domingo, 10 de agosto de 2025
Ciro Gomes x Gregório Duvivier, em 2022
Rever esse debate três anos depois é bizarro. Os dois estão errados, como eu achei no dia, mas há coisas que o tempo esclarece. A questão mais importante está no finalzinho, e Ciro estava certo. Ele pergunta ao Gregório se ele acha que a vitória do Lula vai pacificar o Brasil e Gregório responde que sim. Hoje, vemos que Gregório estava errado, isso não aconteceu. Será que Gregório faz autocrítica? Pelo que acompanho, não. Tampouco Ciro faz autocrítica dos seus inúmeros erros, inclusive essse de debater com um humorista, que, como diz, não tem procuração do Lula para falaar em nome dele, portante o debate não tem o menor sentido nos termos em que se dá e mostra, como diz acertadamente o Gregório, que Ciro estava perdido, embora afirmasse que ia ganhar a eleição, que ia conquistar a parcela dos 45% que não queriam nem Lula nem o bozo, que ia tirar o bozo do segundo turno e vencer Lula. Foi um delírio, ou um erro, mais um dos tantos que Ciro cometeu desde o final do século passado nas suas decisões políticas. Saiu da eleição muito menor do que entrou, ficou magoado (aliás já estava magoado com o lulopetismo, com razão, pois foi difamado e perseguido, e diz várias vezes que é o Gregório que está magoado: Freud explica), disse que nunca mais se candidatava, ficou ainda mais feroz contra o lulopetismo e suas chances hoje de ser presidente parecem nulas. E assim perdemos o melhor político da nossa época, da minha geração. Por que isso aconteceu? Acho que pelos seus sucessivos erros de escolha e avaliação, mas que eu resumiria em dois, um erro e um defeito, exatamente o oposto do Lula. O defeito é que Ciro é arrogante, o que o torna antipático. Ele diria que é sincero, honesto, autêntico, intransigente em relação a princípios, e talvez esteja correto, mas o fato é que não aglutina as pessoas em torno dele, como faz o Lula, e isso nos leva ao erro, que foi o maior acerto político do Lula: passou sua carreira trocando de partidos. Agora mesmo, a notícia mais recente é que vai sair do PDT e se filiar ao PSDB e ser candidato ao governo do Ceará. Ora, ele é fundador do PSDB, por que não ficou lá esse tempo todo? Poderia ter sido o candidato do partido à sucessão do FHC, mas preferiu sair e disputar a presidência em 1998 por outro partido. Depois trocou novamente e foi para o PDT; e é verdade que ficou lá muito tempo, mas o partido tinha outro dono. Lula tem esse mérito, fundou um partido e se tornou dono dele. Sou crítico disso, acho que o erro do Lula foi não ter se afastado da sucessão em 2010 para deixar que o partido se renovasse, mas quis manter o controle do partido, talvez voltar mais adiante, como acabou acontecendo, e impôs um poste para sucedê-lo. Deu no que deu. Lula é gigante e surpreendeu com a superação da sua queda, superou a prisão e voltou. Graças a quê? Ao partido que construiu. Mas voltou menor, magoado também, fraco, seu governo atual não passa de sombra comparado ao que foram os seus primeiros mandatos, o que confirma minha opinião de que, se ele tivesse sabedoria, teria se afastado em 2010 e deixado o PT e o Brasil se renovarem. Seria melhor para todos nós e para ele também. A obsessão do Lula pelo poder é tão grande e a dependência que os petistas têm dele é do mesmo tamanho que nossa época política virou a Era Lula e só vai acabar quando ele morrer. O Brasil também se tornou dependente dele. É isso que Gregório manifesta no "debate", essa submissão de políticos, intelectuais e artistas à liderança do Lula, como se sem ele não tivesse salvação, preferimos continuar dependentes dele no curso prazo e adiar a tragédia que virá mais dia menos dia, que já veio com Dilma, golpe, Temer, bozo, pandemia, tentativa de golpe e tudo que sofremos nesses últimos quinze anos. Dependência cega que não vê que relação entre nossa tragédia e essa submissão patológica ao Lula. Ao contrário do que pensam lulólatras, Lula não é imortal nem onisciente e o Brasil vai ficar órfão quando ele morrer, a esquerda vai ter de renascer, porque Lula não deixou nenhuma liderança se projetar, exceto seu antagonista, o bozo. Lula é um brilhante político, o maior da história do Brasil, fez coisas que nem Getúlio fez, isto é, ressuscitar, mas é também um estadista medíocre, nunca teve um projeto para o Brasil e governou para o capital, distribuindo migalhas para os pobres. Seguiu o modelo neoliberal do FHC e os lulólatras fingem não ver isso. Essa é a tragédia brasileira. Eleger um presidente que tenha um projeto nacional e apoio político é o que precisamos desde o Plano Real, é só o começo do que precisamos fazer, porque reverter a devastação do ambiente e a destruição do país é uma tarefa hercúlea, para décadas. No entanto, nem isso está no horizonte. O que Ciro pretende? Tornar-se governador do Ceará e se apresentar como alternativa para o pós-lulismo daqui a quatro anos? Tomara, mas o fato é que fará isso com atraso de trinta anos, em condições muito piores, com problemas muito maiores, especialmente a devastação ambiental, o desmonte da sociedade, o poder do crime organizado. Triste e terrível. A tragédia brasileira. Minha esperança não está mais no Ciro, está em novos atores. Não os vejo, mas a história é surpreendente. Quem esperava 2013? Aquelas mobilizações foram fantásticas, mas a esquerda não as compreendeu e foi a direita que herdou sua energia, parte também da tragédia brasileira. Talvez um novo 2013 seja diferente, talvez leve o Brasil para uma situação melhor.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.