Nunca pensei que fosse dizer isto, mas bons tempos eram aqueles em que só o Rio Arrudas transbordava.
O fato é que as chuvas se tornaram uma ameaça à população, de inúmeras formas. A partir de ontem, quando três pessoas morreram esmagadas debaixo de uma guarita destruída por um flamboyant, no Hospital Júlia Kubitschek, ficaremos todos intranquilos com as árvores. Têm caído muitas árvores na cidade e a cidade tem muitas e muitas árvores mais. Estarão todas podres? O próprio prefeito considera a hipótese de que as raízes das árvores terem sido cortadas por obras, o que justificaria tantas quedas. Ele informou que a Cemig providencia um estudo sobre as condições das árvores belo-horizontinas. Nós as plantamos e talvez agora tenhamos que matá-las para que não matem mais gente.
Quando se fala em transtornos causados pelas chuvas, as pessoas pensam nos carros boiando em alagamentos e no trânsito congestionado, uma distorção do nosso modo de ver o mundo, que coloca o carro em primeiro lugar. Piores são os alagamentos de moradias e edifícios comerciais. Não se tratam mais de áreas de risco, próximas do Arrudas e outros ribeirões. Inúmeros lugares na cidade são agora áreas de risco. A prefeitura busca soluções, o prefeito tem um mapa das inundações e sabe que as causas do problema são profundas, mas elas serão atacadas? A questão é que, ao invés de combater as causas das enchentes, a cidade continua fazendo tudo que as agrava. Dois exemplos recentes: a construção do Bulevar Arrudas e a muralha de pédios erguida no Bairro Belvedere, ambas criticadas por ambientalistas.
É fácil entender que a cidade precisa de terra e dos cursos d'água, mas uma e outros são substituídos por asfalto e concreto. As chuvas são cada vez mais fortes e vão escoar por onde? Se a água não pode correr nos córregos e ribeirões da cidade, corre por cima, transformando ruas e avenidas em verdadeiros rios. As tubulações são as mesmas, acanhadas, e, além das chuvas, há cada vez mais escoamento de água e esgoto, porque a população se multiplica nos altos edifícios que substituem as casas.
O problema é grave e vai se agravar mais. As obras demandarão cada vez mais recursos, porque serão mais difíceis de executar, e causarão mais transtornos, por sua amplitude. Estou sendo pessimista? Talvez, mas tudo isso me parece óbvio. Muitos dos problemas se devem à falta de educação da população, que joga lixo na rua, entope bueiros e obstrui os cursos d'água ainda abertos. Estamos investindo em educação para que a população se torne mais esclarecida? Também não. Sem atacar as causas do problema, como é que ele será resolvido?
Cada vez mais o boletim meterológico se torna a notícia mais importante do dia. E a previsão é de mau tempo...