sábado, 15 de fevereiro de 2025

Calor nas escolas

Nos anos 1980, o recém-falecido governador de Minas Gerais Newton Cardoso colocou em prática a construção de prédios escolares que ficaram conhecidos como "forninhos de assar crianças", porque eram feitos de estruturas metálicas que os tornavam muito quentes. Essa é a realidade de muitas escolas hoje em tempos de mudanças climáticas. As instalações escolares brasileiras são inadequadas, mais parecem prisões.

O descaso dos governantes brasileiros com a educação é a política educacional brasileira ao longo dos séculos. A questão é tão simples que, se houvesse vontade política de educar, em vez de vontade política de não educar, já teria sido resolvida há cem anos, pela Revolução de 1930. Algumas iniciativas foram feitas e não se universalizaram, foram boicotadas, com as do Anísio Teixeira e do Darci Ribeiro. 

Escolas-parques, em terrenos amplos, arborizados, construções modernas, arejadas, atividades esportivas, agrícolas, artísticas e oficinas, refeições saudáveis, assistência médica, dentária e psicológica, horário integral, participação dos pais e da sociedade, incentivo ao conhecimento e uma pedagogia para formar sujeitos autônomos. Enfim, tudo que a ciência sabe que crianças e adolescentes precisam, tudo que as nações mais democráticas praticam. O espaço e a instituição mais importantes da sociedade para quem amamos. Simples assim.

Calor nas escolas: 2,5 milhões de crianças estudam em locais 3°C mais quentes que as cidades

Negros são maioria nas escolas em áreas mais quentes; faltam normas para conforto térmico das instituições de ensino 

Reportagem da Agência Pública. Por Gabriel Gama, 15 de fevereiro de 2025. 

https://apublica.org/wp-content/uploads/2019/08/selonovo.png

“Tem vezes que eu começo a suar tanto na sala de aula que chega a molhar o caderno. Eu só fico sentado no recreio, não tenho vontade de fazer nada, por causa do calor.”

Quem diz isso é Davi, de 8 anos, estudante do 3º ano da Escola Estadual Professor José Escobar, que fica no bairro Sacomã, em São Paulo. Sua mãe, Keila, ficou surpresa ao entender a gravidade do calor que o filho passa no local: “Às vezes ele chega da escola falando que não está aguentando de calor, mas eu não tinha ideia que era nesse nível. Se eu soubesse antes, já tinha reclamado”.

Davi é um dos mais de 2,5 milhões de crianças e adolescentes que estudam em escolas que ficam em áreas pelo menos 3 °C mais quentes do que as cidades onde estão. Quase um terço do total de crianças matriculadas nas 27 capitais do país está nessa situação. É o que revelam dados extraídos pela Agência Pública de uma pesquisa recente do Instituto Alana e do MapBiomas. Os indicadores dão a dimensão das ilhas de calor que afetam as instituições de ensino públicas e privadas do Brasil.

A José Escobar, onde o menino Davi estuda, fica em um local 9,25 °C mais quente do que a média de temperatura da capital paulista, segundo a pesquisa. É a escola estadual mais quente da cidade e a terceira mais aquecida de todo o município.

O estudo foi baseado em medições de temperatura por satélite em 2023. Os pesquisadores compararam a média anual dos termômetros nos pontos de localização de quase 20 mil escolas de todas as capitais com as temperaturas das cidades onde elas se localizam. Assim, foi estabelecido um valor que representa o desvio de temperatura de cada escola analisada.

Clique aqui para ler a íntegra no saite da Agência Pública.