quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

Estragos da chuva



Dessa vez uma árvore caiu bem pertinho de casa e amassou o carro de um amigo, ontem. O quarteirão ficou sem luz de meio-dia a oito da noite, mais ou menos, porque a árvore atingiu a fiação. A prefeitura levou cinco horas para cortar a árvore e desimpedir o trânsito; o caminhão carregou o tronco e deixou os galhos no passeio. Como sempre, a prioridade é a passagem dos carros, os pedestres ficam em segundo plano. Pensei que ia demorar mais, tanto a luz quanto a árvore.
É nessas horas, subindo dez andares de escada, que a gente vê como está fora de forma. Vê também como nossa vida depende da energia elétrica e está condicionada por ela. Sem eletricidade, não tem elevador, não tem luz, não tem computador, não tem internet, não tem televisão, não tem som. É preciso improvisar velas. O que a gente faz num apartamento? Olha a vista. Conversa, conta história pras crianças. Se quiser tomar banho, vai ser frio. A gente dorme mais cedo. Nosso modelo de civilização é montado sobre a energia elétrica.
Se a fiação fosse subterrânea, não aconteceriam problemas assim (além de limpar a paisagem dessa poluição visual de fios e mais fios), mas uma rede subterrânea é muitas e muitas vezes mais cara que a aérea. No capitalismo, as decisões são feitas por custo (e lucro), não pelos benefícios que gera.
São problemas que vão se agravar, eu calculo, interrupções no fornecimento de energia elétrica e queda de árvores. As mudanças climáticas estão tornando as chuvas mais violentas, com ventos fortes e muitos raios. Posso estar enganado. Inundações são outro problema, evidente: a água não tem por onde escoar, a terra está toda coberta de asfalto, cimento e construções.
E as árvores? Apodrecem e tombam nas chuvas. Segundo a própria prefeitura e a Cemig justificam, ao avisar por telefone ao reclamante que o conserto vai demorar, são centenas de ocorrências na cidade (é outro problema: a cidade cresceu demais, os órgãos públicos não dão conta de atender à demanda de serviços; pela lógica neoliberal, contratar mais funcionários é inchar a máquina pública - então, os governos terceirizam, o que torna os serviços piores, quase sempre).
As administrações municipais se orgulham do fato de Belo Horizonte ter muita área verde. É verdade, mas as árvores estão no lugar errado, suas raízes cobertas por cimento e asfalto. Deve ser por isso que morrerm e caem nas chuvas. E quando caem provocam muitos estragos. Além do que são obstáculos nos passeios. Parques e praças aprazíveis, a cidade tem pouquíssimos.