sábado, 22 de fevereiro de 2020

O Brasil virou um grande esgoto

Não tem outra forma de expressar a situação geral do país.
E nem estou falando do crime organizado no poder, o que faz parte do esgoto geral brasileiro. Também não estou falando da destruição das instituições e dos direitos. Nem estou falando dos poderes judiciário e legislativo, cujo ambiente degradado eu vi ontem no documentário Excelentíssimos, no canal Curta, que recomendo, mas é preciso ter estômago.
Estou falando de esgoto mesmo, da situação no Rio de Janeiro, que pode ser pior do que a do país em geral, porque no Rio tudo acontece em escala ampliada, provavelmente porque é a sede da Globo, mas não é diferente de outras capitais e outros estados -- o padrão nacional é o mesmo.
Não é à toa que tudo está explodindo agora, em todos os setores, depois do golpe de 16 que abriu caminho para o desrespeito generalizado à Constituição de 1988, do qual o governo atual é fruto.
Mas não adianta só falar do que acontece hoje e do golpe; a situação calamitosa do saneamento no Rio começou na década de 1970, como tudo, durante o "crescimento acelerado" do "milagre brasileiro". Crescimento acelerado que a Era Lula retomou (e que tinha começado com JK). "Crescimento acelerado" no Brasil também pode ser chamado de destruição acelerada, degradação acelerada, desrespeito acelerado -- ao ambiente. Incluindo os trabalhadores, que, afinal, fazem parte do ambiente. 
Sim, o governo do PT -- e este é o seu verdadeiro e enorme crime -- nada fez de duradouro pelo Brasil, como por exemplo investir em saneamento básico, em política ambiental como centro do desenvolvimento, pelo contrário, está aí o crime de Belo Monte para atestar a irresponsabilidade petista em relação ao ambiente. O PT seguiu a lógica capitalista do crescimento econômico gerador de empregos, que políticas públicas transformaram em distribuição de renda e todo mundo ficou feliz durante alguns anos.
Nada, porém, era sustentável, seja porque nada foi baseado na participação popular, seja porque nenhum problema foi atacado na raiz. Além do saneamento, a educação pública de qualidade em tempo integral para todos, no ensino fundamental, antes de qualquer outra coisa.
O resultado daquele "desenvolvimento acelerado" -- cujo símbolo foram as obras da copa de 2014, da qual nada de bom restou, mas muita coisa ruim aconteceu e está aí ainda (o futebol brasileiro nunca mais foi o mesmo, virou um "produto" para elites) -- é esse esgoto no qual se transformou o Brasil atual.
Desenvolvimento só se faz com participação da população e com investimento nas questões fundamentais -- educação, saúde, saneamento, transporte, moradia, terra --, tendo o ambiente como eixo de todas as políticas públicas.
Neste século XXI de mudanças climáticas e caminhada acelerada rumo à autodestruição e à barbárie, nenhuma política pública pode mais desconsiderar o ambiente.
PS: Tem outro programa também, todo feito no Rio Guandu, que eu vi no canal Futura e na internet talvez possa ser visto só por assinantes da Globonews.