quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Nossa BH e a Copa do Mundo 2014

O movimento Nossa BH convida para "roda de conversa" sobre investimentos sociais na Copa 2014 e cidades sustentáveis. O encontro será nesta sexta-feira, 8/10, às 17h, na sala 13 do Expominas, e contará com representantes do governo estadual, do Instituto Cervantes, da Fundação Dom Cabral, da Associação Comercial de Minas e da Fiemg. Como o movimento pede contribuições ao debate, enviei-lhe o seguinte e-mail. Gostaria de fazer as seguintes ponderações sobre a realização da Copa do Mundo, que é vendida como uma panaceia de desenvolvimento e na verdade parece bem diferente da propaganda, conforme o noticiário. 1- A experiência da Copa do Mundo da África do Sul mostrou que o evento tem mais ônus que bônus. A população local, por exemplo, não pôde assistir aos jogos, cujos ingressos caros foram limitados a turistas, provocando, inclusive, um incidente violento antes da competição, porque muitos torcedores queriam ver a um amistoso gratuito. Para realização das obras previstas, o Estado sul-africano preciso gastar muito mais dinheiro do que o previsto no projeto inicial, endividando-se. Parece que a Fifa faz um acordo para aprovação da a Copa, mas depois exige muito mais. Em compensação, o número de turistas e de dinheiro gasto por eles no país foi muito inferior ao previsto. Não faltam também casos de corrupção. 2- Sob a justificativa de se preparar para a Copa, a construção civil anda a mil em Belo Horizonte, erguendo espigões e hotéis. São inúmeras as notícias que dão conta da derrubada de casas antigas, vilas e até áreas verdes. Cito três exemplos disso: 1) a destruição da última grande área verde da cidade, a Mata do Isidoro, para construção pela prefeitura da "Vila da Copa"; 2) a demolição da Vila Morada, uma vila remanescente de tempos mais cordiais na capital, localizada no Bairro Funcionários; 3) a perda da sede pela escola Coopen, no Bairro Carmo, numa demonstração de que educação tem menos valor do que turismo. 3- Em Belo Horizonte, tendo a Copa como justificativa, a Praça da Estação e a Praça JK, espaços públicos importantes da cidade, foram cercadas e fechadas à população. Só entrava lá quem tinha ingresso da "Arena Fifa-Coca-Cola", evento realizado em parceria com a prefeitura. Tal evento inaugurou a nova orientação da administração municipal para os espaços públicos, que se tornaram privados e pagos, com restrição de acesso pela população e por artistas populares. Com a realização da Copa de 2014, essa política deve se agravar. 4- Outra iniciativa da prefeitura com vistas à Copa do Mundo é a "limpeza" da cidade. No momento em que escrevo, um grupo de jovens pichadores se encontra preso por ter cometido este "crime" que a administração municipal não aceita mais. A repressão aconteceu no mesmo momento em que a pichação era celebrada como arte na Bienal de São Paulo. A preparação da cidade para a Copa de 2014 tem esse custo para os artistas da população pobre: a repressão à sua arte e até a prisão. Trata-se de uma maquiagem da cidade para os turistas. Será acompanhada talvez, durante a Copa, do "recolhimento" de mendigos, crianças pobres, quem sabe proibição do uso dos espaços públicos por negros, mulatos, pardos? 5- Os benefícios gerados pela Copa são futuros, incertos e ilusórios, como mostra a experiência da África do Sul – passados os 30 dias da competição e dos holofotes mundiais sobre o país, a vida volta ao normal, mais dura do que antes. Os prejuízos, porém, são imediatos e concretos. A não ser para aqueles que pensam em lucros particulares e que põem o Estado a serviço desses lucros. 6- Este é um bom momento para explicitar quem somos "nós", quando se fala de "Nossa BH". Falamos da cidade para a maioria, que vive, trabalha e não tem voz, ou da cidade para a minoria de poderosos e gananciosos? Desejando bom trabalho e sucesso ao movimento, atenciosamente.