quinta-feira, 28 de novembro de 2019

A dependência do Brasil

Dom Pedro I não proclamou a independência do Brasil. É impressionante como a verdade é escondida por palavras e discursos. Uma das características da sociedade é criar discursos para esconder a verdade. O que aconteceu em 1822 pode ser chamado de várias formas, mas independência do Brasil não é uma delas. O príncipe regente Pedro de fato proclamou o oposto: a dependência do Brasil.
A partir daquele ato de “rebeldia” às cortes portuguesas, o Brasil tornou-se dependente de Dom Pedro, da família real portuguesa, da monarquia, dos próprios portugueses residentes no Brasil, dos ingleses e da Inglaterra, que o apoiaram.
Ao mesmo tempo, o imperador passou a perseguir os brasileiros republicanos e até monarquistas constitucionais, que, estes sim, lutavam por diversas formas de independência do Brasil.
De fato a situação sob Pedro I nada mudou em relação à colônia. Pedro, como seus antepassados, explorou o Brasil para a família real, manteve-o como posse pessoal, perseguiu, guerreou, prendeu e matou brasileiros rebeldes.
1822 tem pouquíssima importância para a afirmação do Brasil. Os fatos decisivos estão em 1808, quando a Revolução Francesa, levada pelo exército de Napoleão, invade Portugal e põe para correr a corte portuguesa. Dom João VI, sua mãe louca e sua mulher maluca, seus filhos, entre eles o adolescente Pedro, e milhares de nobres fogem numa grande frota naval para o Brasil. Durante 13 anos, até 1821, o Brasil será sede do império, condição que mudará radicalmente a colônia. Obviamente, quando, expulsos os franceses, a corte volta para Portugal, o “Brasil” não quer retornar à condição de colônia. Foi uma situação impossível que os portugueses tentaram impor.
Neste ponto, nosso olhar deve se voltar para o ambiente americano, para os antecedentes nativistas no Brasil, para o processo de independência da América espanhola, para os recém-criados Estados Unidos da América. O que aconteceu em torno do príncipe regente não tem a importância que lhe deram as palavras e discursos dos dependentes. Embora seja importante também conhecer aqueles círculos monarquistas, especialmente o “patriarca” José Bonifácio de Andrade e Silva. É significativo que ainda hoje seus descendentes estejam presentes na política nacional, como agentes reacionários que nunca serviram à independência e sempre se aliaram a interesses estrangeiros.
Porque esta é a questão fundamental: os dependentes, de Pedro I a Temer, dos Andradas aos tucanos, sempre se aliaram às grandes potências estrangeiras para esmagar o povo brasileiro. O Brasil e sua independência não são assuntos que lhes interessam, eles nunca tiveram um projeto de nação para o Brasil. Não tinham em 1822 e não têm hoje.
Independência implica num projeto de nação, se os donos do Brasil não têm um projeto de nação, mas sim de manter o país como colônia dependente de grandes potências, como é possível falar em independência? Nunca tivemos independência.
Simples assim.