É o espírito do capitalismo, como diz o título do livro do Max Weber que eu vi num estande. Quem participou da Bienal do Livro de Minas 2010 estava lá para ganhar dinheiro. A começar pelo estacionamento e pela entrada. Essa não é a única forma de se promover o livro e incentivar a leitura, é a forma capitalista, em que livro é uma mercadoria qualquer e promovê-la é aumentar o consumo, a venda e o lucro.
Há outras formas. A Bienal poderia ter, por exemplo, uma grande área destinada à leitura, principalmente para crianças. Digamos que toda editora poderia doar alguns exemplares que seriam lidos ou folheados ou simplesmente vistos pelas crianças. Os autores poderiam apresentar seus livros, contar suas histórias. Terminada a Bienal, os livros seriam doados a bibliotecas públicas. A Fundação Municipal de Cultura fez isso, timidamente, no seu ônibus. Quero dizer, ofereceu livros para leitura, sem que estivessem à venda, mas foi só; o interesse da Bienal era vender.
Mas o espírito da Bienal do Livro de Minas 2010 é outro, é ganhar dinheiro. E nele o interesse dos organizadores entra em conflito com o interesse das editoras e autores, uma vez que ingresso e estacionamento consomem dinheiro que seria gasto em livros. O lucro dos organizadores, que também vendem os estandes e, portanto, já ganham das editoras, está garantido, enquanto os livreiros têm que ir à luta e já começam com um prejuízo a ser coberto: o investimento que fizeram. Deve ser por isso que muitos não dão desconto, como se espera numa ocasião assim.
Convenhamos: R$ 15 pelo estacionamento é um roubo. Deve ser uma importante fonte de renda do Expominas. E o ingresso? R$ 10, sem direito a nada! Ingresso para quê? Para poder comprar? Como é que o Estado pode ser contra a consumação nos bares, se cobra ingresso na Bienal do Livro? E até de criança! É o fim da picada.
Segundo os organizadores, nos primeiros três dias o evento atraiu 50 mil pessoas, o que renderia R$ 500 mil. É claro que o valor não é este, porque tem meia entrada e gente que não paga; de qualquer forma, a fila das bilheterias era grande, ontem.
Os R$ 45 que uma família com duas crianças paga para entrar e estacionar daria para comprar pelo menos um bom livro, se o interesse da Bienal fosse promover a venda de livros. Uma editora me contou que na Bienal de São Paulo a compra de livros é descontada no estacionamento. Já significa alguma coisa. E a entrada poderia ser um vale livro.