segunda-feira, 23 de setembro de 2019

Capital e Ideologia, novo livro de Thomas Piketty

Você leu O Capital no Século XXI? É leitura básica, assim como O Capital, aquele, do qual todos falam mas poucos leram. Se o desenvolvimento humano se limitasse à luta de classes, ou fosse fundamentalmente isso, por que as civilizações levariam tanto tempo para evoluir de um modo de produção a outro? Qualquer marxista deveria fazer essa pergunta. Aliás, todo marxista deveria pensar com a própria cabeça. Marx usou muito a própria cabeça, seus adeptos menos. Por que diferentes civilizações seguiram ordens sociais diferentes, umas com mais Estado, outras com mais liberdade individual? A caracterização de toda civilização distinta do modelo escolhido pelo marxismo como sendo "modo de produção asiático" me parece uma simplificação grosseira.
Minha teoria é diferente da do Piketty, mas talvez coincidente em essência (ele tem muito mais conhecimento do que eu): o desenvolvimento humano é o desenvolvimento do individualismo; as civilizações e a história resultam dos conflitos entre interesses individuais e interesses coletivos.

Thomas Piketty contra a propriedade privada
Economista francês, grande teórico da desigualdade, publica ‘Capital e Ideologia’, um monumental ensaio que propõe “a circulação de bens” para “superar o capitalismo”.

Marc Bassets, Paris, 22 Sep 2019 - 22:30 BRT

Não é a luta de classes e a mão invisível do mercado, muito menos a história dos grandes líderes e batalhas o que move o mundo, e sim as ideias, de acordo com o economista francês Thomas Piketty. E o aleph que dá sentido a quase tudo, a chave da evolução das sociedades é a propriedade privada. Quem possui o que e em nome de que.
As desigualdades crescentes de renda e patrimônio, que Piketty dissecou em uma obra anterior, o sucesso de vendas O Capital no Século XXI, são produto de uma ideologia. Cada momento tem suas justificativa, um argumento que o sustenta, e transformar o mundo obriga a mudar de ideias. “Dar um sentido às desigualdades, e justificar a posição dos vencedores, é uma questão de vital importância. A desigualdade é acima de tudo ideológica”, escreve em Capital e Ideologia, recém-publicado na França.
O novo livro é ambicioso. Começando pelo tamanho: 1.200 páginas. Abarca séculos, da Idade Média aos dias de hoje. Passa por quatro continentes. Utiliza várias disciplinas acadêmicas: da economia à história, da ciência política à teoria da justiça e à literatura. Os romances de Jane Austen, Balzac e Carlos Fuentes oferecem tanta ou mais informação do que uma bateria de gráficos e tabelas, 170, sobre a história da propriedade privada e seu efeito nas desigualdades.

Clique aqui para ler a íntegra no El País.

Com as pernas em ângulo de 35º

Da série "práticas cotidianas básicas nas quais somos ignorantes". Assim como alimentação, sono, atividades físicas etc.

sexta-feira, 13 de setembro de 2019

Ciro quer defesa da democracia nas ruas

Ciro Gomes diz -- em entrevista à BBC Brasil (vídeo abaixo) -- que toca fogo na rua em defesa de democracia. Espero que toque mesmo, já passou da hora disso, já se passaram na verdade cinco anos. Desde 2015, quando começou o golpe, o povo devia estar nas ruas defendendo a democracia, mas as elites da esquerda não quiseram, não entenderam, não defenderam, não agiram, ficaram só na conversa; seu "esquema" não funcionou, da mesma forma como aconteceu em 1964.

Espero que Ciro, que pretende ser candidato pela quarta vez, tenha um programa de democracia para apresentar, porque eu, que não sou candidato a nada, sou um simples eleitor, e votei nele três vezes já, tenho clareza de quais são os pontos de um programa democrático para o Brasil, que é muito mais democrático do que o dos governos do PT, que não passaram de um governo capitalista desenvolvimentista, mas o mundo hoje não pede crescimento, pede decrescimento, e o Brasil pede defesa do ambiente acima de tudo, pede distribuição de renda, democratização do acesso a saúde, educação, alimentação, transporte, moradia e lazer de qualidade, democratização da comunicação, aposentadoria aos 60 anos (para todos, não só para os ricos e castas privilegiadas), fim das castas privilegiadas, fim da polícia de matar pobres, direitos para os trabalhadores, redução da jornada de trabalho. Desenvolvimento é isso, não é crescimento econômico com desigualdades profundas e destruição do ambiente.

Quem começa dizendo que Lula não é preso político começa mal. Lula é preso político, apesar de todos os seus erros, e a larva jato foi e continua sendo uma operação política, o motor do golpe, uma arma das elites contra um governo trabalhista que se perpetuava no poder, democraticamente, pelo voto popular, não tem nem nunca teve nada a ver com combate a corrupção.

Vale a pena ver o vídeo. A entrevista no vídeo é muito, mas muito melhor do que em texto. Quando escuto o Ciro falar tenho consciência da minha ignorância, isto é, da distância entre o meu conhecimento, baseado em grande parte nas informações que recolho na imprensa e livros, e o conhecimento dele, que alia como nenhum outro brasileiro dessa geração -- de muitas outras, acho -- uma formação intelectual brilhante e uma experiência política riquíssima. O Brasil não dá o devido valor a isso, infelizmente. Ou, dito de outra forma, os interesses que controlam a comunicação no Brasil não permitem -- o verbo aqui é permitir, não é possibilitar -- que ele tenha a repercussão que merece.

Penso num país ideal (na redemocratização): FHC não comprou sua reeleição, mas fez seu sucessor -- ou Lula o sucedeu; Lula se reelegeu (considerando que FHC comprou sua reeleição, como de fato o fez), mas não impôs Dilma e se recolheu ao desfrute da condição de ex-presidente com mais de 80% de aprovação (FHC também ficaria na sua, como fazem os ex-presidentes americanos, afastados e reverenciados). Num quadro assim, sem golpismo e caudilhismo, certamente Ciro já teria sido eleito presidente e dado sua contribuição ao país, que eu acho que seria maior do que a de FHC e Lula. Em 2019, os legados de FHC e Lula foram destruídos pela estupidez compartilhada irmãmente por tucanos e petistas. E o retrocesso grassa por mãos, bocas e cabeças mais atrasadas do que as dos militares que nos mantiveram numa ditadura durante 21 anos. 




'Na defesa da democracia, vamos tocar fogo na rua', diz Ciro Gomes sobre tuíte de Carlos Bolsonaro

Por Ingrid Fagundez, da BBC News Brasil em São Paulo

Veja o vídeo ou leia os principais trechos da entrevista clicando aqui.


terça-feira, 10 de setembro de 2019

Quanto ganha quem manda no Brasil desde 2015

Enquanto essa gente diz que combate a corrupção, o Brasil afunda. Imagina quanto ganham os procuradores da larva jato. As reportagens do The Intercept Brasil estão mostrando. Como é possível que alguém que ganha dos cofres públicos R$ 68 mil por mês esteja combatendo a corrupção, o crime? Como vencimentos tão altos podem ser pagos por um Estado que não tem dinheiro para pagar R$ 2 mil de aposentadoria a quem trabalhou mais de 30 anos? E isso não é novo, desde os anos 1980 reportagens denunciam os supersalários. O que é novo é o poder que essa gente ganhou ao mesmo tempo em que seus supersalários aumentaram, em vez de diminuírem. O Brasil é um país de castas privilegiadas formadas por procuradores, juízes, militares e outras. Que se aliam a banqueiros, ruralistas, mineradoras. E agora também ao crime organizado e igrejas evangélicas. Para controlar o Estado. E garantir seus privilégios, supersalários, os juros mais altos do mundo, a matança de pobres, o desmatamento da Amazônia, o uso livre dos agrotóxicos, a destruição ambiental pela mineração, o trabalho escravo.

Procurador que reclamou de salário ganha bem mais que R$ 24 mil por mês

João Henrique do Vale e Tiago Rodrigues*, Estado de Minas

Entre salário, indenizações e outras remunerações, ele recebeu em média R$ 68,2 mil por mês entre janeiro e julho deste ano, segundo dados que constam no portal da transparência do MPMG

O procurador de Justiça Leonardo Azeredo dos Santos, que se queixou em uma reunião com colegas de receber o 'mizerê' de R$ 24 mil por mês, ganha, na verdade, bem mais que o reclamado, segundo dados do portal da transparência do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG). Isso, devido a indenizações e outras remunerações que se somam ao salário. Somente em março, mês em que obteve o menor valor, foi mais que o dobro de R$ 24 mil. Nesses sete meses, a média recebida por ele foi de R$ 68.275,34.

As informações que constam no portal da transparência do MPMG mostram que o rendimento líquido total do procurador é, realmente, um pouco abaixo de R$ 24 mil. Mesmo assim, outros valores se somam ao salário. Em julho, por exemplo, que é o último mês com os dados disponíveis para consulta, Leonardo recebeu indenização de R$ 9.008,30, e remunerações retroativas/temporárias, de R$ 32.341,19. Ao todo, o valor recebido, incluindo o salário, foi de R$ 65.152,99.

Clique aqui para ler a íntegra no saite do jornal Estado de Minas.

O que o presidente defendeu sobre a Amazônia durante os 28 anos em que foi deputado

Por Lúcio de Castro, na Sportlight Agência de Jornalismo Investigativo.

Bolsonaro e o êxito do projeto de política ambiental que defendeu por anos no Congresso. Separamos 6 discursos da última década: 

Foram sete mandatos e 28 anos como deputado federal com ideia fixa na Amazônia. E objetivos muito claros: acabar com reservas e parques ambientais, liberar a exploração das riquezas e botar fim na demarcação de terras indígenas. E liquidar com um grande vilão sempre citado: as licenças ambientais.

Acima de qualquer exercício de maior interpretação, das “fake news” muitas vezes evocadas pelo atual presidente, estão os fatos concretos: o registro histórico dos seus discursos em plenário.

Separamos seis dessas peças da oratória de Jair Bolsonaro proferidas na última década.

Muito mais do que qualquer outra diretriz implementada pelo governo nas demais áreas, seja educação, economia ou afins, a política planejada por Bolsonaro ao longo de anos para a região é um êxito absoluto de tudo o que sempre imaginou para a Amazônia. Exceção para as medidas de controle e aparelhamento dos órgãos anticorrupção, essa também exitosa prática governamental.

Como em 23 de fevereiro de 2016, às vésperas de oficializar a candidatura presidencial, então ainda pelo PSC, quando afirmou no plenário que “um presidente com pulso resolveria a questão das licenças ambientais”, liberando a extração de minerais. Ou em 23 de novembro de 2016, já candidato, quando afirmou que a criminosa questão das reservas indígenas seguiam inviabilizando um parque industrial na região.

Em 5 de dezembro de 2013, afirmou que a questão das reservas e parques estavam sufocando o Brasil.

Tendo encontrado no Ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, estrela do Partido Novo para questão ambiental, que já estivera envolvido em escândalos com secretaria de São Paulo, o parceiro perfeito para botar em prática seus planos de 28 anos, vem tendo sucesso, diante do espanto do mundo. Seguem discursos de Jair Bolsonaro sobre meio ambiente e Amazônia na última década:

Clique aqui para ver os documentos no saite da Agência Sportlight.