sábado, 9 de maio de 2020

Para onde vai o dinheiro da publicidade do governo

Antigamente (antes da internet), a verba publicitária do governo federal (e outros governos) ia para as famílias que dominam a comunicação no Brasil, por meio da Globo, Abril, Folha, Estadão, Associados, Band, SBT, Record etc. Pra que mesmo que governos têm de gastar com publicidade? Ninguém nunca soube responder.
A resposta é que não têm de gastar, fazem isso para enriquecer as tais famílias e em troca contar com a simpatia dos seus veículos. Simples assim.
A mais importante informação que nos foi deixada por Roberto Marinho é: "O Globo não é importante pelo que publica, mas pelo que deixa de publicar".
Todos os veículos de comunicação no capitalismo são balcões de negócios -- pequenos com o público em geral, grandes com os poderosos. Embora alguns busquem se equilibrar também na ética, no compromisso com o leitor, porque, afinal, credibilidade é o maior bem que um veículo pode ter -- inclusive para cobrar caro pelo que não publica. Roberto Marinho ganhou muito dinheiro e construiu um império.
Com a internet, os velhos impérios da comunicação começaram a ruir e novos se formaram, basicamente Google e Facebook, que não são impérios nacionais como Globo etc., mas internacionais.
A ótima reportagem da Patrícia Campos Melo nos informa que Gg fica com 20 a 40% da publicidade que recebe. 20 a 40% do bolo global da publicidade é muito, mas muito dinheiro. E Gg, ao contrário dos veículos de comunicação tradicionais, não produz nada! O restante da bolada é distribuída de forma extremamente pulverizada entre os chamados "produtores de conteúdo".
E aí chegamos ao principal: o governo do capitão distribui o dinheiro público da publicidade oficial para canais de criminosos, como saites de feique nius e um canal de jogo do bicho. E até para um saite russo. Além de canais de promoção pessoal do presidente. E para quê? Para que a população pensasse que era boa e necessária a reforma da previdência que praticamente acabou com a aposentadoria dos pobres, mas poupou os militares e outras castas privilegiadas. 
Financiar criminosos é crime.
Essa é a marca desse governo, a conexão com todos os tipos de criminosos, sejam desmatadores, fabricantes de agrotóxicos, infratores do trânsito, feminicidas, milicianos mafiosos, traficantes, banqueiros, fabricantes de feique nius, falsos pastores, armamentistas, inimigos da democracia ou bicheiros.
Isso é uma constatação, é o que nos mostram o noticiário e o comportamento do presidente, dia após dia. Não tem uma ação do governo que seja em benefício do Brasil, que não seja para pôr o Estado a serviço de criminosos.
Na defesa dos seus, o presidente se esquece até da maioria que votou nele, e que até hoje não recebeu nada desse governo, só perdeu.  


Verba publicitária de Bolsonaro irrigou sites de jogos de azar e de fake news na reforma da Previdência 

Patrícia Campos Mello, Folha de S. Paulo, 9/5/20

O governo de Jair Bolsonaro veiculou publicidade sobre a reforma da Previdência em sites de fake news, de jogo do bicho, infantis, em russo e em canal do YouTube que promove o presidente da República.
As informações constam de planilhas enviadas pela Secom (Secretaria Especial de Comunicação da Presidência) por determinação da CGU (Controladoria-Geral da União), a partir de um pedido por meio do Serviço de Informação ao Cidadão.
A Secom contrata agências de publicidade que compram espaços por meio do GoogleAdsense para veicular campanhas em sites, canais do YouTube e aplicativos para celular.
Neste sábado (9/5), após a publicação desta reportagem, o senador Alessandro Vieira, a bancada do Cidadania e senadores do grupo chamado Muda Senado decidiram entrar com representação por improbidade contra a Secom. O grupo decidiu ainda apresentar pedido de convocação do secretário Fábio Wajngarten (Comunicação) para esclarecimentos.
Segundo as planilhas da Secom, disponíveis no site de Acesso à Informação do governo federal, dos 20 canais de YouTube que mais veicularam impressões (anúncios) da campanha da Nova Previdência no período reportado, 14 são primordialmente destinados ao público infantojuvenil, como o canal Turma da Mônica e Planeta Gêmeas.
Um dos canais de YouTube que mais receberam anúncios, segundo a Secom, é o Get Movies, que não só é destinado ao público infantil mas tem 100% do seu conteúdo em russo. “O destino no YouTube para russos que querem assistir a desenhos animados e outros tipos de programa para a família", diz a descrição do canal que recebeu 101.532 anúncios, segundo a tabela.
Em 11 de novembro de 2019, foi pedido à Secom, por meio do Serviço de Informação ao Cidadão, um relatório de canais nos quais os anúncios do governo federal contratados por meio da plataforma Google Ads foram exibidos, para o período de 1º de janeiro a 10 de novembro de 2019.
A Secom negou duas vezes o pedido. Após recursos, a CGU determinou em fevereiro que a Secom deveria disponibilizar o relatório pedido no prazo de 60 dias contados da notificação da decisão.
A resposta da Secom só foi encaminhada ao site em 17 de abril deste ano, mais de cinco meses após o pedido inicial. No entanto, as planilhas enviadas abrangem apenas o período de 6 de junho a 13 de julho de 2019 e 11 a 21 de agosto de 2019.
As planilhas devem ser encaminhadas à CPMI das Fake News nos próximos dias. Os documentos não especificam o total gasto pela Secom com os anúncios. Em maio de 2019, a secretaria anunciou que gastaria R$ 37 milhões em inserções publicitárias sobre a reforma da Previdência, em televisão, internet, jornais, rádio, mídias sociais e painéis em aeroportos.
Outra publicação que recebeu uma quantidade considerável de anúncios com dinheiro público foi um site com resultados do jogo do bicho. O resultadosdobichotemporeal.com.br recebeu 319.082 anúncios, segundo a planilha enviada pela Secom. O jogo do bicho é ilegal no Brasil.
Sites de fake news também receberam muitos cliques — e verba — de anúncios do governo. Um dos campeões, com 66.431 anúncios, foi o Sempre Questione.
Na página inicial deste site, nesta sexta (8/5), havia notícias como “Ovni é flagrado sobrevoando Croata, interior do Ceará, e aterroriza moradores” e “Kiko do Chaves diz que coronavírus é farsa de Bill Gates e da Maçonaria”.
A campanha também foi veiculada em sites que disseminam desinformação, como o Diário do Brasil (36.551 anúncios).
A Secom relata nas planilhas gastos com anúncios veiculados em sites e canais que promovem o presidente Jair Bolsonaro. No Bolsonaro TV – que se descreve como “canal dedicado em apoiar o presidente da República, Jair Messias Bolsonaro” – houve 5.067 impressões, segundo a planilha.

Clique aqui para ler a íntegra da reportagem.