OBS: O texto ("post") abaixo, com o título acima, foi publicado no dia 12 de outubro de 2009, há dez anos e cinco meses, portanto. Continua correto. Passada uma década, o que era bom não aconteceu como poderia e o que era ruim aconteceu em escala maior. O que eu não imaginei, porque estava só começando, é que as redes sociais seriam os veículos da nova comunicação, transformando empresas como Facebook em potências mundiais. Mudou sobretudo o cenário político, com a ascensão da direita neoliberal e autoritária, que, derrotada seguidamente pelo voto popular, perseguiu e derrubou a esquerda em golpes via poderes judiciário e legislativo. E que nesse processo foi ela, muito mais do que a esquerda, quem soube usar a nova comunicação.
O jornalista é um animal em extinção, porque demora a se adaptar às novas e revolucionárias condições de exercício da profissão
O
jornalismo está mudando e o jornalista será talvez um dos últimos a
perceber isso. Nós, que já denunciamos tantas espécies ameaçadas de
extinção, não percebemos que somos uma também. Não me refiro ao fim da
exigência do diploma, decretada por Gilmar, O Supremo, embora essa
decisão reforce a tendência. Também não estou me referindo à péssima
qualidade do jornalismo praticado do país, que, eliminando a reportagem,
elimina também o repórter. Estou me referindo à internet.
A
internet está criando um novo paradigma de comunicação. Quando as
pessoas trocam um sistema por outro, quando este outro perde adeptos
enquanto o novo prospera, há uma mudança de paradigma. É o que está
acontecendo na comunicação. Rapidamente a internet está substituindo
jornais, revistas, televisões e rádios como principal meio de
comunicação. O modelo antigo tinha três características principais: 1) a
propriedade dos meios de comunicação concentrada em grandes empresas;
2) a produção da informação por jornalistas profissionais; 3) o consumo
de informações pelo público.
A internet subverteu esse modelo.
Hoje, para produzir e difundir informações não é preciso mais ser dono
de um jornal ou revista, concessionário de emissoras de tevê e rádio,
não é preciso contratar uma grande equipe de profissionais, não é
preciso gastar com a distribuição da publicação ou com a transmissão de
sons e imagens. Não dependemos mais dos empresários (pelo menos do
empresário tradicional da comunicação) para escrever, publicar e chegar
ao leitor. Qualquer jornalista pode ter seu blog – seu jornal.
Também
não é preciso ser profissional para produzir informações. Não é só o
jornalista que pode ter seu blog, é qualquer pessoa. Qualquer pessoa
reproduz informações e as distribui por meio do correio eletrônico,
qualquer pessoa escreve textos e os distribuem aos amigos e conhecidos,
entra em blogs e portais, comenta, critica e interfere na informação.
Qualquer pessoa com um celular pode fotografar ou filmar um fato
jornalístico e colocá-lo na rede com enorme repercussão. Todo mundo pode
escrever, todo mundo pode participar da produção da informação.
Jornalismo se tornou uma atitude.
É
por isso que o jornalista está em extinção. O jornalista tradicional, é
claro. Continua existindo espaço e função para o jornalista – em certa
medida, a internet ampliou extraordinariamente o “mercado” para o
jornalista profissional, uma vez que, agora, qualquer organização pode
tem seu próprio veículo de comunicação e falar diretamente ao seu
público, sem depender da intermediação dos jornais, revistas, televisões
e rádios.
Esse novo profissional, porém, não é mais o autor
solitário da informação, não é o dono da verdade, não é o sujeito que
seleciona o que o leitor vai ler (os donos dos veículos tradicionais
fazem ainda uma triagem da triagem, seja na edição, seja na pauta, seja
na “linha editorial”, seja na “falta de espaço”, seja na censura mesmo).
Ele precisa trabalhar em cooperação permanente com o leitor. O novo
jornalismo é um jornalismo colaborativo, no qual, além de produzir
informação, o jornalista atua como intermediário, em contato com os
leitores e as fontes, que também se misturam.
Agilidade,
competência e conhecimento para produzir a informação correta de forma
colaborativa com o leitor é o lema deste novo jornalismo. Na ausência de
jornalistas formados ou profissionais atualizados, o novo paradigma se
impõe com leigos, no fenômeno dos blogs. O melhor exemplo disso é o blog
do Luís Nassif, certamente o jornalista brasileiro que melhor
compreendeu e põe em prática o novo modelo, cercado de uma comunidade de
leitores qualificados que já ultrapassou 6 mil membros, no momento em
que escrevo. Em contraposição, sindicatos e Fenaj, que não criam nem
estimulam a criação de jornais de jornalistas na internet, se comportam
como pássaros de gaiola, que veem a portinha aberta, mas não sabem mais
voar. São sindicatos de um animal em extinção.
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