segunda-feira, 21 de novembro de 2022

Copa de contradições. Mais uma

Não se pode criticar a Copa do Mundo pelo que ela nos mostra. O "evento", que é como agora a imprensa chama a Copa, proporciona um festival de crimes, os quais por sua vez são denunciados e ganham destaque que outros não ganham, e as denúncias geram, em sua defesa, novas denúncias contra indignações seletivas do sistema. Hipócritas se acusando mutuamente, enquanto bem intencionados tentam tirar proveito para minimizar problemas graves. 

Enfim, é uma aula pública de ideologia via comunicação de massa nos meios mais modernos para o mundo inteiro ver. "O Negócio da Copa", digamos assim (para fazer referência ao best-seller recente "O Negócio do Jair", livro importante como registro, mas que decepciona quem espera saber alguma coisa que ainda não sabe; tipo o primeiro volume de "Lula", do Fernando Morais -- ambos caríssimos, bons negócios também, portanto).

E não é de hoje; foi assim em 2010, em 2014, em 2018 e este ano no Catar, a começar pela data. Só não entende quem não quer. 

E muita gente não quer, a maioria, a grande maioria, porque também é presa da ideologia, e seleciona o que quer ver e o que não quer. Sofrimento tem limite, a gente sofre quanto dá conta, e quando não dá precisa fazer luto, que é a dor mais profunda dos animais (não só humanos, está demonstrado pela ciência), e o mundo contemporâneo tem sofrimento demais e todo ele está à vista de todos, graças às maravilhas da tecnologia da comunicação. 

Então é isso: a Copa do Mundo que diverte o mundo inteiro desde ontem, a maior distração de massas do planeta, de quatro em quatro anos (e tanto é verdade que pretendem diminuir esse intervalo), é um negócio corrupto, que enriquece poderosos e bilionários, em meio a outros crimes -- trabalhistas, ambientais, sociais e de violência física mesmo. Não tem exclusividade nesse assunto, mas tem muita "visibilidade", daí o que passa despercebido e é rotina em outros lugares chama atenção. 

Por que a imprensa não aproveita a Copa para ensinar história, política, economia e tudo mais para a humanidade ao redor do planeta? É uma excelente oportunidade para fazer, digamos, upgrade nas consciências e quem sabe ajudar a melhorar essa espécie que cava seu próprio abismo. Acontece que a imprensa também é ideológica... (Parte dela, aliás, não sabe grafar Catar nem catariano em português, usa Qatar e qatari, palavras estrangeiras, o que também é prova de ideologia.) 

A seguir links para algumas matérias que deveriam prevalecer no noticiário.

O presidente da Fifa Gianni Infantino

Do Nexo: 

Presidente da Fifa relativiza violações a direitos no Qatar
Gianni Infantino chama europeus de hipócritas por denunciar exploração de trabalhadores e compara criminalização da comunidade LGBTI+ no país-sede da Copa a bullying que sofreu na infância por ser ruivo 

Catar expulsou dezenas de trabalhadores estrangeiros após manifestação, diz ONG 

Fala do presidente da Fifa sobre gays e deficientes causam revolta 

As suspeitas de abusos que rondam a Copa do Mundo do Qatar  

Fifa ameaça dar cartão amarelo e seleções desistem de braçadeira contra homofobia

Quantas pessoas morreram por causa do Mundial no Catar? 

Embaixador da Copa diz que homossexuais têm ‘dano mental’