O Brasil tem sua própria Faixa de Gaza: o Estado fazendeiro latifundiário de exportação, o agrotoxiconegócio, extermina o povo Guarani Kaioiwá há décadas, sistematicamente, usando seu exército, amplo e bem armado, com apoio da polícia, da justiça e dos governos e cumplicidade da sociedade brasileira. É um genocídio contra o qual a esquerda que protesta -- justamente -- contra o genocídio do povo palestino pode agir também, mas não age, e o presidente Lula tem poder e obrigação legal de interromper, mas não interrompe. A imprensa pouco fala do assunto. Quem procura se informar, fica estarrecido com a miséria em que vivem os guaranis kaiowás e a violência praticada diariamente contra os ocupantes originários da terra grilada pelos latifundiários que recebem todos os incentivos do Estado brasileiro.
Reportagem da Agência Pública, 19/8/24 https://apublica.org/
Guarani-Kaiowá: Políticos desinformam e incitam a população contra indígenas em MS
Por Leandro Barbosa
Falsas acusações de crimes tentam descredibilizar Guarani-Kaiowá em processo de retomada marcado por tensão e violência
Um indígena assistia indignado a um vídeo, enquanto dizia algumas palavras em guarani. Ao me ver, disse, em português: “Como pode falar tanto absurdo?”. Ele ouvia o deputado federal Marcos Pollon (PL-MS) mentir ao afirmar que Mato Grosso do Sul vive “uma onda de invasão de propriedade privada, especialmente propriedades rurais, onde supostos indígenas estão atacando proprietários rurais, invadindo fazendas e destruindo, pondo fogo, atirando, ameaçando, estuprando mulheres, matando crianças e cometendo uma série de crimes”, enquanto comentava sobre a recente retomada protagonizada desde 13 de julho pelos Guarani-Kaiowá, em Douradina, a 192 km de Campo Grande.
Acusações falsas como essas contra os indígenas da Terra Indígena (TI) Panambi-Lagoa Rica têm sido recorrentes e os colocam em risco. Os vídeos incitam a população a reagir contra as comunidades, mesmo sem apresentar provas dos supostos crimes. A desinformação alimenta movimentos ideológicos que têm atuado para promover despejos ilegais, como o movimento Invasão Zero, citado com recorrência por produtores rurais e políticos do estado. Fundado por produtores rurais da Bahia, o Invasão Zero é acusado por indígenas de atuar como uma organização criminosa e incitar crimes, e já está sendo investigado pela Polícia Federal.
Segundo o Conselho Indigenista Missionário (Cimi), os ataques ocorridos nos dias 3 e 4 de agosto na TI Panambi-Lagoa Rica, que deixaram 11 Guarani-Kaiowá feridos, foram motivados por desinformação. Na ocasião, corria a informação de que os indígenas haviam retomado mais áreas, além das sete que já existem dentro do limite dos 12.196 hectares delimitados pela Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai). Apesar de uma representante do órgão federal afirmar, após ir ao local, que a informação era falsa, de nada adiantou. A mentira já tinha se espalhado.
“Autorreintegrações” forçadas não são episódios isolados ou aleatórios no estado, mas constituem um quadro mais amplo no qual milícias armadas rurais têm sido organizadas pelos proprietários rurais e efetivamente empregadas para promover ataques a grupos indígenas. É o que indica o documento “Crimes contra a humanidade no Mato Grosso do Sul: ataques armados, assassinatos e atos desumanos contra os Guarani e Kaiowá”, do Ministério Público Federal (MPF), ao qual a Agência Pública teve acesso.
O documento, elaborado em 2021, se baseia em evidências de ataques armados contra as comunidades Guarani e Kaiowá ocorridos entre 2000 e 2016. Ele conclui que os crimes não são isolados, mas interligados, configurando um ataque generalizado e sistemático conduzido por grupos que seguem uma política organizacional discriminatória.
As investigações revelam que, em muitos casos, os mandantes dos ataques são os donos de fazendas locais que se associam. Esses fazendeiros frequentemente contam com o apoio do poder político e contratam terceiros para formar milícias rurais com o objetivo de expulsar os indígenas. Na maioria dos casos, verifica-se a existência de uma rede de proteção que opera localmente por meio de federações e sindicatos rurais de fazendeiros. Esses espaços são utilizados para discutir e planejar ataques.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.