É isso aí. Não conhecia Elias Jabbour, mas andei ouvindo-o em entrevistas e podcasts e fiquei desconfiado, apesar das suas posições conciliatórias e do seu grande conhecimento sobre a China. Meu faro para stalinistas é infalível. Agora ele faz esses ataques destemperados ao Ciro Gomes. Obviamente tem interesses. E fico sabendo que ele trabalha para o prefeito Eduardo Paes, do Rio. As críticas do Frederico Krepe são bem sensatas. E eu pensando que os "comunistas" estavam evoluindo. A vassalagem ao Lula é infinita. É por isso também que a esquerda brasileira não avança. Triste.
Um debate urgente. A resposta é óbvia: sim. E não é de hoje, é desde 2003. O debate é urgente, mas já passou da hora também há vinte anos. Desde o primeiro governo Lula a esquerda deveria estar tentando formar uma alternativa ao PT e ao Lula, porque desde o primeiro governo ele mostrou que seu governo seria neoliberal. Aliás, há mais tempo, desde que divulgou a "Carta aos brasileiros", mais conhecida como "Carta aos banqueiros", na qual se comprometeu em continuar a política neoliberal de FHC.
"Os
partidos de centro-esquerda e centro-direita estão em colapso. E por
que não conseguiram resolver os problemas básicos das sociedades
contemporâneas? A base histórica da social-democracia eram os
trabalhadores da antiga vanguarda econômica, que era a indústria. Na
teoria marxista, era essa a classe que falava pelos interesses
universais da humanidade. Mas agora essa classe passou a ser vista como
só mais um grupo falando pelos seus próprios interesses. A
verdadeira minoria representativa dos interesses universais da
humanidade é essa pequena burguesia subjetiva que eu descrevi. Essa
maioria de pessoas pobres e desorganizadas. Então
os partidos liberais (progressistas) não resolvem os problemas porque
não entenderam que a única solução possível é organizar uma forma
socialmente inclusiva desse novo paradigma produzir a economia de
conhecimento, com as capacitações dessa periferia. A
conversa no Brasil é uma variação desse drama universal. Então a grande
maioria no Brasil elegeu o direitista (Bolsonaro) que nomeia para
conduzir a economia o funcionário do mercado financeiro que não faz
absolutamente nada para construir um capitalismo popular. Então a
confusão persiste."
Uma entrevista do Roberto Mangebeira Unger à BBC Brasil. Não é nova, tem mais de um ano, mas como o Brasil está parado, continua atual, como aquele livrinho que ele escreveu há trinta anos. Ele é um tipo esquisito e não faz questão de ser claro, mas quem se dá o trabalho de afastar o preconceito encontra ideias interessantes e até premonitórias, como o livrinho citado confirma. Na verdade, a afirmação do título é óbvia, mas ver o óbvio é o desafio da mente confundida pela ideologia. Para ler a íntegra, clique aqui.
Há trinta anos, Ciro Gomes e Roberto Mangabeira Unger publicaram um livrinho, O próximo passo -- uma alternativa prática ao neoliberalismo.
Muita água passou debaixo da ponte depois, água que parecia boa, água
que parecia melhor ainda, água ruim, água pior ainda, água contaminada,
água que, há trinta anos, nos ventos auspiciosos do Plano Real, não
podíamos imaginar que viria, de forma que nossa vida tornou-se essa
coisa horrorosa de nos acostumarmos a nos banhar em águas sujas sem ter
esperança de que voltem a ficar limpas. Reler aquele livrinho (digo
livrinho porque era mesmo um livrinho de bolso com menos de cem
páginas), que eu li na época e tenho exemplar com autógrafos dos
autores, proporciona uma viagem ao passado e, tendo vivido as ilusões e
desgraças que vivemos nessas três décadas, pensar em como o Brasil
poderia ter sido melhor, se aquelas ideias tivessem sido implantadas, em
vez de sucumbirmos de forma lamentável ao neoliberalismo. Trinta anos
foi o período em que a China tornou-se o que é hoje. O que teria
acontecido com o Brasil se também tivesse começado um novo plano de
desenvolvimento próprio? Lembremos, rapidamente, que o Brasil começou a
existir como nação em 1930, com a revolução liderada por Getúlio Vargas;
a partir de então, em diferentes ritmos, direções e governos, seguimos
durante meio século um projeto nacional de desenvolvimento, até o
colapso da ditadura militar. A democracia que a minha geração ajudou a
restabelecer abandonou aquele projeto e adotou a cartilha neoliberal de
submissão ao capital internacional liderado pelo imperialismo americano.
Desde então nenhum outro plano foi apresentado aos brasileiros, exceto
este, do Ciro Gomes e do Mangabeira Unger. A tragédia brasileira é tão
grande que o prefácio me faz lembrar Nietzsche, que dizia falar do futuro como quem olha para o passado: o que está dito ali é
absolutamente atual, é de certa forma a previsão do que aconteceu nessas
três décadas. Quem quiser conferir o livrinho ou pelo menos ler o
prefácio e fazer sua própria avaliação, clique aqui. Como contraponto, publico vídeo do podcast
Calma urgente! em que Gregório Duvivier, de quem falei na postagem
anterior, louva o presidente Lula, emocionado. As pessoas que formam o
trio do programa estão entre as que mais admiro e me fazem pensar: a
quem ponto chegamos. Para ser exato, não estamos marcando passo há trinta anos e sim andamos para trás, voltamos à condição de nação exportadora de matérias-primas; pior: a devastação ambiental para proporcionar ao mundo os produtos primários que ele compra é hoje infinitamente mais rápida, mais extensa, mais danosa, alcançou a Amazônia, contamina solo, águas e ar, muda o clima.