A imprensa impressa nasceu na Europa como panfletos políticos, publicados por políticos, intelectuais, líderes sociais, mas os jornais como os conhecemos hoje são uma invenção americana. Foram os americanos que perceberam que jornais podem ser negócios, vendendo notícias e anúncios. Para entender esse modelo é preciso entender a cultura americana, compreendendo a lógica desse modelo a gente compreende também como funcionam os Estados Unidos.
O modelo de imprensa americano tem duas bases interdependentes: as notícias e os anúncios. O jornal americano não é mais um panfleto político, é um periódico de notícias. Ele ocup uma espaço que a sociedade moderna criou, com o crescimento das cidades e das populações: a necessidade da população ser informada. Quando as cidades crescem, as pessoas não conseguem mais se informar pelo velho método boca-a-boca e com proclames afixados em locais públicos. Há muita coisa acontecendo, há muitas novidades. Em inglês notícias e novidades são uma palavra só: news. O jornal americano nasce para informar a população sobre as novidades.
Mas não é só essa necessidade que o homem de negócios americano percebe. Ele descobre também a publicidade moderna, ele percebe o potencial da imprensa para divulgar reclames. O jornal americano nasce ao mesmo tempo como veículo que informa o público das novidades e como veículo de anúncios. Uma coisa ajuda a outra: quanto mais leitores, mais publicidade. Assim, a venda, o preço de capa da publicação, pago pelo leitor, cobre apenas uma parte dos custos, a principal fonte de renda dos jornais é a publicidade. O modelo de jornal americano tem, portanto, desde o começo, dois públicos: o leitor e o anunciante.
O empresário de imprensa americano descobre logo seu imenso poder, que se deve à influência das informações que ele produz. Significa que o tempo todo o jornal está sujeito a pressões para publique ou não publique determinada informação. O êxito da empresa depende da capacidade dos seus dirigentes para administrar as pressões. Eles compreendem a lógica da imprensa: quanto melhor o jornal, mais leitores; quanto mais leitores, mais anunciantes e mais caro o anúncio. Ou seja, informar bem o leitor é o meio para o empresário de imprensa ganhar mais dinheiro.
No entanto, as notícias que publica podem desagradar anunciantes e governos (que também são anunciantes), levando o jornal a perder anúncios, o que o empresário não quer. Por isso ele precisa se equilibrar entre esses dois interesses: informar o leitor e vender anúncios. Se não informa, se não é imparcial, se atende a interesses políticos e de anunciantes, perde leitores, o que significa não apenas perda imediata de receita com venda do produto, mas também perda de receita com publicidade, em médio prazo.
Este é o modelo americano, que, como muitas coisas, só funciona perfeitamente entre eles, mas foi copiado pelo mundo, o Brasil inclusive. O jornal brasileiro que melhor copiou o modelo americano foi o Estado de S. Paulo. Aqui, porém, autoridades e anunciantes sempre fizeram seus interesses prevalecer sobre os interesses do leitor, mesmo porque as tiragens dos jornais são historicamente pequenas.
O fundamental no modelo americano é compreender que a famosa imparcialidade da imprensa não é um princípio político e nem sequer um princípio (os jornais não se eximem de defender bandeiras políticas), mas um modelo comercial, no qual uma fonte de receita depende de outra.
Quando o jornal opta pelo engajamento em detrimento da informação, ele perde leitores, e perdendo leitores perde anunciantes, e perdendo anunciantes perde receita, e perdendo receita perde importância, num processo contínuo de decadência. É o que está acontecendo com os jornais brasileiros. A situação se agrava com o crescimento da internet: os jovens se informam pela internet e não têm hábito de ler (comprar) jornal; com o passar do tempo, o número de leitores de jornais tende a diminuir ainda mais.