sexta-feira, 8 de janeiro de 2010
Saravá Paulo Francis!
Estreia hoje Caro Francis, documentário de Nelson Hoineff sobre Paulo Francis (1930-1997). Para os jovens dos anos 70, Francis foi uma luz e um exemplo, com seu texto rápido e limpo, com sua erudição, com suas ideias sem peias e sua irreverência. Já tinha então uma vasta experiência de vida. Até hoje seus artigos são brilhantes e definitivos (vejam-se as edições com o melhor do Pasquim). Quando guinou à direita (até por volta dos cinquenta anos foi trotskista), se confundiu com tanta gente sem brilho, mas ainda assim sua participação no Manhattan era um show. Quando ele morreu, o programa acabou. A tentativa de o copiarem, ainda hoje, é constrangedora. PF era único. Mas fazia parte também de um tipo de intelectual que se extingue, do qual restam poucos, que falam o que pensam e têm vasto conhecimento sobre (quase) tudo. Publicou um livrinho, logo depois da posse (que não houve) de Tancredo, que deveria ser leitura obrigatória nas escolas, para se conhecer o Brasil. É um balanço do país que a “nova república” ia pegar. Curiosamente, a paixão tancrediana não o fez mexer no livro. “Não muda nada, na essência”, justificou no prefácio, num momento em que o país inteiro, chocado com o imprevisto, se perguntava o que ia acontecer. Essa capacidade de ver além e ver o que realmente era importante, graças à sua inteligência e ao consumo voraz de informações, principalmente em inglês, é que o torna o intelectual extraordinário que foi. Provocava a esquerda com humor e pelo que sei não era rancoroso, não levava a sério as críticas que recebia, ao contrário, gostava delas. Ele tem uma frase que continua atual, embora cada vez menos, espero. Dizia que no Brasil as pessoas se ofendem com críticas, porque não têm maturidade. Cito de memória, mas a ideia é essa. Fico pensando se a história lhe fará justiça, pois seus textos não tinham pretensão acadêmica, eram para consumo imediato e expressavam sua opinião pessoal – aliás, título de uma coletânea sua. Exceto aquelas ficções que eu achei tediosas. Talvez um dia ainda consiga lê-las e mude de opinião. No jornalismo, nenhum brasileiro uniu como ele estilo e conteúdo, qualidade de texto e de ideias. Saravá Francis!