sábado, 2 de novembro de 2019

Você sabia que câncer tem cura? Uma história do capital

No dia dos mortos, uma história de assassinos.
Câncer tem cura mas custa caro, porque o laboratório não quer a cura, quer o lucro. Uma história do capital. O capital lucra produzindo a doença, vendendo agrotóxicos e alimentos contaminados, e ganha vendendo remédios, equipamentos, hospitais etc. Ainda mais no capital do século XXI, em que não existem mais empresas concorrentes, diferentes, e sim o simples capital, investidor, que está em todas as empresas, anônimo, nas mãos de pouquíssimas pessoas, em processo acelerado de concentração. Então é assim: câncer é um mercado de produtos muito lucrativos, pra que acabar com ele?

“Seria melhor que meu remédio contra o câncer fosse mais barato”

As descobertas do Prêmio Nobel de Medicina de 2018 levaram a um tratamento revolucionário que é vendido por mais de 100.000 euros por paciente

Manuel Ansede, El País Brasil

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O cientista japonês Tasuku Honjo, pai da imunoterapia, em Madri.

O pesquisador Tasuku Honjo não sabe quantas pessoas lhe devem a vida. Talvez centenas de milhares? “Possivelmente”, responde. Honjo, nascido na cidade japonesa de Kyoto há 77 anos, ganhou o Prêmio Nobel de Medicina de 2018 pela descoberta de um revolucionário tratamento contra o câncer: a imunoterapia. Um dos primeiros casos de sucesso está gravado em sua mente, o de uma mulher de 60 anos com câncer de ovário. Depois de um ano de tratamento, estava curada.

Em 1992 Honjo identificou uma proteína, a PD-1, que atua como um freio das defesas do organismo. Ao soltar essas rédeas, por meio de um medicamento chamado Nivolumabe, o próprio sistema imunológico ataca com sanha as células tumorais. A estratégia –eficaz em cerca de 25% dos pacientes– foi aprovada em 2014 para alguns tipos de câncer de pele, de pulmão, de rim e de fígado. E as indicações não param de crescer. Existem 2.000 testes clínicos em andamento. As vendas de Nivolumabe ultrapassam os 4,3 bilhões de euros (cerca de 19,2 bilhões de reais) anuais.

O cientista japonês, de passagem por Madri para receber um prêmio da Fundação Fernández-Cruz, se sente enganado. Em 2003 Honjo patenteou seus primeiros resultados junto à farmacêutica japonesa Ono Pharmaceutical, empresa que acabou assinando um acordo com a gigante norte-americana Bristol-Myers Squibb para produzir o Nivolumabe, sob o nome comercial de Opdivo. Um tratamento para uma pessoa pode custar entre 50.000 e 100.000 euros por ano, dependendo do país. Honjo, da Universidade de Kyoto, recebe menos de 1% a título de direitos autorais. Ele quer mais, diz, para doar.

Pergunta. O senhor é otimista. Acredita que chegará o dia em que ninguém morrerá de câncer?

Resposta. Acredito que o câncer poderá ser uma doença crônica algum dia. Você não pode dizer que ninguém morrerá de câncer, porque inclusive hoje ainda temos pessoas morrendo de doenças infecciosas, mas acredito que o câncer não ameaçará nossas vidas.

    “Você não pode dizer que ninguém morrerá de câncer, mas acredito que não ameaçará nossas vidas”

P. Na conferência do Nobel o senhor disse que o câncer poderia ser uma doença crônica em 2050.

R. É uma esperança, não tenho garantias, é claro.

P. O que o senhor acha do preço do Opdivo [o medicamento pioneiro em imunoterapia, desenvolvido graças às descobertas de Tasuku Honjo]? Em alguns países ultrapassa os 50.000 euros por paciente.

R. Nós, cientistas, não participamos da determinação do preço dos medicamentos. Depende de cada país, de seu modelo de Estado de bem-estar, então não posso fazer comentários. Obviamente, seria melhor que fosse mais barato, para que todo mundo pudesse se beneficiar. Sempre acontece o mesmo problema com qualquer medicamento. Até a penicilina, quando chegou ao mercado, era muito cara. E depois ficou acessível para qualquer um.

Clique aqui para ler a íntegra no El País.