quinta-feira, 20 de fevereiro de 2025

Lixo eletrônico, a nova e perigosa fonte de riqueza para organizações criminosas

A destruição ambiental não tem fim. Por isso a extinção da espécie humana é iminente e inevitável. Há décadas sabemos dessa verdade, mas nada fazemos para impedi-la e fazemos cada vez mais para apressá-la. E todos colaboramos, comprando e usando e descartando alegremente nosso lixo eletrônico. Somos uma civilização assim, não nos importamos com as consequências das nossas ações. Qualquer indivíduo racional pode pensar que o lixo não desaparece como mágica, vai para algum lugar, mas quem faz isso? Quem se importa?

A responsabilidade do Exército brasileiro

As instituições são feitas de indivíduos, os indivíduos têm ideologias, as instituições têm ideologias, as ideologias são o que faz as instituições e as pessoas funcionarem na sociedade em que vivem, desde que deixamos de ser animais como as outras espécies e nos tornamos humanos, transformando a Natureza e inventando o mundo. 

O Exército brasileiro foi formado por gente do povo, principalmente escravos, para lutar na Guerra do Paraguai, episódio horroroso da história do Brasil, no qual morreram 60 mil brasileiros e 280 mil paraguaios, além de 60 mil argentinos e uruguaios. Basta comparar no mapa os tamanhos do pequeno Paraguai e dos gigantes Brasil e Argentina para constatar o massacre que terminou com o extermínio da população masculina adulta paraguaia. Ao final da guerra, o Exército tinha prestígio e era a primeira instituição a representar na sua composição o povo brasileiro, condição que o levou a liderar a derrubada da Monarquia e proclamar a República, fornecendo à nação seus dois primeiros presidentes. 

Desde então o Exército brasileiro interferiu de forma sistemática na política nacional, considerando-se uma espécie de dono da República. Foi o Exército que levou ao poder o civil e futuro ditador Getúlio Vargas na Revolução de 30, governou com ele e o depôs em 1945. Foi o Exército quem tentou depor Getúlio eleito presidente, motivando seu suicídio em 1954. Foi o Exército que tentou impedir a eleição de JK em 1955 e também quem garantiu sua posse em 1956. Foi o Exército que tentou impedir a posse do vice-presidente João Goulart em1962, aceitou-o como presidente parlamentarista e o depôs em 1º de abril de 1964. 

Parecia ter sido enquadrado pelos civis na Constituição democrática de 1988, mas voltou ao poder com um capitão da reserva expulso da instituição eleito presidente em 2018 e mais uma vez protagonizou uma tentativa de golpe com plano de assassinato do presidente e seu vice em 2022. O Exército brasileiro atual, porém é muito diferente daquele que fundou a República, daquele que liderou a Revolução de 30 e daquele que implantou uma ditadura de 21 anos em 1964. Não é mais uma instituição movida por ideias nacionalistas, não tem um projeto autoritário para o Brasil, é só uma instituição que, como quase todas as outras instituições do Estado brasileiro atual (como a Justiça, por exemplo; basta ver as reportagens do UOL sobre os juízes recém-formados que ganham muito mais do que o teto salarial público), abriga indivíduos cujo único interesse é defender seus privilégios. Em 1989, o primeiro presidente civil eleito depois de 21 anos de ditadura militar prometia acabar com os marajás do serviço público. Depois de 36 anos, os marajás estão aí, mais ricos e poderosos do que nunca, acumulando privilégios. O Brasil é a república dos marajás e dos banqueiros.

O Estado brasileiro hoje funciona assim: é um Estado falido que não tem dinheiro para pagar um salário mínimo decente, aposentadorias decentes, salários decentes para professores, enfermeiras e o funcionalismo público que efetivamente trabalha, mas tem dinheiro para pagar salários astronômicos e benefícios de todos os tipos para castas privilegiadas, entre as quais estão os juízes e os militares; um Estado que não tem dinheiro para custear serviços públicos decentes para a maioria, mas tem todo dinheiro disponível para custear os privilégios das suas castas minoritárias.

O Supremo Tribunal Federal vem agindo exemplarmente, sob a admirável conduta do ministro Alexandre de Morais, para manter os militares nos limites da lei, mas quem enquadrará os juízes? Enquanto os preços dos alimentos disparam e os salários definham, o povo padece. 

Acima das castas dos militares e dos juízes, só existe uma no Brasil: a dos banqueiros. Mesmo porque são eles que comandam também o agrotoxiconegócio, a mineração e a indústria. Os juros elevadíssimos da dívida brasileira são o primeiro pagamento a ser feito pelo governo, quebrado ou não, tendo déficit ou não: para os banqueiros sempre há dinheiro. É uma ironia tipicamente brasileira e reveladora que o diretor do filme brasileiro que concorre ao Oscar seja herdeiro do maior banco privado nacional, ou seja, um beneficiário direto dessa gigantesca dívida que os brasileiros pagam todos os dias com o suor e o sangue do seu trabalho. 

Neste momento em que alguns militares vão ao banco dos réus por mais uma tentativa de golpe e de assassinato do presidente e do seu vice, Ainda estou aqui nos faz recordar a responsabilidade do Exército brasileiro nas atrocidades que foram cometidas contra os brasileiros no pior período da ditadura militar, o governo Garrastazu Médici (1969-1974). É dever da Justiça submeter os militares, os juízes, os deputados e senadores e todas as castas de privilegiados brasileiros aos limites da Constituição, assim como faz diariamente com todos os brasileiros comuns, que trabalham, sustentam o Estado e os privilégios e quase nada recebem de volta, inclusive justiça. 

Ainda estou aqui, trailer Oficial.

terça-feira, 18 de fevereiro de 2025

O homem que revolucionou a psicologia

E não foi Freud. Interessante. E reforça o que escrevi sobre a BBC News. Se a gente considera o que Israel está fazendo na Palestina, assim como tantos outros governos fazem ainda hoje em vários países, ele não teve sucesso. Tentou, que é o que importa.

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2025

O Brasil das castas

Os primeiros a descumprir a Constituição no Brasil são aqueles que devem zelar pelo seu cumprimento. É pertinente lembrar que isso acontece há décadas, como diz inclusive a repórter Amanda Rossi, no vídeo de apresentação da série Brasil dos privilégios, do UOL. A postagem abaixo foi feita aqui em setembro de 2019 reproduzindo reportagem do Estado de Minas. O Brasil é um país de castas.

Quanto ganha quem manda no Brasil desde 2015

Enquanto essa gente diz que combate a corrupção, o Brasil afunda. Imagina quanto ganham os procuradores da larva jato. As reportagens do The Intercept Brasil estão mostrando. Como é possível que alguém que ganha dos cofres públicos R$ 68 mil por mês esteja combatendo a corrupção, o crime? Como vencimentos tão altos podem ser pagos por um Estado que não tem dinheiro para pagar R$ 2 mil de aposentadoria a quem trabalhou mais de 30 anos? E isso não é novo, desde os anos 1980 reportagens denunciam os supersalários. O que é novo é o poder que essa gente ganhou ao mesmo tempo em que seus supersalários aumentaram, em vez de diminuírem. O Brasil é um país de castas privilegiadas formadas por procuradores, juízes, militares e outras. Que se aliam a banqueiros, ruralistas, mineradoras. E agora também ao crime organizado e igrejas evangélicas. Para controlar o Estado. E garantir seus privilégios, supersalários, os juros mais altos do mundo, a matança de pobres, o desmatamento da Amazônia, o uso livre dos agrotóxicos, a destruição ambiental pela mineração, o trabalho escravo.

Procurador que reclamou de salário ganha bem mais que R$ 24 mil por mês

João Henrique do Vale e Tiago Rodrigues*, Estado de Minas

Entre salário, indenizações e outras remunerações, ele recebeu em média R$ 68,2 mil por mês entre janeiro e julho deste ano, segundo dados que constam no portal da transparência do MPMG

O procurador de Justiça Leonardo Azeredo dos Santos, que se queixou em uma reunião com colegas de receber o 'mizerê' de R$ 24 mil por mês, ganha, na verdade, bem mais que o reclamado, segundo dados do portal da transparência do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG). Isso, devido a indenizações e outras remunerações que se somam ao salário. Somente em março, mês em que obteve o menor valor, foi mais que o dobro de R$ 24 mil. Nesses sete meses, a média recebida por ele foi de R$ 68.275,34.

As informações que constam no portal da transparência do MPMG mostram que o rendimento líquido total do procurador é, realmente, um pouco abaixo de R$ 24 mil. Mesmo assim, outros valores se somam ao salário. Em julho, por exemplo, que é o último mês com os dados disponíveis para consulta, Leonardo recebeu indenização de R$ 9.008,30, e remunerações retroativas/temporárias, de R$ 32.341,19. Ao todo, o valor recebido, incluindo o salário, foi de R$ 65.152,99.

Clique aqui para ler a íntegra no saite do jornal Estado de Minas.

Brasil dos Privilégios: os supersalários do juízes no país

Sem comentários.

domingo, 16 de fevereiro de 2025

De frente pro crime, João Bosco

A minha canção preferida da dupla Aldir Blanc e João Bosco é essa. Obra-prima das obras-primas, na lista (enorme) das maiores da MPB.

Música de domingo: O rancho da goiabada, João Bosco

A poesia do Aldir Blanc é uma coisa admirável (letra de canção popular é poesia? Tem quem questiona, o que significa excluir o melhor da poesia brasileira, que está na MPB). Suas composições com João Bosco são coleções de obras primas e eu fico pensando que as letras do Aldir são ainda melhores do que as belíssimas melodias do João, porque este muitas vezes voa (O ronco da cuíca, por exemplo, ou Miss Suéter, ou Incompatibilidade de gênios), mas vez por outra derrapa (Vida noturna, por exemplo), e o outro produziu pérola depois de pérola (Gol anulado, por exemplo, carece de melodia mais inspirada). Feito esse Rancho da goiabada, um caso em que letra e música estão no mesmo e elevado nível.

Sociobiodiversidade, por Jerônimo Villas-Bôas

A espécie humana é a espécie que destrói todas as outras espécies animais e vegetais do planeta e ainda o solo, o subsolo, a água e o ar. Nos apropriamos da Terra e das outras espécies. Transformamos tudo em mercadoria e achamos que a Natureza é "matéria-prima" para a produção de riquezas. Enriquecer é o sentido da nossa vida, ganhar dinheiro é o nosso objetivo. Somos escravos de uma pequena parcela de indivíduos que detêm a propriedade de tudo, mas também esses são escravos do capital. Vivemos na civilização do capital, essa coisa imaterial que só existe crescendo, produzindo cada vez mais "riquezas", gerando lucro e destruindo cada vez mais a Natureza, como um câncer. O mundo será outro quando a espécie humana deixar de ser escrava do capital e se tornar seu senhor. Isso não virá de cima, num milagre ou numa revolução, de uma vez, virá, se vier, a partir da vontade de cada um de nós, em consequência da mudança dos nossos comportamentos e hábitos.

sábado, 15 de fevereiro de 2025

Calor nas escolas

Nos anos 1980, o recém-falecido governador de Minas Gerais Newton Cardoso colocou em prática a construção de prédios escolares que ficaram conhecidos como "forninhos de assar crianças", porque eram feitos de estruturas metálicas que os tornavam muito quentes. Essa é a realidade de muitas escolas hoje em tempos de mudanças climáticas. As instalações escolares brasileiras são inadequadas, mais parecem prisões.

O descaso dos governantes brasileiros com a educação é a política educacional brasileira ao longo dos séculos. A questão é tão simples que, se houvesse vontade política de educar, em vez de vontade política de não educar, já teria sido resolvida há cem anos, pela Revolução de 1930. Algumas iniciativas foram feitas e não se universalizaram, foram boicotadas, com as do Anísio Teixeira e do Darci Ribeiro. 

Escolas-parques, em terrenos amplos, arborizados, construções modernas, arejadas, atividades esportivas, agrícolas, artísticas e oficinas, refeições saudáveis, assistência médica, dentária e psicológica, horário integral, participação dos pais e da sociedade, incentivo ao conhecimento e uma pedagogia para formar sujeitos autônomos. Enfim, tudo que a ciência sabe que crianças e adolescentes precisam, tudo que as nações mais democráticas praticam. O espaço e a instituição mais importantes da sociedade para quem amamos. Simples assim.

Calor nas escolas: 2,5 milhões de crianças estudam em locais 3°C mais quentes que as cidades

Negros são maioria nas escolas em áreas mais quentes; faltam normas para conforto térmico das instituições de ensino 

Reportagem da Agência Pública. Por Gabriel Gama, 15 de fevereiro de 2025. 

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“Tem vezes que eu começo a suar tanto na sala de aula que chega a molhar o caderno. Eu só fico sentado no recreio, não tenho vontade de fazer nada, por causa do calor.”

Quem diz isso é Davi, de 8 anos, estudante do 3º ano da Escola Estadual Professor José Escobar, que fica no bairro Sacomã, em São Paulo. Sua mãe, Keila, ficou surpresa ao entender a gravidade do calor que o filho passa no local: “Às vezes ele chega da escola falando que não está aguentando de calor, mas eu não tinha ideia que era nesse nível. Se eu soubesse antes, já tinha reclamado”.

Davi é um dos mais de 2,5 milhões de crianças e adolescentes que estudam em escolas que ficam em áreas pelo menos 3 °C mais quentes do que as cidades onde estão. Quase um terço do total de crianças matriculadas nas 27 capitais do país está nessa situação. É o que revelam dados extraídos pela Agência Pública de uma pesquisa recente do Instituto Alana e do MapBiomas. Os indicadores dão a dimensão das ilhas de calor que afetam as instituições de ensino públicas e privadas do Brasil.

A José Escobar, onde o menino Davi estuda, fica em um local 9,25 °C mais quente do que a média de temperatura da capital paulista, segundo a pesquisa. É a escola estadual mais quente da cidade e a terceira mais aquecida de todo o município.

O estudo foi baseado em medições de temperatura por satélite em 2023. Os pesquisadores compararam a média anual dos termômetros nos pontos de localização de quase 20 mil escolas de todas as capitais com as temperaturas das cidades onde elas se localizam. Assim, foi estabelecido um valor que representa o desvio de temperatura de cada escola analisada.

Clique aqui para ler a íntegra no saite da Agência Pública. 

É possível mudar sua personalidade? Saiba como, segundo a ciência

Muito interessante e útil. Vejo em mim um exemplo dessas mudanças. Mas se a personalidade pode ser moldada, o que é afinal a essência do indivíduo? Esta é a pergunta que ficou na minha cabeça, para a qual não tenho ainda uma resposta clara. 

Esse tipo de matéria da BBC News é um achado. Ler uma matéria escrita é uma forma prática de facilitar sua divulgação. Deveria ser usada por todos os veículos escritos. A BBC é o que de melhor o jornalismo produziu até hoje, não pontualmente, mas como padrão, de forma duradoura e universal.

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2025

Lula critica Ibama e anima Alcolumbre, Trump e taxa do aço, CV na Amazônia

O melhor podcast semanal da praça.

Homenagem a Dorothy Stang volta ao altar de igreja, após matéria da Repórter Brasil

Os fiéis da Renovação Carismática lideram a ofensiva para retirar a pintura do altar da igreja, que tem a imagem da irmã Dorothy e do padre Josimo ladeando uma representação de Jesus como trabalhador rural
 
Direitos Humanos    
Por Daniel Camargos, Repórter Brasil,  11/2/2025 
 
Dez dias após a Repórter Brasil revelar que um pano cobria o fundo do altar da Igreja Santa Luzia, em Anapu, no Pará, ocultando a pintura em homenagem à memória de Dorothy Stang, o bispo da Diocese do Xingu, Dom Frei João Muniz Alves, interveio e determinou que a imagem da religiosa fosse definitivamente descoberta.

A missionária católica norte-americana foi executada com seis tiros há 20 anos, em 12 de fevereiro de 2005, em um crime que chocou o mundo. Para amigos da missionária e movimentos sociais, a cobertura da pintura representava uma tentativa de “invisibilizar” a luta pela reforma agrária em uma região marcada por décadas de sangrentos conflitos fundiários.

Clique aqui para ler a íntegra no saite da Repórter Brasil.

Escolas voltam às aulas despreparadas para o calor

Por Igor Ojeda, Repórter Brasil, 12/2/2025

Prédios antigos, com pouca circulação de ar. Edifícios sem ar-condicionado e com rede elétrica precária. Ventiladores quebrados e salas superlotadas. Quadras poliesportivas sem cobertura e falta d’água. A precariedade estrutural das escolas públicas brasileiras agrava a sensação de calor extremo nas salas de aula, em meio a recordes de temperatura.

A Repórter Brasil ouviu estudantes, familiares e docentes de instituições de ensino fundamental e médio de localidades nas cinco regiões do Brasil: Porto Alegre (RS), Manaus (AM), Paulista (PE), Brazlândia (DF) e Vitória (ES). Eles se queixam dos impactos do calor excessivo na saúde e no aprendizado e da negligência do poder público. 

Na avaliação deles, as escolas públicas brasileiras não estão preparadas para enfrentar as altas temperaturas dentro das salas de aula neste reinício de ano letivo ou nos próximos anos, em um contexto de aquecimento global

O ano de 2024 foi o mais quente já registrado, segundo dados do programa de monitoramento climático da Europa, o Copernicus: 1,6ºC acima da média do início da era industrial. Isso é 0,1ºC superior ao limite a partir do qual o IPCC, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas das Nações Unidas, considera que os danos ao planeta poderão ser irreversíveis.

O ano passado também foi o mais quente já registrado no Brasil desde 1961, de acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia.

Um estudo do Instituto Alana, lançado em novembro do ano passado, revelou que, em um terço das capitais brasileiras, ao menos metade das escolas (públicas e privadas) está localizada em “ilhas de calor”, quando um local registra ao menos 3,57ºC a mais de temperatura do que a média urbana da mesma cidade. 

Entre as escolas mais quentes, 78% não têm área verde ou têm menos de 20% de cobertura vegetal, segundo o levantamento. 

Porém, a estrutura da maioria das escolas não é adequada para garantir o conforto térmico de seus estudantes, docentes e funcionários. Dos 5.571 municípios brasileiros, 764 não contavam com aparelhos de ar-condicionado em nenhuma escola, segundo o Censo Escolar de 2022, do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira). 

Por outro lado, 225 municípios tinham pelo menos 95% das salas de aula com o equipamento, evidenciando a desigualdade brasileira na oferta de educação.

Segundo os relatos ouvidos pela reportagem, mesmo em instituições de ensino que são climatizadas, os aparelhos não dão conta de refrigerar satisfatoriamente os ambientes: muitos funcionam mal, quebram com frequência ou são antigos. Salas superlotadas também contribuem para a ineficácia. 

Em muitos casos, a rede elétrica da instituição de ensino sequer suportaria a climatização. Por esse motivo, algumas escolas há anos armazenam aparelhos de ar-condicionado em caixas, já que não podem ser instalados. 


Clique aqui para ler a íntegra no saite da Repórter Brasil. 

O que nos diferencia das outras espécies? O que nos torna humanos?

Ela é genial. Veja até o fim, se é que alguém consegue não ouvi-la até o fim, mesmo porque, além de linda, tem uma voz deliciosa. Nunca é demais ouvir Suzana Herculano. Palestra na abertura da Febrat 2014, na UFMG. 

Os dois erros de Einstein

Albert Einstein

Einstein é um exemplo de espírito livre e criador que, no entanto, manteve seus preconceitos

François Vannucci*
The Conversation, 28 de junho de 2020

A pesquisa científica se baseia na relação entre a realidade da natureza — compreendida através de observações — e uma representação dessa realidade, formulada por uma teoria na linguagem matemática.
Quando todas as consequências derivadas de uma teoria são verificadas experimentalmente, ela é validada.
Esse enfoque, aplicado há quase quatro séculos, permitiu a construção de um conjunto coerente de conhecimentos.
Mas esses avanços dependem da inteligência humana que, apesar de tudo, conserva suas crenças e preconceitos, os quais podem afetar o progresso da ciência, mesmo entre as mentes mais privilegiadas. 

O primeiro erro

Em sua obra-prima sobre a teoria geral da relatividade, Albert Einstein escreveu a equação que descreve a evolução do Universo em função do tempo.
A solução dessa equação mostra um Universo instável, no lugar de, como se acreditava anteriormente, uma enorme esfera de volume constante em que as estrelas deslizavam.
No início do século 20, todos viviam com a ideia bem enraizada de um Universo estático no qual o movimento dos astros se repetia sem descanso. É provável que isso se devesse aos ensinamentos de Aristóteles, que estabelecia que o firmamento era imutável, em contraposição ao caráter perecível da Terra.
Essa crença provocou uma anomalia histórica: no ano de 1054, os chineses notaram uma nova luz no céu que não é mencionada em nenhum documento europeu e que poderia ser vista em plena luz do dia durante várias semanas.
Tratava-se de uma supernova, isto é, uma estrela moribunda, cujos restos ainda podem ser vistos na Nebulosa do Caranguejo.
O pensamento dominante na Europa impedia aceitar um fenômeno tão contrário à ideia de um céu imutável. Uma supernova é um evento muito raro, que só pode ser visto a olho nu uma vez a cada cem anos (a última foi em 1987).
Então, Aristóteles estava quase certo ao afirmar que o céu era imutável, ao menos na escala de uma vida humana.
Para não contradizer a ideia de um Universo estático, Einstein introduziu em suas equações uma constante cosmológica que congelava o estado do Universo.
A intuição falhou: em 1929, quando Edwin Hubble demonstrou que o Universo se expandia, Einstein admitiu que tinha cometido "seu maior erro".

Clique aqui para ler a íntegra no saite da BBC Brasil. 

Clique aqui para ler o artigo original, em espanhol.

Vai faltar café

O Brasil consome 20 milhões de sacas de café por ano, produziu 54 milhões de sacas no ano passado e exportou 50 milhões, sobraram só 4 milhões para os brasileiros. O consumo mundial aumentou, a produção mundial diminuiu, inclusive a brasileira, as exportações brasileiras aumentaram, o preço mundial disparou e o preço no varejo no Brasil dobrou em um ano. 

As mudanças climáticas estão em curso e já nos afetam, o "fim do mundo", como dizem os religiosos, ou simplesmente a barbárie, como deduz quem conhece um pouco do passado e observa o presente, está perto. Uma das suas características é a diminuição de oferta de alimentos. Mudanças climáticas são a consequência mais dramática do capitalismo, essa civilização à qual aderimos todos os humanos contemporâneos, até os chineses da China comunista, cuja característica intrínseca é o crescimento econômico, isto é, produzir cada vez mais riquezas e destruir cada vez a Natureza para gerar lucro. Ou escolhemos voluntária, racional e conscientemente mudar o sistema ou a Terra o levará ao colapso e nós junto com ele. Simples assim. E isso já está acontecendo na forma de inúmeras e cada vez mais frequentes catástrofes. Tomar café, esse prazer tão antigo que passa de geração para geração, vai tornar-se um luxo. 

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2025

Homo culinarius, por Suzana Herculano

Suzana Herculado-Houzel para Prêmio Nobel. O que estão esperando? Ela não é só a cientista brasileira mais importante, é talvez a cientista mais brilhante do mundo. Neste vídeo, ela dá uma aula da evolução humana em apenas 23 minutos. E ainda defende uma tese original, exigência para ser cientista do primeiro time em todos os tempos. Para mim, a tese mais importante da filosofia e da ciência, pois nela as duas se encontram. E fecham o círculo do conhecimento – que é uma espiral. Aplausos de pé e prolongados. 

PS: A desculpa para lhe concederem o Nobel pode ser o fato de ter descoberto quantos neurônios o cérebro humano tem. E fez isso trabalhando no Brasil, bem jovem ainda. Precisa de mais, para ganhar um Nobel? Não precisa, vemos isso todos os anos nas justificativas dos prêmios dados a homens brancos europeus e americanos. 

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2025

'Cafake': notícia de tempos malucos

A notícia abaixo, da BBC Brasil, é a típica notícia maluca dos nossos dias: tem empresa vendendo sujeiras do café como se fossem café. 

Como explica uma fonte da indústria do café: depois de colhidos e secados, os grãos de café passam por uma limpeza para separá-los das impurezas, tipo pedras, madeira, bichos etc., além dos grãos que são descartados por serem ruins e das cascas. Agora tem empresa que pega as impurezas, mói, embala e vende aos supermercados como se fosse café. 

Tem gente que compra atraída pelo preço mais barato e porque a embalagem não informa o conteúdo real. 

É incrível que na terra do café (o Brasil é o maior produtor mundial e Minas Gerais produz mais de 50% do total brasileiro), o café esteja tão caro e se tome café ruim. É muito difícil encontrar nos supermercados e lojas especializadas um bom café por menos de R$ 80 o quilo. 

Mas não é de hoje que isso acontece. Até algumas décadas atrás, o café de qualidade era todo exportado. Nós, brasileiros, nos acostumamos durante séculos a comprar e tomar café ruim, provavelmente bem parecido com esse da notícia, que custa R$ 60 o quilo. Isso a fonte da indústria não diz. 

Muita gente ainda toma café desse tipo, que são os cafés "fortes", sem indicação de tipo (o arábica é muito mais saboroso), procedência, produtor, torra etc., cafés que a indústria compra de vários produtores, mistura, embala e vende, com sua marca. Estes também, para mim, são outra bebida muito  diferente do café que me acostumei a tomar ao longo da vida, apurando cada vez mais meu paladar. O café popular bebido no Brasil continua sendo muito ruim. 

A verdade sobre o 'café fake': por dentro do 'parece, mas não é' que se espalha pelos supermercados

Mistura de café com impurezas tem sido vendido em embalagem semelhante à do café tradicional, segundo associação

Camilla Veras Mota
Da BBC News Brasil em São Paulo
10 fevereiro 2025

"O café é um monoproduto extraído do grão do café. Junto a esse grão, depois de secado e beneficiado, sobram casca, mucilagem (camada viscosa do grão), pau, pedra, palha e tudo o que vem junto com o café – mas não é café."

Foi assim que o diretor da Associação Brasileira da Indústria do Café (Abic), Celírio Inácio da Silva, descreveu, em um vídeo que circulou na última semana, o "cafake", item que vem sendo encontrado em alguns supermercados com embalagem semelhante à do café, mas que é outra coisa.

Trata-se de um "pó para preparo de bebida à base de café", que viralizou nas redes sociais como "café fake" e "cafake", uma mistura de café com impurezas que, segundo a Abic, não tem registro da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para ser comercializada.

Na imagem que tem sido compartilhada na internet, o pacote de meio quilo sai por R$ 13,99, menos da metade do preço médio do café no varejo atualmente, quase R$ 30.

Presente na grande maioria dos lares brasileiros, o café foi um dos itens que mais encareceram em 2024, com alta de 39,6%, conforme o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), contra 4,83% do índice geral de inflação. 

Clique aqui para ler a íntegra.

sábado, 8 de fevereiro de 2025

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2025

O mundo pode ser diferente

Hábitos saudáveis não são nenhuma coisa extraordinária, são apenas práticas guiadas pela razão e pelo conhecimento científico. Não tê-los é que é extraordinário.

Por que – para ficar na alimentação – comemos farinha de trigo modificado, carnes com remédios, vegetais com agrotóxicos, derivados do leite de vaca com antibióticos, ultraprocessados cheios de venenos? Por que comemos tanto e tão mal e nos tornamos obesos, a ponto de a obesidade ter se tornado uma epidemia e causa da maior parte das doenças? Por que bebemos bebidas alcoólicas que fazem mal e viciam e provocam acidentes de trânsito e outras violências? Por que enfim temos práticas que sabidamente fazem mal à nossa saúde e geram uma sociedade doente?

Não é porque o conhecimento científico e a razão nos ensinam a ser assim. Tampouco é, na minha opinião, porque somos maus ou uma espécie predestinada à autodestruição. Podemos ser tão saudáveis e bons quanto os indígenas deste subcontinente. Ou os gregos antigos. Ou muitas outras civilizações antigas extintas ou quase. Podemos de fato ser melhores do que eles, porque hoje conhecemos muito mais. Basta nos guiarmos pela razão e pelo conhecimento científico.

A razão de nos destruirmos numa vida doente é que nos tornamos escravos do capital – na alimentação, na saúde, na medicina, no estilo de vida, em todos os nossos hábitos.

A civilização na qual vivemos e que criou as maravilhas cotidianas que nos elevaram de animais a espécie poderosa, às quais nos acostumamos sem nos espantarmos e reverenciarmos como seria de esperar que fizéssemos, essa civilização é movida por uma única motivação: ganhar dinheiro, e uma invenção superior a todas as outras: o capital.

O capital nada mais é do que o dinheiro empregado para produzir mais dinheiro. O dinheiro que aumenta sempre. O dinheiro que no final do ciclo da sua ação gerou lucro. Dinheiro que engorda, dinheiro obeso. Câncer que cresce destruindo o ambiente em que vive.

As analogias com o câncer e com a obesidade são pertinentes. O capital é dinheiro que cresce descontroladamente, que só existe crescendo, e para isso precisa destruir tudo ao seu redor, tudo que é saudável. O capital é um dinheiro gordo, inchado, obeso, que consome mais do que pode gastar, do que precisa.

Não existe capital sem crescimento contínuo. Dinheiro sem crescimento contínuo é apenas dinheiro, um meio de troca, o equivalente geral de valor, criado em algum momento da história para facilitar trocas de produtos entre pessoas, grupos e povos que produziam mercadorias diferentes. Muito útil. Em vez carregar um saco de arroz para trocar por outro de feijão, o Homo sapiens passou a transportar um saquinho de dinheiro, com o qual podia comprar tudo de que precisasse.

Tudo que o Homo sapiens inventa sai do seu controle. Uma vez inventado, o dinheiro ganhou uma nova característica e criou um novo tipo de indivíduo. Ao contrário do arroz ou do feijão, o dinheiro pode ser acumulado sem perda e aqueles que na troca dos seus produtos por outros tinham sobras de dinheiro podiam guardá-lo. Isso equivale a enriquecer, pois podiam usar o dinheiro para adquirir coisas novas ou produzir ainda mais e na rodada seguinte ter sobras de dinheiro ainda maiores. E podiam também emprestá-lo a quem precisasse, recebendo em troca, depois de um prazo, o dinheiro que emprestaram mais ainda, os juros. Criou-se assim o banqueiro, o indivíduo que vive de emprestar dinheiro e receber mais depois, o indivíduo que não precisa produzir porque o dinheiro produz para ele, o indivíduo que não precisa trabalhar porque o dinheiro trabalha por ele.

Curiosamente, o indivíduo que não trabalha nem produz tornou-se o mais rico da sociedade, graças ao dinheiro. Não ao dinheiro meio de troca, mas ao dinheiro emprestado e recebido de volta com juros, maior, mais gordo, o dinheiro com lucro. Estava também inventado o capital. O banqueiro é o capitalista na essência: o indivíduo mais rico e mais poderoso da sociedade porque controla o dinheiro que move a economia, do qual todos dependem, em busca do qual todos vivem, ao qual todos servem, porque não podem viver sem ele.

Na sociedade do capital, tudo virou mercadoria, inclusive os indivíduos, os quais, na sua imensa maioria, nada têm para vender, a não ser a si mesmos, nas formas de trabalho, força física, tempo, inteligência. São os trabalhadores.

Na sociedade do capital, tudo virou mercadoria e só pode ser adquirido com dinheiro, portanto quem detém o dinheiro detém a riqueza e o poder. Aos demais, resta fazer o que for preciso, vendendo-se a si mesmos, para ganhar dinheiro e, dessa forma, comprar as mercadorias de que precisam. Quanto mais dinheiro ganharem, mais poderão comprar, mais luxo, mais conforto, mais necessidades supridas.

Grande parte só consegue ganhar tão pouco que sequer supre suas necessidades elementares de alimentação e moradia. Isso não importa, porém, pois o objetivo do sistema não é suprir as necessidades dos indivíduos que fazem parte dele – o objetivo é ganhar dinheiro. Todos aprendem isso desde que nascem e se lançam a esse empreendimento, com resultados diversos. O sonho de todo indivíduo é ser capitalista, é ter dinheiro e não precisar trabalhar mais, enriquecer, acumular, desfrutar das maravilhas cada vez mais amplas e sofisticadas e também mais caras que o crescimento contínuo do capitalismo oferece e podem ser compradas com dinheiro.

O capital, a motivação de ganhar dinheiro, de realizar suas necessidades e desejos enriquecendo, transforma tudo. O objetivo dos indivíduos deixa de ser alimentarem-se, passa a ser comerem comida industrializada, comida pronta, comida fácil de preparar, comida gostosa, com sabores realçados, comida que vicia, comida sofisticada, comida estrangeira, comida de restaurantes, enfim, comidas que representam riqueza também e fazem com que os indivíduos se sintam parte da sociedade da riqueza, da sociedade do dinheiro, da sociedade do capital. Na civilização do capital, o indivíduo não come alimentos, como dinheiro, a alimentação torna-se um ato capitalista, como todos os outros, porque a essência da nossa vida é essa, é para isso que vivemos, é a isso que nos dedicamos, é isso que nos motiva: ganhar dinheiro.

Na sociedade do capital, na sociedade do dinheiro, na sociedade das mercadorias, tudo foi transformado em propriedade privada, tudo foi apropriado pelos capitalistas, no processo contínuo de produção de mais riquezas e de concentração do dinheiro nas mãos dos banqueiros, dinheiro que pode comprar as mercadorias produzidas, mas também os meios de produzir mercadorias. Assim, a maioria dos indivíduos, que não tem como produzir e suprir suas necessidades, é obrigada a vender seu trabalho para sobreviver. Pelo processo de concentração de riquezas, na forma de capital, na forma de dinheiro que cresce continuamente, os banqueiros, aqueles que não trabalham nem produzem porque o dinheiro trabalha e produz para eles, tornam-se não apenas donos dos meios criados pelos indivíduos para produzir, mas também da terra, de toda a Terra, da Natureza, que não foi criada pelo Hs, do planeta que já estava aqui quando surgimos, do qual somos na verdade filhos, que é de fato nosso dono.

A espécie humana, que nasceu da Natureza, apropria-se dela e de tudo que ela contém: as outras espécies animais, todas as espécies vegetais, o solo, o subsolo, a água, o ar, tudo. Não a espécie humana inteira, porém, como vimos, mas parte dela, uma minoria que se tornou também proprietária das riquezas produzidas pelos indivíduos, dona do capital, dona do dinheiro.

Para que os indivíduos produzam as riquezas das quais os capitalistas se apropriam, estes precisam que a Natureza também seja transformada em mercadoria, na forma de “matéria-prima”. E assim os capitalistas tornam-se donos da Natureza, da Terra.

Nessa civilização do capital que cresce continuamente, porque é movida pelo capital, que só existe crescendo continuamente, é considerado normal que a Natureza tenha donos, os capitalistas, e que um indivíduo não tenha meios naturais de sobreviver e por isso venda seu trabalho. Proprietários da Terra e das riquezas produzidas pela espécie humana, os capitalistas transformaram todos os outros indivíduos em seus escravos sem precisarem comprá-los, sem precisarem obrigá-los a trabalhar. Todos trabalham por iniciativa própria para seus senhores porque querem ganhar dinheiro para comprar as riquezas que eles mesmos produziram mas foram apropriadas pelos capitalistas.

Os trabalhadores não querem apenas sobreviver, não querem apenas se alimentar e morar, não querem apenas viver coletivamente, como indivíduos de uma espécie como as outras da Natureza, como os povos antigos, como os indígenas da Amazônia. Os trabalhadores escravos voluntários dos capitalistas querem enriquecer, querem ganhar dinheiro, pois acreditam que o dinheiro lhes possibilitará adquirir tudo que desejam, tudo que seus senhores possuem. No capitalismo, os trabalhadores querem ser capitalistas. No capitalismo, todos querem ser capitalistas.

Não existe capital sem crescimento contínuo e não existe capitalismo sem adesão dos indivíduos, de cada indivíduo em particular e de toda a sociedade. O capitalismo não existe por imposição, mas porque aderimos a ele. Somos todos capitalistas, até mesmo os mais ardorosos socialistas, os mais fiéis comunistas. Olhamos para a China e vemos comunistas participando felizes do capitalismo.

O capitalismo só existe porque, nele, todos os indivíduos querem ser capitalistas, porque ele convence os indivíduos, desde que nascem, que a motivação da vida é enriquecer e que o meio para isso é o dinheiro, ganhar dinheiro, seja como for, vendendo seu trabalho ou escravizando voluntariamente trabalhadores.

Esse mecanismo pelo qual os capitalistas convencem todos os indivíduos desde que nascem a se tornaram seus escravos voluntários e se dedicarem a ganhar dinheiro é a ideologia.

Ideologia não é apenas ideia, é ideia transformada em fantasia, em crença, em desejo, em instituição. São inúmeras as instituições que expressam ideologia. A propriedade privada é uma ideologia, a polícia é uma ideologia, a escola é uma ideologia, o trabalho é uma ideologia, o progresso é uma ideologia, o governo é uma ideologia, até a ciência é uma ideologia. Deus é uma ideologia, a ideologia suprema pregada pelas religiões, a ideologia poderosa que submete os indivíduos, que ajudou a organizar muitas civilizações e que os capitalistas souberam usar para submeter seus escravos voluntários. O trabalhador se torna escravo voluntário do capitalista porque Deus quer que ele ganhe dinheiro e prospere. Prosperidade é progresso. Progresso é a ideologia que justifica o crescimento contínuo do capital. A ideologia faz os indivíduos acreditarem no sistema, lhes dá motivação para trabalhar e serem escravos voluntários do capital.

Nessa civilização que caminha para o caos e já vive a barbárie, uma vez que só existe crescendo continuamente, porque é movida pelo capital, que só existe aumentando, que produz cada vez mais riquezas, mas para isso precisa de mais “matéria-prima”, ou seja, destruir a Natureza, que é finita, é que a Terra, que nos abriga e da qual viemos, nessa civilização o Hs tornou-se ele próprio o Deus que inventou, todo poderoso, mas, ao contrário do deus imaginado, não tem o poder de criar a Terra, a Natureza, e a vida que é parte dela.

O Homo sapiens, ou homo capitalistens (?), é uma espécie ideológica, porque, de fato, quem impulsiona o capitalismo e desfruta das riquezas produzidas por ele são os capitalistas, uma minoria, mas todos os indivíduos, a imensa maioria, acreditam na ideia do enriquecimento e fazem o sistema funcionar. A autodestruição iminente torna óbvia uma verdade que podia ser compreendida desde sempre, porém: embora sejam proprietários do capital e os façam trabalhar para si, os capitalistas são igualmente escravos dele, pois não é o capital que faz o que eles querem, são eles que fazem o que o capital manda. Dedicando-se a ganhar cada vez mais, submetendo-se ao lucro, os capitalistas não controlam o capital, são seus joguetes. Outra civilização só poderá vir quando os capitalistas deixarem de ser escravos do capital e os trabalhadores deixarem de ser escravos voluntários dos capitalistas – quando, enfim, o Hs, por vontade própria, deixar de ser escravo do capital e se converter em seu senhor.


segunda-feira, 3 de fevereiro de 2025

Música do dia: My Sweet Lord, Billy Preston

Mais que uma música, essa canção é um hino composto por George Harrison. E essa execução, com grande elenco, no espetáculo em homenagem póstuma ao autor, é maravilhosa.