segunda-feira, 30 de junho de 2025

Israel's Secret Weapons, documentário da BBC

Israel começou a produzir sua bomba atômica ao mesmo tempo em que começou a exterminar os palestinos, logo depois da sua criação, em 1948, com ajuda da França e cumplicidade dos EUA. Em 1985 sequestrou no exterior e condenou a 18 anos de prisão o cientista do programa nuclear israelense que fotografou e denunciou o programa. Até hoje ele é proibido de sair de Israel. Esse documentário da BBC é de uma época em que Israel não controlava a imprensa mundial como controla hoje. 

"A Arma Secreta de Israel foi transmitida pela BBC Two na segunda-feira, 17 de março de 2003, às 23h20 GMT. As capacidades nucleares, biológicas e químicas de Israel permanecem sem inspeção. Enquanto isso, Mordechai Vanunu está preso há 16 anos por expor ao mundo a fábrica secreta de bombas nucleares de Israel. Vanunu é visto como um traidor em seu próprio país. Ele foi abandonado pela maior parte de sua família e passou 11 anos em confinamento solitário. Hoje, apenas um casal americano, que o adotou legalmente, está entre os poucos visitantes a quem ele tem permissão. Este filme conta a história da bomba, de Vanunu e do muro de silêncio de Israel.

 

José Paulo Netto, Leda Paulani, Virgínia Fontes discutem o essencial de Marx

Debate no aniversário de 30 anos da Editora Boitempo. 

Não vou comentar o que os intelectuais marxistas do debate dizem do pensamento do Marx e Engels, nada tenho a acrescentar e acho que já seu tornou senso comum quase duzentos anos depois. Vou comentar o que eles não dizem. 

A esquerda brasileira está atrasada cinquenta anos porque se atrelou ao PT, que por sua vez se atrelou ao Lula. Simples assim. 

O PT foi o primeiro e único partido brasileiros construído de baixo para cima, a partir do povo, de comunidades de base organizadas, sindicatos de trabalhadores e movimentos sociais diversos. Foi uma coisa extraordinária e tinha um potencial transformador imenso, caso a esquerda – os marxistas, leninistas e trotskistas à frente, com teorias e experiências revolucionárias – não tivesse se curvado à liderança de um político populista. Lula é uma personagem histórica única, um político habilíssimo, um líder carismático, um indivíduo com uma trajetória admirável, mas não foi, em meio século, o que se pode chamar de um líder dos trabalhadores, embora seja esse o nome do partido que construiu. Lula foi um líder da burguesia. 

Lula tem uma oratória impressionante, é um encantador de serpentes, como disse alguém, mas a gente deve avaliar as pessoas pelo que fazem, não pelo que dizem. O que Lula fez nesse meio século foi controlar as massas, desorganizar os trabalhadores e administrar o capitalismo para a burguesia. Foi, portanto um excelente político da burguesia, não dos trabalhadores. 

Fico pensando quanto tempo vai levar ainda até que os intelectuais marxistas digam isso. A impressão que eu tenho é que eles viveram em outro planeta no último meio século. Saúdam a luta contra a escala 6x1 (que não partiu do PT, assim como as jornadas de 2013, as últimas manifestações de massa de esquerda do país, foram hostilizadas pelo governo lulista) e não mencionam que Lula está no seu terceiro mandato presidencial, o quinto do PT, e nesse período a redução da jornada de trabalho dos brasileiros não foi sequer cogitada. Ao contrário, Temer, o vice da Dilma, ambos escolhidos por Lula, acabou com direitos trabalhistas que vinham dos governos de Getúlio e Jango. 

O que os trabalhadores deveriam ter feito durante os governos lulistas era justamente isso que fazem agora, se organizarem e lutarem de forma independente, aproveitando o ambiente de um governo pretensamente de esquerda, para conquistar direitos e avançar para uma revolução socialista. Ao invés disso, o que o PT fez, sob a liderança do Lula, foi controlar as massas para não reivindicarem nada, enquanto o governo lulopetista dava tudo aos banqueiros, ao agrotoxiconegócio, à indústria e aos demais setores capitalistas. 

Os trabalhadores brasileiros estão mais desorganizados, menos mobilizados e menos educados politicamente do que estavam há cinquenta anos, apesar de quatro décadas de democracia e quase vinte anos de governos lulopetistas. Pior: foram conquistados pela extrema direita. Santa contradição marxista! Como isso é possível? As peças não encaixam, mas se a gente considera que, em vez de governar para os trabalhadores, o lulopetismo governou para os capitalistas, fazendo o papel de desorganizar os trabalhadores e desmobilizar as massas, aí sim o quebra-cabeça está montado.  

Governo lança campanha por taxação de super-ricos

Walter Moreira Salles Júnior, o cineasta banqueiro bilionário progressista, poderia se manifestar a favor da taxação dos super-ricos. Seria mais útil para o país do que o seu admirável Oscar. Seria bom também se o Infomoney cumprisse a lei ortográfica e escrevesse a palavra super-rico corretamente, e que o Poder360 corrigisse uma informação incorreta: não é o PT que opõe pobres a ricos, é o capitalismo.  

quinta-feira, 26 de junho de 2025

Manifesto pela revolução ecossocialista: romper com o crescimento capitalista

Com mais de um século de atraso, os marxistas-leninistas-trotskistas compreendem que "progresso" e capitalismo são sinônimos, que uma mudança revolucionária na vida humana passa pelo decrescimento econômico e pela convivência harmônica entre a espécie humana e a Natureza. Salvar a humanidade da autodestruição e recuperar a biodiversidade e os ambientes naturais da Terra passam pelo fim do capitalismo. Capitalismo significa crescimento econômico permanente, destruição permanente, catástrofes cada vez mais frequentes e graves, e guerras com uso de armas e tecnologias com capacidade de destruição como nunca houve antes, como se vê hoje em Gaza e no Irã. O manifesto, cujos primeiros parágrafos reproduzo abaixo, foi aprovado no 18º Congresso Mundial da IV Internacional em fevereiro passado e publicado na Revista Movimento. 

Manifesto por uma revolução ecossocialista – Romper com o crescimento capitalista

Manifesto ecossocialista da IV Internacional aprovado no 18º Congresso Mundial realizado em fevereiro de 2025 

Introdução

Este manifesto é um documento da IV Internacional, aprovado em seu 18º Congresso Mundial, em fevereiro de 2025. A IV foi fundada em 1938 por Leon Trotsky e seus companheiros com o objetivo de salvar o legado da Revolução russa de outubro (1917) do desastre stalinista. Rejeitando o dogmatismo estéril, a IV Internacional integrou os desafios dos movimentos sociais e a crise ecológica em seu pensamento e em sua prática. Suas forças são limitadas, mas estão presentes em todos os continentes e contribuíram ativamente para a resistência ao nazismo, para o maio de 68 na França, para a solidariedade com as lutas anticoloniais (como as da Argélia, Vietnã e Cuba), para o crescimento do movimento antiglobalização e o para o desenvolvimento do ecossocialismo.

A IV Internacional não se vê como a única vanguarda. Suas organizações e militantes participam, na medida de suas forças, de formações anticapitalistas amplas. Seu objetivo é contribuir para a formação de uma nova Internacional, de caráter de massa, da qual ela seria um dos componentes.

Nossa época é de uma dupla crise histórica: a crise da alternativa socialista em face da crise multifacetada da “civilização” capitalista. A IV Internacional está publicando este manifesto agora, porque estamos convencidos de que o processo de revolução ecossocialista, em diferentes níveis territoriais, mas com uma dimensão planetária, é mais necessário do que nunca. Trata–se não apenas de pôr fim às regressões sociais e democráticas que acompanham a expansão capitalista global, mas também de salvar a humanidade de uma catástrofe ecológica sem precedentes. Esses dois objetivos estão intrinsecamente ligados.

No entanto, o projeto socialista que baseia nossas propostas exige uma ampla recomposição de forças. Uma refundação a ser alimentada por uma avaliação pluralista das experiências e pelas contribuições dos principais movimentos que lutam contra todas as formas de dominação e opressão (classe, gênero, comunidades nacionais oprimidas etc.). O socialismo pelo qual lutamos é radicalmente diferente dos modelos que dominaram o século passado e de qualquer regime estatista ou ditatorial: é um projeto revolucionário, radicalmente democrático, para o qual contribuem as lutas feministas, ecológicas, antirracistas, anticolonialistas, antimilitaristas e LGBTQI+.

Temos usado o termo ecossocialismo há algumas décadas porque estamos convencidos de que as ameaças e os desafios globais impostos pela crise ecológica devem permear todas as lutas dentro/contra a ordem globalizada existente. O relacionamento com nosso planeta, a superação da “ruptura metabólica”1 (Marx) entre as sociedades humanas e seu ambiente de vida, e o respeito pelo equilíbrio ecológico do planeta não são apenas capítulos de nosso programa e estratégia, mas seu fio condutor.

A necessidade de atualizar as análises do marxismo revolucionário sempre inspirou a ação e o pensamento da IV Internacional. Ao escrever este Manifesto Ecossocialista, continuamos naquela abordagem: queremos ajudar a formular uma perspectiva revolucionária capaz de enfrentar os desafios do século XXI. Uma perspectiva que se inspire nas lutas sociais e ecológicas e nas reflexões críticas genuinamente anticapitalistas que estão se desenvolvendo em todo o mundo. 

Clique aqui para ler a íntegra. 

'Estou questionando o progresso em qualquer termo', afirma Aílton Krenak

Me representa. Basicamente, é isso. O que o Hs precisa fazer para impedir sua autodestruição é superar a ideia de progresso. 

 

STF discute a manipulação de informações pelas 'big techs'

Voto pertinente da ministra Cármen Lúcia, assim como a intervenção do ministro Alexandre de Moraes, que se tornou uma referência no assunto. "A neutralidade das redes não existe", afirma Moraes. 

A complexidade do assunto, a tal liberdade de expressão nas redes sociais, na verdade é muito simples. Quando a internet apareceu, ela quebrou o monopólio das grandes empresas de comunicação que intermediavam e continuam intermediando a produção e difusão de informações. Na internet, todos os cidadãos, todos os trabalhadores, todas as pessoas simples, todos os "do povo" podiam se expressar livremente e era excelente que fosse assim, a internet foi a democratização radical da informação. Acontece que logo algumas empresas se apoderaram da internet e, usando tecnologias avançadas, controlaram as informações produzidas por todos gratuitamente. Elas fazem isso para ganhar dinheiro e poder, com o comércio de publicidade (em tempo recorde, se tornaram as empresas mais ricas do planeta) e de controle do poder (elas interferem em eleições e tentam decidir os votos dos eleitores nas democracias; nos EUA chegaram ao poder apoiando o atual presidente). A internet tornou-se assim um negócio capitalista como todos os outros e o mais poderoso de todos. Para exercer seus poder ilimitado, as "big techs" não aceitam se submeter a leis e governos nacionais, pretendem de fato ser o novo poder internacional, acima de todos os outros, apoiando a eleição, os governos e as guerras dos políticos aos quais se aliam. Simples assim.  

quarta-feira, 25 de junho de 2025

Palestino faz três gols e protesta em jogo da Copa de Clubes da Fifa

Consta que o gesto do palestino Wessam Abou Ali comemorando o segundo dos três gols que marcou no jogo do seu time, o egípcio Al Ahly, contra o português Porto foi um protesto pelo genocídio do seu povo em Gaza. O UOL Esporte publicou um perfil do jogador, que pode ser lido clicando aqui, no qual ficamos sabendo que a Palestina, essa nação que Israel está exterminando, também foi boicotada no futebol: ia se classificar para a Copa do Mundo do ano que vem, mas um pênalti "polêmico" marcado no último minuto eliminou sua seleção. Na situação em que se encontra, seria um feito fantástico com repercussão política mundial. Abou Ali é um jogador importante e tem uma história de superação impressionante. 

segunda-feira, 23 de junho de 2025

A pergunta do jornalista ao embaixador de Israel que a Globo censurou

Paredes de Vidro, vídeo narrado por Paul McCartney

O YT impede a cópia para reprodução, sob alegação de violência, e realmente é violência contra animais, das quais somos cúmplices, mas não faz sentido, já que pode ser visto na plataforma; na prática, funciona como uma forma de censura.

Ecossocialismo ou extinção

Enfim, uma discussão política pertinente. Debate com João Pedro Stédile, Luciana Genro, Thiago Torres e José Eduardo Bernardes. A gente devia estar discutindo só isso. O jovem Torres expõe praticamente um programa político para a esquerda, essa posição que deixou de existir no Brasil quando Lula se apropriou do PT e o dirigiu para ser o partido do capital, em vez de ser o partido dos trabalhadores. O mediador puxa para a discussão acadêmica, como o jornalismo em geral, mas os debatedores o encaminham para a realidade atual. Luciana expõe um começo de organização política de base: mobilizar os atingidos pelas catástrofes climáticas para ações de prevenção, que atingem em cheio o capital. E informa que a IV Internacional, que pensava ter sido extinta antes do Hs, assumiu um programa ecossocialista. Aplausos. Torres diz uma coisa básica: "Não é a população que tem que vir para as lutas da esquerda, é a esquerda que tem que ir para as lutas que a população está travando". Aplausos mais uma vez. Em resumo: o PT, que foi criado pela minha geração para ser o partido de esquerda brasileiro, tornou-se o partido da ordem, ou seja, do centro e da direita. 

 

quinta-feira, 19 de junho de 2025

Como a leitura molda o cérebro humano

Estamos desaprendendo a ler? É possível; ler é, da mesma forma que tudo que existe no mundo, uma coisa criada pelo Homo sapiens e desenvolvida em milhares de anos de evolução, que está se tornando obsoleta pelas novas tecnologias. Estamos de fato nos transformando em novos bichos, que vivem e funcionam de forma diferente da forma como viveram nossos ancestrais. O celular tornou-se a coisa mais importante da nossa vida e nossa relação com ele é total, ele já mudou nossa visão, nossa capacidade de enxergar, basta observar a quantidade de gente hoje que usa óculos. A I.A., que chamam de "inteligência artificial", denominação equivocada, porque de fato é "ideologia artificial", muda nossa relação com o conhecimento e a leitura. Talvez não seja exagero dizer que, se a espécie humana sobreviver ao capitalismo terminal, daqui a algumas décadas os indivíduos se distinguirão entre aqueles que leem e aqueles que não leem, formando os primeiros uma pequena elite. 

quarta-feira, 18 de junho de 2025

Música do dia (3): Adagio de Albinoni

Non so dove trovarti
Non so come cercarti
Ma sento una voce che
Nel vento parla di te
Quest'anima senza cuore
Aspetta te
Adagio
Le notti senza pelle
I sogni senza stelle
Immagini del tuo viso
Che passano all'improvviso
Mi fanno sperare ancora
Che ti troverò
Adagio
Chiudo gli occhi e vedo te
Trovo il cammino che
Mi porta via
Dall'agonia
Sento battere in me
Questa musica che
Ho inventato per te
Se sai come trovarmi
Se sai dove certami
Abbracciami con la mente
Il sole mi sembra spento
Accendi il tuo nome in cielo
Dimmi che ci sei
Quello che vorrei
Vivere in te
Il sole come sembra spento
Abbracciami con la mente
Smarrita senza di te
Dimmi chi sei e ci crederò
Musica sei
Adagio

Natália Pasternak: psicanálise é pseudociência

"Freud fraudou resultados." 

 

Música do dia (2): Marina, Caymmi

Música do dia: Peito Vazio, Cartola

terça-feira, 17 de junho de 2025

História do Brasil de 1500 a 2025, resumida

Os europeus chegaram neste continente, trouxeram com eles os primórdios do capitalismo, começaram a destruir a Natureza e dizimar os indígenas, cujos sobreviventes fugiram para a Amazônia, os descendentes dos europeus foram atrás, destruindo tudo que encontraram pelo caminho, para produzir minério, madeira, criar gado, plantar cana-de-açúcar, café e soja para exportação, o que chamam de agronegócio, que é um negócio criminoso financiado com dinheiro público e apoiado pelas polícias e justiça, que ganha ou toma à força as terras dos seus habitantes originais e terras públicas, derruba a vegetação, contamina e seca os rios, envenena a terra e as plantações, massacra populações, escraviza trabalhadores e ganha bilhões, se apropria junto com os banqueiros de toda a riqueza produzida no país pelo trabalho dos brasileiros que vivem na miséria e destrói a biodiversidade extraordinária destas terras. 

Como isso foi e é possível? 

Primeiro, a partir de 1500, pela força das armas, da tecnologia e da religião cujos missionários acompanharam a ocupação portuguesa; lá pelas tantas, em 1808, o rei português colonizador e sua corte vieram para o Brasil, fugindo da invasão da sua nação por Napoleão, ficaram treze anos e quando voltaram deixaram aqui o herdeiro do trono, Pedro, que se tornou imperador do Brasil, sucedido depois por seu filho Pedro II; lá pelas tantas também, em 1889, quando o Império aboliu a escravidão dos africanos e seus descendentes, os militares do Exército recém-criado para lutar contra o Paraguai (uma guerra cruel e a mais longa do continente, mais longa que a Guerra de Secessão americana, e que fez 400 mil mortos, 70% deles paraguaios, toda a população masculina adulta e juvenil), em associação com os fazendeiros, dos quais os atuais agrotoxiconegociantes são descendentes, derrubaram e exilaram o imperador, sua família e seu séquito e começaram a República; lá pelas tantas, em 1930, quando o capitalismo mundial entrou na sua maior crise, em meio a revoluções socialistas e fascistas, e as exportações brasileiras entraram em colapso, setores dos fazendeiros e do Exército derrubaram o governo republicano, implantaram uma ditadura e começaram a construção do “Estado Novo”, baseado no nacionalismo, na modernização, na industrialização, na urbanização; lá pelas tantas, quando a II Guerra Mundial acabou com a derrota da Alemanha, da Itália e do Japão e a divisão do mundo em dois blocos de influência, um capitalista, liderado pelos EUA, e outro socialista, liderado pela URSS, um novo golpe derrubou a ditadura que tinha durado 15 anos e começou a “república populista”, com eleições diretas do presidente, governadores, prefeitos, senadores, deputados federais e estaduais e vereadores, organização de novos partidos e organizações de trabalhadores, além da disputa da continuação do projeto nacionalista entre o modelo original e um modelo sob influência dos EUA; lá pelas tantas, os militares do projeto sob influência dos EUA, que perdia todas as eleições presidenciais para o projeto nacionalista, deram um novo golpe e implantaram uma ditadura que durou 21 anos; lá pelas tantas, desgastados por crises econômicas, impopulares e perdendo apoio dos ricos, setores militares resolveram devolver o poder para os civis, foram diminuindo a ditadura aos poucos e finalmente, em 1985, perderam a eleição no colégio eleitoral que referendava os presidentes militares (foram cinco, além de uma junta militar provisória) e um presidente civil foi eleito, mas morreu antes de tomar posse, de forma que assumiu o seu vice, que tinha sido um civil colaborador da ditadura, o qual governou durante cinco anos e depois aconteceu a primeira eleição direta para presidente desde o golpe militar de 1964, inaugurando uma nova Constituição cheia de direitos e liberdades que representavam os anseios do movimento de redemocratização que ajudou a derrubar a ditadura e promoveu as maiores manifestações populares da história do Brasil, na chamada campanha da Diretas já!; começa então, em 1989, uma nova fase política que já dura 35 anos, caracterizada pela vigência da nova Constituição, da eleição direta do presidente, primeiro com mandato de cinco anos, depois com mandato de quatro anos com reeleição, copiando o modelo americano, e adoção da cartilha do capitalismo neoliberal na qual o Brasil abandona o nacionalismo e a industrialização e se torna exportador de minérios, carnes, soja, café e outros produtos agrícolas, comandado por banqueiros e latifundiários associados ao capital internacional, ao qual se submetem os partidos e líderes políticos emergentes após a ditadura, a saber: PRN, PSDB, PT, PL, Collor, FHC, Lula, Dilma, Bolsonaro, período no qual não faltam golpes, agora dados pelo Congresso e legitimados pelo STF, com maior ou menor participação dos militares e aos quais aderem os principais partidos e políticos no momento que lhes convém, nas formas de impeachment, processos judiciais, prisões, mudança no mandato presidencial, em 1992, 1997, 2016, 2018, 2025; a fase atual do Brasil é de deterioração política, econômica, ambiental, social e institucional, que caracteriza o fim do modelo citado acima, no qual políticos corruptos e corrompidos pelo sistema ajustam permanentemente as leis e as instituições para permanecerem no poder e servirem ao capital hegemônico, isto é, banqueiros e agrotoxiconegociantes, equilibrando-se entre os poderes do capital (“mercado”, “bolsas”, “investidores” etc.), do Congresso, da justiça, especialmente do STF, pesquisas de opinião, redes sociais, veículos de comunicação, interesses das suas bases eleitores, além dos seus interesses particulares, do interesse nacional e do voto popular expresso de quatro em quatro anos, sendo que dois últimos, os mais importantes, são os menos considerados, na verdade são incômodos que, se fosse possível, eles aboliriam e sempre que podem abandonam – o interesse nacional submetendo-o aos interesses dos lobbies e o voto popular logo depois da eleição (agora mesmo o Congresso está em vias de aprovar uma nova mudança nas regras eleitorais que aumenta os mandatos para cinco anos, proíbe a reeleição nos cargos do Executivo e faz coincidir as eleições, ou seja, o incômodo da manifestação popular só acontecerá de cinco em cinco anos; os deputados, senadores e vereadores continuarão com o direito à reeleição eterna. É curioso observar que, quando o interesse da reeleição era manter FHC no cargo, a mudança valeu para o presidente em exercício, mas agora o fim da reeleição não vai valer para os atuais prefeitos, governadores e presidente; além disso, os mandatos dos futuros prefeitos serão aumentados para seis anos, para possibilitar a coincidência das eleições, ou seja, teremos prefeitos com mandatos de dez anos! – os políticos só legislam em causa própria, o que é uma característica do corporativismo dominante no país, que longe de ser uma nação é formado por castas, que nunca pensam no interesse nacional ou do povo). 

segunda-feira, 16 de junho de 2025

Cenas do fim do mundo: vida individual e ação política

Há alguns dias notei que o ator Lázaro Ramos anda sumido, mas eu não tenho televisão e não acompanho noticiário de celebridades, podia estar enganado. Hoje vi essa notícia abaixo, que não pode ser compartilhada, mas pode ser lida no link. Reproduzo aqui porque é uma questão importante do mundo globalizado: a relação entre a vida individual e a situação geral da espécie humana e da Terra. O que aconteceu com o ator é o que acontece silenciosamente com todos nós que acompanhamos as notícias do mundo e do Brasil e olhamos a nossa cidade quando andamos nas ruas.

Os idiotas não sofrem com o que está acontecendo e até justificam e promovem as atrocidades, os conscientes sofrem. É comum que aqueles que protestam por causas gerais ajam na vida pessoal de forma contrária ao que dizem defender. O genocídio dos palestinos por um povo que sofreu genocídio é um terror que mobiliza ativistas, o genocídio dos pretos no Brasil pelas polícias não mobiliza. O que indivíduos podem fazer para melhorar o mundo? Eis a questão. Quando a ação se dá em torno de instituições, como partidos e outras, torna-se política e política é negociação, é falsidade, aparência, dinheiro, corrupção, interesses e coisas assim. O controle dos judeus sionistas sobre a comunicação mundial é impressionante, o controle dos banqueiros sobre a comunicação brasileira, também. O filme de um banqueiro que denuncia a ditadura militar ganhou Oscar, mas o cineasta não fala do Brasil contemporâneo, dos 99,99% dos brasileiros que os juros bancários mantêm na pobreza e na miséria. Sofrer pelo mundo e fazer o quê? E as vidas dos pobres e miseráveis que já são tão sofridas? E as vidas individuais de luxos dos ricos e célebres hipócritas que protestam? Coerência entre vida individual e vida social, ação política consequente e radical: acho difícil salvar o Homo sapiens (por sinal, o grande escritor e judeu sionista israelense Yuval Harari se cala criminosamente sobre o genocídios dos palestinos) e a Terra de outra forma que não esta. Tudo nesse cenário do fim do mundo é muito contraditório.

'Meu corpo parou e eu me vi adoecido': o desabafo de Lázaro Ramos na Bienal 

Filipe Pavão De Splash, no Rio 15/6/2025 22h52 

Lázaro Ramos, 46, relembrou o episódio de burnout que teve em 2024 e fez um desabafo hoje, durante a Bienal do Livro, no Rio. Compartilhou uma confissão particular sobre adoecimento emocional recente, causado por um período intenso de trabalho, como revelou anteriormente, e por absorver as "dores do mundo" – em especial, as que atingem as pessoas negras. "Uma das coisas que me fez adoecer no ano passado foi porque estava ouvindo os problemas das pessoas, do mundo e eu processava como se fosse comigo. Eu tinha sensações físicas, mentais, pensamento… Não conseguia distinguir um pensamento do outro. Eram quatro coisas ao mesmo tempo."

https://www.uol.com.br/splash/noticias/2025/06/15/meu-corpo-parou-e-eu-me-vi-adoecido-o-desabafo-de-lazaro-ramos-na-bienal.htm

 

Cenas do fim do mundo: troca de CPF em mandado de prisão atinge jornalista

Sakamoto é parado pela PM, CPF e placa de carro em mandado de prisão foram adulterados.

Cientista judeu especialista em genocídio afirma que Israel pratica genocídio dos palestinos

É óbvio. O fato de a imprensa não tratar o assunto dessa forma e o mundo não se revoltar mostra como Israel e Estados Unidos controlam a informação mundial. Timidamente, a BBC toca no assunto. É significativo que a entrevista não esteja assinada: é para proteger o autor ou a autora da perseguição de Israel. Nessa cena do fim do mundo, o mundo acompanha um genocídio como nunca aconteceu antes e não nos revoltamos, as autoridades nacionais e mundiais não o impedem. Escolas, hospitais, igrejas, áreas residenciais são bombardeados, crianças, mulheres, médicos, enfermeiros, jornalistas, funcionários de instituições de ajuda internacional são mortos. Tudo acontece há dois anos diariamente e assistimos  pela televisão e pela internet. O mundo vai acabar assim, sem reação da espécie humana para defender a vida, a vida individual e a vida de todos. 

'O que Israel faz em Gaza não tem precedentes no século 21', diz historiador israelense especialista em holocausto  

BBC News Mundo  

"O que está acontecendo em Gaza se encaixa na definição de genocídio, uma tentativa de destruir um grupo como tal", afirmou Omer Bartov à BBC News Mundo, serviço de notícias em espanhol da BBC.

Bartov é professor de estudos sobre Holocausto e genocídio na Universidade Brown, nos Estados Unidos. Ele é um dos maiores especialistas em genocídio mundialmente, de acordo com o site do Museu Memorial do Holocausto dos EUA.

O historiador é cidadão israelense e americano e, na década de 1970, foi soldado do Exército israelense.

Inicialmente, Bartov não classificou como genocídio as ações militares de Israel em Gaza após o ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023. Agora, ele não hesita em fazer isso, e afirma que há um consenso neste sentido entre especialistas em genocídio.

Bartov explicou à BBC News Mundo por que mudou de posição e por que a ação israelense em Gaza "não tem equivalente" na história recente. Ele também refletiu sobre algo que descreve como "perturbador": a indiferença de muitos israelenses ao sofrimento dos palestinos. 

Israel enfrenta uma acusação de genocídio na Corte Internacional de Justiça (CIJ), e o primeiro-ministro do país, Benjamin Netanyahu, tem um mandado de prisão do Tribunal Penal Internacional por supostos crimes de guerra.

O parlamentar israelense Boaz Bismuth, leal a Netanyahu e suas políticas, argumenta: "Como podem nos acusar de genocídio quando a população palestina cresceu não sei quantas vezes? Como podem nos acusar de limpeza étnica quando estou deslocando a população dentro de Gaza para protegê-la? Como podem nos acusar quando estamos perdendo soldados para proteger nossos inimigos?"

Israel lançou uma campanha militar em Gaza em resposta ao ataque pela fronteira do Hamas em 7 de outubro de 2023, no qual cerca de 1,2 mil pessoas foram mortas e outras 251 foram feitas reféns.

Desde então, os ataques israelenses mataram pelo menos 54.470 pessoas em Gaza, incluindo mais de 17 mil crianças, de acordo com o Ministério da Saúde do território, administrado pelo Hamas.

A seguir, está a entrevista que a BBC News Mundo fez com Omer Bartov.

BBC News Mundo - Nos primeiros meses após o ataque do Hamas, você não usou a palavra genocídio para se referir às ações de Israel em Gaza. Quando e por que você mudou de posição?

Omer Bartov - Mudei de opinião e passei a acreditar que Gaza é inegavelmente um caso de genocídio no início de maio de 2024.

Em novembro de 2023, escrevi que havia evidências de crimes de guerra, possivelmente crimes contra a humanidade.

Eu ainda não tinha certeza de que havia provas suficientes de genocídio. Mas havia indícios de que poderia chegar a isso, porque havia declarações com conteúdo genocida.

Em maio de 2024, quando as Forças de Defesa de Israel (FDI) entraram em Rafah e desalojaram cerca de um milhão de pessoas para a região de Al-Mawasi, uma área sem infraestrutura à beira-mar, isso parecia indicar que se tratava de uma operação com intenções genocidas, intenções que já haviam sido manifestadas em outubro de 2023.

Leia a íntegra clicando aqui. 

 

Cenas do fim do mundo: o genocídio dos palestinos pelos judeus

"Fracasso moral e ético total": O judeu estudioso do Holocausto Omer Bartov fala sobre o genocídio de Israel em Gaza.

Cenas do fim do mundo: a comida envenenada

"Pessoas preferem não saber o que tem no tomate, alface ou morango. Se soubessem, não comeriam."

quarta-feira, 11 de junho de 2025

Música do dia: Chora coração, Tom Jobim

Celebridades, jornalistas e as duas questões fundamentais do nosso tempo

Nos últimos dias vi três entrevistas muito boas no canal Rivo Talks no Youtube com Alexandre Frota, Ciro Gomes e Lobão. São entrevistas longas e não são recentes, o YT tem essa vantagem, a gente pode ver quando quiser. Cada vez mais a exibição é interrompida por anúncios e eu tenho de clicar no “pular”; alguns anunciantes põem uma opção de aparência idêntica mas escrito “comprar”, uma armadilha. É um saco ficar “pulando” toda hora; depois de algumas vezes, o YT oferece a opção de assinatura, sem anúncios, que é o que ele quer, que a gente assine, mas eu me nego a pagar assinaturas de serviços na internet, não pelos produtores de conteúdo, mas porque as “big techs” pegam a maior fatia; prefiro continuar “pulando”, e está cada vez mais chato. Esse é um problema que pouco se discute, todo mundo foi se adaptando ao modelo que tomou conta da internet e que é controlado por meia dúzia de empresas americanas de alcance mundial que se tornaram bilionárias e superpoderosas. Pouco se discute os assuntos mais importantes do mundo contemporâneo e era sobre isso que eu queria escrever ao falar das entrevistas citadas no começo, mas o tema volta também aqui. 

O controle da inteligência pelas empresas de tecnologia é um dos dois fenômenos mais importantes da nossa época e pouco falamos dele. Como disse, todo mundo se adaptou à condição de “produtor de conteúdo”, que de fato foi um avanço impressionante, porque a divulgação de informações (conhecimentos) multiplicou-se infinitamente ao mesmo tempo que saiu do controle de meia dúzia de empresas como acontecia antes, na era da televisão, do rádio e da imprensa impressa. Eu sou um consumidor ávido do YT, como disse, a única “rede social” que me parece interessante, além do zap, que, para mim, funciona para telefonemas e mensagens individuais; não uso outras redes. O YT, porém é um veículo fantástico de informação, especialmente de informações não imediatas; para noticiários ainda é insuficiente, mas para conteúdos diversos, ele cumpre o que se esperava da internet: que todo mundo pudesse transmitir seus conhecimentos diretamente para todo mundo, sem depender das grandes empresas “de mídia” tradicional, como se dizia. 

Qual é o problema? O problema é o controle dessa “nova mídia” por meia dúzia de empresas gigantes multinacionais de origem americana. Não é um controle com o da velha mídia, mas na essência é o mesmo: dominação econômica e manipulação da informação. Do ponto de vista da informação, as empresas direcionam os conteúdos que o público vê, por meio dos famosos algoritmos. Do ponto de vista econômico, o controle é muito maior do que antes, porque meia dúzia de empresas americanas detêm a comunicação mundial, o que as levou a se tornarem as empresas mais ricas do mundo neste século. E o que elas produzem? Nada. Elas desenvolvem tecnologias para a população em geral consumir conteúdos que alguns profissionais produzem. 

O que significa isso? 

Em primeiro lugar, os profissionais que desenvolvem tecnologias, isto é, os trabalhadores dessas empresas, são poucos e estão sendo substituídos por uma tecnologia que eles mesmos desenvolveram, a chamada “inteligência artificial”. Em segundo lugar, os produtores de conteúdos não são empregados das “bich tchs”, produzem gratuitamente para elas e ainda repassam a elas a maior parte dos seus ganhos gerados pelo consumo de toda a população. Ou seja, o modelo de negócio desenvolvimento pelas “big tchs” que dominam a internet transformou um enorme contingente de trabalhadores em produtores não remunerados de conteúdos que elas vendem; quem paga é o público que consome e a maior fatia fica com as empresas, não com os produtores. E quase ninguém discute isso, ninguém se revolta, ninguém se insurge, ninguém se organiza contras as empresas. As “big techs” inventaram o modelo de negócios capitalista perfeito. E está tudo bem, não há “conflitos de classe” como há no capitalismo industrial, não há sindicatos, não há regulamentação do trabalho, não há direitos trabalhistas, não há greves, nada. Não é à toa que nesse ambiente a ideologia da “teologia da prosperidade” das igrejas protestantes prospera. 

O segundo fenômeno fundamental da nossa época é a origem deste texto: a destruição das condições de vida na Terra pela espécie humana. Vendo as três entrevistas citadas pensei nisso: são três indivíduos muito importantes no Brasil contemporâneo, inteligentes, famosos, ricos, cultos, integrantes das elites nacionais nas últimas cinco décadas e principalmente brasileiros que tiveram vidas admiráveis, o que não significa concordar com eles e com suas ações, mas reconhecer que são indivíduos que experimentaram vidas muito mais, digamos, ricas do que as pessoas comuns. E as entrevistas refletem isso, são muito interessantes. No entanto em nenhum momento se falou do assunto mais importante do nosso tempo. Isso expressa como a consciência das catástrofes que já acontecem e nos aguardam nos próximos anos inexoravelmente e que nos levarão para o “fim do mundo”, não no sentido religioso, mas no sentido ambiental, essa consciência não faz parte do nosso dia a dia, todo mundo continua vivendo suas vidas individuais que, em síntese, significam fazer o capitalismo funcionar (e destruir cada vez mais), produzindo, ganhando dinheiro, trabalhando, se divertindo, consumindo etc. O mundo contemporâneo é um mundo de entretenimento – a internet tornou-se parte da indústria de entretenimento, a parte mais dinâmica dela, e falar da catástrofe ambiental não diverte, não entretém. Talvez as pessoas mais conscientes e verdadeiramente comprometidas com “a pauta ambiental”, como se diz hoje, ainda não saibam como fazer isso: constatam, se preocupam, mas não sabem o que fazer. 

O fato é que a questão mais importante da nossa época não entrou nas três excelentes entrevistas. Os três entrevistados célebres e os dois entrevistadores muito bons falaram de feitos e ideias notáveis, mas a catástrofe ambiental não faz parte das suas vidas aparentemente. 

PS: O Rivo News, só descobri hoje, 16/6, é um canal que se cala diante do genocídio dos palestinos pelos judeus e faz comentários simpáticos a Israel, o que é decepcionante.