terça-feira, 9 de dezembro de 2025

Revolução ou reforma, o velho dilema dos socialistas

Sempre achei que, em vez de fundar um partido para disputar eleições burguesas, os revolucionários deviam fortalecer e unir os movimentos populares e sindicatos de forma independente do Estado burguês. Organizá-los para exigir o atendimento das suas reivindicações pelo Estado burguês. Nesse processo, os trabalhadores não apenas arrancariam conquistas com a luta, mas também se organizariam de forma independente e formariam a consciência da necessidade de substituir o Estado burguês capitalista por um Estado popular socialista, ou seja, construiriam sua consciência e as instituições do futuro Estado socialista. Formar um partido, disputar eleições burguesas, conquistar assentos nas Câmaras de Vereadores e Assembleias estaduais e no Congresso Nacional, eleger prefeitos, governadores e até presidente, governar municípios, estados e até o país na ordem burguesa, tudo isso é fazer a política burguesa e participar da sua lógica, fortalecer o sistema capitalista e o Estado burguês, explorador, opressor, injusto, desigual. Se a esquerda marxista quer fazer uma revolução, destruir o capitalismo e construir o socialismo, não deve fortalecer o Estado burguês, suas instituições e ideologia, entre as quais se incluem partidos, eleições, parlamentos, governos etc. Para fazer a revolução, o caminho é fortalecer a organização popular e a ideologia socialista, tratar sempre o Estado burguês e seus representantes como inimigos. Foi isso que o partido bolchevique fez na Rússia, foi esse o significado da palavra de ordem "Todo poder aos sovietes!" lançada por Lênin e Trotski em 1917, que deflagrou a revolução, transferiu o poder para o povo e começou a construção do Estado socialista. 

Coisa diferente é se os marxistas não pretendem fazer uma revolução, mas sim reformar o Estado burguês, transformá-lo gradualmente num Estado socialista e transferir também gradualmente o poder das mãos da burguesia para os trabalhadores, substituir o capitalismo pelo socialismo sem fazer revolução, de forma civilizada, consensual, pacífica, ainda que em conflitos, mas acreditando que a ordem burguesa é capaz de resolvê-los. Neste caso, formar um partido para disputar eleições burguesas e legitimar a política burguesa faz sentido. Trata-se de participar das instituições do Estado burguês, conquistar a maioria do eleitorado, chegar ao governo pelo voto e reformar o Estado burguês internamente, transformando-o num Estado socialista. O PT, liderado por Lula, evidentemente, não escolheu o caminho da revolução. Tampouco, porém escolheu o caminho da reforma. Na falta de definições claras e na confusão provocada pelo fim da URSS e pela ofensiva neoliberal, tornou-se um partido burguês comum, cujo governo é determinado pelos interesses dos setores burgueses mais fortes e mais influentes. 

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