segunda-feira, 8 de abril de 2024

Clara Arreguy fala sobre a trilogia 'Cadernos do Calbercan'

No seu canal no YouTube, Clara Arreguy resenha os livros 171972 e 197 que compõem a trilogia Cadernos do Calbercan. Eles narram a trajetória de jovens que cresceram sob a ditadura militar e saíram às ruas para exigir a volta da democracia no Brasil. 

Se você tiver interesse nos livros, pode entrar em contato com o autor pelo zap 31-9-97051955. Para entrega em BH, os livros custam R$ 36, R$ 35 e R$ 42, respectivamente. Para outras cidades, será acrescentada a taxa de correio. O pagamento pode ser feito por pix. Os livros também estão à venda na banca do Odair José, na Savassi (Avenida Getúlio Vargas, entre Antônio de Albuquerque e Alagoas), na livraria Scriptum (Rua Fernandes Tourinho, 99), na livraria virtual do Grupo Editorial Atlântico e outras livrarias na internet. 

A seguir, as sinopses dos três romances: 

17

No começo dos anos 70, uma turma de adolescentes vive intensamente as férias de verão, experimenta ingenuamente novos sentimentos e põem à prova suas ilusões, sob a vigilância severa dos adultos. Ambientada nos anos de chumbo da ditadura no Brasil, 17 é uma obra de ficção que fala de pessoas, lugares e coisas que já não existem, um testemunho do que, segundo o historiador Eric Hobsbawm, é um dos fenômenos mais lúgubres da nossa época: a destruição dos mecanismos sociais que vinculam a experiência das gerações presentes à das gerações passadas. 

1972 

Nos opressivos anos do “milagre brasileiro”, a rebeldia – sem causa e com causa – encontrou terreno fértil para germinar nas mentes e nos corações de uma geração estudantil que se preparava para entrar no mercado de trabalho. 1972 narra as experiências formadoras de um jovem de 17 anos, idade em que a existência parece um jogo de azar, no qual tudo se pode ganhar e nada se tem a perder, a não ser o tempo infinito à frente.

1977

Em 1977, os estudantes brasileiros voltaram às ruas para protestar contra a ditadura militar, depois de mais de oito anos de silêncio imposto pela repressão implacável do AI-5. Ambientado nesse cenário, o último volume da trilogia Cadernos do Calbercan narra a história de um jovem universitário cuja geração venceu o medo e quis, com idealismo e ingenuidade, fazer a revolução.

O vídeo só pode ser visto no YT. Clique para ver. 


segunda-feira, 1 de abril de 2024

Arena do zêro

Os quatro Rs, os milionários que compraram o Atlético, construíram uma arena para o Cruzeiro. Que vergonha. Esse Atlético não é o meu, é um clube de elite. Basta andar na rua e ver quem usa camisa do Galo e quem usa camisa azul com cinco estrelas. O povo, que um dia foi "a massa" do Galo, hoje é torcida do "zêro".

O golpe que ainda não terminou

Neste momento em que a nação se volta para os 60 anos do golpe de 1964, no próximo 1º de abril, republico aqui o que escrevi em 24/11/18, sobre outro golpe, mais recente, cujas implicações estão ainda na ordem do dia e que a esquerda, lamentavelmente, a começar pelo partido e o presidente novamente no poder, não enfrentou e não enfrenta como deveria. Citando Caetano Veloso, continuamos sempre matando hoje o velhote que morreu ontem. É o golpe de 2016 e tudo que o acompanhou, assim como seus antecedentes, que me interessam, não é 1964, que pertence à história. O golpe de 2016 não acabou, seus efeitos sobre os brasileiros não passaram nem dão mostra de que vão passar.


As máscaras caem

Nesses dias que sucedem o segundo turno das eleições e antecedem a posse do novo presidente, as máscaras caem. Primeiro foi o juiz moro, em seguida o ministro tofoli. Não há mais dúvida de que tudo que aconteceu nos últimos quatro anos no Brasil pertence à política, e não é política democrática, é golpe. O que aconteceu foi uma reação golpista às quatro vitórias eleitorais sucessivas do PT, mais especificamente à popularidade de Lula. O objetivo era tirar o PT do poder e impedir a volta de Lula.

Afastada a presidenta reeleita, estabelecido o governo provisório, possível, de temer, tratava-se de pressioná-lo para realizar as “reformas”, ou seja, pôr em prática a agenda derrotada nas urnas – mais uma prova, entre tantas, de que o impeachment foi golpe. No horizonte, porém, havia a eleição presidencial deste ano, e nela o perigo da volta de Lula, mais que perigo, a convicção – esta sim uma convicção razoável. Cancelar a eleição, prorrogar o governo ou dar um golpe militar, significaria explicitar o golpe, mas era preciso impedir Lula, o que se fez processando-o, condenando-o, prendendo-o, cassando-o.

O mesmo que o golpe de 64 fez com JK, candidato preferido à eleição de 1965, e com todos os líderes populares da época, apensas os meios foram outros. Num caso e outro, meios violentos, basta olhar a figura de Lula no último depoimento, envelhecido, abatido, irritado, a maior liderança política brasileira em meio século, estadista de expressão internacional, subitamente lançado ao inferno, à prisão, à execração pública, à humilhação por figuras de valor inexpressivo.

Não sei há quanto tempo a estratégia golpista foi traçada, se toda de uma vez ou aos poucos, mas provavelmente foi antes da eleição de 2014. Seus resultados a comprovam e as máscaras que agora caem desfazem qualquer dúvida sobre ela. Os vitoriosos não se preocupam mais em escondê-la.

A estratégia golpista acompanha a lava jato, caminha com ela, que começou ainda no primeiro governo Dilma. A eleição do candidato tucano naquele ano teria mudado tudo, tornando-a dispensável ou menos rigorosa, sujeita a negociações políticas. A não ser que a filiação política do juiz moro, aparentemente tucana, fosse já essa que se revelou em 2018, e os sorrisos e poses ao lado de aécio e outros fossem só fingimento. O objetivo foi alcançado, com aécio ou com o capitão.

O certo é que a derrota de aécio, cuja vitória chegou a ser comemorada antes da hora, deflagrou o golpe como única alternativa de retirada do PT do poder. Não poderia ser um golpe militar, como em 1964, porque descarado e arriscado, os militares podiam tomar gosto pelo poder outra vez. Além disso, eles saíram muito desgastados em 1985. Não fazia mal, porém, agitar o fantasma, para assustar uns e outros, confundir, criar opções, dar argumentos.

Seria o golpe parlamentar, importado do Paraguai, onde foi dado com impressionante sucesso, e que já tinha sido testado aqui mesmo, com o Collor, ainda que em condições muito mais favoráveis, com o candidato abandonado pelos seus e atacado pela oposição. Daria certo em 2014? Com uma presidenta que acabava de ser reeleita, que tinha do seu lado o presidente mais popular do país, e para defendê-la os seus eleitores, a maioria, além de um aguerrido exército de militantes partidários?

A estratégia contou, porém, com a inesperada colaboração da própria presidenta, que, num esforço para aplacar a oposição inconformada com a derrota, abraçou seu programa e renegou o que tinha defendido em campanha. Com isso, desarmou seu exército e arrefeceu o ânimo dos seus simpatizantes. Um entre tantos erros cometidos pelo PT, confiante talvez no sucesso de um poder construído e mantido durante mais de uma década, superando diversos percalços.

Ao mesmo tempo, a operação política judicial avançava, pondo em pânico os aliados do PT e de Lula. Este, que é o motor daquele, demorou a reagir, talvez porque convalescente ainda de um câncer, talvez porque se sentisse onipotente, após a quarta vitória consecutiva, surpreendente, quando tudo parecia perdido, talvez porque fosse enganado pelo conforto do poder, provavelmente por tudo isso. E a demora se mostrou fatal.

O braço judicial do golpe agia febrilmente, avançando sobre políticos, burocratas e empresários, desrespeitando leis, normas, costumes, usando o apoio incondicional da mídia e a conivência dos tribunais e do stf. Ao prender políticos e milionários, como nunca antes se tinha visto no país, a operação dava o aviso: estamos determinados a destruir o PT, ou vocês vêm conosco ou serão presos também.

O partido do vice-presidente e aliado do PT, partido de políticos profissionais que se iniciaram ainda na ditadura e, como as baratas, acostumados a se adaptar e sobreviver a todas as mudanças ambientais, entendeu e resolveu agir. Ainda tentou fazer isso pela via normal, convencendo a presidenta, mas ela, com sua incompetência política e ingenuidade, das quais não se sabe ainda qual é maior, se manteve imóvel, incorruptível, republicanamente. Quando agiu, nomeando Lula, era tarde, saiu derrotada, desmoralizada.

O episódio foi o Rubicão do braço judiciário do golpe. Vencedor, impune, demonstrando sua força e que sua vitória final era questão de tempo, agia de forma descaradamente ilegal contra a maior autoridade nacional, a presidenta cujo poder era garantido pelo Artigo 1º da Constituição, e mostrava que não tinha pudor em atingir Lula, um mito nacional e internacional. Candidatava-se definitivamente à liderança do golpe. Sua ousadia deixou estupefatos aqueles que já tinham se espantado com vazamentos de escutas ilegais anteriores, mas não acreditavam que um juiz fosse capaz de tanto. Nada aconteceu para detê-lo. Por omissão, o stf tornou-se cúmplice do golpe. A mídia igualmente ignorou o ataque aberto à democracia. E o braço judicial recebeu assim carta branca para avançar.

Se o golpe avançava, a mídia compreendeu que era hora de se aliar a ele e assumir seu papel fundamental, já testado de outras vezes: o de inflá-lo, dando visibilidade especial a tudo que pudesse ajudá-lo, incentivando a mobilização surpreendente das classes médias reacionárias, que não era vista desde o golpe anterior.

Foi o que se viu: as impressionantes concentrações verde-amarelas, de brancos com suas babás, tirando retratos com policiais que pela primeira vez na história iam a manifestações para proteger os manifestantes e não para reprimi-los com bombas, cassetetes, cachorros, jatos d’água, choques elétricos. Manifestantes vestidos com a camiseta da cbf, reconhecida mundialmente por sua corrupção, protestando contra a corrupção!

E veio a campanha do impeachment. Também não se importavam, os manifestantes – cada vez mais irados, estimulados pela lava jato e pela globo, machistas, racistas e preconceituosos saídos do armário aos magotes –, que ao tirar a presidenta colocariam no poder um notório corrupto. Quando o fato estava consumado e a própria globo ensaiou afastá-lo também, aparentemente aderindo à campanha fora temer!, a massa verde-amarela não se entusiasmou, ficou “em casa guardada por Deus, contando o vil metal”. Demonstrou que tinha compreendido muito bem o significado do que acontecia: aquilo tudo não tinha nada a ver com combate à corrupção, tratava-se de afastar o PT do poder e destruí-lo; outros, por mais corruptos que fossem, podiam ficar onde estavam, a não ser que servissem ao propósito principal.

E assim temer, o possível, ficou. E foi útil aos golpistas, fazendo as “reformas” impopulares que nenhum presidente eleito faria. temer, o possível, o blindado pelo poder da presidência, pelo congresso, pela mídia, pelo judiciário, pela liderança do golpe, pelas massas reacionárias verde-amarelas.

2018 foi um ano trágico. Preservadas as eleições, antipetistas e petistas finalmente mediriam forças novamente e o resultado do jogo era imprevisível. Até agora, o jogo tinha sido jogado no campo golpista. A partida decisiva, porém, seria no campo do PT, o campo em que ele parecia imbatível, no qual tinha vencido quatro vezes seguida: o voto popular. O juiz, sabia-se, estava do lado dos golpistas. O que não se sabia, ou se fingia não saber, por autoengano ou falta de alternativa, era até onde ele iria para decidir o jogo. Embora continuasse dando todas as demonstrações necessárias, até para os mais céticos, de que só havia um resultado aceitável e que era capaz de tudo para alcançá-lo.

Não é coincidência que fosse esse o mote, em tom ameaçador, do candidato afinal vencedor: “o único resultado honesto é a minha vitória, se eu perder é fraude, as urnas não são confiáveis”.

É razoável, agora, passada a eleição, perguntar ao presidente eleito se ele pretende acabar com o voto eletrônico e voltar ao voto em papel, mas não vi ninguém lhe fazer tal pergunta.

O caminho para a vitória do golpe nas urnas foi aberto com a prisão do Lula. O PT, no entanto, insistiu na sua candidatura até o último momento, usando de todos os instrumentos legais, jogando no campo do adversário golpista, e perdendo sempre, pois não era só o juiz que estava determinado a impedir sua candidatura, era todo o judiciário que se acumpliciava da iniciativa, fechando portas que a representação jurídica do petista tentava abrir; quando um e outro fugiram ao combinado foram enquadrados.

Em cima da hora, impedido Lula definitivamente, ilegalmente, preso político, lançou-se novo candidato: Haddad é Lula. Mas não foi. Por que não foi? O primeiro motivo é que realmente não é, mas há outros, um deles fundamental: as notícias falsas disseminadas pelas redes sociais, as fake news.

O fato ficou evidenciado quando milhares e milhares (milhões?) de mulheres em todo o país se mobilizaram na campanha #EleNão, mudando o ambiente eleitoral, fazendo renascer esperanças, indicando a virada. Em vez disso, o movimento impulsionou o capitão. Como isso foi possível?

O episódio mostrou que, estrategicamente, o candidato da extrema direita continuava na dianteira. Ele fazia uso das fake news, importadas da campanha do presidente americano Trump, e o movimento #EleNão foi sua primeira vítima: enquanto as mulheres se mobilizavam nas ruas aos milhares, o capitão mobilizava um exército de robôs financiados por empresários, ilegalmente, para transmitir a milhões informações falsas sobre as mobilizações. Com o silêncio cúmplice da mídia, as fake news distribuídas por zap prevaleceram.

A campanha petista continuou sendo atacada pelas notícias falsas; mesmo passando ao segundo turno, como era esperado, Haddad não conquistou o eleitorado lulista. Mais uma vez reagiu tarde, mais uma vez o braço judiciário do golpe assistiu passivo.

Convalescente de uma tentativa de assassinato impressionantemente conveniente, o capitão fez campanha com notícias falsas, sem sair de casa, sem participar de debates, sem se expor a ataques pacíficos, verbais, sem pôr à prova suas desconhecidas propostas de governo, seu conhecido passado político, sua questionável condição mental. É inimaginável que aquela facada tenha sido forjada, embora em política tudo seja possível, mas que ela foi incrivelmente oportuna, isso foi.

A vitória sobre a morte iminente antecipou a vitória eleitoral: nada nem ninguém parecia capaz de deter o candidato militar – exceto, é claro, Lula, que tinha sido tirado do seu caminho, num atentado sem faca, mas não menos violento, e que, ao contrário do outro, atingiu seu objetivo. Agora, eram os próprios eleitores lulistas que viravam o voto para o capitão.

Embora muitos analistas tentem ignorar este fato, há um expressivo contingente de eleitores que vota no candidato que vai vencer, pois não quer “perder voto”. É uma parcela que vai com a onda e a torna incontrolável. Não são eleitores que votam por convicção ideológica, em geral é gente simples, influenciável, que não quer ficar mal com amigos e parentes, e que, encerrada a eleição, quer sentir o gostinho da vitória. Esse voto já foi de Lula quatro vezes seguida, mas este ano foi do candidato identificado com “o novo”. “Chega de PT”, justificavam paradoxalmente jovens eleitores que cresceram beneficiados pelo Bolsa Família, Prouni, Fies e outros programas petistas.

Parece inexplicável que entre duas eleições o Brasil tenha passado das mãos da esquerda para a extrema direita, mas não é. É preciso lembrar que no meio do caminho teve um golpe, que temer, o possível, criou o ambiente, com seu governo desastroso, para a ojeriza aos políticos tradicionais e uma candidatura radical. Com exceção do PT, majoritário durante quatro eleições e que ainda desta vez foi ao segundo turno e fez a maior bancada na câmara, todos os partidos tradicionais fracassaram e terminaram nanicos na votação de 7 de outubro. O banqueiro milionário que se candidatou pelo pmdb teve resultado ridículo, assim como o candidato tucano, partido que sempre venceu ou foi ao segundo turno desde 1994 até 2014.

A eleição presidencial de 2018 não foi uma eleição normal, não foi uma eleição democrática. Foi, como tudo que aconteceu no Brasil nesse quadriênio ainda não encerrado, uma eleição num estado de exceção. O presidente do stf atesta isso, ao tirar sua máscara.

Num golpe, as regras convencionais estão suspensas e o funcionamento das instituições não é mais o constitucional. O braço judiciário do golpe provavelmente queria ver na presidência o partido predileto da direita, mas o candidato tucano não emplacou, assim como não emplacaram os candidatos alternativos. O terceiro colocado foi um candidato de esquerda, em alguns aspectos mais temido pelos golpistas do que o candidato petista, assim como Brizola era mais temido do que Lula, no passado. O capitão foi o candidato que se apresentou como capaz de derrotar o PT nas urnas, da mesma forma que Collor em 1989; sobrevivendo ao atentado, se capacitou a ser o Collor de 2018.

Como Collor, o capitão vai para o poder com seus amigos de velha data – no caso, seus filhos, seus militares, seus evangélicos e outros. A montagem do governo é uma exibição pública diária de despreparo, incompetência, primitivismo, que contradiz a campanha, baseada na renovação, na negação dos políticos, numa revolução de direita, se é que isso existe.

O que não se contradiz, ao contrário, se confirma, é o golpe. Voltados para o governo, conquistado o poder, os golpistas tiram as máscaras. O juiz moro, que, como se soube depois, já tinha aderido ao capitão no primeiro turno, quando tomou a última decisão contra Lula, abandonou a magistratura (não sem antes deixar no seu lugar uma substituta ainda mais implacável) para entrar na política, embora durante todo processo jurídico-político tenha negado que pretendesse fazer isso; tornou-se futuro ministro da justiça superpoderoso, desde já candidatando-se a sucessor do presidente eleito.

Em seguida, o presidente do stf pronunciou-se pela volta à normalidade. Reconheceu, assim, que vivemos num regime de exceção, cujo objetivo era impedir a volta de Lula ao poder. E que o judiciário cumpriu seu papel fundamental nisso.

Usando do poder supremo que tem nesses últimos dias de 2018, antes que o presidente militar eleito assuma o governo, tofoli propõe ao exército golpista recolher as armas. Numa atitude eminentemente política, recomenda que o judiciário deixe de fazer política. Em vez de caminhar para um regime totalitário, que tal voltar ao regime constitucional de 88?, sugere. Vamos fingir que nada aconteceu, que está tudo normal, que tudo continua como antes, é seu apelo.

A isso se resume o último quadriênio político brasileiro, um esforço de forças oposicionistas para tirar o PT do poder e impedir que ele voltasse na eleição deste ano. Nesse processo, a maioria do eleitorado passou de petista a antipetista, a bolsonarista, um fenômeno provavelmente tão inconsistente quanto o collorismo. Nesse processo emergiram novas lideranças políticas, em especial o presidente eleito e o juiz moro. O tempo dirá se esse projeto totalitário-liberal e essa aliança militar-judicial ganharão consistência.

Principalmente, nesse processo a democracia foi golpeada, a vontade popular foi golpeada, o país e seu povo foram golpeados, lançados numa crise econômica e social profunda, da qual não sabemos se vamos sair com o novo governo, resultado de um golpe, e como.

Pode-se dizer que é auspicioso que o novo golpe, diferentemente daquele de 1964, começou sem pronunciamento dos militares e terminou com o pronunciamento das urnas. Isso, porém, seria ignorar que, assim como em 1964, embora por outros meios, os poderes legislativo e o judiciário violaram a vontade popular, a Constituição e as leis para tirar do poder um governo e pôs outros no seu lugar, em 2016 e 2018.

O ministro tofoli pensa que pode voltar no tempo, mas isso não é possível. O Brasil pós-golpe não é mais o mesmo. O golpe foi referendado pela urnas. Os retrocessos do governo temer prepararam o país para novos retrocessos que virão legitimados pela eleição do presidente capitão e sua trupe. Ele pode fazer o que quiser, pois – suprema contradição –, sendo contra o povo, obteve o apoio do povo.

A nova república está morta, e com ela todas as instituições que a sustentaram – além do stf, do judiciário, do congresso, dos partidos políticos que se alternaram no poder: PT, psdb, pmdb, pfl-dem. O governo do capitão presidente expressa uma ordem nova, que não sabemos ainda como será. Cabe às forças democráticas, na oposição – além de reconhecer seus erros e construir um novo projeto político democrático –, entender o que é esse novo.

Esse caminho começa por buscar respostas para várias perguntas que emergem do que se constatou aqui: que tudo que aconteceu nesses quatro anos pertence à política e tinha como objetivo tirar o PT do poder.

Por que tirar o PT do poder justificava a destruição da nova república, o desrespeito à vontade popular, a violação da Constituição, a ignorância às leis? Por que, para tirar o PT do poder, valia afundar o país na crise, no desemprego, na miséria, destruir a Petrobrás e grandes empresas brasileiras? Por que um político que defende a ditadura, a tortura, os torturadores, o armamento da população e a matança impune de suspeitos de crime, o estupro, a inferioridade das mulheres, dos negros, dos indígenas, a repressão às minorias sexuais e o desrespeito aos direitos humanos é preferível (para a direita – e para a maioria do eleitorado) ao PT? Por que o PT se tornou tão odiado a ponto de justificar todos os horrores que vivemos há quatro anos?

Nota: Ao leitor que estranhou as iniciais minúsculas nos nomes de pessoas e instituições, explico que o fiz intencionalmente; elas perderam o merecimento a iniciais maiúsculas, por seu comportamento e ações golpistas que desrespeitaram a vontade popular e trouxeram incomensuráveis prejuízos e sofrimentos ao povo brasileiro nos últimos quatro anos.

Crédito da foto: reprodução da BBC Brasil do depoimento do então ex-presidente Lula ao então juiz moro, peça decisiva do golpe de 2016.

 

sábado, 9 de março de 2024

Entre 1971 e 2024 o amor morreu

A diferença entre 1971 e 2024 é que naquela época as pessoas acreditavam em amizade, amor, solidariedade, ficar e fazer coisas juntas, transformarem a realidade para todos. Hoje é cada um para si, só no que pensam as pessoas é na sua realização individual, no "sucesso", embora o mundo em que esse "sucesso" se dá seja pior talvez do que jamais foi, os trabalhadores trabalhando informalmente, 12 horas ou mais por dias, todos os dias, sem direitos, e com o futuro das próximas gerações virtualmente liquidado pelo "progresso". You've got a friend, assim como Imagine, do John Lennon, do mesmo ano, expressam um sentimento que não existe mais, mas ainda me comove. 

segunda-feira, 29 de janeiro de 2024

Criança é pra brincar

A tragédia da espécie humana se reinventa todas os dias nesse mundo neoliberal que parece não ter fim, mas algumas pessoas continuam fazendo coisas boas e dignas em todas as partes, que apontam para um mundo melhor e possível. Alguns privilegiados têm a sorte de participar delas. 

Em 2009 escrevi um livro, Meninada, o que a gente vai fazer hoje?, publicado em 2011, sobre a experiência admirável do Clic! -- Centro Lúdico de Interação e Cultura, em BH. De lá pra cá, muita coisa mudou, inclusive o endereço do Clic!, mas sua pedagogia que me encantou continua a mesma e coincide com muitas coisas que os cientistas americanos estão descobrindo agora, segundo a importante reportagem acima, da BBC, que merece ser ouvida (é áudio). E o que é animador: o Clic! deu filhotes, como o Espaço Corre Cutia. 

Falta essa pedagogia chegar às escolas públicas e atingir a imensa maioria das crianças e jovens. É assim, todos sabemos há décadas, que o mundo pode mudar para melhor: a partir de uma educação para autonomia para todas as crianças.

Clique aqui para conhecer o Clic! 

Clique aqui para conhecer o Corre Cutia. 

Clique aqui para conhecer o livro Meninada, o que a gente vai fazer hoje?

sexta-feira, 19 de janeiro de 2024

Cigarro é pop, cigarro é tech, cigarro é tudo

propaganda de cicarro antiga

Tomo um café e na sua embalagem está escrito “orgânico”. O que significa isso? Que as dezenas de outros cafés na prateleira do supermercado são cafés com agrotóxicos. O mesmo vale para arroz, feijão e qualquer alimento industrializado ou in natura disponível no comércio. Exceto os orgânicos, todos os outros são cultivados com grandes doses de agrotóxicos, que depois consumimos e provocam câncer, por exemplo, entre outras doenças. Fosse esse um mundo razoável e as embalagens conteriam a identificação “produto com agrotóxicos”, mas não é, é um mundo em que o que prevalece é o interesse dos capitalistas, dos empresários, agrotoxiconegociantes, interesse esse que é ganhar dinheiro, mais nada. 

Há algum tempo, uma lei determinou que as embalagens dos produtos transgênicos contivessem a advertência, ilustrada por um símbolo, mas não durou muito, caiu, por pressão dos capitalistas. Curioso, não é? Se os capitalistas tivessem boa intenção, deveriam manter a advertência, mesmo sem obrigatoriedade legal, como sinal de honestidade e respeito ao consumidor, como pregam em todas as ocasiões, discursos, propagandas, eventos etc., mas não, o que eles querem é esconder que seus produtos são transgênicos. Por quê? Por que sonegar informações ao consumidor sobre o produto que ele está consumindo? O que então dizer dos alimentos contaminados com agrotóxicos?  

São informações elementares, básicas, fundamentais, necessárias, às quais todo consumidor tem direito: saber o que está comprando, o que vai comer. “Este produto foi cultivado com agrotóxicos. A lavoura deste produto usou os agrotóxicos X, Y e Z. Estudos científicos demonstraram o aumento da incidência de câncer em pessoas expostas ao agrotóxico X. A substância y presente no agrotóxico Y foi associada por estudos científicos à causa da doença…” E assim por diante. Por que não? 

Como fazem os maços de cigarros hoje em dia, e já há bastante tempo, mas que também durante muito mais tempo foram associados ao sucesso na vida por meio de propagandas e propagandistas da indústria de entretenimento, comprada pela indústria do tabaco. Algo do tipo: “Tabaco é pop, tabaco é tech, tabaco é tudo”. Em propaganda de hoje, era o que diziam a indústria do tabaco e a televisão, que difundia o consumo de cigarros, escondendo informações mais do que conhecidas sobre as doenças que eles causam, condenando ao vício, ao adoecimento e à morte milhões e milhões de pessoas, como agora fazem os agrotoxiconegociantes e sua comunicação de massa. 

Nem era preciso dizer nada disso, só interpretar a imagem acima: o ator e mais tarde presidente dos EUA Ronald Reagan fazendo propaganda de cigarro quando já era amplamente sabido que fumar provoca inúmeras doenças. Reagan: ator (medíocre, dizem, não me lembro de filme dele) da indústria de entretenimento hollywoodiana, propagandista da indústria do tabaco americana, político financiado pelo capital, presidente dos capitalistas na maior nação do planeta. 

Quem seria o símbolo equivalente hoje para o "agro é pop, agro é tech, agro é tudo"?

quarta-feira, 17 de janeiro de 2024

Patrícia Ahmaral lança o disco do ano

Só não sei dizer se de 2023 ou 2024, já que o lançamento aconteceu no dia 29/12/23. Se for 2023, são favas contadas, se for 2024, alguma coisa extraordinária terá que acontecer na MPB dominada por horrores, pelo menos nos meios de comunicação e divulgação hegemônicos, para tomar dela o título. É difícil imaginar coisa mais importante no cenário musical atual do que ressuscitar a obra do poeta tropicalista meio século depois da sua morte. Patrícia, cuja projeção não faz jus ao seu talento, entra para a história da música brasileira ao gravar o primeiro song book dedicado a Torquato Neto. 

Talvez não tenha existido na Tropicália de tantos talentos geniais poeta mais genial do que Torquato. Basta pensar em Gilberto Gil, Caetano Veloso, Tom Zé, Jorge Ben, Mutantes. Basta pensar em Marginália II, Louvação, Geleia Geral Mamãe Coragem, Cogito, Go back, Pra dizer adeus. Cito algumas canções primorosas, mas todas as letras do álbum Patrícia Ahmaral canta Torquato Neto são primorosas, verdadeiras pérolas a demonstrar que a melhor poesia brasileira está na MPB e atingiu o cume com o letrista piauiense. O piropo Zabelê é de dar inveja a Vinicius de Morais. Torquato, que suicidou em 1972, aos 28 anos, foi letrista, não foi músico, todas as canções do álbum são divididas com outros compositores.

Primoroso também é o álbum: arranjos, instrumentos, vozes. Um presente para ouvidos cansados de tanta mediocridade. Tem importância equivalente ao song book Balaio do Sampaio, de 1998, talvez maior. Diferentemente deste (iniciativa do músico Renato Piau, que contou com interpretações de cantores do primeiro time), o álbum da Patrícia é a concretização de um projeto pessoal e antigo da cantora belo-horizontina, intérprete das 19 canções. O álbum duplo é composto dos discos Um poeta desfolha a bandeira e A coisa mais linda que existe

Ela não está sozinha, porém. Em torno do projeto, viabilizado com recursos de incentivo cultural e financiamento coletivo, reuniu um time igualmente de primeira, a começar por Zeca Baleiro. O compositor e cantor maranhense com estreitas relações com Minas Gerais e que tem se dedicado, paralelamente ou como parte da sua carreira, a apoiar trabalhos que lançam luzes sobre grandes músicos brasileiros e cantores menos famosos, é o diretor artístico do álbum. Para acompanhá-la nas gravações, Patrícia contou com Jards Macalé, Banda de Pau e Corda, Chico César, Ná Ozzetti, Paulinho Moska, Moda de Rock, Maurício Pereira e Tonho Penhasco, além do próprio Zeca Baleiro. Na produção estão Rogério Dalayon, Marion Lemmonier e Walter Costa.

Patrícia Ahmaral foi jornalista na juventude; felizmente para a música, encaminhou-se para o canto. Começou sua carreira no ambiente do criativo e tropicalista rock belo-horizontino dos anos 80 animado pelo falecido poeta Marcelo Dolabela, cujas influências a acompanham. É irmã do Ricardo Amaral, este sim um bem-sucedido repórter político que há alguns anos ligou sua trajetória profissional à do presidente Lula, de cujo instituto é assessor. 

Para ouvir o álbum na página da Patrícia no YT, clique aqui

Para conhecer mais sobre Patrícia Ahmaral, clique aqui

Para ver uma boa entrevista da Patrícia à Carta Capital, clique aqui.

sábado, 6 de janeiro de 2024

Dia de Reis


Capítulo do livro 17, do autor, publicado em 2020. 

-Vale seis, ladrão de milho!
Tio Quito deu um pulo jogando a cadeira para trás e começou a gesticular em direção ao tio Lindolfo.
-Seis só! – repetia.
Em volta deles, a meninada tentava entender aquele teatro que se repetia uma vez por ano. Na mesa estavam os quatro jogadores: papai, tio Tom, tio Quito e tio Lindolfo.
Tio Lindolfo dera as cartas.
-Eu sou pé – disse.
E fez a primeira mão matando um três jogado pelo papai com um sete de ouros. Na segunda, tio Quito foi obrigado a gastar o zap, a carta mais alta do jogo, para matar outro três. Agora, na mão decisiva, papai jogava mais um três e tio Tom não deixava passar.
-Truco esse três – disse.
Tio Quito fez cara de surpresa. Coçou o queixo, olhou para papai.
-Jogamos errado – comentou.
-Truco! – entusiasmou-se tio Tom.
-Quanto eles têm? – quis saber tio Quito.
Papai contou:
-Com o truco eles fecham a partida.
Tio Quito fez que ia pôr sua carta no baralho, mas voltou a mão.
-Vamos ver? – sugeriu.
-Ainda tem um três rodando – observou papai.
-Vocês vão ou não vão? – perguntou tio Tom, impaciente.
-Cai – ordenou tio Quito.
Tio Tom sorriu e jogou na mesa sua carta, certo da vitória. Era mais que um três, era a espadilha. Tio Quito coçou o queixo outra vez, o olhar desolado. Tio Tom fez menção de puxar os grãos de milho. Foi quando tio Quito deu o pulo da cadeira e gritou, assustando todo mundo.
-Vale seis, ladrão de milho! Vale seis!
Tio Quito era o rei do truco. Podia não ser o melhor jogador, mas era a principal atração do Dia de Reis, quando se comemorava lá em casa o aniversário de casamento dos meus pais. Aprontava tal estardalhaço que a gente nunca sabia se ele tinha ganhado ou perdido: ria, gritava, gesticulava, fazia sinais, piscava, levantava, sentava, e até subia na cadeira.
Tio Quito era o rei do truco e a alegria da meninada. Sempre chegava com balas ou outra guloseima nos bolsos, repetindo vovô, que no trajeto da sua casa à nossa ia deixando balas debaixo da porta de toda casa onde havia criança. Irmão mais velho de papai, tio Quito fazia contraste com ele. Papai era severo, contido, certinho; tio Quito era brincalhão, carinhoso e desbocado; papai era forte, saudável, jogava futebol, tio Quito era miúdo, cego de uma vista e mancava; papai estava sempre sóbrio, tio Quito adorava uma cachacinha. Papai, o mais bem-sucedido dos irmãos, lamentava frustrações pessoais – uma delas envolvendo o próprio tio Quito: cedendo a pressões familiares, papai vendeu barato o lote do Caiçara ao irmão, que não construiu e se desfez do imóvel. Tio Quito, simples balconista, funcionário na loja do sogro, sem casa própria, gozava a vida com humor e alegria. Tinha sempre uma história pra contar.
-Escuta esta aqui – dizia, chamando um dos sobrinhos para sentar do seu lado.
Ajeitava-se na cadeira e fazia um prólogo, em voz baixa, cerimonioso, acompanhado de gestos e olhares ao redor, o cenho franzido. Depois começava uma longa narrativa, que nos enchia de medo, com suas almas penadas e acontecimentos inexplicáveis, ocorridos há muito tempo, em Santa Luzia, terra da família, e no sertão adentro, junto a rios e matas onde vovô levava os filhos para pescar e caçar. Mais tarde, quando os meninos éramos nós, foi na orla erma e rústica da Lagoa da Pampulha que eles nos levaram para pegar piabas, acarás e traíras.
Papai ouvia tio Quito em silêncio, reverente, com um sorriso nos lábios.
-Não é deveras? – perguntava-lhe tio Quito, buscando cumplicidade.
E papai balançava a cabeça confirmando.
Tio Lindolfo, o decano do grupo, era um tipo peculiar. Solteirão, tesoureiro aposentado do Banco do Brasil, era mais que sério, era soturno. Baixinho, vestido sempre de forma impecável, era o único homem que eu conhecia que usava suspensórios e, às vezes, polainas. Seu cabelo estava sempre bem cortado e seu bigode, aparado. Não falava com crianças, no máximo sorria, um sorriso amarelo, quase contrariado.
Tio Tom, o irmão caçula do papai, tinha sido craque no futebol de várzea.
-Só não foi melhor do que seu pai – dizia tio Quito. – Eu era perna-de-pau – completava.
-Quito era um zagueiro muito bom, batia muito, mas era bom – corrigia papai.
-Seu pai era um craque – tornava tio Quito.
Papai ouvia os elogios, orgulhoso. Aquilo não era lorota do tio Quito. Qualquer amigo do papai que eu conhecia ia logo dizendo:
-Seu pai foi o maior craque que a Lagoinha já conheceu.
Ou:
-Seu pai foi o melhor jogador que eu vi jogar.
Ou ainda:
-Se seu pai jogasse hoje, seria titular em qualquer time do Brasil.
O sucesso no futebol amador era o grande orgulho do papai, que guardava fotografias dos times em que jogou e recortes de jornais com notícias de partidas nas quais brilhou. Aos cinquenta anos, ele continuava jogando no time dos funcionários do banco, todos os sábados. Não corria mais, mas dominava a bola com categoria e a protegia como ninguém. Não errava passes e fazia lançamentos com precisão milimétrica. Das suas cobranças de falta e escanteio saíam muitos gols. Se tio Quito era o rei do truco, papai era o rei do futebol.
Tio Lindolfo e tio Tom trocaram olhares de dúvida e espanto. Só uma carta matava a espadilha, o sete de copas, já que tio Quito jogara o zap na segunda mão. Teria ele saído com o casal? Ou estaria blefando? Ninguém conseguia prever seu jogo.
-Lugar de medroso é no baralho! – gritou tio Quito.
Papai só olhava, fingindo não saber de nada, embora os parceiros costumassem combinar sinais.
-Vamos ver, Lindolfo? – disse tio Tom, com seu jeito inseguro.
Tio Lindolfo, metódico, fazia contas:
-Com seis eles ganham a queda – ponderou.
-Com truco vão pra mão de mando – observou tio Tom.
-Vocês vão correr com uma espadilha? – provocou tio Quito, gritando cada vez mais alto.
-Ele saiu de casal – disse tio Lindolfo. – Não vamos, não.
E a dupla correu. Tio Quito deu uma gargalhada debochada.
-O que você tinha? – perguntou tio Tom.
-Pra ver tem de pagar – respondeu tio Quito, arrastando a carta em direção a papai.
Papai pegou-a com cuidado, virou-a levemente para que ninguém visse e sorriu.
-Fizeram bem em correr – comentou, escondendo a carta no baralho.
-Eu sabia – disse tio Lindolfo.
O fato é que na mão de mando, sem poder trucar, tio Quito e papai ganharam com cartas pequenas – ganharam a última mão e o jogo. Tio Quito era mesmo o rei do truco. 

Se você tiver interesse em ler o livro, assim como os demais romances publicados pelo autor, 1972, 1977 e O homem que não gostava de trabalhar, pode entrar em contato pelo zap 31-9-97051955. Para entrega em BH, os livros custam R$ 36, R$ 35, R$ 42 e R$ 50, respectivamente. Para outras cidades, será acrescentada a taxa de correio. O pagamento pode ser feito por pix. Os livros também estão à venda na banca do Odair José, na Savassi (Avenida Getúlio Vargas, entre Antônio de Albuquerque e Alagoas), na livraria Scriptum (Rua Fernandes Tourinho, 99), na livraria virtual do Grupo Editorial Atlântico e outras livrarias na internet. 


quarta-feira, 20 de dezembro de 2023

Esses meninos perambulando pela cidade me recordam outro dezembro...


"Esses meninos uniformizados perambulando pela cidade em algazarra no meio da manhã me recordam outro dezembro. Vejo meus colegas na porta do colégio, ouço suas vozes. É semana de provas finais, não carregamos pastas nem livros, só lápis, caneta, borracha e a caderneta no bolso da blusa. Terminada a prova, os professores nos dispensavam, com a recomendação de voltar imediatamente para casa, mas poucos faziam isso. Ficávamos por ali, surpreendendo o mundo acontecer além dos muros da escola. As meninas dobravam na cintura a saia plissada, para encurtá-la, e arriavam as meias até os tornozelos; logo surgia um carro com motor envenenado que as levaria a lugares misteriosos. Bandos barulhentos enchiam pontos de ônibus e tumultuavam as lotações, em busca de aventuras no centro da cidade: subir e descer nas escadas rolantes da Galeria do Ouvidor, entrar em lojas de discos e salões de cabeleireiros, percorrer os corredores das Lojas Americanas, remar no Parque Municipal…"

Assim começa o romance 17, passado num longínquo dezembro do começo dos anos 1970, no qual festinhas, jogos de futebol, festejos de Natal e réveillon são ambientes de ingênua rebeldia de uma turma de adolescentes belo-horizontinos contra a repressão dos velhos caretas. Primeiro volume da trilogia Cadernos do Calbercan, 17 retrata as angústias de uma geração prestes a se tornar adulta, que tenta compreender o mundo, o Brasil e os seus corações no auge da ditadura militar. 

Se você tiver interesse em ler a trilogia composta também pelos livros 1972 e 1977, ou o novo livro do autor, O homem que não gostava de trabalhar, pode entrar em contato com o autor pelo zap 31-9-97051955. Para entrega em BH, os livros custam R$ 36, R$ 35, R$ 42 e R$ 50, respectivamente. Para outras cidades, será acrescentada a taxa de correio. O pagamento pode ser feito por pix. Os livros também estão à venda na banca do Odair José, na Savassi (Avenida Getúlio Vargas, entre Antônio de Albuquerque e Alagoas), na livraria Scriptum (Rua Fernandes Tourinho, 99), na livraria virtual do Grupo Editorial Atlântico e outras livrarias na internet.

terça-feira, 19 de dezembro de 2023

Livro 'O homem que não gostava de trabalhar' já está à venda


Acaba de sair o meu novo livro, O homem que não gostava de trabalhar

O reencontro de amigos depois de duas décadas. Uma transformação surpreendente. Uma vida misteriosa sendo desvendada. Uma história de amor com final feliz. Estes são alguns dos ingredientes do quarto romance de Calbercan Fonseixas Costa, que tem como pano de fundo as turbulências políticas num país em crise e o balanço das experiências de uma geração que ajudou a construir a democracia brasileira. 

O livro pode ser comprado diretamente do autor, por R$ 50, em contato pelo zap 31-997051955 e pagamento por pix, para entrega em Belo Horizonte. Para outras localidades, envio pelo correio, com acréscimo da taxa deste. Também está disponível na banca do Odair José, na Savassi (Getúlio Vargas, entre Antônio de Albuquerque e Alagoas), e na página da livraria da editora.