mais dinheiro para o capital, mais lucros, mais dinheiro do Estado, que vem dos impostos e que será destinado a subsídios e todo tipo de favorecimento ao capital. É só isso que o governo vem fazendo desde o golpe. E que a imprensa aplaude, porque representa os interesses do capital, não tem o menor compromisso com o Brasil, muito menos com os trabalhadores, o povo, os brasileiros.
Cortar despesas com educação também é "economizar". Cortar despesas com saúde também é "economizar". Tudo que é despesa com pobre, com povo, com trabalhador se for cortado é "economia".

Todo dinheiro "economizado" com os trabalhadores vai para pagar a dívida com os bancos, os elevadíssimos juros da dívida bancária. O governo não economiza no pagamento aos bancos.

A grande imprensa sabe disso e apóia essa política, como apoiou o golpe contra a democracia, como apoiou a eleição do capitão.
Políticos também pensam com a imprensa, STF também etc.
Preparam cenário para revoltas. 
Enquanto o governo destrói tudo em nome do liberalismo etc., o capitão faz palhaçadas para distrair o público, e a imprensa o ataca, para fingir que tem compromisso com o Brasil, com a democracia, com o povo etc. Tudo cena.
O que importa é que a sociedade está sendo destruída e só vai sobrar o caos capitalista, com o crime organizado fazendo o que quer, inclusive o crime organizado do capital, que nunca aumentou tanto quanto durante esse período de larva jato, de "combate à corrupção". Que de fato foi só uma operação política para afastar do poder líderes políticos que ganhavam eleições e colocar no poder a turma do liberalismo.
Para mudar isso, para recompor uma sociedade minimamente civilizada, para recuperar direitos e reconstruir a democracia, vai levar tempo.
Para os brasileiros terem de novo um governo que deixa de economizar em gastos com os brasileiros e passar a economizar em gastos com o capital, com os banqueiros, os empresários, o agronegócio, as mineradoras, os industriais, as castas privilegiadas.


O mundo vai acabar; cientistas dizem como evitar

Outubro foi o mês mais quente da História. O capitalismo liberal está acabando com o planeta como o conhecemos, isto é, com condições para a existência da espécie humana. Antes de nos extinguirmos, extinguiremos (e já extinguimos) muitas espécies. Mas o planeta continuará, de outro jeito, com espécies que sobreviverem. A questão é só para os humanos, ou melhor, para as crianças, os jovens, os adultos, que ainda têm muito tempo pela frente, uma vez que nós, os velhos, estamos consumindo tudo enquanto vivemos e só deixaremos lixo para eles.
A questão é ser racional, mas a racionalidade é um desafio para a espécie humana, basta ver o capitão e sua gente, esse ministro da economia e suas "reformas", o Brasil dos últimos cinco anos. Afora todo o mundo ao redor, começando pelos fantásticos EUA.

As seis mudanças urgentes para conter a emergência climática, segundo 11 mil cientistas

Por Matt McGrath, repórter de meio ambiente da BBC, 6 novembro 2019

Um estudo global elaborado por cerca de 11 mil cientistas confirmou as pesquisas que apontam que o mundo está diante de uma emergência climática.

O estudo (em inglês), baseado em 40 anos de dados obtidos a partir de diferentes medições, aponta que os governos estão fracassando no combate a essa crise e que, sem mudanças profundas e duradouras, estamos diante da perspectiva de "sofrimento humano inédito".

O trabalho também aponta seis áreas em que medidas imediatas poderiam ter um grande impacto na contenção da crise.

1. Energia: A proposta do estudo é que políticos imponham altos impostos sobre a emissão de carbono, de forma a desestimular o consumo de combustíveis fósseis (como petróleo), além de eliminar os subsídios existentes para esse tipo de combustível.

Os pesquisadores defendem substituir o petróleo e o gás por energias renováveis e implementar medidas amplas de práticas de conservação, além de "deixar os estoques remanescentes de combustíveis fósseis no solo" — ou seja, deixar de explorá-los.

2. Poluentes de curta duração: Trata-se de um grupo de gases que ficam por pouco tempo na atmosfera, mas têm grande impacto no efeito estufa. São eles o metano, a fuligem e hidrofluorcabonetos, e os pesquisadores afirmam que limitar sua emissão tem o potencial de reduzir a atual tendência de aquecimento global em até 50% ao longo das próximas décadas, "além de salvar milhões de vidas e aumentar colheitas graças à redução da poluição do ar".

3. Natureza: O estudo pede mais esforços para a preservação e a restauração de ecossistemas da Terra — por exemplo, fitoplâncton, recifes de corais, florestas, savanas, mangues e pântanos contribuem "significativamente" para a absorção de CO2. "Plantas terrestes e marinhas, animais e micro-organismos têm papéis importantes no armazenamento do carbono", diz o texto.

"Devemos rapidamente impedir a perda de habitat e de biodiversidade, protegendo as florestas ainda intactas, sobretudo aquelas com alta taxa de absorção de carbono, (...) e ao mesmo tempo aumentar o reflorestamento em grande escala. Embora a terra disponível esteja se limitando em alguns lugares (por causa das mudanças climáticas), um terço da redução de emissões necessária até 2030 para o (cumprimento do) Acordo de Paris pode ser obtido com essas soluções naturais."

4. Comida: O estudo argumenta que uma alimentação mais à base de frutas, vegetais, grãos e oleaginosas e menos voltada para a proteína animal, particularmente gado ruminante, "pode melhorar a saúde humana e reduzir significativamente as emissões de gases do efeito estufa", diz o texto, agregando que práticas mais eficientes de cultivo e colheita e redução da "enorme quantidade de desperdício de comida" também são vitais.

5. Economia: Para os cientistas, a extração extensiva de matérias-primas e a exploração em excesso dos ecossistemas, na busca pelo crescimento econômico, devem ser "rapidamente contidas para a manutenção de longo prazo da nossa biosfera".

"Precisamos de uma economia livre de carbono e políticas públicas que guiem decisões econômicas nesse sentido", argumenta o estudo. "Nossa meta deve mudar de crescimento do PIB para a sustentabilidade de ecossistemas e a melhora do bem-estar humano, priorizando necessidades básicas e reduzindo a desigualdade."

6. População: O estudo aponta que a população humana na Terra aumenta em mais de 200 mil pessoas por dia e defende que isso seja estabilizado (e depois reduzido) "com parâmetros que garantam a integridade social".

"Há práticas comprovadas e eficientes que fortalecem os direitos humanos ao mesmo tempo em que reduzem taxas de fertilidade e reduzem os impactos do crescimento populacional nas emissões de gases-estufa e na perda de biodiversidade", prossegue o texto. "Essas políticas tornam o planejamento familiar disponível a todas as pessoas, removem barreiras a seu acesso e alcançam a plena igualdade de gênero, incluindo a educação primária e secundária como norma geral, sobretudo para meninas e jovens mulheres."

'Obrigação moral'

Os cientistas que endossam o estudo afirmam ter "uma obrigação moral de claramente advertir a humanidade sobre ameaças catastróficas e falar as coisas da forma como elas são".

"Temos altas emissões, temperaturas crescentes, sabemos disso há 40 anos e não agimos — não é necessário ser um gênio para saber que temos um problema", diz à BBC um dos principais autores da pesquisa, Thomas Newsome, da Universidade de Sydney.

Divulgado no mesmo dia, 6 de novembro, em que dados de satélite apontam que o mês de outubro foi o mais quente já registrado, o estudo afirma que apenas medir as temperaturas da superfície terrestre é um modo inadequado em evidenciar os perigos reais de um mundo em processo de aquecimento.

Por isso, os autores listaram diversos dados que mostram, nos últimos 40 anos, o crescimento das populações humana e animal, a produção per capita de carne (que é altamente poluente) e o consumo de combustíveis fósseis.

Houve, ao mesmo tempo, avanços em outras áreas. Por exemplo, a energia renovável cresceu significativamente, embora ainda tenha fatia muito menor que o uso de combustíveis fósseis.

Mas, somando tudo, os pesquisadores dizem que estamos indo na direção errada e intensificando a emergência climática.

"Uma emergência significa que se não agirmos ou respondermos aos impactos das mudanças climáticas e reduzirmos as emissões de carbono, a produção de gado, o desmatamento e o consumo de combustíveis fósseis, os impactos provavelmente serão mais severos dos que os que já vivemos atá agora", prossegue Newsome.

"Isso pode fazer com áreas da Terra se tornem inabitáveis para humanos."

Os cientistas signatários se dizem, também, frustrados pelo fato de que múltiplas conferências e assembleias climáticas tenham tido poucos efeitos práticos. Mas destacam que "fomos encorajados por uma recente onda global de preocupação com o clima — governos adotando novas políticas, crianças realizando greves, processos judiciais avançando, e movimentos cidadãos demandando mudanças".

(Publicado pela BBC Brasil.)

sábado, 2 de novembro de 2019

Você sabia que câncer tem cura? Uma história do capital

No dia dos mortos, uma história de assassinos.
Câncer tem cura mas custa caro, porque o laboratório não quer a cura, quer o lucro. Uma história do capital. O capital lucra produzindo a doença, vendendo agrotóxicos e alimentos contaminados, e ganha vendendo remédios, equipamentos, hospitais etc. Ainda mais no capital do século XXI, em que não existem mais empresas concorrentes, diferentes, e sim o simples capital, investidor, que está em todas as empresas, anônimo, nas mãos de pouquíssimas pessoas, em processo acelerado de concentração. Então é assim: câncer é um mercado de produtos muito lucrativos, pra que acabar com ele?

“Seria melhor que meu remédio contra o câncer fosse mais barato”

As descobertas do Prêmio Nobel de Medicina de 2018 levaram a um tratamento revolucionário que é vendido por mais de 100.000 euros por paciente

Manuel Ansede, El País Brasil

https://brasil.elpais.com/resizer/NzcVxdSTNvvBJU75WuN2R0Whoz8=/1500x0/smart/arc-anglerfish-eu-central-1-prod-prisa.s3.amazonaws.com/public/PLE6TKDR7LJALLUWEKHEAWGGNU.jpg
O cientista japonês Tasuku Honjo, pai da imunoterapia, em Madri.

O pesquisador Tasuku Honjo não sabe quantas pessoas lhe devem a vida. Talvez centenas de milhares? “Possivelmente”, responde. Honjo, nascido na cidade japonesa de Kyoto há 77 anos, ganhou o Prêmio Nobel de Medicina de 2018 pela descoberta de um revolucionário tratamento contra o câncer: a imunoterapia. Um dos primeiros casos de sucesso está gravado em sua mente, o de uma mulher de 60 anos com câncer de ovário. Depois de um ano de tratamento, estava curada.

Em 1992 Honjo identificou uma proteína, a PD-1, que atua como um freio das defesas do organismo. Ao soltar essas rédeas, por meio de um medicamento chamado Nivolumabe, o próprio sistema imunológico ataca com sanha as células tumorais. A estratégia –eficaz em cerca de 25% dos pacientes– foi aprovada em 2014 para alguns tipos de câncer de pele, de pulmão, de rim e de fígado. E as indicações não param de crescer. Existem 2.000 testes clínicos em andamento. As vendas de Nivolumabe ultrapassam os 4,3 bilhões de euros (cerca de 19,2 bilhões de reais) anuais.

O cientista japonês, de passagem por Madri para receber um prêmio da Fundação Fernández-Cruz, se sente enganado. Em 2003 Honjo patenteou seus primeiros resultados junto à farmacêutica japonesa Ono Pharmaceutical, empresa que acabou assinando um acordo com a gigante norte-americana Bristol-Myers Squibb para produzir o Nivolumabe, sob o nome comercial de Opdivo. Um tratamento para uma pessoa pode custar entre 50.000 e 100.000 euros por ano, dependendo do país. Honjo, da Universidade de Kyoto, recebe menos de 1% a título de direitos autorais. Ele quer mais, diz, para doar.

Pergunta. O senhor é otimista. Acredita que chegará o dia em que ninguém morrerá de câncer?

Resposta. Acredito que o câncer poderá ser uma doença crônica algum dia. Você não pode dizer que ninguém morrerá de câncer, porque inclusive hoje ainda temos pessoas morrendo de doenças infecciosas, mas acredito que o câncer não ameaçará nossas vidas.

    “Você não pode dizer que ninguém morrerá de câncer, mas acredito que não ameaçará nossas vidas”

P. Na conferência do Nobel o senhor disse que o câncer poderia ser uma doença crônica em 2050.

R. É uma esperança, não tenho garantias, é claro.

P. O que o senhor acha do preço do Opdivo [o medicamento pioneiro em imunoterapia, desenvolvido graças às descobertas de Tasuku Honjo]? Em alguns países ultrapassa os 50.000 euros por paciente.

R. Nós, cientistas, não participamos da determinação do preço dos medicamentos. Depende de cada país, de seu modelo de Estado de bem-estar, então não posso fazer comentários. Obviamente, seria melhor que fosse mais barato, para que todo mundo pudesse se beneficiar. Sempre acontece o mesmo problema com qualquer medicamento. Até a penicilina, quando chegou ao mercado, era muito cara. E depois ficou acessível para qualquer um.

Clique aqui para ler a íntegra no El País.



Comerciais dos anos 60

Uma aula de sociologia, de economia, de psicologia, de filosofia, de história. Para quem sabe ver. E até um choque capaz de fazer ver. Não vemos só com os olhos, vemos com a mente, que é educada para selecionar e interpretações informações desde que nascemos. Quando vimos esses comerciais, quem era criança na época, viu de uma forma; agora vê de outra, porque o que era normal, não é mais. E então a publicidade contém muito mais informações do que um livro de sociologia etc.