segunda-feira, 15 de julho de 2019

Vazamentos confirmam os interesses privados da larva jato

Os últimos vazamentos publicados pelo The Intercept Brasil e pela Folha de S. Paulo (matéria reproduzida abaixo) são um escândalo aceito pela sociedade brasileira. Há pessoas que se indignam e autoridades que os barram, como aconteceu há mais tempo com o então juiz Sérgio Moro, mas em geral são sabidos por todos e aceitos pelas autoridades fiscais.
O então juiz queria trabalhar como auxiliar da ministra do STF Rosa Weber, em Brasília, e continuar lecionando na Universidade Federal do Paraná. Pediu para suas aulas serem transferidas para sábado, assim -- alegou -- trabalharia durante a semana em Brasília e uma vez por semana em Curitiba, acumulando dois empregos públicos federais excelentemente remunerados. O Conselho Universitário da UFPR negou seu pedido, ele apelou em todas as instâncias possíveis e perdeu. Argumentava que seria ótimo para a universidade e seus alunos terem um professor no STF. Revoltou-se, mas teve de aceitar e não pôde pegar a boquinha no STF.
O caso foi contado na imprensa, mas não teve repercussão, porque Batmoro já tinha sido escolhido como herói da classe média falsa moralista. Para mim foi revelador do caráter do herói macunaíma e desde então sei que ele não combatia corrupção nenhuma, que seus objetivos eram políticos. Como pode combater a corrupção quem é capaz de um ato corrupto que não considera corrupção? Acumular dois dois empregos públicos excelentemente remunerados e trabalhar em duas cidades ao mesmo tempo? Que trabalhador normal é capaz disso? Nem em empresa privada, só no serviço público, com conivência dos superiores, o que nessa caso, não aconteceu. Se quisesse servir de fato o público, Batmoro poderia abrir mão do emprego de professor universitário e uma vez e periodicamente dar palestras para seus ex-alunos curitibanos -- poderia até cobrar, o que seria menos imoral. Mas perder dinheiro e privilégios ela não queria (aliás, gostaria de saber o que ele fez com o emprego, agora que é ministro).
Agora os vazamentos da larva jato mostram que Robingnoll tratou e trata da mesma forma seu emprego público, como emprego, como meio para ganhar dinheiro e fama, não para servir o público que paga seus salário. E não paga pouco: R$ 300 mil por ano. É de praxe no Brasil, nos altos escalões. Com as palestras sobre a larva jato, porém, ele ganhava mais, R$ 400 mil. É o "por fora". E, se não usou, pretendia usar sua mulher como laranja, como sócia da empresa que na verdade era dele. Em suma, ele fez e faz o que denuncia e acusa, nos réus da larva jato, para depois Batmoro condenar e mandar para a cadeia.
Enquanto Robingnol faturava uma grana, empresas quebravam, milhões de brasileiros eram jogados no desemprego, o pré-sal era entregue aos estrangeiros, a democracia ia para o buraco. Vestido de verde-amarelo destruía a pátria e defendia seus interesses pessoais. Para essa gente nunca há crise, não há desemprego, não há atraso de salário, não há perda de privilégios.
Quem acreditou nas boas intenções da larva jato e no heroísmo de Robingnol e Batmoro ou é ingênuo ou mal intencionado. Acredito mais na última opção, porque brasileiro é muito maldoso para ser ingênuo, e se não viu foi porque não quis. Os de fato ingênuos há, mas são bem poucos.
Como disse, a sociedade brasileira de forma ampla aceita as espertezas praticadas por Robingnol usando o serviço público em proveito próprio e grande parte dos funcionários de alto escalão pratica o mesmo. Formam as castas dos serviços públicos jamais atingidas por crises de recursos do Estado -- agora mesmo saíram ilesas da reforma que acabou com a aposentadoria dos pobres.
E a esquerda não ataca o problema, o PT governou 13 anos e não mudou isso. Em geral, quando a oposição chega ao governo pensa que é sua vez de se locupletar. E a coisa se perpetua. Contra essa corrupção aceita só há dois remédios: a punição exemplar e o corte de privilégios. Quem vai fazer isso? Só o povo, quando se tornar consciente do seu poder e de fato participar do governo, com seus eleitos.

The Inrtecept Brasil
'400k'
Deltan Dallagnol usou fama da Lava Jato para lucrar com palestras e livros
Amanda Audi, Leandro Demori
14 de Julho de 2019, 2h03
Em parceria com Folha de S. Paulo
As mensagens secretas da Lava Jato
Parte 10
Chats privados mostram que procurador debateu com colega a criação de empresa no nome de familiares.

O procurador da República Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa da Lava Jato, montou um plano de negócios para lucrar com eventos e palestras na esteira da fama e dos contatos conseguidos durante a operação, mostram mensagens obtidas pelo Intercept e analisadas em conjunto com a equipe da Folha de S.Paulo.
Em um chat sobre o tema criado no fim de 2018, Dallagnol e um colega da Lava Jato discutiram a constituição de uma empresa na qual eles não apareceriam formalmente como sócios, para evitar questionamentos legais e críticas. A ideia era usar familiares.
Os procuradores também cogitaram a criação de um instituto sem fins lucrativos para pagar altos cachês a eles mesmos, além de uma parceria com uma firma organizadora de formaturas para alavancar os ganhos do projeto.

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