terça-feira, 2 de novembro de 2010

Entre José Dirceu e Augusto Nunes, fico com Dirceu


Um amigo a quem prezo muito escreveu, antes da eleição, que olhava para Dilma e via José Dirceu. Entendi como uma justificativa para não votar na Dilma. Não é opinião incomum em meios jornalísticos e intelectuais. Confesso que sei muito pouco do ex-ministro da Casa Civil, mas depois de tudo que vi e li nos últimos anos, desconfio que ele não seja o diabo que pintaram dele. A começar pelo sujeito desse verbo "pintar". Quem pintou? A "grande" imprensa. Atualmente, duvido de qualquer informação publicada na Folha, no Estadão, no Globo, na Veja. Da TV Globo sempre desconfiei. Como disse a Maria Judith, presidente da Associação Nacional de Jornais, a imprensa é a verdadeira oposição ao governo Lula. Destruir reputações levianamente é uma prática comum na imprensa brasileira desde os anos 90, como mostra em livro Luís Nassif. O caso da Escola Base é exemplar. O que dizer então do braço direito do presidente Lula no primeiro mandato? Derrubar José Dirceu foi a glória dessa gente. Naquele momento, a nova direita brasileira, essa mistura de PSDB, Demo e "grande" imprensa, pensou que Lula estava liquidado, mas não foi o o que aconteceu: ele foi reeleito e quatro anos depois fez sua sucessora. É compreensível que essa gente, desesperada, tenha apelado para todo tipo de baixaria na campanha deste ano. Com incompetência, diga-se: querer ganhar eleição com José Serra e com Geraldo Alckmin, faça-me o favor! Enquanto insistirem com candidaturas autoritárias, enquanto os paulistas acharem que são melhores do que o restante do país, vão continuar perdendo. A vitória que tiveram em 2005, derrubando José Dirceu, foi, afinal, um tiro que saiu pela culatra: não fosse isso, talvez Dilma não se tornasse ministra da Casa Civil, depois candidata a presidente, hoje eleita. Os fatos são que José Dirceu teve seu mandato de deputado federal cassado e foi "condenado" como chefe de "quadrilha do mensalão". Por isso é surpreendente ouvi-lo dizer que foi inocentado em todos os processos em que foi julgado desde então e que só aguarda a decisão de um processo que está no Supremo. "Sou inocente", reafirma Dirceu, que hoje é dirigente nacional do PT e trabalha como advogado. Quanto ao "mensalão", a única coisa que ficou provada até hoje é que começou em Minas, não com petistas, mas com tucanos, que tentavam reeleger o então governador Eduardo Azeredo. Se é verdade o que ele diz, Dirceu não foi perseguido pela "grande" imprensa por crimes que tenha cometido, foi essa imprensa que cometeu um crime político perseguindo-o. Nesta entrevista ao Roda Viva – um programa tradicional que ficou completamente desqualificado na atual presidência de João Sayad na TV Cultura – a perseguição continua. É uma entrevista repugnante para quem a vê sem preconceitos. "Quem será José Dirceu?", perguntará um telespectador estrangeiro. "Será o maior criminoso do país?" A delegada Marília Gabriela não tem o menor pudor de tentar extrair confissões do político, já acusando-o dos crimes que deseja ver confessados. Augusto Nunes tornou-se um jornalista asqueroso. Paulo Moreira Leite fica atrás, mas não muito. Nesse tipo de jornalismo, não é preciso que o "criminoso" confesse, o que importa é repetir as acusações tantas vezes de forma que pareçam fatos, embora sejam suposições. Não parece um programa de entrevistas, parece um interrogatório policial. E José Dirceu? Comporta-se com elegância admirável. Ou ele é inocente ou o trio de entrevistadores é muito incompetente, pois não consegue contestá-lo. Entre Nunes e Dirceu, fico com Dirceu. Eu olho para Nunes e vejo Serra.