segunda-feira, 30 de junho de 2025

José Paulo Netto, Leda Paulani, Virgínia Fontes discutem o essencial de Marx

Debate no aniversário de 30 anos da Editora Boitempo. 

Não vou comentar o que os intelectuais marxistas do debate dizem do pensamento do Marx e Engels, nada tenho a acrescentar e acho que já seu tornou senso comum quase duzentos anos depois. Vou comentar o que eles não dizem. 

A esquerda brasileira está atrasada cinquenta anos porque se atrelou ao PT, que por sua vez se atrelou ao Lula. Simples assim. 

O PT foi o primeiro e único partido brasileiros construído de baixo para cima, a partir do povo, de comunidades de base organizadas, sindicatos de trabalhadores e movimentos sociais diversos. Foi uma coisa extraordinária e tinha um potencial transformador imenso, caso a esquerda – os marxistas, leninistas e trotskistas à frente, com teorias e experiências revolucionárias – não tivesse se curvado à liderança de um político populista. Lula é uma personagem histórica única, um político habilíssimo, um líder carismático, um indivíduo com uma trajetória admirável, mas não foi, em meio século, o que se pode chamar de um líder dos trabalhadores, embora seja esse o nome do partido que construiu. Lula foi um líder da burguesia. 

Lula tem uma oratória impressionante, é um encantador de serpentes, como disse alguém, mas a gente deve avaliar as pessoas pelo que fazem, não pelo que dizem. O que Lula fez nesse meio século foi controlar as massas, desorganizar os trabalhadores e administrar o capitalismo para a burguesia. Foi, portanto um excelente político da burguesia, não dos trabalhadores. 

Fico pensando quanto tempo vai levar ainda até que os intelectuais marxistas digam isso. A impressão que eu tenho é que eles viveram em outro planeta no último meio século. Saúdam a luta contra a escala 6x1 (que não partiu do PT, assim como as jornadas de 2013, as últimas manifestações de massa de esquerda do país, foram hostilizadas pelo governo lulista) e não mencionam que Lula está no seu terceiro mandato presidencial, o quinto do PT, e nesse período a redução da jornada de trabalho dos brasileiros não foi sequer cogitada. Ao contrário, Temer, o vice da Dilma, ambos escolhidos por Lula, acabou com direitos trabalhistas que vinham dos governos de Getúlio e Jango. 

O que os trabalhadores deveriam ter feito durante os governos lulistas era justamente isso que fazem agora, se organizarem e lutarem de forma independente, aproveitando o ambiente de um governo pretensamente de esquerda, para conquistar direitos e avançar para uma revolução socialista. Ao invés disso, o que o PT fez, sob a liderança do Lula, foi controlar as massas para não reivindicarem nada, enquanto o governo lulopetista dava tudo aos banqueiros, ao agrotoxiconegócio, à indústria e aos demais setores capitalistas. 

Os trabalhadores brasileiros estão mais desorganizados, menos mobilizados e menos educados politicamente do que estavam há cinquenta anos, apesar de quatro décadas de democracia e quase vinte anos de governos lulopetistas. Pior: foram conquistados pela extrema direita. Santa contradição marxista! Como isso é possível? As peças não encaixam, mas se a gente considera que, em vez de governar para os trabalhadores, o lulopetismo governou para os capitalistas, fazendo o papel de desorganizar os trabalhadores e desmobilizar as massas, aí sim o quebra-cabeça está montado.