quinta-feira, 16 de janeiro de 2025

O elogio do jornalismo

Em tempos de fake news, faço o elogio do jornalismo: nunca se fez jornalismo tão bom como se faz hoje. 

Repórter Brasil é talvez o melhor exemplo disso, mas há inúmeros outros. Daniel Camargos, por exemplo, é um repórter que superou seus mestres, que estão entre os melhores repórteres da minha geração. A geração do Daniel e outros até mais jovens realiza o que jornalistas idealistas mais velhos pretenderam fazer e fizeram em parte, alguns mais outros menos, e que a invenção da internet possibilitou como nunca antes. O melhor jornalismo de todos os tempos está aí disponível para todos, inclusive para quem não lê, como se dizia antigamente, que o brasileiro não lê: agora é possível também ver (em vídeos no YouTube) e ouvir (em podcasts) ou até mesmo ouvir reportagens escritas (também no YouTube, no canal da BBC Brasil, por exemplo). 

Como explicar então que com tanta informação boa, com tanto jornalismo de primeira, com tantas reportagens excelentes, a informação mentirosa seja consumida e repetida pela maioria da população, considerando que há pouco mais de seis anos a maioria dos brasileiros elegeu o bozo e há algumas semanas a maioria dos americanos reelegeu o bozo deles? 

É uma questão de escolha, todos nós temos discernimento, todos nós temos cérebro para pensar por conta própria e identificar o que é certo e o que é errado, o que é bom e o que é ruim. 

Não se pode ignorar porém que o capital joga pesado a favor da mentira. Na internet, o capital existe nas redes sociais, em produtos de consumo que viciam, equivalentes a um sanduíche méqui e tantas porcarias que os humanos consomem como se fossem alimentos, mas na verdade são vícios. A informação falsa é um tipo de vício. 

A ciência explica isso, basta procurar na internet e em livros que a gente encontra exposições de cientistas sobre como o celular e seus aplicativos viciam seus usuários, ou seja a população inteira, porque praticamente todo mundo hoje vive olhando seu celular em qualquer parte e não olha mais em torno se si, para os outros indivíduos, para o mundo à sua volta. 

Os efeitos disso são inúmeros e inesperados. Reparei, por exemplo, como ninguém mais reclama de esperar ônibus urbano em filas intermináveis que podem durar uma hora. Por quê? Porque estão todos ocupados com seus celulares e não têm pressa de chegar, porque no lugar onde chegarem vão fazer a mesma coisa que estão fazendo: olhar seu celular. Só o que querem é achar um lugar para sentar no ônibus, principalmente mas não só jovens, que, uma vez sentados, ignoram assentos prioritários e idosos, grávidas, deficientes etc. em pé, pois simplesmente não estão olhando para além da telinha do seu celular.

Estão todos lendo, vendo ou ouvindo conteúdos incríveis como os da Repórter Brasil, da BBC Brasil, do Uol Prime, da Piauí e de inúmeros outros produtores de informações de qualidade? Ou vendo e ouvindo os conteúdos viciantes que enriquecem os donos da Meta, X, Microsoft, Amazon, Google etc., os quais, por sua vez doam dinheiro para a posse de Trump e compram ouro ilegal de terras indígenas da Amazônia? A segundo opção é a mais provável. 

O ciclo que destrói o ambiente e muda o clima do planeta, que financia a extrema direita, que nos vicia em fake news e que enriquece meia dúzia de magnatas é o mesmo, é o ciclo do capital. Enquanto não deixarmos de ser escravos do capital e não nos tornarmos seus senhores, o Homo sapiens continuará caminhando aceleradamente para a autodestruição. 

O melhor jornalismo de todos os tempos está aí nos mostrando isso. Informa-se quem quer.

Do Repórter Brasil:


Revelamos como o ouro ilegal sai da Amazônia e termina no seu celular ou computador. As quatro empresas mais valiosas do mundo foram o destino final do produto de duas refinadoras, a italiana Chimet e a brasileira Marsam, que têm produção contaminada por metal extraído de garimpos clandestinos
Por Daniel Camargos | Edição Ana Magalhães*
 25/7/2022
DE REDENÇÃO E TUCUMÃ (PA) – Você não sabe disso, mas ao ler esta reportagem você pode estar usando ouro extraído ilegalmente de terras indígenas brasileiras. Celulares e computadores das marcas Apple e Microsoft, bem como os superservidores do Google e da Amazon, têm filamentos de ouro em sua composição. Parte desse metal saiu de garimpos ilegais na Amazônia, passou pela mão de atravessadores e organizações até chegar nos dispositivos das quatro empresas mais valiosas do mundo, revela uma investigação da Repórter Brasil. 

Para ler a íntegra, clique aqui

Clique aqui para ver o saite da Repórter Brasil e suas excelentes reportagens.