Leio num blog uma crítica de um entrevistado a uma reportagem da Folha. Ele diz que o repórter chegou com uma ideia preconcebida, conduziu a entrevista para confirmá-la e só anotou o que ele disse que poderia ser usado em proveito do seu raciocínio.
Esse é o jornalismo de tese, popularizado pela Veja e copiado por inúmeros veículos; é usado principalmente por revistas, hebdomadários e edições de domingo. Agora mesmo o leitor belo-horizontino morador da zona sul poderá vê-la no Pampulha e nas revistas Encontro e Viver. Geralmente é a matéria de capa e contempla comportamentos. Funciona assim: a reunião de pauta aprova uma tese e o repórter sai a campo pegando elementos que a confirmem e personagens que a ilustrem, aspas, exemplos, histórias e belas fotos.
Até aí tudo bem, não deve ser descartado, porque produz matérias interessantes, QUANDO a tese é boa e a realidade a confirma. O problema é que, geralmente, a matéria não pode cair nem a tese pode ser derrubada, então, ignoram-se os casos que não confirmam a tese e, se for preciso, distorcem-se os fatos e depoimentos para confirmá-la.
Gerou-se assim um jornalismo de gabinete, no qual a rua (realidade rica e diversificada) não tem importância e o repórter nada vê, quando vê, não pode publicar, pois só importam as ideias "brilhantes" concebidas pelos editores. Inverteu a ordem de valores do jornalismo, no qual o repórter é o profissional mais importante, pois é ele que está em contato com a realidade, com a fonte, com o fato. É uma prática nefasta que a internet está ajudando a liquidar.