quinta-feira, 13 de maio de 2010

Santos: emoção do começo ao fim

Poucas vezes vi um treinador fazer o que o Dorival Júnior fez ontem. Corrigindo: não me lembro de ter visto aquilo antes, pôr um jogador em campo e tirá-lo nove minutos depois. Em nove minutos, a partida tinha mudado e em consequência de dois erros do jogador. Erros do jogador e erro do treinador, que o colocou em campo; tentou se corrigir tirando-o. Nunca tinha visto também um jogador substituído ter a reação que Rodrigo Mancha teve, liberando sua raiva em socos violentos contra o estofado do banco de reservas. Jogos do Santos nos proporcionam emoções assim, que ficaram raras no futebol. Ontem me lembrei dos confrontos entre Santos e Cruzeiro, nos idos de 1960. De um lado, Pelé, do outro, Tostão, ambos os maiores expoentes de dois times maravilhosos, repletos de estrelas e craques, todos jogando para a equipe, submetendo o brilho individual à eficiência coletiva. Como o Santos de Neymar & cia. Ou será de Ganso & cia.?
Nem falo nos 4 a 3, um resultado fantástico. Não se pode dizer que o Santos não jogue por resultados, pois joga: foi campeão contra o Santo André, eliminou o Atlético. No entanto, seus jogos são um caldeirão de emoções. A forma épica como terminou a segunda partida, contra o Santo André, com oito jogadores, o Ganso se recusando a ser substituído, só tem paralelo na Batalha dos Aflitos. Também não se pode dizer que o Santos vence todo mundo, porque não vence: ultimamente, vence uma e perde outra, perde fora e ganha em casa, mas a vitória prevalece sobre a derrota, como contra o Galo, o que demonstra que o time joga sim pelo resultado. Entretanto, seus jogos, vencendo ou perdendo, são emoções do começo ao fim. Impor dois a zero ao Grêmio, no Olímpico, parecia normal, e aí vem o desastre da virada, para quatro a dois, a entrada e saída relâmpago do Rodrigo Mancha.
Acabou? O Santos estava batido? Não, a molecada que deu mole e foi golpeada pelo adversário forte, diferente dela, mas igualmente forte, não se entrega, volta a jogar bola, a dominar, e nos brinda com aquele magnífico – magnífico é uma palavra para ser usada em ocasições assim – magnífico, repito, passe do Ganso para Robinho, que conclui como fazia antigamente, como, diga-se, não vem fazendo há algum tempo, conclui como vem concluindo o Neymar, que não estava em campo, mas Robinho mostrou que também sabe fazer e faz ainda: mata no peito e estufa a rede, com força e precisão, fora do alcance do ex-goleiro da seleção, fora do alcance de qualquer goleiro. Um gol inesquecível.
Um gol para lembrar ao adversário que ali estava o Santos, para lembrar ao torcedor que aquela molecada brinca mas também joga sério, e que dá show mas quer ganhar, e que tem compromisso de gente grande com a vitória. De forma que a missão no próximo jogo não é uma missão quase impossível, na qual entra com a obrigação de marcar dois gols, é apenas um confronto em que tem de vencer, como tem vencido. E vencer é uma obrigação dos campeões.