segunda-feira, 31 de março de 2025

Música do dia: Juventude transviada, com Luiz Melodia e Cássia Eller

"Até sonhar de madrugada / Uma moça sem mancada / Uma mulher não deve vacilar." Um encontro raro, um daqueles momentos especiais que só a arte propicia.

Adolescência: meninos desesperados por modelos de comportameto

Ouvi uma mãe, se não me engano uma psicóloga, falando sobre isso há algum tempo, acho que na própria BBC: o outro lado, os meninos. Foi a primeira voz que ouvi falando sobre o assunto. Essa reportagem entra no assunto. Me faz pensar na crise da esquerda: sem proposta para eles, deixou os pobres (trabalhadores ) para serem conquistados pela direita. Deixou também os homens? 

domingo, 30 de março de 2025

Música do dia (2): Fullgás, Marina Lima

"Nada de mau nos alcança / Pois tendo você meu brinquedo / Nada machuca nem cansa." Antônio Cícero foi um grande poeta.

Música do dia: Help!, The Beatles

Um vídeo completamente non sense. A canção é um ícone do rock e a letra mostra a genialidade do John para expressar a condição humana na juventude. Genial porque simples, é isso mesmo. É impressionante a autoconfiança das crianças, que são frágeis. Quando a gente se torna adulto, gente grande, "independente", a segurança desaparece. Como acontece isso? Por que acontece? É porque "as portas de abrem"... A segurança das crianças vem da confiança incondicional nos seus pais, no amor da mãe em especial, mas também na força do pai, na onipotência de ambos, enfim. E é por isso que o homem adulto busca o amor romântico (com as mulheres é diferente, não ouso tentar explicar, está além da minha experiência e da minha capacidade) e depende da mulher amada (a Bossa Nova não cantou outra coisa e os Beatles também não), que é a substituta da sua mãe. Na história musical do John Lennon, que foi criado sem pai e mãe, isso é evidente. E nos deus tantas pérolas, de Help! a Woman, passando Mother, God, Jealous Guy e Oh Yoko!, para citar algumas.

"When I was younger, so much younger than todayI never needed anybody's help in any wayBut now these days are goneI'm not so self assuredNow I find I've changed my mindI've opened up the doors

"And now my life has changed in, oh, so many waysMy independence seems to vanish in the hazeBut every now and then I feel so insecureI know that I just need you likeI've never done before"

sexta-feira, 28 de março de 2025

Uma análise ampla sobre o que está acontecendo na internet

Bruno Torturra faz uma excelente análise, ampla e oportuna, sobre o que está acontecendo aqui, na internet, nas redes sociais, que se tornaram a grande mídia contemporânea, com seus magnatas, agora alinhados numa nova extrema direita internacional liderada pelo presidente americano. Tenho o que dizer sobre isso, mas estou amadurecendo.

Boletim do Fim do Mundo - Ainda Estamos Aqui...

Paulo Leminski Neto, músico e filho do poeta, está em situação de rua no Rio

Como escrever ficção com uma realidade que supera uma boa imaginação?

Paulo Leminski está em situação de rua no Rio
Por Jotabê Medeiros, no blog Farofafá, 27 de março de 2025. 


O policial militar pediu ao pessoal em situação de rua dormindo na Praça São Salvador, em Laranjeiras, no Rio de Janeiro, para mostrar os documentos. Uma batida de praxe. O primeiro homem abordado remexeu nos bolsos e entregou a sua carteira de identidade. O policial leu o nome no RG: “Paulo Leminski Neto. Não tem um compositor com esse nome?”, murmurou o policial. O homem na praça respondeu: “Sim, é o meu pai”. 

No próximo dia 30 de julho, a 250 km do Rio, o pai daquele cidadão que está vivendo em situação de rua será o próximo homenageado do maior evento literário do País, a Festa Literária de Paraty 2025, a Flip. Já Paulo Leminski Neto, seu filho, foi despejado em dezembro da casa onde vivia na Lapa, Rio, por não ter conseguido pagar o aluguel. Desde então, Paulo Neto tem vivido com a mulher durante quase quatro meses na rua.

Paulo Leminski Neto é cantor e professor de música. Mas ficou sem trabalho no final do ano passado e não conseguiu cumprir compromissos de sobrevivência básicos. “Em dezembro, a cidade fica cheia de turistas, os alugueis sobem, os preços ficam difíceis de acompanhar. Eu adoro o Rio, mas a cidade está numa situação muito difícil em termos de trabalho e contexto social”, ele diz, acrescentando que talvez se mude para as montanhas, para o interior.

Nesta quinta-feira, por conta de um incidente trágico que enfrentou há uma semana na rua, Paulo está temporariamente num hotel de pernoite com a mulher, a figurinista Claudia Tonelli, com quem vive há 6 anos (foram despejados juntos). Na saída dos banhos, foi atacada por um sujeito (um homem de 29 anos com 22 passagens pela polícia), levou um soco na testa e caiu no chão. O homem seguiu batendo nela e tentou estuprá-la. Uma pessoa que passava viu e chamou a polícia, e o homem foi preso em flagrante. Claudia foi atendida emergencialmente no Hospital Miguel Couto.

Paulo Leminski Neto, na verdade, só existe com carteira de identidade desde agosto de 2021. Antes, seu nome era Luciano Costa, nascido em 31 de janeiro de 1968, apelidado de Lucky (Sortudo). Foi somente em 2001, com o lançamento do livro O Bandido Que Sabia Latim, de Toninho Vaz (relançado pela Tordesilha Livros em 2024), que ele soube que era filho do famoso poeta curitibano. Mais: que o próprio Leminski o tinha registrado como seu filho, existia uma certidão. De posse dessa certidão, ele conseguiu anular uma segunda certidão de nascimento (que, ele alega, foi forjada em 1976 por sua mãe, Nevair Maria de Souza, ex-mulher de Leminski, no papel, entre 1963 e 1985).

Leia a íntegra no Farofafá clicando aqui. 

segunda-feira, 24 de março de 2025

Mineradoras querem destruir o Gandarela, mas os mineiros resistem

Destruir o Gandarela significa, entre outras coisas, liquidar o fornecimento de água para Belo Horizonte e região dentro da alguns anos. A ganância do capital não tem limites, as mineradoras continuam atuando do mesmo jeito, mesmo depois dos crimes ambientais de Mariana e Brumadinho.

Audiência da Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Assembleia Legislativa de Minas Gerais em 21/3/2025.

sábado, 22 de março de 2025

Trailer do dia: A conspiração consumista

Segunda música do dia: As tears go by, Marianne Faithfull

A primeira gravação dessa deliciosa balada. Outra cantora que tinha apenas dezessete anos quando surgiu e que faleceu recentemente.

Música do dia: Joseph, Georges Moustaki

Rita Lee gravou e fez sucesso, Nara Leão escreveu a versão, a gravação original é esta, do egípio-francês Georges Moustaki, e o autor é o compositor grego Manos Hadjidakis. Rita elevou a leveza da canção.

sexta-feira, 21 de março de 2025

Lula na pesquisa Ipsos-Ipec, bozo às vésperas de se tornar réu e mais

Alguns programas têm a qualidade rara de estarem no ponto, como o pão de queijo de determinada padaria, a broa de outra, a pizza de um restaurante, a massa de outro etc., que fazem a gente caminhar mais para usufruir daquela prazer. Me ocorre imediatamente o Jô Soares Onze e Meia, que durante um bom tempo me proporcionou prazer certo com a inteligência do entrevistador e suas conversas descontraídas com os entrevistados. Padarias e restaurantes costumam manter o padrão durante anos e anos, conservando cozinheiras e cozinheiros, receitas, ingredientes etc. Na comunicação, ao contrário, parece que a qualidade tem prazo de validade. Lembro da alegria com que eu ia à banca comprar a revista Bondinho, no começo dos anos 70, até que um dia ela acabou. O mesmo posso dizer do Grilo, jornal de quadrinhos, e do Ex-, jornal alternativo, e ainda da revista Argumento, de artigos políticos e culturais. Todos desapareceram abruptamente, no auge do sucesso. Naquela época, a ditadura militar interferiu diretamente, mas há outros casos em que foi o próprio veículo que exauriu. O Pasquim, por exemplo, foi um estrondoso sucesso desde seu lançamento, em 1969, até meados dos anos 70, sob feroz censura, depois foi decaindo, mesmo sem censura. Me parece que um veículo de comunicação perfeito depende de vários fatores, entre eles o momento em que é feito. Mesmo o longevo programa do Jô perdeu seu encanto quando se transferiu para a Globo. Sem querer fazer trocadilho e já fazendo, como diria o Jô, o podcast A Hora é o veículo da vez, um programa da hora. Vem elevando seu nível há 35 edições, ao tratar dos principais assuntos políticos da semana, combinando competência e descontração, inteligência e simpatia, experiência e humor, informação e análise, de forma que uma hora passa depressa e a gente já fica esperando a próxima edição. Tomara que essa "química" que une a dupla de jornalistas aquarianos, sua equipe e o público continue por muito tempo ainda, informando e divertindo.

Françoise Hardy, L'amitié

Outro belo vídeo da bela Françoise Hardy.

quinta-feira, 20 de março de 2025

Provocações, Vladimir Safatle, 2013

Interessante. Uma entrevista diferente do Safatle, de respostas curtas. Antônio Abujamra morreu em 2015.

Maior saite de venda ilegal de dados é derrubado

Nossos dados estão à venda na internet, inclusive para golpistas. Dados que nós nem imaginamos que possam estar disponíveis e até que desconhecemos, como o endereço em que nossos pais moraram quando eram solteiros. 

Mais um excelente podcast do Uol Prime.  

segunda-feira, 17 de março de 2025

Águas de março, Tom e Elis

Belo Horizonte agora tem chuva com dia e hora marcados: segunda-feira, às 17h. Semana passada choveu segunda-feira às 17h e hoje chove de novo. A regularidade da Natureza é uma coisa admirável. A gente já andava até reclamando, dizendo que, com as mudanças climáticas, as águas de março não existem mais, mas elas estão aí, fechando o verão, com uma precisão impressionante.

sábado, 15 de março de 2025

O necrossistema e a necropolítica. Acervo da Pandemia, trailer

Esquecemos muito rápido. Cinco anos. Na época eu me espantei por os outros poderes da República, a população e seja lá quais fossem os poderes existentes no país não se levantarem para depor esse presidente e metê-lo na cadeia. Só agora ele está prestes a ser preso. Terminou seu governo e tentou a reeleição. Esse acervo, testemunho permanente dos crimes que levaram a centenas de milhares de mortes por ações e omissões deliberadas do governo federal, é mais do que oportuno.

Gleisi queridinha do Centrão; governo Trump, extrema direita pelo mundo

O melhor, mais informativo, mais simpático e mais bem-humorado podcsta semanal.

Um atraso de quarenta anos

Os atos protagonizados pelo Bozo na tragédia brasileira me fazem pensar no atraso em que se meteu esta nação que poderia ter um destino único e brilhante na história do Homo sapiens, o que não aconteceu porque a qualidade dos nossos políticos, como disse Brizola, é muito ruim. Nos ocuparmos hoje do que fez a escória é o atraso do atraso.

Vivemos paradoxos; a ditadura militar tinha um projeto nacional e os governos democráticos que vieram depois, não. Os militares que implantaram a República, em 1889, eram idealistas e as expressões mais próximas do povo que tivemos, até o governo Lula, os militares de hoje são apenas uma casta privilegiada, que cuida só do seu e foi capaz de apoiar um sujeito que o próprio Exército expulsou dos seus quadros. Um presidente operário, líder sindical, retirante nordestino tornou-se a maior liderança política da nossa época, mas em vez de governar para os trabalhadores, governou e governa ainda para os banqueiros, para os agrotoxiconegociantes, para as mineradoras, para as multinacionais, enfim, para o grande capital internacional. Um partido definido como "dos trabalhadores" tornou-se o principal partido dos capitalistas. 

Como partido da ordem, o PT não faz nada para desmontar a tragédia brasileira. Lula presidente não mudou a política econômica do seu antecessor, nos dois primeiros mandatos, e não revogou a reforma trabalhista do golpe nem a política de desmatamento da Amazônia do bozo, para dar exemplos importantes. 

Isso não acontece à toa, mas porque o PT virou PC, o partido dos capitalistas e a política dos capitalistas para o Brasil é essa.

A direita quando chega ao poder, faz o que promete e nos impinge atrasos terríveis. E então o PT volta para manter tudo como está, sem mudar o que a direita fez, sem fazer coisas novas, sem dar outro rumo para o país. 

Uma direita que faz mais do que promete e uma esquerda que não faz o que se espera dela. E assim vamos andando para trás -- ou para o abismo. Essa é a tragédia brasileira.

Julgamento sobre golpe é marcado para o dia 25; saiba os próximos passos do processo que pode tornar Bolsonaro réu
Ontem (13), o relator do caso no STF, ministro Alexandre de Moraes, liberou os autos para votação da Primeira Turma
Ana Gabriela Sales
Publicado em 14 de março de 2025, 10:38    
O ministro presidente da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF), Cristiano Zanin, marcou para o dia 25 de março o início do julgamento da denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e mais sete acusados pela tentativa de golpe de Estado em 2022.
Ao todo, foram convocadas três sessões para análise do caso. As discussões da Primeira Turma irão começar com uma sessão extraordinária, às 9h30, da terça-feira (25). No mesmo dia haverá uma segunda sessão, na faixa tradicional das 14h. Outro encontro extraordinário foi agendado para a quarta-feira (26), às 9h30.

Leia a íntegra no Jornal GGN

sexta-feira, 14 de março de 2025

Brizola mo Roda Viva, em 2001 e 1994

Imagina se a eleição em papel e urna não fosse nos Estados Unidos, como a imprensa brasileira a trataria. Como isso acontece lá, a imprensa colonizada sempre tratou o assunto com respeito, explicando para seu público que esse é um costume deles, como, por exemplo, o dia de ação de graças, que para nós também soa estranho. Nossa reverência a tudo que é americano, que a imprensa expressa e incentiva, é impressionante. A mesma reverência temos pela tecnologia. A urna eletrônica é um "avanço tecnológico" e basta isso para aprová-la. O fato de não ser possível a recontagem de votos é um argumento desprezado. O fato de os partidos não têm acesso aos programas também. Brizola questiona a informatização do voto e a totalização. Por que não entregar para os estados a totalização? Afinal, o Brasil é uma federação. O papel do TSE poderia se limitar à soma e divulgação. É assim que acontece nos EUA e a nação mais desenvolvida do mundo não se considerada atrasada por não adotar o voto eletrônico. A eleição foi dominada por uma tecnocracia, argumenta Brizola. 

Brizola tinha autoridade moral, como ele mesmo lembra, para questionar a entrada da informática na eleição. Em 1982, ainda sob a ditadura militar, ele foi eleito governador do Rio de Janeiro graças à descoberta, por acaso, de um programa de totalização de votos que transferia seus votos para o candidato preferido dos militares e da Globo. O JB, concorrente do Globo, comprou a briga e ajudou o PDT a desmascarar a farsa. Como lembra Brizola nessa entrevista ao Roda Viva, foi um órgão do sistema de informações da ditadura quem montou a fraude, que nunca foi apurada nem punida, assim como o órgão continuou funcionado, incorporado pela Abin, que existe ainda hoje e participou ativamente da tentativa de golpe em 8 de janeiro de 2023. 

Rever programas assim é uma aula de história, mas não só: é uma oportunidade de fazer uma autocrítica de quem fomos, como pensamos e nos comportamos nesses quarenta anos de redemocratização do país. 

Ridicularizado como um político antiquado pelos entrevistadores, que não tinham nenhum constrangimento em rir dele, Brizola demonstra uma lucidez impressionante. Suas críticas, suas ponderações e suas bandeiras eram pertinentes. Com sua experiência política e inteligência admirável, ele via o que poucos viam, o que intelectuais, líderes políticos e jornalistas não queriam ver e, com sua influência de formadores da opinião pública, impediam que a população visse. 

Eu era um, reconheço, que considerava Brizola, com sua fala arrastada, um político ultrapassado. Tinha embarcado, assim como a maioria, no espírito do nosso tempo, na ideologia dominante, na era de neoliberalismo. Abrimos mão do desenvolvimento nacional em nome da modernização. Um dos muitos exemplos que Brizola dá é a própria informática, que se desenvolvia protegida pela reserva de mercado e foi destruída pela abertura à concorrência internacional. Collor começou isso, mas foi FHC, aparentemente seu adversário, quem impulsionou e Lula, tido como esquerdista, quem continuou e continua ainda. Sem nenhum plano de desenvolvimento nacional, sem nenhum planejamento de longo prazo, sem nenhum equilíbrio, sem considerar os interesses nacionais e muito menos os interesses populares. 

Na prática, a política econômica brasileira após a ditadura nada mais foi do que entregar para o capital estrangeiro todo o patrimônio nacional, transformar o Brasil numa nação exportadora de produtos primários -- à custa da catastrófica destruição ambiental -- e importadora de tudo mais, cujo desequilíbrio só faz aumentar sua dívida e entregar para banqueiros somas astronômicas de juros, todo ano, há décadas. 

Brizola via tudo isso desde o começo e era considerado ultrapassado.

quinta-feira, 13 de março de 2025

90% dos juízes ganharam mais do que os ministros do STF em 2024

O UOL Prime continua fazendo o melhor jornalismo e nos mostrando a realidade brasileira. 40 mil funcionários públicos formam uma casta de privilegiados. Ou melhor, superprivilegiados, porque aqueles que ganham menos do que os ministros do Supremo, também têm muitos privilégios que os trabalhadores não têm. Neste governo do Partido dos Trabalhadores (nos outros também, mas a lógica nos faz pensar que os trabalhadores é que seriam privilegiados num governo do seu partido). O Conselho Nacional de Justiça se negou a se maniestar. O Ministério Público, que deveria defender a sociedade, é quem mais esconde informações. A justiça brasileira confirma seu caráter injusto. Nenhum dos privilegiados, muitos deles cidadãos que assumem posições públicas "progressistas" e "de esquerda", considera o óbvio: os demais trabalhadores brasileiros também têm direito a viver bem, por que então não têm os mesmos privilégios? A realidade é que os brasileiros vivem miseravelmente e trabalham duro para pagar os juros dos banqueiros e os privilégios das castas.

Tostão, num vídeodocumentário

"Meu Atlético (do time de botões) sempre teve Tostão; Tostão e Beto jogando juntos", escrevi no meu conto O jogo, inédito. Tostão é um dos meus ícones. Temos muitas coisas em comum, ele na sua genialidade, eu na minha obscuridade, além do fato de sermos ambos aquarianos. Entramos na universidade no mesmo ano e frequentamos a UFMG no mesmo período, lembro de vê-lo várias vezes na Escola de Medicina, embora ele não participasse do "nosso" movimento estudantil. Mais velho que eu, ele voltou a estudar quando parou de jogar bola. Eu também sofri um descolamento da retina no olho esquerdo e também parei de jogar bola por isso (eu não era craque, mas era louco por futebol). Nossos pais foram colegas de banco e ele cresceu no mesmo bairro que eu. Temos amigos comuns, mas não o conheço pessoalmente e sequer tive oportunidade de entrevistá-lo como jornalista. Sempre o admirei a distância acompanhando sua trajetória, sua volta ao futebol como comentarista, suas análises sem semelhantes. Tostão é uma espécie de John Lennon do futebol para mim, por sua coerência brilhante a iluminar a mediocridade, coerência rara entre celebridades; os dois sofreram tragédias, embora a do Tostão não lhe tenha tirado a vida, só uma visão, e eu sei bem o que é isso. Quieto no seu canto, numa época em que ser visto é a moeda e todos cada vez mais se expõem para ganhar dezenas ou bilhões de centavos pagos pelos magnatas da tecnologia como esta aqui, Tostão se aproxima dos 80 anos de vida coerente e discreta. Daí a importância desse vídeo raro sobre ele, bom, embora capcioso e pobre em imagens e informações. Viva Tostão!

Música do dia: Fita amarela, Noel Rosa, por Ivan Lins

“Quando eu morrer, não quero choro nem vela, quero uma fita amarela gravada com o nome dela. Meus inimigos, que hoje falam mal de mim, vão dizer que nunca viram uma pessoa tão boa assim.” Noel de Medeiros Rosa conheceu bem a alma humana, que “tem muito do bem e um pouquinho do mal”, como escreveu outro poeta. Não é outra a função da poesia senão expressar os abismos e também os cumes (por que não?) da alma humana, que não é alma nem espírito, é só o cérebro, como ensina Suzana Herculano, mas o cérebro é fantástico, nas suas infinitas capacidades. Sou sempre tentado a dizer que Noel foi o mais genial dos compositores populares brasileiros, mas escuto outros e fico em dúvida. O que impressiona é ele criar obra tão genial tendo morrido aos 26 anos. O que me leva a pensar que aquele vigor criativo que a gente sente na juventude, que extrapola a razão e brota das profundezas da alma, profundezas tão profundas que não pertencem ao indivíduo, mas à sua herança genética, esse vigor criativo deve ser vivido intensamente, mas também parece ser fato que ele consome a vida mais rapidamente. Criar ou viver, ser insano ou sensato, dilema da "alma" humana, do Homo sapiens, dessa história louca de maravilhas e horrores, cuja única certeza é que não há nela nada maior do que a arte. Esta gravação, assim como todo o disco, é primorosa. Infelizmente, só achei para comprar o número 1, mas sei que tem o volume 2 e acho que o 3 também. Todos podem ser escutados no YT, com paciência para interrupções cada vez mais frequentes de propagandas. Mais infelizmente mesmo é que sei que não terei a tal fita amarela.

quarta-feira, 12 de março de 2025

Françoise Hardy

Eu sabia que Françoise Hardy estava doente, sofria muito e defendia a eutanásia. Sempre que lembrava procurava notícias dela, mas sua morte, no dia 11 de junho do ano passado, me passou despercebida. Tenho grande admiração por ela. A beleza sempre me conquista primeiro, sua voz, seu talento e sua personalidade consolidaram a conquista. Foi uma grande poeta. Tous les garçons et les filles foi seu primeiro sucesso, em 1962. No mesmo ano em que os Beatles apareceram e alguns meses antes. A capricorniana Françoise Madeleine Hardy era mais jovem que eles, tinha só 18 anos! E compôs essa pérola. Ela tem ligações com o Brasil. Seu álbum mais celebrado, La Question, com influências da bossa nova, foi gravado em parceria com a cantora e compositora brasileira Tuca. Ela veio ao Brasil participar do Festival Internacional da Canção de 1968, aquele de Sabiá (e também Pra não dizer que não falei de flores e É proibido proibir), e na volta à França gravaou uma versão da canção do Tom e do Chico. Gravou Taiguara também. Viva Françoise Hardy. Esse vídeo é muito bonito.

terça-feira, 11 de março de 2025

'Por que a guerra?': as cartas que Einstein e Freud trocaram há 90 anos

Por iniciativa da Liga das Nações (lembra a Liga da Justiça, dos quadrinhos, mas foi antecessora da ONU e um fracasso), Einstein e Freud participaram de um esforço mundial para evitar a II Grande Guerra, como se sabe também malsucedido. O que nos leva a concluir imediatamente que a oposição das mentes mais brilhantes de uma época não é suficiente para impedir catástrofes humanas. E deduzir que a catástrofe que está em curso, muito mais grave que as duas guerras mundiais, tampouco será evitada. Estamos acostumados a atribuir a guerra aos alemães, mas de que alemães estamos falando? Os maiores intelectuais alemães se opuseram à guerra; além de Freud (austríaco, quase alemão) e Einstein, Thomas Mann e Brecht, para citar dois cujos nomes me ocorrem imediatamente. 

domingo, 9 de março de 2025

Edifício de 20 andares será construído na Praça da Savassi

A Praça da Savassi terá um edifício de 20 andares, no local onde funcionava a Vivo e originalmente a Padaria Savassi, que deu nome à região, na esquina da Avenida Cristóvão Colombo com a Rua Pernambuco (foto abaixo). A demolição do prédio antigo está em curso. A nova construção mudará a cara do lugar, em primeiro lugar porque a praça se caracteriza por construções baixas. Talvez tenha um impacto similar ao da construção do xópim Pátio Savassi, há algumas décadas. Matéria do jornal Estado de Minas, em julho do ano passado, anunciou que a construtora e os proprietários do imóvel, entre os quais está um membro da família Savassi, não querem construir um simples prédio, mas um local que inclusive tenha um espaço cultural e reverencie a memória da Savassi. A conferir. A matéria também informa que o membro da mesma família Savassi, cuja padaria deixou o local em 1977, é dono da tradicional Pizzaria La Traviata, vizinha do imóvel. É oportuno lembrar que em frente, do outro lado da avenida, está o prédio do extinto Cine Pathé, importante para a história da cidade, tombado e alvo de projetos culturais nunca realizados, cuja fachada foi conservada e o interior se tornou um estacionamento. 

segunda-feira, 3 de março de 2025

Flávio Dino: bastidores de decisões no STF e ativismo judicial

Flávio Dino também pensa. Aliás, o STF governa melhor do que o Executivo. Decisões governamentais sob suspeita de serem inconstitucionais são questionadas pela sociedade e o STF é obrigado a julgar. Felizmente, nessa época tenebrosa, muitas vez ele cumpre seu papel.

Vladimir Safatle, a lógica do condomínio, Café Filosófico

Aplausos.

domingo, 2 de março de 2025

Música do dia: Like a Rolling Stone, Bob Dylan

"How does it feel, how does it feel? To be on your own, with no direction home, a complete unknown, like a rolling stone."

É um refrão poderoso de uma canção forte ainda hoje, equiparada às melhores do Beatles, do CCR e de mais alguns, vários, que não me ocorrem agora, mas o número não importa, essa história de melhor, maior, (a revista que tirou seu nome dela, como a banda, a colocou, obviamente, no primeiro lugar em todos os tempos, mas) esse negócio de comparar é bobagem, porque depende do momento de quem ouve, o que importa é que é uma obra-prima, está no topo das obras-primas.