domingo, 29 de junho de 2014

Por que os roqueiros dos anos 80 viraram reacionários?

Não é privilégio de geração. Caetano, por exemplo, enquanto fazia uma revolução estética praguejou contra os estudantes de 68, demonstrando que ele também não entendia nada do que estava acontecendo.
É muito comum que artistas sejam reacionários quando se metem em política. Vale quase como uma regra: se um artista pensa isso, vou pensar o contrário.

Do DCM. 
O que aconteceu com os roqueiros dos anos 80? Leoni, o único que não virou reaça, fala ao DCM 
por Pedro Zambarda de Araújo

O carioca Carlos Leoni Rodrigues Siqueira Júnior, conhecido somente como Leoni, tem uma carreira dedicada ao pop rock. Fundou e foi baixista e compositor do Kid Abelha entre 1981 e 1986, período em que a banda tornou-se um fenômeno, colecionando discos de ouro. É autor de todos os principais hits (Seu Espião, Como Eu Quero, Pintura Íntima, Fixação, entre outras).
Saiu depois de um desentendimento. Fundou a banda Heróis da Resistência e, desde 1993, está em carreira solo. Tem parcerias com Cazuza (“Exagerado”), Herbert Vianna, Léo Jaime, Roberto Frejat, entre outros.
Aos 53 anos, Leoni é uma exceção, uma mosca branca, entre a imensa maioria de seus colegas de geração: uma “pessoa de esquerda”, como ele se define.
Roger, do Ultraje a Rigor, e Lobão são macartistas. Dinho Ouro Preto, do Capital Inicial, não fala coisa com coisa, especialmente em política. João Barone, baterista dos Paralamas do Sucesso, repete clichês sobre "corrupção" sem parar — sempre contra o PT, naturalmente. Tony Belloto, guitarrista do que restou dos Titãs, é autor de frases originais como “é uma merda pensar como o Brasil há 30 anos ou patina, ou piora". A lista é longa.
"Na época da ditadura, tínhamos um inimigo comum. Quando acabou, percebemos o que cada um pensava", diz Leoni. Ele conversou com o DCM sobre música, política, seus companheiros dos anos 80 e o que Renato Russo e Cazuza estariam pensando dessa salada.
A íntegra.

sábado, 28 de junho de 2014

Legado da Copa: organização do Estado

O governo federal liderou ações em todas as áreas envolvidas na organização da Copa, da polícia às crianças e adolescentes, da saúde ao turismo. Estados e municípios, incompetentes e dirigidos por partidos de oposição, tiveram de rebolar para dar conta das tarefas. Não se pode dizer que tenham tido sucesso absoluto, mas foram obrigados a agir de forma republicana, colocando interesses públicos acima dos interesses pessoais e políticos, possibilitando diálogo entre setores dispersos, equipando setores. Isso certamente foi um ganho para o País, mas conhecemos pouco do assunto, porque a "grande" imprensa -- que apostou no fracasso da Copa -- o ignorou.
PS: A Copa melhorou até a "grande" imprensa, obrigada a dar uma trégua na perseguição ao governo federal; a Globo fez matéria ridícula reconhecendo que as críticas não correspondiam à realidade.

Do jornal GGN.
Pesquisador da UFRJ diz que legado da Copa é estrutural
Pesquisador da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), o professor Marcos Dantas foi entrevistado pela revista mexicana Zócalo sobre vários aspectos da Copa do Mundo de 2014, em especial na lida com aspectos políticos – como as manifestações – e do ponto de vista gerencial.
Para Dantas, a organização da Copa mostrou que as falhas que houveram na preparação, embora não tenham comprometido o bom andamento do mundial, estavam muito mais relacionadas aos Estados e municípios que em relação ao governo federal.
"É deles (Estados e municípios) a responsabilidade maior pela contratação e execução das obras de mobilidade urbana, assim como pela segurança pública. Por problemas políticos e de gestão, melhor dizendo, falta de competência, não conseguiram fazer as obras a tempo e até cancelaram alguns projetos importantes. Os estados e municípios estavam desaparelhados para realizar as obras que lhe foram exigidas. Não raro faltam tanto burocracia pública, quanto empresa privada de engenharia com capacidade suficiente para sequer elaborar bons projetos", avalia.
Por outro lado, o pesquisador destaca o que acredita ser o verdadeiro legado da Copa: o fator organização entre as esferas, que devem permanecer em função do andamento de obras importantes que, apesar de não terem sido concluídas para a Copa, serão finalizadas. Dantas avalia o resultado do esforço conjunto como "fundamental para a reconstrução do Estado brasileiro". Confira a seguir, na íntegra, a entrevista do pesquisador à revista mexicana, concedida quatro dias antes da abertura do mundial, quando ainda pairavam incertezas em relação à segurança do evento.
A íntegra.

Copa: imprensa estrangeira desmente "grande" imprensa brasileira

Da Rede Brasil Atual.
Perda de credibilidade e de negócios: Globo é a grande derrotada da Copa 
Era para ser uma janela de oportunidades para as empresas de mídia, mas a visão estreita e o partidarismo que assumiram se voltaram contra elas mesmas
por Helena Sthephanowit

Com a chegada da Copa, cerca de 19 mil profissionais de mídia de diversos países do mundo desembarcaram no Brasil. Por si só, esse número já mostra o fracasso da imprensa tradicional brasileira. Quase ninguém quis comprar suas reportagens e matérias por falta de confiança na narrativa. Todos quiseram ver com seus próprios olhos, fazendo suas próprias reportagens, tanto esportivas como sobre outros acontecimentos.
E o que aconteceu é que essa multidão de jornalistas estrangeiros passou a produzir matérias de todos os tipos com uma visão positiva, sem deixarem de ser realistas, sobre o Brasil – e suas narrativas foram muito diferentes do que havia sido propagado até antes da Copa.
A íntegra.

Amazônia, um filme

quinta-feira, 26 de junho de 2014

STF deixou de ser tribunal de exceção?

Da RBA  
STF revê tratamento desigual a condenados e corrige retrocesso em sistema prisional
Tribunal autoriza trabalho de Dirceu. E nega ida de Genoino para casa. Barroso defende equilíbrio em relação a presos em situação similar, e lembra que ex-deputado terá direito a regime aberto, em agosto 
Por Hylda Cavalcanti

Brasília – O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Joaquim Barbosa, não saiu ainda do cargo – o que acontece só nos próximos dias –, mas a opinião geral de advogados, magistrados e políticos que acompanharam a sessão desta quarta-feira (25) é de que o tribunal já mudou. Na sessão, que julgou os recursos apresentados pelo ex-deputado José Genoino e pelo ex-ministro José Dirceu, o colegiado, sem embates nem manifestações acaloradas, acatou os votos do relator, ministro Luiz Barroso, numa decisão que, em relação a Genoino surpreendeu muita gente, mas ao mesmo tempo não deixou de satisfazer a defesa dos dois réus.
No caso de Genoino, o relator negou o pedido para reversão do seu regime prisional de semiaberto para domiciliar. Indo na contramão do que muitos esperavam, o ministro disse que outros presos com quadro de saúde semelhante ao do ex-deputado passam por esse tipo de situação. Motivo pelo qual, segundo ele, acatar o agravo de instrumento interposto pela defesa do réu poderia reforçar o que se costuma afirmar popularmente: que a lei é desigual.
Por outro lado, o ministro praticamente garantiu a ida de Genoino para casa a partir do dia 24 de agosto, quando o ex-deputado completa o período de cumprimento de 1/6 da pena ao qual foi sentenciado. Disse que diante das suas condições de saúde, se compromete a analisar com celeridade a progressão de regime prisional – à qual todo preso tem direito, a partir do cumprimento deste período. Saindo do semiaberto, Genoino terá direito ao sistema aberto.
“Em outras palavras, ele descobriu com uma mão e cobriu com a outra. Seu relatório-voto foi redigido dentro de um contexto que não levasse ao entendimento de justiça desequilibrada. Jogou para a plateia, mas foi muito inteligente na relatoria”, avaliou o advogado Olavo Araújo, que acompanhou a sessão.
Em relação a José Dirceu, Barroso acatou o recurso da defesa, autorizando o ex-ministro a trabalhar, mas não sem antes traçar várias ponderações sobre a questão da autorização de trabalho para presos. Ele lembrou decisões do Superior Tribunal de Justiça (STJ) desde 1999, que criaram jurisprudência no sentido de que não é necessário o cumprimento de 1/6 da pena para tal tipo de autorização. E fez questão de enfatizar: "penso diferente do antigo relator", numa referência direta a Joaquim Barbosa.
A íntegra.

A Copa com ingressos mais baratos

Desconhecemos fatos sobre a Copa, porque a "grande" imprensa, transformada em partido da oposição, não cumpriu sua função de informar, deturpou o noticiário para prejudicar o governo federal e beneficiar seus aliados.

Do Blog do Planalto. 
Quebrando Mitos: 
Com ingressos de R$ 30, Copa no Brasil tem entradas mais baratas da história
Teve gente dizendo por aí que apenas ricos poderiam ir aos estádios para assistir à Copa do Mundo devido ao custo do ingresso, muito caro ao bolso da população brasileira. Mas o Mundial no Brasil tem as entradas mais baratas dos últimos tempos.
A categoria 4 conta com 400 mil ingressos vendidos exclusivamente para os cidadãos do país. É nela também em que estão os valores mais acessíveis, podendo chegar a R$ 30 a meia-entrada para estudantes, idosos e beneficiários do Bolsa Família. Em comparação, os bilhetes mais baratos vendidos durante a Copa na Alemanha (2006) custavam o equivalente a R$ 101,00, enquanto na Coreia e Japão (2002) não saía por menos de R$ 154,00.
"Nunca tivemos um preço como esse em todas as Copas do Mundo", disse o diretor de Marketing da FIFA, Thierry Weil. Ele acrescentou que a prática de descontos só foi realizada duas vezes nos mundiais de futebol da FIFA. "É a segunda vez que temos ingressos com desconto. A primeira foi na Copa do Brasil em 1950 e a segunda é agora. Temos que dizer que o governo brasileiro é ótimo negociador", acrescentou.
E não é só por isso que a Copa no Brasil é considerada a Copa da inclusão social. Pela primeira na história do torneio, um governo distribuiu 100 mil ingressos gratuitos à população. Metade deles foi destinada aos trabalhadores que participaram das obras nas arenas, a outra parte foi entregue a alunos de escolas públicas e aos povos indígenas.
Para completar, essa é também a Copa da sustentabilidade: 840 catadores de materiais recicláveis receberam capacitação para realizar a coleta seletiva nos estádios, aeroportos e área com grande concentração de pessoas. Além disso, o BNDES financiou R$ 5 milhões para projetos de gestão do lixo nas 12 cidades-sede.

domingo, 22 de junho de 2014

O decreto de participação social

O governo PT-PMDB é de centro esquerda, o que significa que faz coisas de esquerda também. Esta é uma delas. Ou não?

Do Vermelho.
Por que o Decreto da Participação Social fez tremer o Congresso?
Queria eu que o Decreto Nº 8.243, de 23 de maio de 2014, que institui a Política Nacional de Participação Social, tivesse a força de mexer com nossa democracia como andam alardeando por aí.
Por Nathalie Beghin*

Fiquei perplexa ontem quando vi os depoimentos dos nossos nobres parlamentares, indignados com os marcos legais que eles e seus antecessores aprovaram. O que será que aconteceu? Deu tilt? Aplicaram o lema um dia proferido por um dos nossos presidentes da República: "esqueçam tudo que escrevi?"
Acho que nem Freud explica a reação patética de vários dos nossos congressistas. Com todo respeito à equipe séria e comprometida do Ministro Gilberto Carvalho, o Decreto em questão apenas organiza um conjunto de instrumentos existentes, sendo muitos deles resultado de leis aprovadas por nossos "indignados" parlamentares. É um decreto, pois trata-se de instrumento de gestão do Executivo para executar as normas vigentes de uma maneira mais coordenada e articulada. Trata-se simplesmente de -- ao desenhar, implementar e executar políticas públicas -- levar em conta opiniões de diversos atores da sociedade, por meio de uma miríade de instrumentos como consultas públicas, ouvidorias, 0800, conselhos, conferências, diálogos sociais, entre outros.
A íntegra.

Baby boom pós Copa?

Quando esteve na Suécia, na Copa de 1958, Garrincha deixou lá um herdeiro. Terá o Brasil uma geração de herdeiros do intercâmbio cultural na Copa 2014?

Do Zero Hora, via DCM.
As gaúchas e os estrangeiros que estão em Porto Alegre na Copa: o relato de uma jornalista do Zero Hora FêCris Vasconcellos

Enquanto via a invasão laranja na Borges de Medeiros sentada aqui na redação, fui sendo também eu invadida por uma absurda vontade de ver o mundo lá fora. Logo que tive a oportunidade, fui percorrer as ruas junto com gringos de todas as querências para sentir na pele a vibração daqueles sorrisos e gritos de torcida.
O que se via na rua era um choque de universos um tanto diferentes: de um lado, jovens estrangeiros maravilhados com o tão famoso charme da mulher gaúcha; de outro, garotas encantadas com tanta novidade e tanto homem – vamos combinar e o IBGE comprova, artigo de baixo estoque no mercado do Rio Grande do Sul.
Era bonito ver o intercâmbio: os holandeses com suas extravagâncias; os australianos com sua simpatia e os brasileiros com sua vibração. Ora, senhoras e senhores, ao juntar tanta gente embriagada de alegria e cerveja, é claro que a mistura passa do químico para o físico rapidinho. Como nos comportamos no flerte é um reflexo de como nos comportamos na vida e, portanto, há sim muita troca cultural na troca de fluídos.
A íntegra.

O sucesso da Copa

Até o dia 12 de junho, o governo federal era culpado de tudo que havia de errado com a Copa. Agora que a Copa se tornou um sucesso, muitos se esforçam para nos convencer de que ele acontece "apesar do governo".

sábado, 21 de junho de 2014

Ponte: novo jornalismo na internet

História das ciclovias holandesas

Uma das coisas sensacionais que a internet possibilita. O questionário no final é tão singelo quanto revelador e contundente.

O melhor da Copa: o Erramos da Folha

Não é possível compartilhar, mas pode-se ler neste link.
É de matar de rir.
Imagino um outro Erramos para a Folha:
"Diferentemente do que foi publicado no saite da Folha e no jornal impresso nos últimos doze anos, nossos repórteres não falaram com as fontes citadas nem retrataram os fatos conforme aconteceram. Quem falou aos jornalistas foram fontes da oposição de quem nos tornamos porta-voz.
O "mensalão" não aconteceu; o que houve foi caixa 2, praticado por quase todos os políticos brasileiros, e muito menos grave do que a compra de deputados para aprovar a emenda da reeleição que beneficiou o ex-presidente tucano FHC.
As falsas informações publicadas aqui também foram publicadas no jornal O Globo, que faz parte da imprensa de oposição ao atual governo federal.
Pedimos desculpas aos "mensaleiros", ao povo brasileiro e aos leitores pela confusão."
Uma análise importante sobre o episódio pode ser lida neste link.

O cara do falso Felipão e a desmoralização da "grande" imprensa brasileira

É isso aí.
O episódio revela o nível da "grande" imprensa atual. Pode-se confiar tanto na cobertura do "mensalão" ou do "escândalo da Petrobrás" quanto nessa entrevista com o "Felipão".
Como lembra Paulo Nogueira, a degeneração da "grande" imprensa começou na Veja, na virada dos anos 80 para os 90, e o chefe era esse mesmo.
Simbólico.
Em tempo: o atual chefe da revista é aquele repórter que um dia publicou o "furo" do boimate, uma revolução científica que uniu genes do boi e do tomate...

Do Diário do Centro do Mundo.
O verdadeiro pecado de Mário Sérgio Conti 
Paulo Nogueira

A entrevista com o falso Felipão entra na crônica do jornalismo brasileiro como uma das maiores besteiras já cometidas.
A pergunta que emerge para o autor, Mario Sergio Conti, é a seguinte: em que planeta ele vive?
Mas é algo no terreno da anedota.
Conti tem razão quando diz que ninguém morreu por conta do erro, e nem a bolsa se movimentou, ou coisas do gênero.
Conti, é verdade, vai passar para a história como aquele jornalista do Felipão.
Mas seu real pecado, na carreira, é algo muito mais sério.
Conti, como diretor de redação da Veja, comandou uma das coberturas mais abjetas e mais canalhas do jornalismo nacional: a que levou ao impedimento de Collor.
Ali a Veja mostrou, sem que ninguém percebesse, o que faria depois: o abandono completo do compromisso com os fatos na sede de derrubar inimigos.
É uma opinião que tenho desde sempre, e a compartilhei várias vezes com jornalistas da Abril nos anos em que trabalhei lá – durante e depois  do crime jornalístico feito pela Veja.
A Veja se baseou, essencialmente, em declarações. Mais que tudo, o depoimento envenenado e raivoso de Pedro Collor foi vital no material jornalístico que a revista produziu naqueles dias.
Nasceu da vingança de Pedro a célebre capa cujo título era: "Pedro Collor conta tudo".
Meu ponto, desde o início, era o seguinte. Imagine que o irmão do presidente dos Estados Unidos batesse na porta do diretor de redação da revista Time e dissesse que tinha coisas hirríveis para contar.
A Time publicaria?
Jamais. Antes, caso achasse ali coisas críveis, investigaria profundamente as acusações. Só publicaria com provas, primeiro porque de outra forma sua imagem jornalística ficaria arranhada. Depois porque a Justiça americana, ao contrário da brasileira, não aceita blablablás como evidências.
A íntegra.

Copa da repressão: a prisão arbitrária de artistas em Belo Horizonte

Não é de hoje que a polícia prende os bandidos errados.
Um adolescente levou um tiro.
Será que se algum bandido de verdade ameaçar a segurança da cidade, a polícia será tão eficiente quanto foi para prender jovens artistas?
A PM se preparou para a Copa, montou um aparato imenso, com o objetivo de intimidar. Sua avaliação é que as manifestações seriam menores e mais violentas. A parte do tamanho está se confirmando, a parte da violência, não.
Prisões arbitrárias, como as da repórter da Mídia Ninja e dos artistas do Espaço Luiz Estrela, mostram que na hora de agir, a polícia continua atuando como a polícia formada na ditadura, em vez de polícia da democracia.
Cobrir manifestações populares não é crime. Fazer espetáculo artístico contra a Copa, também não.

Prisão de artistas
Do jornal O Tempo
Quatro artistas do Espaço Luiz Estrela são presos no centro de BH
Natália Oliveira e Gustavo Lameira

Quatro artistas que participam do Espaço Comum Luiz Estrela, no bairro Santa Efigênia, na região Centro-Sul de Belo Horizonte, foram detidos na tarde desta segunda-feira (16/6/14) na avenida dos Andradas, no centro da capital. Segundo o advogado Joviano Mayer, que acompanha os detidos, os artistas foram presos porque estavam com materiais como arame, tinta e madeira, que seriam utilizados em uma performance no Espaço Cultural 104, próximo à praça da Estação.
"Não estou entendendo por que os militares prenderam eles. Não é errado portar esses materiais", considerou Mayer. "Acho que está tendo uma histeria por parte da polícia. O material seria utilizado unicamente para um trabalho artístico. Essa prisão é desnecessária", completou.
A íntegra.

quarta-feira, 18 de junho de 2014

O desabafo do Trajano viralizou

Do Diário do Centro do Mundo.
O desabafo de Trajano
Paulo Nogueira

E eis que José Trajano, da ESPN Brasil, viralizou.
Um vídeo em que ele cita quatro colunistas que instigam ódio circula freneticamente pela internet nestes dias.
Ele enxergou, com razão, uma relação espiritual entre os que xingaram Dilma no estádio e os colunistas que mencionou.
Trajano falou de Demétrio Magnolli, Augusto Nunes, Mainardi e Reinaldo Azevedo, mas poderia falar de muitos outros.
Outro dia li uma expressão do Nobel de Economia Paul Krugman e pensei exatamente no tipo de jornalista da pequena lista de Trajano.
A íntegra.

sábado, 14 de junho de 2014

Exoesqueleto na abertura da Copa: um segundo

Fifa e Globo reduzem acontecimento científico histórico a um segundo.
Aqui, matéria do jornal GGN sobre o assunto.

Manifestações de quinta-feira, 12/6/14: vídeos

Vídeos interessantes sobre as manifestações de quinta-feira.
O primeiro, em Belo Horizonte, é a denúncia mais grave contra a PM mineira até agora: a prisão arbitrária da ativista da Mídia Ninja Karinny de Magalhães, que gravou os xingamentos e as agressões dos policiais.Outro mostra discussão entre pai e filho, em SP, sobre a participação nos protestos.
Uma reportagem da TV Alterosa registra muitas cenas do protesto em Belo Horizonte e mostra também por que manifestantes atacam veículos da "grande" imprensa: a apresentadora do telejornal reclama que a polícia não agiu contra os "vândalos".

sexta-feira, 13 de junho de 2014

Concurso da Copasa é usado para propaganda política

Enquanto Aécio persegue jornalistas e professora universitária.
Por que há tanta hostilidade contra a Copa? Basta pensar em como ela seria, caso o governo federal fosse tucano. Estaríamos todos esses anos recebendo propaganda favorável, em vez de propaganda desfavorável. Como faz esse concurso da Copasa.

Do MSN Estadão, 12/6/14.
Concurso de estatal mineira cita escândalos do PT
Além de ter "mensalão" e CPI da Petrobrás explorados nas questões, teste aplicado no Estado fala em 'ataque violento de Dilma a Aécio'
Por Marcelo Portela 

Belo Horizonte - Uma prova aplicada no domingo passado durante concurso da Companhia de Saneamento de Minas Gerais (Copasa) continha questões sobre a eleição presidencial, o "mensalão" e a CPI da Petrobrás. No exame para quatro cargos de agente e operador da estatal mineira, uma das opções de resposta sobre o Volta, Lula citava "o ataque violento de Dilma ao seu adversário mais próximo - Aécio Neves".
Ao todo, 42 mil pessoas fizeram inscrições para o processo seletivo da Copasa, realizado inicialmente em 18 de maio, mas anulado porque foi constatado que não havia número suficiente de exames para todos os inscritos. O concurso de domingo foi realizado em 37 cidades do Estado.
A questão 32 da prova para os cargos de operador de serviços de saneamento, leiturista, auxiliar de serviço de saneamento e operador de estação de tratamento de água e de estação de tratamento de esgoto, perguntava sobre "a estratégia para acabar com a intensa movimentação pelo Volta Lula nas últimas semanas de maio".
Entre as respostas, os candidatos podiam escolher "o ataque violento de Dilma ao seu adversário mais próximo - Aécio Neves - levando a um aumento dos índices da presidente nas pesquisas eleitorais". Pelo gabarito oficial, a resposta correta é "a dobradinha Lula-Dilma para fortalecer a candidatura da presidente e afastar de vez o coro pela volta do ex-presidente como candidato no lugar de Dilma". Já a questão 34 aborda a "razão" da criação da CPI da Petrobrás - sem especificar se abordava a comissão mista ou a criada no Senado. A resposta correta é "a compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos, no governo Lula".
A questão 37 trata do julgamento do "mensalão", aparentemente com uma incorreção: "De acordo com as decisões jurídicas no caso da PEC 37, podemos classificar como núcleo financeiro do mensalão", questiona. Além das opções "governo brasileiro" e "BNDES", também havia opção do Banco HSBC e do Banco Rural - a correta, conforme o gabarito oficial.
A Proposta de Emenda Constitucional 37 proibia o Ministério Público de fazer investigações, que seriam restritas às polícias Civil e Federal, mas o texto foi rejeitado pelo Congresso. Já o "mensalão" foi tratado na ação penal 470, que tramitou no Supremo Tribunal Federal.
A íntegra.

A elite mal-educada no Itaquerão

quinta-feira, 12 de junho de 2014

Livro de Ouro de uma escola democrática e inclusiva

Da Coopen-BH .  
Você já assinou um Livro de Ouro? 
Que tal assinar o Livro de Ouro da Espaço Escola / CoopenBH?
A Coopen BH é uma cooperativa de pais, sem fins lucrativos.
E ela tem uma boa causa: a manutenção de uma escola democrática, aberta a viver/conflitar/relacionar com as diferenças.
Uma escola comprometida com o coletivo e com a socialização do conhecimento!
Esta é uma opção pedagógica que nos desafia, inclusive, em seu financiamento.
Nós, pais cooperados, estamos promovendo esta ação porque queremos que nossa escola prospere e tenha condições de investir cada vez mais na formação de crianças e jovens comprometidos com o coletivo.
Junte-se a nós! Conheça nossa escola e assine o nosso Livro de Ouro no link abaixo:
http://espacoescola.com.br/livro-ouro.php

sábado, 7 de junho de 2014

Os lados opostos da Copa

O repórter da emissora estrangeira vê o óbvio: uns ganham, outros perdem na Copa, tem um lado bom e um lado ruim.
Quem ganha e o que ganhamos é a questão. Pra mim, está longe de ser o que quero ganhar.
E quem perde são os de sempre, os pobres.
A Copa é uma furada porque entrou no modelo neoliberal desenvolvimentista.
É, o governo petista conseguiu juntar essas duas coisas, e as obras, ações e propaganda da Copa são o melhor exemplo disso.
O grande tiro no pé do PT.

Da BBC Mundo, Rio de Janeiro.
Copa 'muda a vida' de cariocas para melhor e para pior 
Gerardo Lissardy 

Certa noite, em maio, Maria de Lourdes Soares perdeu o pouco que tinha para ganhar a vida quando a fiscalização apreendeu sua barraca de vender cocos e biscoitos na praia do Flamengo.Esse contrato elevou seu faturamento em 30% e lhe garantirá uma renda mensal suficiente para dois anos - um trampolim para novos horizontes.
"Com a Copa vão chegar muitos turistas, muitos gringos. Eles não querem ver as barracas, querem ver as coisas lindas", se queixa a vendedora.
"O problema dos políticos e governantes é não querer mostrar para fora a pobreza do Rio".
Naquela mesma noite, José Luis Monteiro voltava de avião de São Paulo, onde tinha ido compartilhar com outros empreendedores seus segredos para ganhar dinheiro com o torneio.
Dono de uma pequena empresa de cimento pré-moldado, ele obteve o contrato para quatro grandes rampas e um anel ao redor do Maracanã, estádio que receberá sete partidas da Copa, incluindo a final. "Essa obra gerou meu primeiro milhão", disse o empresário, de 53 anos.
A íntegra.

sexta-feira, 6 de junho de 2014

Aécio visto de Londres

O atraso disfarçado de modernidade.
O provincianismo mineiro, a manipulação da imprensa e o oportunismo paulista etc. levaram o senador à condição de (pré-)candidato a presidente da República. Isso revela mais sobre a situação lamentável da oposição ao governo petista do que sobre o próprio candidato. Que tem pouco a dizer, além de fórmulas passadas por marqueteiros. Afinal, como dizem seus amigos, não os inimigos, ele é despreparado e não lê... Por isso a opinião de quem vive na Inglaterra e vê o Brasil de longe pode ser luminosa.

Do DCM.
A política e a economia de Aécio 
Paulo Nogueira

Me pedem que analise as propostas de Aécio em si tal como formuladas no Roda Viva.
Ao trabalho.
Mais que tudo, Aécio me pareceu tomado por idéias atrasadas em algumas décadas. Essencialmente, ele repete clichês do thatcherismo num momento em que nem os conservadores ingleses se atrevem a fazer isso.
"Medidas impopulares" é a expressão acabada do thatcherismo – a doutrina consagrada por Margareth Thatcher nos anos 1980.
Significa você favorecer o 1% em detrimento dos 99%. Armínio Fraga, o guru de Aécio na economia, é um thatcherista fanático.
Não surpreende que, recentemente, ele tenha dito que o salário mínimo cresceu demais nos anos do PT no poder.
Sabe-se hoje, com a distância de 30 anos no tempo, que a política econômica inspirada em Thatcher – e seguida por FHC em seus dois mandatos – leva a uma brutal concentração de renda.
O livro sensação dos homens públicos e economistas de todo o mundo hoje, O Capital no Século 21, do francês Thomas Piketty, trata exatamente disso.
Ora, o principal problema do Brasil é exatamente a desigualdade de renda. E Aécio vem com uma palataforma que não apenas ignora o problema como, se aplicada, o aprodunda.
É um caso de notável miopia e descolamento da realidade.
A íntegra.

Copa e exportações: e daí?

Gosto da Agência Brasil, porque ela é, juntamente com toda a EBC, a melhor prova de que, ao contrário do que os governos tucanos em Minas e São Paulo fazem com as emissoras de televisão e rádio públicas, o governo do PT não controla o noticiário federal. Notícias negativas para o governo saem a todo momento na EBC; nas emissoras públicas mineiras isso nunca acontece. Aliás, nem na imprensa privada mineira.
A Agência Brasil é hoje o que décadas atrás era a grande imprensa, que agora se tornou uma coisa partidária e sensacionalista. Mas a própria Agência Brasil acompanha muitas vezes a tendência da "grande" imprensa, como na notícia abaixo.
Fico pensando se é vontade de mostrar independência ou se é obra de tucano infiltrado na comunicação federal. Quem é do ramo sabe como se produz uma notícia, como se edita; as mesmas informações podem ser negativas ou positivas, conforme a redação e a edição. Neste caso, há duas fontes principais e duas abordagens, uma positiva, outra negativa, se puxar por uma, a notícia é positiva, se puxar por outra, é negativa. O repórter ou o editor puxou pela negativa.
Mas o que me faz pensar mesmo é essa obsessão de encontrar benefícios e malefícios para as exportações na Copa. É de um provincianismo a todo prova, seja para o lado positivo, seja para o lado negativo.
É compreensível em house organ, que é como se chamava antigamente a publicação de uma empresa ou instituição, mas na imprensa para o grande público?
Vamos lá: a pauta é investigar as repercussões da Copa nas exportações brasileiras. Vale. E as fontes dizem que não há, que são poucas, que é difícil saber, que pode acontecer isso, que pode aquilo, e partem para os achismos. A exportação pode diminuir, mas não é possível medir. No ano passado, no entanto, com a Copa das Confederações, a exportação aumentou! Pouco, 1%, mas aumentou... Ou seja: não tem notícia, ou tem notícia positiva...
Mas é preciso publicar. Se pegar o lado bom, vira notícia chapa branca, então vamos puxar pelo lado ruim... E o fato de que no ano passado a exportação aumentou pouco vira notícia ruim, porque a ênfase está no pouco. E as fontes oficiais vão para o pé da matéria, enquanto o professor (neoliberal?) vai para o lide.
A questão é: o que a Copa tem a ver com exportações brasileiras? Se ela tem consequências que não percebemos, é interessante, merece matéria, mas pra isso é preciso ir pra rua, ir a empresas, pesquisar casos, entrevistar empresários, enfim, dá trabalho. É mais fácil pegar um professor "especialista" e uma "autoridade", fazer o contraponto e ficar com o achismo de um e o achismo de outro. E disso se tira uma matéria, um título, uma conclusão, se for contra a Copa, porque está todo mundo falando mal da Copa.
Qualquer jornalista experiente sabe que os achismos são furados, porque ninguém tem realmente números, em geral são chutes.
Como eu disse, sempre é possível escolher a informação a que se vai dar ênfase, e neste caso o jornalista infiltrado ou ingênuo ou simplesmente influenciado pelo ambiente sensacionalista escolheu o lado negativo. Poderia, de forma igualmente equivocada, ter escolhido o lado positivo, e seria chamado de jornalismo chapa branca.
Como o que se produz, por exemplo, na "grande" imprensa mineira.
É isso, em grande parte, a imprensa, hoje, essa indústria de notícias inúteis e deformadas. Por isso perde leitores. Por isso também uma nova comunicação prospera na internet.

Da Agência Brasil.
Copa do Mundo deve ajudar pouco exportações brasileiras 
Wellton Máximo – Repórter; Edição: Lílian Beraldo

Apesar de atrair a atenção internacional sobre o país, a Copa do Mundo deve ajudar pouco as exportações brasileiras. Com menos dias úteis, que comprometem a produção, o torneio provocará atrasos em embarques e reduzirá as vendas externas em junho e julho.
Segundo o professor Paulo Pacheco, especialista em Comércio Exterior da faculdade Ibmec, o impacto da Copa sobre as vendas externas é temporário. A tendência é que, depois da competição, ocorra um movimento de compensação, com embarques acima do normal no início do segundo semestre.
"Como os exportadores estão amarrados por contratos, são obrigados a vender a mercadoria de qualquer maneira. Depois da Copa, as empresas vão correr atrás do prejuízo para suprir os clientes", diz o professor.
De acordo com Pacheco, apenas se os portos brasileiros parassem durante a Copa, haveria prejuízo imediato. "Não tenho informações de que nenhum porto vá parar em dias de jogos do Brasil. Talvez operem com escala reduzida, mas não podem parar porque uma paralisação significaria prejuízos para os navios e para os armazenadores, que pagariam mais taxas", explica.
Embora o impacto nos embarques seja momentâneo, o professor adverte que existe outro efeito negativo da Copa do Mundo sobre as vendas para o exterior. Por causa do número menor de dias úteis, o torneio fará a produção industrial cair neste e no próximo mês, reduzindo o excedente a ser exportado.
A íntegra.

O escândalo dos 98 mil funcionários públicos mineiros

Por que não se fala mais no assunto?

O escândalo dos 98 mil funcionários contratados ilegalmente em MG
O maior escândalo das últimas semanas não é a compra de Pasadena, um falso escândalo -- é este.
O governo de Minas -- Aécio e Anastasia -- efetivou sem concurso 98 mil servidores, em 2007.
Não são 98, nem 980 nem 9.800, são 98 mil, quase 100 mil!
Mais de um quarto dos funcionários da ativa do Estado (que são 367 mil, segundo a secretária da Educação).
Um descarado desrespeito à Constituição, tanto que a decisão do STF foi unânime, e com prejuízos gigantescos para todos, exceto, é claro, para o governador que o praticou.
A íntegra.

quinta-feira, 5 de junho de 2014

E se elas fossem para Moscou?

Do Galpão Cine Horto.
 

A ditadura desavergonhada, velada, livre e vitoriosa

Cinquenta anos depois do golpe, o Brasil é ainda, em grande parte, a nação que a ditadura forjou*

O fato mais importante da ditadura que governou o Brasil de abril de 1964 a março de 1985 foi sua eficácia. Há muitas coisas a dizer sobre a ditadura, numa revisão histórica, cinquenta anos depois do golpe, já distante dos acontecimentos da época, que podem ser vistos, agora, como fatos históricos. Em 2014 já se pode definir a ditadura sem o perigo de cometer erros decorrentes do calor dos acontecimentos; quem comete esses erros hoje o faz por motivos ideológicos, como a direita protofascista, liderada por veículos de comunicação cada vez abjetos, mas mesmo estes se veem forçados a corrigir seus discursos, como aconteceu recentemente com o jornal O Globo.
Ditadura militar?
Direi adiante porque a ditadura foi eficaz. Antes, porém, quero citar os erros que não podem mais ser cometidos. O primeiro deles é chamá-la de ditadura militar: a ditadura foi ditadura, sem adjetivo. É verdade que o golpe foi dado por militares, que todos os presidentes do período foram militares e quando houve oportunidade de um civil assumir a presidência (o vice-presidente Pedro Aleixo, na doença e morte do general Costa e Silva), ele foi substituído por uma junta militar. No entanto, a conspiração e os governos não foram exclusivamente nem principalmente militares.
A participação civil no golpe e na ditadura foi sempre evidente e fundamental. Não falo da marcha da família que mobilizou a classe média, mas dos empresários, veículos de comunicação, políticos e tecnocratas que financiaram o golpe, participaram do golpe, incentivaram o golpe, pediram o golpe. Falo dos veículos de comunicação, dos políticos, dos tecnocratas e dos empresários que financiaram, apoiaram e participaram da perseguição aos opositores do regime. Falo dos tecnocratas, dos empresários, políticos e veículos de comunicação que se beneficiaram da ditadura e participaram dos governos dos presidentes militares. Falo dos políticos, empresários, veículos de comunicação e tecnocratas que sobreviveram à ditadura e continuam participando da vida econômica, social e política brasileira, gozando de poder e sem jamais terem sido punidos pelos crimes que cometeram – crimes contra indivíduos, de abuso de poder, tortura, sequelas, morte, mutilação e sumiço de corpos, e crimes contra a sociedade, de ruptura da ordem democrática, implantação de um regime de terror e desrespeito aos direitos constitucionais.
A ditadura não foi exclusivamente militar, foi também civil, foi uma ditadura de direita, de empresários, políticos e militares de direita. Embora não tenha simpatia por organizações militares, cuja finalidade é a guerra, portanto, em última instância, matar; organizações ligadas intrinsecamente à ideia de nação, que nos tempos modernos promoveu e continua promovendo as maiores carnificinas da História – o ser humano é um só em toda parte, preconceitos de nação, raça, cor, sexo e outros são estúpidos e manipulados por grupos políticos. Feita esta ressalva, é preciso fazer justiça aos militares brasileiros.
Militares não são classe social, como empresários, trabalhadores, camponeses, latifundiários ou mesmo classes médias. Não têm portanto interesses próprios, a não ser interesses corporativos – como médicos, advogados, juízes etc. Há entre os militares indivíduos de todas as classes sociais. As Forças Armadas brasileiras, especialmente o Exército, participaram da política nacional manipuladas por civis que defendiam seus interesses. Isso começou com a proclamação da República, quando o marechal Deodoro, um monarquista, mas figura símbolo do Exértico, foi guindado à condição de líder do golpe que derrubou D. Pedro II. A República começou com dois presidentes militares (Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto), mas cinco anos depois os civis "republicanos" – as oligarquias latifundiárias – assumiram o governo, mantendo-o até a Revolução de 1930, durante quase quatro décadas.
No entanto, por terem liderado sua proclamação, os militares brasileiros permaneceram durante praticamente um século como uma espécie de "defensores da República", manifestando-se em sucessivos golpes e tentativas de golpe. Os espisódios durante a República Velha são inúmeros e o mais espetacular é a Coluna Prestes. Não haveria a Revolução de 30 sem os militares, sem os tenentes. Da mesma forma, após a redemocratização de 1945: durante a "democracia populista", os militares se levantaram diversas vezes, a favor de um lado e de outro, até, finalmente, tomarem o poder e o conservarem durante 21 anos, dispensando intermediários – isto é, "civis" --, como de outras vezes, e elegendo entre eles mesmos os presidentes da ditadura.
Democracia sem militares
Destes fatos se depreende também – além do fato de os militares terem agido sempre fustigados por interesses "civis" – uma das características mais importantes do período histórico atual, iniciado no governo de Tancredo-Sarney: pela primeira vez na história republicana, depois de quase um século (1889-1985), os militares estão distantes da política, quietos nos quartéis, limitando-se às suas funções constitucionais e à defesa de interesses corporativos, sem apoiarem iniciativas golpistas. É um fato auspicioso, que precisa ser reconhecido, pois representa uma democratização efetiva do país, com perspectiva duradoura, pois os golpistas brasileiros nunca foram capazes de tomar o poder sem apoio das Forças Armadas, em especial do Exército. Os militares saíram da política, deixaram de se considerar os "guardiões da República", deixaram de se organizar como força golpista, embora não faltem apelos – civis – para que voltem.
Este acontecimento histórico, a se confiar na tetralogia do jornalista Elio Gaspari sobre a ditadura, se deve ao general Golbery do Couto e Silva, eminência do governo Geisel, que, percebendo a embrulhada em que tinha se metido a corporação – com quebra de hierarquia e descontrole do chamado "setor de informações" – e armou uma trama para que o Exército recuasse organizadamente e deixasse o campo de batalha sem ser derrotado, devolvendo o poder aos "civis" e preservando a instituição. Foi a chamada "distensão lenta e gradual", que primeiro encerrou a censura à imprensa, depois extinguiu o AI-5, promoveu a anistia e restituiu as eleições diretas – tudo gradativamente, tanto que os governadores voltaram a ser eleitos pelo povo em 1982, mas o presidente, só em 1989. Assim, impediu-se que a ditadura caísse pelas mãos do povo, com as consequências que uma verdadeira revolução tem.
O fato é que a obra da ditadura e o gênio político do general Golbery continuam presentes no Brasil "democrático" de hoje. Ao se retirar da "guerra interna", o Exército brasileiro foi, digamos assim, destruindo pontes para impedir que o inimigo o alcançasse. As principais "pontes" foram a eliminação do PTB, a anistia e a derrota da emenda das eleições diretas. Impedindo que Brizola refundasse o PTB, a ditadura tornou permanente a ruptura com o Brasil democrático pré-64, o Brasil getulista, populista, popular. Aprovando a anistia, garantiu que os crimes cometidos por ela não seriam punidos. Derrotando as "diretas já", possibilitou que o primeiro presidente "civil" fosse um moderado, "confiável", escolhido em conchavos e não pelo voto popular – aceitou um Tancredo e ganhou de presente um Sarney, homem do regime desde o primeiro momento.
Parênteses para as mortes de presidentes brasileiros do período. A história da ditadura é pontuada, do começo ao fim por mortes misteriosas ou no mínimo inesperadas dos seus presidentes e de lideranças iminentes: Castelo Branco, num acidente de avião; Costa e Silva, de uma doença repentina; JK, num acidente rodoviário; Jango, de um mal-estar súbito; Lacerda, idem, e, por fim, Tancredo, internado na véspera da sua posse.
Os dois golpes
Continuando: a ditadura vitoriosa recuou sem grandes perdas nos seus efetivos e garantindo que o "inimigo" não voltasse a ocupar as posições que tinham antes do golpe. Era um inimigo enfraquecido. A ditadura começou, igualmente de forma planejada e organizada, assustando e usando as classes médias para apoiar sua assunção; os golpistas diziam – por meio da cara e sistemática propaganda produzida pelo Ipes – que eram eles quem defendia a democracia. Ganharam apoio da igreja católica, puseram nas ruas as marchas da família. Uma vez no poder, a ditadura caçou e destruiu seu primeiro inimigo: Jango, o PTB, os getulistas, os sindicatos, os sindicalistas, os comunistas, o PCB – os trabalhadores. Foi o primeiro golpe.
O segundo golpe veio em 1968, com a decretação do AI-5. Não foi mais contra os trabalhadores, que já estavam desarticulados, vencidos; em dezembro de 1968 o golpe foi contra as classes médias, lideradas pelos estudantes, que, a partir do primeiro golpe, perceberam, uns imediatamente, outros mais lentamente, que tinham sido enganados. Os cinco anos percorridos pelo Brasil entre o primeiro e o segundo golpe formam um período de mobilização crescente das classes médias, um despertar radiante e combativo dos intelectuais, jornalistas, artistas, universitários. São estes – ou os melhores destes, os mais combativos, os mais idealistas – que serão brutalmente aniquilados a partir do AI-5, quando optam por se armar, como o inimigo, e lutar uma luta desigual na qual não têm nenhuma chance.
Além de garantir que seus crimes não seriam punidos no governo "civil" que viria a seguir, além de impedir a volta do PTB e a eleição direta do presidente seguinte, a ditadura, ao recuar, deixava seus inimigos aniquilados. Ela tinha sido amplamente vitoriosa no seu objetivo inicial – destruir as organizações dos trabalhadores e o getulismo – e na sua segunda missão – liquidar os melhores quadros das classes médias. Foi um grande estrago, uma vitória cujos reflexos perduram.
De quebra, a ditadura legou ao país duas instituições símbolos do autoritarismo e que continuam cumprindo suas funções antidemocráticas ainda hoje – uma manipulando a opinião pública, outra reprimindo os trabalhadores: a Globo e a Polícia Militar. Despreparada para as funções que lhe são atribuídas, a PM cumpre hoje, na "democracia", o papel que na ditadura foi principalmente do Exército: perseguir e eliminar permanentemente os movimentos populares, os "comunistas", os pobres, os trabalhadores. À Globo, líder dos veículos de comunicação protofascistas, que prosperou durante a ditadura e atuou como seu porta-voz, cabe deformar as informações e influenciar a população, com sua infinidade de canais de televisão e rádio, jornais, revistas etc.
Uma última palavra sobre a economia, que, afinal, é o que move os atores políticos: os protagonistas do golpe e da ditadura estiveram sempre de olho nos lucros das grandes empresas às quais servem, e o governo dos EUA, "parceiro" dos golpistas, também defendia os interesses das suas multinacionais. O modelo econômico brasileiro vigente durante a ditadura – o desenvolvimentismo – nasceu no governo JK e continua hoje no governo Lula-Dilma. Lula e JK demonstraram que é possível fazer o país crescer na democracia, gerando amplos lucros. A democracia no entanto exige atendimento das demandas populares e talvez crescimento menor – que já é gigantesco, considerando-se o tamanho das economias mundial e brasileira atuais. O "milagre" do crescimento de 10% ao ano ou mais e do lucro monstruoso, como aconteceu entre 1968 e 1973, é que exige ditadura, porque é feito com intenso arrocho salarial, só possível com o desmantelamento das organizações dos trabalhadores – tarefa primeira e objetivo maior do golpe de 1964.

* Publicado originalmente no jornal O Cometa Itabirano, edição 384, de abril de 2014, e republicado aqui atendendo à sugestão de um amigo. 

Tecnologia e saúde

Na prática, as novas tecnologias aboliram as jornadas de trabalho.

Do Portal Minas Livre.
Avanço da tecnologia impacta negativamente na saúde do trabalhador 
por Thaís Mota

Muito se fala nos benefícios que a tecnologia trouxe para o mundo do trabalho, especialmente, em relação à mecanização de processos que antigamente eram realizados por meio da força humana. Entretanto, a mesma tecnologia que reduziu a necessidade de força física e agilizou processos de produção, também trouxe impactos negativas para a saúde do trabalhador. O tema foi discutido durante a IV Conferência Estadual de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora de Minas Gerais, realizada entre os dias 28 a 31 de maio em Belo Horizonte.
Segundo a médica e professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UMFG) Elizabeth Costa Dias, os avanços tecnológicos aceleraram o ritmo e a intensidade do trabalho e estendeu a jornada para além dos muros das empresas. "Hoje há uma infiltração do trabalho em nosso cotidiano e não nos desligamos mais. Isso tem um custo alto na saúde do trabalhador", alerta.
A íntegra.

Feira de Publicações Independentes no Galpão

domingo, 1 de junho de 2014

A lição do DCM sobre moderação de comentários

Do Diário do Centro do Mundo. 
Como o DCM fez o G1 mudar sua política de comentários 
Paulo Nogueira

Os editores da Globo ouviram o DCM. Foi estancada uma das maiores fontes de aberrações no mundo digital brasileiro: os comentários do G1.
Isso aconteceu dias depois de termos dado algumas matérias sobre o tema.
Tinha me chamado a atenção, particularmente, um comentário em que um leitor dizia, sem nenhum constrangimento, que já era hora de entrar na casa de políticos como Genoino e matar as pessoas.
Escrevi um texto. Perguntei: os acionistas não lêem este tipo de coisa? E os editores? E os anunciantes? Que anunciante quer ver sua marca associada a leitores facínoras?
E depois agi como repórter.
A Globo é espantosamente desorganizada – fruto do monopólio e da reserva de mercado, coisas que minam a boa administração. Numa maratona telefônica em que sucessivas pessoas me passavam para gente que dizia nada a ter com o assunto, cheguei enfim ao editor-chefe do G1.
A íntegra.

Pedalando e aprendendo

Do Diário do Centro do Mundo.
'O que aprendi ao pedalar por nove países europeus, durante sete meses'
Aos 33 anos, o jornalista paulistano Eduardo Dias de Souza, o Du Dias como é conhecido, resolveu que era hora de realizar o seu tão acalentado projeto de vida: uma longa viagem pela Europa, a bordo do único veículo que há muito escolheu para circular pela cidade ou por onde quer que vá: a bicicleta. O relato da experiência foi publicado no saite Mobilize.
A íntegra.

Os 60 anos da Biblioteca Pública: retrato da administração incompetente em Minas

A Biblioteca Pública é um emblema da Praça da Liberdade. O belo prédio projetado por Niemeyer, sua localização, o espaço modernista, sem grades, ao contrário do Palácio. Não é tão frequentado por estudantes como já foi, porque o acervo de consulta e empréstimos, com espaços e mesas para estudo, foi transferido faz tempo para outro prédio, na Rua da Bahia -- é o quarteirão onde ficam carros estacionados no passeio e há sempre uma montanha de lixo, quase na porta da Biblioteca. O prédio principal, porém, ainda abriga acervos bacanas: coleções raras, seção de periódicos, inclusive jornais do dia, muito frequentada por aposentados, e a biblioteca infanto-juvenil, no subsolo. As funcionárias da biblioteca infanto-juvenil são de uma delicadeza ímpar e constituem um patrimônio tão ou mais importante do que a coleção de livros para crianças e adolescentes. É um lugar bem cuidado e agradável, apesar de ficar no subsolo. No entanto... 

No entanto, a Biblioteca como um todo é o retrato da incompetência das administrações estaduais dos últimos doze anos e do seu descaso com a educação e a cultura. Como se sabe, cultura para os neoliberais é sinônimo de "evento", com tendas, barulho, grades cercando o lugar, muitos seguranças e muita propaganda dos "patrocinadores". Reza a cartilha neoliberal que o Estado não tem de cuidar disso, mas se der incentivos para a iniciativa privada ela vai fazer com muita competência e sem custos... O grande feito cultural do governo passado foi entregar os prédios históricos da Praça da Liberdade para a iniciativa privada (nem tão privada assim, já que a antiga sede da Secretaria de Segurança Pública agora abriga o Centro Cultural Banco do Brasil: o governo mineiro teve de contar com a boa vontade do governo federal para realizar seu projeto), transformando o local num Circuito Cultural.

A ideia era óbvia, qualquer pessoa com sensibilidade percebia há muito tempo a vocação da Praça para se tornar o mais importante espaço de cultura e lazer de Belo Horizonte. Um espaço similar aos de cidades europeias, aquelas que nossa elite visita e depois vem elogiar, boquiaberta, como exemplos da distância que guardamos dos europeus e que realçam o nosso atraso. São aqueles que repetem que "na Europa é outra coisa, não dá nem pra comparar", mas aqui andam de bicicleta no passeio, estacionam seus carrões em locais proibidos. E o pior, votam pensando que estão votando em políticos "modernos". No entanto...

No entanto, a distância entre o que a Praça da Liberdade pode ser ou seria numa cidade europeia e o que se tornou é o retrato da mediocridade neoliberal.

Se o governador quisesse realizar uma obra à altura de JK e não só remedá-lo na aparência para faturar votos às custas da memória do maior presidente que o Brasil teve, teria feito coisa bem diferente. Ser JK no século XXI não é repetir o que JK fez nas décadas de 1940 e 1950, é fazer o que o Brasil e as cidades brasileiras precisam hoje. No caso concreto da Praça da Liberdade, não seria entregar os prédios históricos para a iniciativa privada, uma receita da cartilha neoliberal, que vê nessas doações a solução para tudo, de "eficiência", "competência", "gestão" e outras baboseiras, mesmo porque hoje podemos ver que de eficiente, competente e bom gestor os últimos governos não tiveram nada. Muito menos seria construir um edifício "projetado por Niemeyer" num ponto distante da cidade, concentrar lá todo o funcionalismo público e mudar radicalmente, de uma penada e sem qualquer planejamento, toda a vida da cidade e a rotina de milhões de pessoas.

Ser moderno, em Belo Horizonte, no século XXI, seria realizar a vocação da Praça da Liberdade para espaço de cultura e lazer, mas não é a transferência das secretarias que realiza isso. O primeiro prédio a ser transformado em equipamento cultural seria o Palácio, e no entanto ele foi o único que permaneceu nas mãos do governo. Por quê? Porque os neoliberais não queriam perder sua tribuna, seu espaço nobre para solenidades políticas, discursos, propaganda.

Retirar as grades 

Qualquer um que anda na Praça vê que o Palácio é fundamental para a realização de um verdadeiro circuito cultural ali. E a primeira coisa a fazer é retirar as grades que o cercam. Elas foram colocadas pela ditadura em 1968 -- é o folheto de divulgação do Palácio, distribuído pelo governo, que informa. Nenhum governador "eleito democraticamente" depois, a começar por Tancredo Neves, teve coragem de removê-las. O Palácio da Liberdade precisa ser incorporado à Praça e aos demais prédios. Como projeto urbanístico, isso significa incorporar também as ruas laterais e o trecho de avenida que separa o Palácio da Praça. Tirar o asfalto e pôr calçadão, tirar os carros e criar espaços para gente.

Um verdadeiro, grandioso e moderno projeto cultural da Praça da Liberdade transformaria toda a região num calçadão com gramados, repleto de prédios históricos, usados como equipamentos culturais e de lazer. Isso sim daria à cidade um ar "desenvolvido" como os das cidades europeias tão admiradas por nossas elites turistas. Retirar de lá todas as secretarias nunca foi essencial, mesmo porque o uso dos equipamentos públicos lhes dá vida; bastava começar pelo Palácio e mais um dos prédios, usando-os bem, instalando um café no terraço de uma das secretarias e coisas assim. Uma pista de caminhada seria feita nas ruas laterais e diante do Palácio, deixando que a própria Praça, hoje transformada em local de caminhada, por falta de espaços na cidade para isso, seja ocupada pela população, A Rua Gonçalves Dias se transformaria na única via para veículos, da quais se teria vista privilegiada da Praça, a alameda no meio, o Palácio no fundo.

A grande obra de arquitetura e engenharia necessária para isso não era a construção do Centro Administrativo, erguido num terreno inadequado, que compromete o futuro da edificação, como se sabe e não é dito. Concentrar todo o funcionalismo e todos os serviços públicos no mesmo local é uma ideia antiga, superada, um retrocesso urbanístico, como é sabido, projeto megalomaníaco que o governador só conseguiu realizar porque teve a imprensa amiga a apoiá-lo e deputados submissos. O custo gigantesco da obra, até hoje ignorado, apesar das leis de transparência, era outro impedimento, num estado que não tem dinheiro para obedecer a Constituição e pagar o piso salarial aos professores... Além da suspeita valorização repentina dos imóveis da região, inclusive os do próprio Centro Administrativo -- como se sabe, o governo, por incompetência ou outro motivo, não indenizou os proprietários antes, deixou para indenizá-los depois da desapropriação, e eles exigiram na justiça o valor muito mais alto que os imóveis passaram a ter...

O pior de tudo, porém, a mais expressiva demonstração de incompetência, foi não preparar previamente a zona norte para receber a nova sede do governo. Isto exigia não só desvencilhar-se do embrulho das desapropriações (como fazer isso, porém, se a localização do Centro Administrativo foi decidida na última hora, se o local escolhido era outro, mas foi vetado porque o Bairro Carlos Prates não comportaria impacto urbano de tal proporção?), mas também dotá-la de transporte adequado, que, no caso, só seria seria possível com o metrô. Um governo competente e responsável, portanto, seguiria esses passos: estudo adequado do local, do terreno, desapropriação, construção de uma linha de metrô com estações na porta do Centro Administrativo e seguindo adiante até o remoto aeroporto que de apropriado só tem o nome popular: Confins -- outro erro de governo que faz com que chegar até ele leve mais tempo do que as viagens de avião...

É óbvio que o governador construiu o Centro Administrativo por motivos outros que não qualquer tipo de eficiência ou modernidade, muito menos para realizar a vocação da Praça da Liberdade para a cultura e o lazer. A grande obra de arquitetura e engenharia para isso não seria o Centro Administrativo, mas túneis ligando as Avenidas João Pinheiro, Bias Fortes, Brasil e Cristóvão Colombo; uma linha de metrô ou mesmo corredores de ônibus, sem a pompa do BRT ou Move, mas simples, de bom gosto, eficientes. Qual a diferença entre uma coisa e outra? O governador realizou obras para empreiteiros e propaganda, que exigiam rapidez e estardalhaço para aparentar eficiência e importância (ainda que tivessem de ser feitas e refeitas, por conta da falta de planejamento). A obra que transformaria a Praça da Liberdade não custaria tanto, demoraria mais, talvez, e não teria o impacto que faz parte da propaganda neoliberal. Seria uma obra para beneficiar a população e mudar a qualidade de vida na cidade. É assim, no entanto, que as cidades se destacam: cidades boas para seus habitantes são também cidades que atraem turistas, coisa que a mentalidade colonial não consegue perceber.

Sonhemos, porém, com o dia em que a Praça da Liberdade vai se tornar de fato um espaço cultural e de lazer para os belo-horizontinos. Enquanto isso não acontece, observemos as manifestações da incompetência administrativa. Basta andar nas imediações e observar. A Biblioteca que comemora com propaganda e eventos seus 60 anos teve sua fachada semidestruída, por abandono, e só começou a ser recuperada depois que reportagem em um jornal amigo chamou atenção para o fato. Mesmo com a fachada ruindo, o governo instalou diante dela duas imensas e feias peças de metal que em pouco tempo viraram esqueletos inúteis e ainda prejudicam fotografias do simpático prédio modernista. As faixas de pedestre diante dela levaram meses para serem pintadas novamente, depois que a prefeitura colou mais uma camada de asfalto nas vias da região: carros são privilegiados, pedestres não têm importância.

Outras demonstrações de descaso com os pedestres: a PM, cujo quartel general fica do lado da Biblioteca, frequentemente estaciona nos passeios um ou mais carros; também não é incomum ver uma fileira de cavalos estacionados sobre as faixas de pedestres, bem debaixo dos semáforos. Garis da SLU, cujos dias de instituição modelo ficaram para trás, estacionam seus carrinhos também sobre as faixas de pedestre sem qualquer pudor (ou seria falta de orientação?). Na porta do prédio anexo da Biblioteca, nos fundos dos museus, há sempre uma montanha de lixo, bem em cima das guias para cegos, indicando que o local é usado exatamente para isso: deposito de lixo. Para completar, a obra singela de recuperação do passeio em torno do Palácio levou mais de dois meses para ser concluída, submetendo os pedestres a transtornos multiplicados pelo desleixo e pelo descaso. A Praça é pessimamente iluminada, há um quarteirão inteiro, na Gonçalves Dias, sem uma luminária sequer. Tão grave quanto isso, ou mais, é que os postes de iluminação pública, que eu presumo sejam tombados pelo patrimônio histórico, parte que são do conjunto da Praça, foram retirados e substituídos recentemente por outros, toscos, ordinários, e que já estão semidestruídos. Sem que tenha havido qualquer reação das autoridades do patrimônio estadual ou municipal. Bem na porta do palácio do governo.

Como disse no começo: simbólico.

A política nacional de participação social do governo Dilma

Analistas veem como avanço democrático o decreto assinado pela presidente no dia 23 de maio passado. 

Do jornal GGN.
O avanço da democracia social, no decreto de Dilma  
Luis Nassif  

Quando Dilma Rousseff atropelou quinze anos de luta pela inclusão de crianças com deficiência na rede pública, ignorou os avanços que permitiram atender a 800 mil crianças pelo Ministério da Educação, desprezou a resolução da Meta 4 do Plano Nacional de Educação (PNE) -- que mantinha a obrigatoriedade do ensino regular às crianças com deficiência -- e pressionou pessoalmente senadores da base aliada para mudarem o texto, privilegiando a política segregacionista das Apaes (Associação de Pais e Alunos de Excepcionais), confesso que bateu um desânimo profundo em relação ao seu governo.
Não existe nada de mais republicano na vida de um país do que a construção social, aquelas pequenas sementes de modernização que, plantadas, começam a germinar, vão gradativamente conquistando corações e mentes, vencendo pelo poder dos argumentos os interesses estratificados, até se tornarem políticas públicas.
Foi o que ocorreu com a educação inclusiva, tema tão relevante quanto o da saúde -- outra bandeira negligenciada por Dilma em seu apoio anacrônico ao confinamento de doentes mentais.
Foi uma luta árdua, que passou pelo convencimento inicial do ex-ministro da Educação Paulo Renato, pelo trabalho decisivo de Fernando Haddad, pela criação de Secretaria no âmbito do MEC que representa dignamente a bandeira. Tudo isso culminando em um dos grandes feitos sociais da década - pelo visto, completamente ignorado por Dilma: o atendimento de 800 mil crianças com deficiência pela rede pública regular, com apoio pedagógico do MEC, graças ao princípio de tratar a inclusão escolar como direito fundamental da criança.
Dilma atropelou todas essas lutas, a decisão de 800 mil professores reunidos na Conferência Nacional de Educação, o trabalho de quase uma década do MEC, exclusivamente para atender a um pedido pessoal de sua amiga Gleize Hoffmann, pré-candidata ao governo do Paraná, e que temia ser alvo de chantagens emocionais das Apaes -- que seu adversário, vice-governador Flávio Arns (PSDB) tão bem sabe manipular. Graças à sua interferência abriu-se a brecha para o absurdo das Apaes -- que deveriam atuar como apoio às crianças na rede escolar - também ministrarem cursos regulares, um conjunto de crianças com deficiência excluídas do direito de se integrarem à sociedade.
Foi esse ceticismo que me impediu de apreciar melhor o avanço representado pelo Decreto no. 8.243, de 23 de maio passado, pelo qual Dilma regulamenta a Política Nacional de Participação Social e o Sistema Nacional de Participação Social.
Dou a mão à palmatória. Se não redime Dilma de seus pecados na área social, ao menos serve de alento. É possível, a partir do decreto, que finalmente se passe a cumprir o preceito constitucional da democracia participativa, e que as decisões das conferências nacionais e das demais formas de participação não sejam mais atropeladas por governantes, como foi o episódio da Meta 4. 
A íntegra.