segunda-feira, 16 de agosto de 2010
Woody Allen refilma Woody Allen
Quando a gente vê Tudo pode dar certo (Whatever works) fica com a impressão de ter visto um Woody antigo, produzido com maestria. Depois vai saber: era um roteiro dos anos 70, que o diretor escreveu para Zero Mostel protagonizar e a morte do grande ator o levou a engavetar. A verborragia inicial, típica dos anos 70, incomoda um pouco, mas o próprio enredo a supera. O filme não ficou velho, nem podia: a temática do sentido da vida é eterna, e Allen a atualizou envolvendo fatos e conhecimentos do século XXI. Nova York continua sendo a capital do mundo, para que ele a possa comparar com os grandes centros de civilização de outras eras. Larry David é o próprio Woody Allen, não Zero Mostel. Trinta anos atrás pareceria pretensioso, Allen se declarando gênio, hoje é um reconhecimento à sua obra incrivelmente original, embora repetitiva. O que mais me impressiona é sua capacidade de inventar uma situação, uma cena, e dela deviar uma história inteira, que acompanhamos com interesse e prazer. Algumas sacadas divertidas, como a 5ª Sinfonia de Beethoven, e alguns clichês (denunciados no próprio filme), como as transformações dos pais de Melodie. Em 2010 Woody Allen é um mestre na manipulação dos truques cinematográficos. A mágica de o protagonista se dirigir à plateia ganhou caráter de interatividade, em tempos de internet. No fim, é apenas uma hora e meia de divertimento. É o que funciona. Allen sempre soube que o cinema é isso.