Na chegada do treinador Vanderlei Luxemburgo ao Galo, ontem, o show mais uma vez ficou por conta da torcida. Ele deve ter ficado impressionado.
Mas houve outros destaques, afora a resposta de Kalil a Zezé, dizendo que o Zêro na Libertadores é como filme dos Três Patetas: a gente sabe o que vai acontecer, mas ri no final. Vale como piada, porque o retrospecto do Atlético - que nem chega à Libertadores - não é diferente disso. Desde 1978, com exceções. O lado ruim desse humor kalilino é que muitos torcedores cruzeireros não o entendem e respondem com agressividade e ofensas.
Luxemburgo chegou com o discurso certo - em resumo: não prometo títulos, prometo trabalho, mas meu trabalho leva a títulos, meu currículo mostra isso, não gosto de perder. Este último ponto é importante, porque Roth não se importava de perder. Sua posição pela manutenção de Tardelli, Ricardinho e Júnior no elenco também é boa; o time de Roth não perdeu título e vaga na Libertadores por causa deles, mas apesar deles. A contratação do lateral Leandro, ex-Zêro, suscita dúvidas, pois é daqueles jogadores que acompanham Luxemburgo pra onde o treinador vai - será que vai querer trazer Leo Lima também? Não simpatizo com nenhum dos dois, aliás, nem com o Luxemburgo, mas os interesses do Atlético estão acima de preferências pessoais - no meu caso, como treinador, estas vão para Muricy, Silas e Rogério Micale.
E é em relação a interesses que a escolha do vitorioso treinador provoca dúvidas. Kalil fez a opção por um nome que provoca impacto, não pelo trabalho de base, de longo prazo. Tem os méritos de ter agido rápido e de trazer um treinador vencedor (essa história de decadência é relativa, o próprio Telê teve seu ostracismo, antes de brilhar mais que nunca com o São Paulo). Junto com Luxemburgo, porém, trouxe os ônus que o acompanham. Sem entrar no mérito se o faz de forma lícita ou ilícita, ele é conhecido por se tornar dono do futebol do clube onde trabalha, por empresariar jogadores, entrar em choque com a imprensa e com dirigentes. Não entrará em choque com Kalil? Vamos ver.
Luxemburgo aproveitou a primeira coletiva para atacar o presidente do Palmeiras, que o demitiu no meio do brasileirinho. Ele já tinha dito que, se fosse o treinador, no lugar de Muricy, não teria perdido o título. Agora chamou Belluzzo de retrógrado. Os fatos, se não dão razão a Luxemburgo, também não põem o dirigente no pedestal.
Uma coisa é certa: Luxemburgo vai dar muito trabalho aos repórteres de futebol em BH. A começar pelos números que cercam sua contratação. Se a informação divulgada pelo Uol Esporte e atribuída ao Internacional estiver correta, o Atlético estará gastando R$ 7 milhões no primeiro ano de permanência do treinador no clube (o contrato é de dois anos; ele receberá R$ 500 mil por mês mais luvas de R$ 1 milhão). Os valores não foram confirmados, mas Luxemburgo disse que é bem remunerado e Kalil garantiu que o Atlético vai bancar sozinho a contratação, sem patrocinador. Todo mundo sabe que o Galo tem uma dívida astronômica.
Luxemburgo tem razão em não divulgar valores, que, segundo ele, poriam em risco seus familiares, em decorrência da violência existente no país. Mas o Atlético tem dever de informar, se é que não tem nada ilegal no contrato. Aliás, hoje em dia, com a informatização dos sistemas de arrecadação e bancário, não se esconde nada da Receita.
Que dizer, afinal? Várias coisas: bem-vindo Luxemburgo, como a torcida. Que sua contratação represente o que promete: organização de um time vencedor e, quem sabe, um título nacional ou internacional. Que os muitos críticos estejam errados e que a passagem do treinador pelo Galo seja vitoriosa. Não posso deixar de acrescentar que, mais uma vez, este não é o caminho que eu gostaria de ver o Atlético seguir.