Barcelona, a cidade mais progressista do mundo, mais uma vez dá o exemplo. A ideia é tão simples quanto racional; o que impressiona é que só em 2019 um zoológico lidera a iniciativa. Bichos são espécies animais que merecem respeito e devem viver em liberdade no seu habitat; cabe ao homem, bicho também, e pretensamente espécie mais evoluída que as demais, respeitar estas e criar condições para sua sobrevivência, por entender que a diversidade ambiental é necessária à vida. Ponto. O passo seguinte é adotar o mesmo comportamento para a própria espécie humana. Esse nosso admirável mundo desenvolvido foi feito pelos europeus com a captura, transporte, matança e escravização dos africanos; com a matança e escravização de indígenas da "América", da África, da Ásia e da Oceania. Hoje, os descendentes dos humanos capturados e escravizados são os miseráveis do mundo. Como bichos de zoológico, os europeus capturaram seres humanos de outros continentes para ganhar dinheiro com eles, não confinando-os e exibindo-os como fazem com outras espécies (indígenas "brasileiros" foram exibidos na Europa também, ao lado de papagaios e onças pintadas), mas fazendo-os trabalhar como animais de carga. Domesticar animais, inclusive humanos, é uma especialidade da civilização humana. Quando a gente superar essa bestialidade viverá num mundo razoável. A espécie humana é tão estúpida, no entanto, que talvez o planeta só melhore quando ela for extinta. A paralisação dos trabalhadores do zoo de Barcelona é um pequeno e felizmente provável e inócuo e raro exemplo dessa estupidez.
Zoológico de Barcelona adere ao animalismo após 127 anos de história
Funcionários param contra norma que proíbe reprodução dos animais se não for para repor espécies ameaçadas.
Alfonso L. Congostrina, Barcelona 3/5/19, no El País.
As elefantas, leões, camelos, girafas e ursos do zoológico de Barcelona em breve serão história, depois que a Câmara Municipal da capital catalã aprovou nesta sexta-feira uma regra de proteção de animais para transformar essa instalação no primeiro parque zoológico “animalista” da Europa. Uma mudança que motivou protestos dos trabalhadores da instituição, que consideram que a equipe de Governo da prefeita Ada Colau, com apoio de parte da oposição, pôs a primeira pedra do que em poucos anos representará a desativação do zoo, inaugurado em 1892.
O regulamento aprovado determina que o zoológico não promoverá mais a reprodução de espécies que não estiverem em perigo de extinção. Assim, cangurus, elefantes e ursos desaparecerão quando os atuais exemplares morrerem. O documento aprovado na manhã desta sexta determina também que os espécimes que se encontrarem em boas condições deverão ser transferidos a algum “santuário, refúgio ou equivalente”. Atualmente, cerca de 2.000 animais de 300 espécies vivem no zoo de Barcelona.
O ativista Leonardo Anselmi (que também coordenou a iniciativa legislativa popular para abolir as touradas na Catalunha) promoveu uma rede de zoológicos que batizou de Zoológicos pela Mudança. Por enquanto, são poucos os parques que já adotaram este modelo, embora na Argentina comecem a trabalhar nesse sentido o ecoparque de Mendoza e o de Buenos Aires.
A iniciativa popular promovida pela entidade animalista Libera conseguiu modificar o estatuto da instituição e atingir diretamente os critérios de reprodução das espécies. Alejandra García, a ativista do Libera que leu no plenário a proposta de alteração antes da sua votação, disse estar “feliz” por já saber para qual santuário, no sul da França, serão levadas as três elefantas de Barcelona, chamadas Susi, Yoyo e Bully.
Os animais que não tiverem condições de seguir o mesmo caminho ficarão no zoológico, e a direção tem três anos para conceber um projeto para cada espécie. Entre os objetivos previstos está também a recuperação da fauna em diversas zonas.
(Clique AQUI para ler a íntegra no El País.)
sábado, 4 de maio de 2019
sexta-feira, 3 de maio de 2019
Como a larva jato nasceu nos EUA
Luís Nassif revela o começo da larva jato nos Estados Unidos. A larva jato de fato é uma milícia que vende proteção às empresas corruptas (isto é, quase todas, porque a corrupção é parte intrínseca do capitalismo).
Um presidente que governa por meio de crimes de responsabilidade
O que Luís Nassif diz é o mesmo que eu escrevi (clique AQUI para ler). E também o que Eliane Brum tem escrito no El País (clique AQUI para ler). E Bob Fernandes (clique AQUI).
Forma-se nos mais lúcidos, que têm olhar crítico e não estão presos a um partido ou ideologia, um consenso sobre o significado desses quatro anos de golpe. Enquanto a esquerda se imobiliza, incapaz de reagir, a extrema direita avança e faz o Brasil voltar a 1930. Nassif diz que é hora de promover o impeachment do presidente, que comete um crime de responsabilidade atrás de outro. De fato, pode-se dizer que o golpe afastou uma presidenta que não cometeu crime de responsabilidade e a eleição de 18 levou ao poder um presidente que governa por meio de crimes de responsabilidade.
A sociedade está ainda anestesiada, triste, de um lado, ou aparvalhada, do outro; minorias, de um lado e de outro, insistem na cegueira, uns ainda presos às fake news ou comprometidos ideologicamente com elas, por índole fascista, outros presos ao passado e às fórmulas satalinistas.
É hora de parar Bolsonaro
O que está ocorrendo não são apenas erros de políticas públicas que poderão ser consertados a partir das próximas eleições: estão promovendo desmontes irreversíveis, que se refletirão sobre o presente e sobre as futuras gerações.
Por Luis Nassif, no GGN, em 1/5/19
O país ainda não se refez do trauma do impeachment de Dilma. O desmonte institucional, induzido por Aécio Neves e convalidado pelo Supremo Tribunal Federal, produziu um caos geral. Assim, há sempre o prurido de reincidir e banalizar o impeachment como saída para as crises institucionais.
Mas o caso Bolsonaro é diferente de tudo o que se viu no país antes e depois da democratização. O país está entregue a um celerado, com ligações diretas com as milícias do Rio de Janeiro, comandando um bando de alucinados que assumiram posição de destaque no Ministério e que tem como único objetivo a destruição de todo sistema formal construído ao longo da história.
(Clique AQUI para ler a íntegra.)
Forma-se nos mais lúcidos, que têm olhar crítico e não estão presos a um partido ou ideologia, um consenso sobre o significado desses quatro anos de golpe. Enquanto a esquerda se imobiliza, incapaz de reagir, a extrema direita avança e faz o Brasil voltar a 1930. Nassif diz que é hora de promover o impeachment do presidente, que comete um crime de responsabilidade atrás de outro. De fato, pode-se dizer que o golpe afastou uma presidenta que não cometeu crime de responsabilidade e a eleição de 18 levou ao poder um presidente que governa por meio de crimes de responsabilidade.
A sociedade está ainda anestesiada, triste, de um lado, ou aparvalhada, do outro; minorias, de um lado e de outro, insistem na cegueira, uns ainda presos às fake news ou comprometidos ideologicamente com elas, por índole fascista, outros presos ao passado e às fórmulas satalinistas.
É hora de parar Bolsonaro
O que está ocorrendo não são apenas erros de políticas públicas que poderão ser consertados a partir das próximas eleições: estão promovendo desmontes irreversíveis, que se refletirão sobre o presente e sobre as futuras gerações.
Por Luis Nassif, no GGN, em 1/5/19
O país ainda não se refez do trauma do impeachment de Dilma. O desmonte institucional, induzido por Aécio Neves e convalidado pelo Supremo Tribunal Federal, produziu um caos geral. Assim, há sempre o prurido de reincidir e banalizar o impeachment como saída para as crises institucionais.
Mas o caso Bolsonaro é diferente de tudo o que se viu no país antes e depois da democratização. O país está entregue a um celerado, com ligações diretas com as milícias do Rio de Janeiro, comandando um bando de alucinados que assumiram posição de destaque no Ministério e que tem como único objetivo a destruição de todo sistema formal construído ao longo da história.
(Clique AQUI para ler a íntegra.)
quarta-feira, 1 de maio de 2019
Brasil, campeão mundial do populismo
Pesquisa divulgada exclusivamente pelo jornal londrino The Guardian revela que o Brasil é o país com maior índice (42%) de populistas no mundo, e que estes, muito mais do que outras pessoas, acreditam em teorias da conspiração. Por exemplo: que notícias de jornais são mentirosas, que há um complô para esconder informações. De fato, a pesquisa confirma o que nós, brasileiros, estamos vendo há alguns anos, o número crescente e absurdo de ignorantes repetindo idiotices que receberam em redes sociais.
Revealed: populists far more likely to believe in conspiracy theories
Largest survey of its kind uncovers suspicion of vaccines in big part of world population
Methodology: How the Guardian analysed YouGov-Cambridge data
Paul Lewis, Sarah Boseley and Pamela Duncan
Populists across the world are significantly more likely to believe in conspiracy theories about vaccinations, global warming and the 9/11 terrorist attacks, according to a landmark global survey shared exclusively with the Guardian.
The YouGov-Cambridge Globalism Project sheds new light on a section of the world population that appears to have limited faith in scientific experts and representative democracy.
(Clique AQUI para ler a íntegra em inglês.)
Revealed: populists far more likely to believe in conspiracy theories
Largest survey of its kind uncovers suspicion of vaccines in big part of world population
Methodology: How the Guardian analysed YouGov-Cambridge data
Paul Lewis, Sarah Boseley and Pamela Duncan
Populists across the world are significantly more likely to believe in conspiracy theories about vaccinations, global warming and the 9/11 terrorist attacks, according to a landmark global survey shared exclusively with the Guardian.
The YouGov-Cambridge Globalism Project sheds new light on a section of the world population that appears to have limited faith in scientific experts and representative democracy.
(Clique AQUI para ler a íntegra em inglês.)
Uma esclarecedora análise da classe trabalhadora brasileira contemporânea
Incluindo todos esses serviços criados pelas novas tecnologias do celular e internet, como uber. Para esses, a jornada de trabalho é de 12 horas ou mais, sem direitos trabalhistas, usando seus próprios equipamentos. E no jornalismo, os frilas fixos, isto é, frilas, sem contrato, mas exclusivos. Em uma palavra, os empreendedores, os patrões de si mesmos.
Por que Temer não foi derrubado? Porque tinha a missão, dada pelo capital que apoiou o golpe, de fazer algumas 'reformas', em especial a trabalhista.
Agora que o capitão é presidente está estendendo as reformas a todos os setores. O que são as reformas? Voltar ao século XIX, antes da Revolução de 1930.
Quem tem um projeto alternativo a isso? O PT e a esquerda não têm, ou pelo menos não o apresentam à população. É preciso afirmar que queremos sim uma previdência deficitária, se for o caso, mantida pelo lucro dos banqueiros. Por exemplo. Queremos direitos para os trabalhadores e não a selvageria das terceirizações e do trabalho informal das "novas tecnologias". Queremos sim o controle dos agrotóxicos, que diminui o lucro do agronegócio, mas preserva a saúde e o ambiente. Queremos sim seguro desemprego. Queremos aposentar, queremos escolas e serviços de saúde públicos, gratuitos e de qualidade. Queremos transporte público gratuito de qualidade. E por aí vai. E é o capital quem tem de bancar isso. O problema é que os desenvolvimentistas brasileiros não têm coragem de enfrentar o neoliberalismo selvagem.
Publicado pelo Brasil de Fato.
Por que Temer não foi derrubado? Porque tinha a missão, dada pelo capital que apoiou o golpe, de fazer algumas 'reformas', em especial a trabalhista.
Agora que o capitão é presidente está estendendo as reformas a todos os setores. O que são as reformas? Voltar ao século XIX, antes da Revolução de 1930.
Quem tem um projeto alternativo a isso? O PT e a esquerda não têm, ou pelo menos não o apresentam à população. É preciso afirmar que queremos sim uma previdência deficitária, se for o caso, mantida pelo lucro dos banqueiros. Por exemplo. Queremos direitos para os trabalhadores e não a selvageria das terceirizações e do trabalho informal das "novas tecnologias". Queremos sim o controle dos agrotóxicos, que diminui o lucro do agronegócio, mas preserva a saúde e o ambiente. Queremos sim seguro desemprego. Queremos aposentar, queremos escolas e serviços de saúde públicos, gratuitos e de qualidade. Queremos transporte público gratuito de qualidade. E por aí vai. E é o capital quem tem de bancar isso. O problema é que os desenvolvimentistas brasileiros não têm coragem de enfrentar o neoliberalismo selvagem.
Publicado pelo Brasil de Fato.
Brasileiros bebem água contaminada por agrotóxicos
O governo do capitão liberou o uso de agrotóxicos cancerígenos e está liquidando a fiscalização. Quando fiscais atuam, o presidente os desautoriza publicamente, como no caso da queima das máquinas dos desmatadores da Amazônia. Aliás, o fiscal que em 2012 multou o capitão por pesca ilegal em reserva foi demitido do serviço público.
Como diz Eliane Brum, ilude-se quem pensa que o governo está paralisado, ao contrário, ele cumpre velozmente o que prometeu: desmontar o Brasil construído a partir de 1930, fazer o país voltar ao século XIX do liberalismo, quando não havia Estado e quem mandava eram os latifundiários, as multinacionais e os banqueiros. A novidade é que ele acrescentou o crime organizado ao rol de poderosos.
Uma das medidas do governo do capitão é impedir o acesso a informações públicas que possibilitaram essa reportagem.
Detalhe: o levantamento abrange parte do governo Dilma, o que significa que a situação já era calamitosa antes, quando havia relativo controle dos agrotóxicos. Podemos imaginar o que vai acontecer a partir de agora, que eles foram liberados.
'Coquetel' com 27 agrotóxicos foi achado na água de 1 em cada 4 municípios
São Paulo, Rio de Janeiro e outras 1.300 cidades acharam agrotóxicos na rede de abastecimento. Dados do Ministério da Saúde revelam que a água do brasileiro está contaminada com substâncias que podem causar doenças graves.
Por Ana Aranha e Luana Rocha - Repórter Brasil / Agência Pública, 15/4/19.
Um coquetel que mistura diferentes agrotóxicos foi encontrado na água de 1 em cada 4 cidades do Brasil entre 2014 e 2017. Nesse período, as empresas de abastecimento de 1.396 municípios detectaram todos os 27 pesticidas que são obrigados por lei a testar. Desses, 16 são classificados pela Anvisa como extremamente ou altamente tóxicos e 11 estão associados ao desenvolvimento de doenças crônicas como câncer, malformação fetal, disfunções hormonais e reprodutivas. Entre os locais com contaminação múltipla estão as capitais São Paulo, Rio de Janeiro, Fortaleza, Manaus, Curitiba, Porto Alegre, Campo Grande, Cuiabá, Florianópolis e Palmas.
Os dados são do Ministério da Saúde e foram obtidos e tratados em investigação conjunta da Repórter Brasil, Agência Pública e a organização suíça Public Eye. As informações são parte do Sistema de Informação de Vigilância da Qualidade da Água para Consumo Humano (Sisagua), que reúne os resultados de testes feitos pelas empresas de abastecimento.
Os números revelam que a contaminação da água está aumentando a passos largos e constantes. Em 2014, 75% dos testes detectaram agrotóxicos. Subiu para 84% em 2015 e foi para 88% em 2016, chegando a 92% em 2017. Nesse ritmo, em alguns anos, pode ficar difícil encontrar água sem agrotóxico nas torneiras do país.
Embora se trate de informação pública, os testes não são divulgados de forma compreensível para a população, deixando os brasileiros no escuro sobre os riscos que correm ao beber um copo d’água. Em um esforço conjunto, a Repórter Brasil, a Agência Pública e a organização suíça Public Eye fizeram um mapa interativo com os agrotóxicos encontrados em cada cidade. O mapa revela ainda quais estão acima do limite de segurança de acordo com a lei do Brasil e pela regulação europeia, onde fica a Public Eye.
(Clique AQUI para ler a reportagem na íntegra e consultar o mapa da água contaminada.)
terça-feira, 30 de abril de 2019
100 dias de governo e de barbárie: a destruição do Brasil
Eliane Brum matou a charada do governo a que estamos assistindo. Sim,
assistindo, porque a oposição está paralisada e a sociedade não reage. O
capitão governa fazendo ao mesmo tempo papel de oposição. Assim, não há
oposição de fato e o programa de governo liberal e antidemcrático
avança velozmente. A reforma da previdência é o boi de piranha.
Cem dias sob o domínio dos perversos
A vida no Brasil de Bolsonaro: um Governo que faz oposição a si mesmo como estratégia para se manter no poder, sequestra o debate nacional, transforma um país inteiro em refém e estimula a matança dos mais frágeis.
Eliane Brum, no El País.
Os 100 dias do Governo Bolsonaro fizeram do Brasil o principal laboratório de uma experiência cujas consequências podem ser mais destruidoras do que mesmo os mais críticos previam. Não há precedentes históricos para a operação de poder de Jair Bolsonaro (PSL). Ao inventar a antipresidência, Bolsonaro forjou também um governo que simula a sua própria oposição. Ao fazer a sua própria oposição, neutraliza a oposição de fato. Ao lançar declarações polêmicas para o público, o governo também domina a pauta do debate nacional, bloqueando qualquer possibilidade de debate real. O bolsonarismo ocupa todos os papéis, inclusive o de simular oposição e crítica, destruindo a política e interditando a democracia. Ao ditar o ritmo e o conteúdo dos dias, converteu um país inteiro em refém.
A violência de agentes das forças de segurança do Estado nos primeiros 100 dias do ano, como a execução de 11 suspeitos em Guararema (SP), pela polícia militar, e os 80 tiros disparados contra o carro de uma família por militares no Rio de Janeiro, pode apontar a ampliação do que já era evidente no Brasil: a licença para matar. Mais frágeis entre os frágeis, os ataques a moradores de rua podem demonstrar uma sociedade adoecida pelo ódio: em apenas três meses e 10 dias, pelo menos oito mendigos foram queimados vivos no Brasil. Bolsonaro não puxou o gatilho nem ateou fogo, mas é legítimo afirmar que um Governo que estimula a guerra entre brasileiros, elogia policiais que matam suspeitos e promove o armamento da população tem responsabilidade sobre a violência.
Este artigo é dividido em três partes: perversão, barbárie e resistência.
1) A Perversão
Tanto a oposição quanto a imprensa quanto a sociedade civil organizada e até mesmo grande parte da população estão vivendo no ritmo dos espasmos calculados que o bolsonarismo injeta nos dias. É por essa razão que me refiro à “perversão” no título deste artigo. Estamos sob o jugo de perversos, que corrompem o poder que receberam pelo voto para impedir o exercício da democracia.
(Clique AQUI para ler a íntegra no El País. O título desta postagem é uma referência ao texto que publiquei no jornalaico wordpress e que pode ser lido clicando AQUI.)
Cem dias sob o domínio dos perversos
A vida no Brasil de Bolsonaro: um Governo que faz oposição a si mesmo como estratégia para se manter no poder, sequestra o debate nacional, transforma um país inteiro em refém e estimula a matança dos mais frágeis.
Eliane Brum, no El País.
Os 100 dias do Governo Bolsonaro fizeram do Brasil o principal laboratório de uma experiência cujas consequências podem ser mais destruidoras do que mesmo os mais críticos previam. Não há precedentes históricos para a operação de poder de Jair Bolsonaro (PSL). Ao inventar a antipresidência, Bolsonaro forjou também um governo que simula a sua própria oposição. Ao fazer a sua própria oposição, neutraliza a oposição de fato. Ao lançar declarações polêmicas para o público, o governo também domina a pauta do debate nacional, bloqueando qualquer possibilidade de debate real. O bolsonarismo ocupa todos os papéis, inclusive o de simular oposição e crítica, destruindo a política e interditando a democracia. Ao ditar o ritmo e o conteúdo dos dias, converteu um país inteiro em refém.
A violência de agentes das forças de segurança do Estado nos primeiros 100 dias do ano, como a execução de 11 suspeitos em Guararema (SP), pela polícia militar, e os 80 tiros disparados contra o carro de uma família por militares no Rio de Janeiro, pode apontar a ampliação do que já era evidente no Brasil: a licença para matar. Mais frágeis entre os frágeis, os ataques a moradores de rua podem demonstrar uma sociedade adoecida pelo ódio: em apenas três meses e 10 dias, pelo menos oito mendigos foram queimados vivos no Brasil. Bolsonaro não puxou o gatilho nem ateou fogo, mas é legítimo afirmar que um Governo que estimula a guerra entre brasileiros, elogia policiais que matam suspeitos e promove o armamento da população tem responsabilidade sobre a violência.
Este artigo é dividido em três partes: perversão, barbárie e resistência.
1) A Perversão
Tanto a oposição quanto a imprensa quanto a sociedade civil organizada e até mesmo grande parte da população estão vivendo no ritmo dos espasmos calculados que o bolsonarismo injeta nos dias. É por essa razão que me refiro à “perversão” no título deste artigo. Estamos sob o jugo de perversos, que corrompem o poder que receberam pelo voto para impedir o exercício da democracia.
(Clique AQUI para ler a íntegra no El País. O título desta postagem é uma referência ao texto que publiquei no jornalaico wordpress e que pode ser lido clicando AQUI.)
sexta-feira, 26 de abril de 2019
Eliane Brum: quem vê paralisia no governo está cego

Eliane Brum continua fazendo uma das melhores análises do país. O que eu não entendo é por que as melhores cabeças não se unem para discutir e formular um projeto político, por que continuam dispersas, inclusive na imprensa. Enquanto o golpe desmonta o Brasil.
E o Duke continua desenhando as melhores charges (ao lado do Aroeira).
O “mártir” governa
Quem aponta “paralisia” na antipresidência de Bolsonaro está cego – ou se faz de cego – para a velocidade assombrosa da implantação do projeto autoritário
Eliane Brum, no El País, 24/4/19.
O general da ativa Otávio Santana do Rêgo Barros, coitado, parece cada vez menos um porta-voz de presidente e cada vez mais uma espécie de louro José de Bolsonaro. Aos 58 anos, uma carreira militar exitosa, e vai dizendo coisas assim: "De uma vez por todas o presidente gostaria de deixar claro o seguinte: quanto a seus filhos, em particular o Carlos, o presidente enfatiza que ele sempre estará a seu lado. O filho foi um dos grandes responsáveis pela vitória nas urnas, contra tudo e contra todos". Sério. Enquanto o novelão se desenrola, capturando e desviando a atenção do país, o “mártir” governa. E como governa. O projeto autoritário que Bolsonaro representa avança a cada dia sobre o Brasil com velocidade assombrosa.
Os milhares de indígenas que desde 2004 ocupam Brasília em abril para o Acampamento Terra Livre, uma tradição que Bolsonaro chamou de “encontrão de índios”, neste ano estão sendo “recepcionados” pela Força Nacional. O Mártir decidiu com seu general favorito, Augusto Heleno. Seu ministro de estimação, Sergio Moro, assinou. Por 33 dias a Praça dos Três Poderes e a Esplanada dos Ministérios serão defendidas do povo por uma força especial. Mas o Brasil continua sendo uma democracia.
O Mártir quer abrir as terras indígenas para soja, gado, mineração e grandes obras. Em vez de floresta amazônica, um lindo pasto, uma soja a perder de vista, uma ferrovia gigante, uma cratera de mineração ainda mais fabulosa, com artísticas montanhas de resíduos tóxicos como legado para a posteridade. O planeta agradece e frita como resposta, mas aquecimento global, segundo o chanceler do Mártir, é “complô marxista”. Para os sábios do governo do Mártir, qualquer pessoa sensata pode perceber que o clima está como sempre foi, o Rio de Janeiro que o diga. Por isso Ricardo Salles, aquele que atende pelo nome de ministro do Meio Ambiente, mal entrou e já foi extinguindo a Secretaria de Mudanças do Clima e Florestas. Não precisa, né? Ele também já explicou de cara que “a discussão sobre aquecimento global é secundária”. Isso com os cientistas mais importantes do mundo afirmando que temos apenas 11 anos para tentar impedir que o planeta aqueça mais de 1,5 graus Celsius. Mas o Brasil segue sendo uma democracia.
Clique aqui para ler a íntegra.
quarta-feira, 24 de abril de 2019
Duas notícias de estelionato
A Folha não nos permite ler as notícias, a não ser que sejamos assinantes, mas bastam os títulos para a gente ver o que é esse governo, a continuidade descarada da 'velha política'. Não tem nada a ver com suas promessas enganosas, fato compreensível. O que não é compreensível é como a maioria de um povo se deixa enganar por estelionatários tão manjados. Assim como não é compreensível que uma imprensa que se considere como tal, inclusive a BBC e El País, seja a favor da reforma da previdência que só serve aos banqueiros, poupará os ricos e mais uma vez será paga pelos pobres. E não resolverá problema nenhum.
Clique no título para ir à matéria original.
Brasil fecha 43 mil vagas formais em março, mostra Caged
(Mas o fim dos direitos dos trabalhadores não era para criar empregos?)
Governo oferece R$ 40 mi em emendas para deputados que votarem pela reforma
(Mas esse governo não era para moralizar a política?)
Clique no título para ir à matéria original.
Brasil fecha 43 mil vagas formais em março, mostra Caged
(Mas o fim dos direitos dos trabalhadores não era para criar empregos?)
Governo oferece R$ 40 mi em emendas para deputados que votarem pela reforma
(Mas esse governo não era para moralizar a política?)
TRE cassa senadora morista e bolsonarista
O golpe continua, pegando também os golpistas. Porque golpe é assim, o descontrole, até que uma nova ordem se imponha. Quem prevalecerá no fim, a democracia ou a ditadura? Agora os 'anticorruptos' estão sendo pegos por corrupção. Quando chegará ao juiz ministro e ao capitão presidente? A argumentação que a 'Moro de saias' usa a seu favor foi usada a favor de Lula, mas a 'Selma de terno preto' não ouviu, porque a sentença já estava dada a priori, era de fato o ponto de partida do processo -- político. 'Moro de saia' sai de cena tão rápido quanto entrou, foi só mais um soldado nesse jogo de xadrez sem rainha.
Cassada, senadora conhecida como 'Moro de saias' diz que foi ingênua e se compara a Bolsonaro: 'Fiz uma trapalhada'
Vinícius Lemos De Cuiabá para a BBC News Brasil.
Conhecida pelo discurso anticorrupção, a senadora Selma Arruda (PSL-MT) foi responsável por condenar, quando era juíza estadual, figurões da política mato-grossense e ganhou o apelido de "Moro de saias". Colega de partido do presidente Jair Bolsonaro, ela foi a mais votada na disputa ao Senado Federal em Mato Grosso no ano passado.
Mas, pouco mais de dois meses após assumir a cadeira, Selma foi cassada pelo TRE-MT (Tribunal Regional Eleitoral de Mato Grosso) justamente por crimes que criticou no passado, entre eles o caixa dois. Em 2016, quando se discutia no país a possibilidade de anistia ao financiamento irregular de recursos de campanha, ela classificou essa hipótese de "tentativa de golpe".
No dia 10 de abril, os juízes-membros do tribunal eleitoral decidiram, por 7 votos a 0, que Selma deve perder o mandato e se tornar inelegível pelas práticas de caixa dois e abuso de poder econômico. Ela foi acusada de ter gasto de R$ 1,2 milhão em valores não declarados à Justiça Eleitoral para se eleger ao Senado.
Segundo investigação do Ministério Público Eleitoral (MPE), a chapa da senadora utilizou R$ 855 mil na pré-campanha e R$ 375 mil durante a campanha. Os valores foram usados em serviços como publicidade, pesquisas eleitorais e consultoria jurídica. Os recursos não foram informados na prestação de contas da chapa da senadora, omissão que o TRE-MT considerou ilegal. Ainda cabe recurso ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
propaganda
A senadora nega que tenha cometido irregularidades e justifica que os valores apontados como não declarados foram usados antes do início da campanha. "A lei não obriga a prestar contas da pré-campanha. Tenho a consciência tranquila. Não foram atrás do que meus adversários gastaram no mesmo período. Ninguém prestou contas do que fez antes da campanha", argumenta.
Sobre os recursos apontados como não declarados durante o período eleitoral, ela afirma que são referentes a cheques pré-datados, que pagaram serviços na pré-campanha.
Para a senadora, a cassação de sua chapa foi irresponsável. "Parecia que estavam cassando um síndico de condomínio. Eles não consideraram a supremacia da vontade popular, que é um princípio do direito eleitoral", diz à BBC News Brasil, em entrevista concedida na sala de seu apartamento, em um prédio de classe média alta, em Cuiabá (MT). Ali, no cômodo de cores neutras, Selma guarda fotos da família em porta-retratos e uma imagem de Nossa Senhora Aparecida, da qual é devota.
Clique aqui para ler a íntegra.
Cassada, senadora conhecida como 'Moro de saias' diz que foi ingênua e se compara a Bolsonaro: 'Fiz uma trapalhada'
Vinícius Lemos De Cuiabá para a BBC News Brasil.
Conhecida pelo discurso anticorrupção, a senadora Selma Arruda (PSL-MT) foi responsável por condenar, quando era juíza estadual, figurões da política mato-grossense e ganhou o apelido de "Moro de saias". Colega de partido do presidente Jair Bolsonaro, ela foi a mais votada na disputa ao Senado Federal em Mato Grosso no ano passado.
Mas, pouco mais de dois meses após assumir a cadeira, Selma foi cassada pelo TRE-MT (Tribunal Regional Eleitoral de Mato Grosso) justamente por crimes que criticou no passado, entre eles o caixa dois. Em 2016, quando se discutia no país a possibilidade de anistia ao financiamento irregular de recursos de campanha, ela classificou essa hipótese de "tentativa de golpe".
No dia 10 de abril, os juízes-membros do tribunal eleitoral decidiram, por 7 votos a 0, que Selma deve perder o mandato e se tornar inelegível pelas práticas de caixa dois e abuso de poder econômico. Ela foi acusada de ter gasto de R$ 1,2 milhão em valores não declarados à Justiça Eleitoral para se eleger ao Senado.
Segundo investigação do Ministério Público Eleitoral (MPE), a chapa da senadora utilizou R$ 855 mil na pré-campanha e R$ 375 mil durante a campanha. Os valores foram usados em serviços como publicidade, pesquisas eleitorais e consultoria jurídica. Os recursos não foram informados na prestação de contas da chapa da senadora, omissão que o TRE-MT considerou ilegal. Ainda cabe recurso ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
propaganda
A senadora nega que tenha cometido irregularidades e justifica que os valores apontados como não declarados foram usados antes do início da campanha. "A lei não obriga a prestar contas da pré-campanha. Tenho a consciência tranquila. Não foram atrás do que meus adversários gastaram no mesmo período. Ninguém prestou contas do que fez antes da campanha", argumenta.
Sobre os recursos apontados como não declarados durante o período eleitoral, ela afirma que são referentes a cheques pré-datados, que pagaram serviços na pré-campanha.
Para a senadora, a cassação de sua chapa foi irresponsável. "Parecia que estavam cassando um síndico de condomínio. Eles não consideraram a supremacia da vontade popular, que é um princípio do direito eleitoral", diz à BBC News Brasil, em entrevista concedida na sala de seu apartamento, em um prédio de classe média alta, em Cuiabá (MT). Ali, no cômodo de cores neutras, Selma guarda fotos da família em porta-retratos e uma imagem de Nossa Senhora Aparecida, da qual é devota.
Clique aqui para ler a íntegra.
Assinar:
Postagens (Atom)