O jornalista Aloysio Biondi (1936-2000) foi um pensador original e corajoso, editor de boas publicações e autor de artigos luminosos, destoantes do coro dos contentes, como este em que analisa como, em cinco anos, o governo FHC destruiu cinco décadas de sonho nacional.
A morte da Alma Nacional
Aloysio Biondi
Revista Bunda, em 7 de agosto de 1999.
Reverencialmente, peço licença ao mestre Celso Furtado para repeti-lo: “Nunca estivemos tão longe do país com que sonhamos um dia”. Uma pequena frase. Capaz, porém, de detonar um turbilhão de lembranças, das emoções e expectativas, dos dias em que o Brasil era um país e tinha sonhos. Um povo que sonhava virar Povo. Estudantes, intelectuais, empresários, trabalhadores, agricultores, classe média envolvidos no debate pelo desenvolvimento, conscientes, todos, de que havia um preço a pagar, resistências a enfrentar. Inimigos, interesses externos a vencer. Um país com alma, sonhos. (...)
Reverencialmente, peço licença ao mestre Celso Furtado para repeti-lo: “Nunca estivemos tão longe do país com que sonhamos um dia”. Uma pequena frase. Capaz, porém, de detonar um turbilhão de lembranças, das emoções e expectativas, dos dias em que o Brasil era um país e tinha sonhos. Um povo que sonhava virar Povo. Estudantes, intelectuais, empresários, trabalhadores, agricultores, classe média envolvidos no debate pelo desenvolvimento, conscientes, todos, de que havia um preço a pagar, resistências a enfrentar. Inimigos, interesses externos a vencer. Um país com alma, sonhos. (...)
Em cinco anos, o governo Fernando Henrique Cardoso não destruiu apenas a economia nacional, tornando-a dependente do exterior. Seu crime mais hediondo foi destruir a Alma Nacional, o sonho coletivo. Para isso, e com a ajuda dos meios de comunicação, jogou o consumidor contra os empresários nacionais, "esses aproveitadores"; o contribuinte contra os funcionários públicos, "esses marajás"; o pobre contra os agricultores, "esses caloteiros"; a opinião pública contra os aposentados, "esses vagabundos".