quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Liberdade religiosa, liberdade de expressão e humor não se excluem

"O anti-racismo e uma paixão pela igualdade entre todas as pessoas são e continuam a ser os princípios fundadores do Charlie Hebdo." (Charb, um dos assassinados na Charlie Hebdo.)

É realmente impressionante a confusão em torno da chacina na Charlie Hebdo.

1- Charlie Hebdo é uma revista de humor, de esquerda, "filha" de maio de 68. Nela trabalham e trabalharam os melhores humoristas franceses de esquerda, a começar pelo genial Wolinski. O humor é libertário, contestador, de esquerda, não tem nada a ver com esse humor sem graça de direita que prolifera no Brasil.

2- Quando digo esquerda, estou falando da Revolução Francesa, de Karl Marx, da Revolução Russa de 1917. Não estou falando de social-democracia nem de PT. Estou falando de liberdade, igualdade, fraternidade, socialismo, ideias que Charlie Hebdo defendeu com a sua arma: o humor. Estou falando de civilização, tolerância, convivência gentil entre diferentes.

3- Só o oportunismo e a ignorância podem comparar Charlie a Veja e outras publicações de esgoto.

4- Quem não entende a diferença entre um desenho e um tiro, entre um jornal e um rifle, não entende de liberdade de expressão. Liberdade de expressão é sempre para quem discorda de nós.

5- Os dirigentes que foram posar na manifestação de domingo são hipócritas oportunistas. São eles que mantêm a indústria da guerra que mata milhares mundo afora todos os dias, ano após ano. Já o capitalismo "progressista" do século XIX fazia suas carnificinas colonialistas; a partir de 1914, o mundo entrou numa guerra contínua, formada de guerras mundiais e guerras "locais".
A Alemanha se armou intensamente para entrar na II Guerra Mundial, as grandes nações se armam muito mais, permanentemente. Para quê? Para exterminar seus inimigos econômicos e para vender armas para "extremistas" e traficantes. A indústria da guerra é a maior indústria do mundo, a que dá mais lucros.
Como é que dois jovens de um grupo discriminado e marginal obtêm armas tão caras e poderosas? Como é que os meninos das favelas brasileiras conseguem as mesmas armas?

6- Tudo isso é parte da barbárie em que entrou o capitalismo há 101 anos, quando começou a I Guerra Mundial.

7- Liberdade religiosa, respeito, tolerância, igualdade, liberdade de expressão e humor não se excluem, ao contrário, fazem parte do mesmo ideário humanista, anti-barbárie. São também esforços individuais cotidianos para superar a ideologia capitalista e não nos deixarmos levar na onda dos poderosos que fabricam guerras para vender armas. Exceto estes, somos todos Charlie.

 "Líderes" que convocaram manifestação domingo passado posaram para fotos protegidos por seguranças e depois foram embora, não se juntaram ao povo.


quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

12 lá, 12 aqui; "somos todos Charlie"

No dia 1º encontrei na rua com o Nilson, o maior desenhista mineiro, e, conversando sobre quadrinhos, falamos do Charlie Hebdo.
Wolinski, um dos doze assassinados hoje, foi um dos meus ídolos dos quadrinhos na juventude. Como quase todos os grandes quadrinistas das décadas de 60 e 70, apareceu no Brasil nas páginas do Grilo. Depois vieram os álbuns publicados pela revista Status e pela editora L&PM, de Porto Alegre. Tenho-os até hoje, continuam geniais.
Naquela época, os quadrinhos eram muito mais libertários, muito mais ousados e irreverentes. O que aconteceu hoje parece um absurdo retrocesso na liberdade de expressão.
7 de janeiro é o 8 de dezembro dos quadrinhos.
Je suis Charlie.
Hoje também o jornal Estado de Minas demitiu 12 dos seus mais antigos e renomados jornalistas.

terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Vida de jornalista 2

"Produzir revistas nestes tempos é como fabricar carruagens no final do século 19, quando os carros começavam a ganhar as ruas. Nem o mais fabuloso fabricante de carruagens sobreviveu com o correr dos dias. A Abril antecipa o que deve acontecer, no futuro, com outra potência da mídia brasileira: a Globo."

Paulo Nogueira, no Diário do Centro do Mundo: A agonia da editora Abril.

Vida de jornalista

Grande parte da trilogia "Getúlio", de Lira Neto, se baseia em matérias de jornais. Pouquíssimos autores das matérias são citados, mas os nomes de escritores famosos, como Nelson Rodrigues, por exemplo, aparecem e "elevam" o nível das citações.
Imagino uns e outros na redação, esse ambiente em extinção: os pés de boi, trabalhando horas a fio e produzindo, anonimamente, o noticiário que todos leem no dia seguinte, a substância dos jornais, por assim dizer: e as estrelas, que aparecem fazendo alarde, ficam pouco tempo e vão embora, deixando algumas linhas, celebradas, publicadas com assinatura e destaque.